terça-feira, 30 de agosto de 2016

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Luna e eu em Itaipu

TESTEMUNHO (MAIS LONGO DO QUE EU GOSTARIA, MAS...
                                                                                                                                                                                  (Escrito em 20/08/2015)

Nunca consegui, nem em filmes nem em romances, ficar do lado do mocinho simpático que amava a mocinha sem que ela retribuísse. Aqueles, então, que se declaravam e, diante da indiferença da moça, dissessem que o seu (dele) amor dava para os dois, isso pra mim era sinal de fracasso e de franca torcida contra de minha parte. Nada podia dar certo assim, na base do pedido, da súplica, da espera pela generosidade do tempo para que o amor se fizesse presente e desse conta de uma boa história de amor.
Amor tem que ser com arrebatamento, na base do "sem você eu não vivo", do "como vivi sem você até aqui?", estas frases lapidares que fazem parte das histórias de amor que existem pra valer. Rapaz bonzinho, cheio de qualidades é um perdedor nato.

Que depois o amor acabe, aí é outra coisa, mas o existir da historia de amor enquanto dura tem que ser temperado por um bom tango argentino. Valsinhas e sonatas, só de vez em quando para equilibrar o clima, se não o coração explode. E o corpo cansado da vida não resiste. O comando é dos sentimentos com compasso bem marcado, fortes.

Pois a vida me ensinou o contrário e eu estou aqui, ajoelhada no milho para confessar que historinhas de amor podem ser construídas, sim. O discurso de que "meu amor por você dá para nós dois" existe. E gera frutos. Suculentos, deliciosos, dulcíssimos.

Com esta minha mania de escrever e de publicar aqui as histórias de minha vida (nem todas, é óbvio, mas chego perto...), não é surpresa para ninguém o amor que nutri por Luna desde que ela nasceu. Desde que a vi, toquei e cheirei, foi amor à primeira vista. Amor dominador e eu a ele entregue.

Recém-nascida, a figurinha parecia uma santa em meu colo enquanto eu a acarinhava ou simplesmente me fazia de berço ao seu conforto, do melhor jeito que ela se ajeitasse. Integração total e irretocável. Êxtase.

Mas bastou o seu olhar ganhar poder de ver que uma rejeição - dolorosa e lacrimosa - chegou para me arrasar e me fazer sentir a última das pessoas, sem espaço, sem chão, sem vez, jogada no fundo do poço da afetividade. Vulnerabilidade, este era o meu nome.

Daí pra frente, fiz de tudo, bem na base do "meu amor vale para nós duas" ou "hei de vencer e conquistá-la", intuitivamente cheia de fé na minha capacidade de sedução. Se diziam que o choro ao me ver era por causa do meu cabelo branco, colocava chapéu, lenço, o que fosse para cobri-lo. Já o palpite de que era o meu jeito à vontade de estar em casa, sempre com as roupas pra lá de informais e velhotas era respondido com minha elegância numa próxima vinda da luminosa menina Luna aqui. Fiz de tudo um pouco: usei batom, perfume adocicado, roupa pra lá de requintada. E nada!

Cantinho de brinquedos, presente. Livros de história, à mão, sim. Materiais diversos para atrair a atenção, todos. Mas, o choro ao me ver era incontido, coisa pra me jogar por terra mesmo. Um dia, cheguei a subir pro meu quarto, em estado de extrema desnutrição emocional, chorosa e sem volta à sala até o final do dia diante da rejeição anunciada, de cara.

Ninguém sabia mais o que fazer...

Meu amor foi dando para nós duas durante um largo tempo. Até que o milagre se fez. Ninguém sabe ao certo o que se deu na alma da bichinha.De tanto me ver sorrir, um dia, Luna me viu, me sentiu, me acolheu, me escolheu.

Hoje, tê-la junto a mim, me dando a mão para seguirmos adiante, nem que seja da cozinha para a sala, e depois dormirmos a sesta juntas é amor demais. Só dá pra sentir mesmo. As palavras são incapazes de dizer disso, para esse tanto elas realmente têm limites.
Luna nos meus 70 anos, ainda desconfiada em relação a mim (2015).

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