POTE CHEIO
(Escrito em 26/08/2015)
Há muito minha cama merece uma ode à sua silenciosa fidelidade e ao seu conforto certeiro, desde que passei a poder estar mais em sua superfície macia, sem correrias para ir ao encontro da vida lá de fora. Como sou meio dividida em relação a tudo na vida, sempre com um olho no padre, outro na missa (OU É UM NO GATO, OUTRO NO PEIXE?), incapaz de focar num único ponto, mas contumaz perseguidora de focos, ângulos e dimensões do que, em cada situação, está dentro e fora de mim, nem sempre a valorizo como deveria. Não foi nem uma nem duas nem sei lá quantas vezes que, ao invés de gostar da preguiça da manhã, deixando-me levar pela leseira da falta de urgências e simplesmente me deixar fica na cama sem tempo para abandoná-la, fico é me atormentando, me questionando por estar inutilmente posta em sossego sem nada a fazer – com hora certa – pelo mundo em chamas... Defeito de fabricação, eu sei. O DNA é meio complicado, hi, como sei... Nem sempre consigo ver o lado cheio do copo como tantos sábios do bem viver recomendam. Qual nada! Vejo o gato, olhando pro peixe...Tem dias que me sinto "como quem partiu ou morreu". Tenho mesmo é que aproveitar um dia como o de hoje, onde as nuvens da militância incontida ou sei lá que nome dar a esta sensação de desconforto existencial, deram uma trégua, para louvar os novos tempos da aposentadoria relaxante. Prazer de ficar na cama e nada mais. E agradecer à vida por isso. Nada mais mesmo! As tarefas postas na mesa são coisa que podem esperar, nada para ontem, nada para salvar o mundo hoje, já. Na verdade, o mundo não foi salvo. E nem será tão cedo. Dá para aproveitar um pouquinho do conforto de simplesmente me deixar ficar. Nunca é demais relembrar, como ideal de vida, o ensinamento que conheci pela fala de Scarlett O’Hara em O VENTO LEVOU: “nisso eu penso depois...” (e, olhem, que não era pensar depois sobre qualquer assunto: dizia respeito ao seu grande amor!).
Ai, ai...
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