terça-feira, 30 de maio de 2017


CACOS
30/5/2016
Há muitos anos isto não acontecia. Mas ontem, durante o café da manhã, por um movimento inesperado, lá se foi ao chão a bonita garrafa térmica preta que há anos nos acompanha, anunciando, ela própria, em cima do lance, pelo som que liberou de seu interior, a certeza de que sua vida útil chegará ao fim. O barulhinho tipico dos mil cacos em que sua proteção espelhada se transformou, quando eu a trouxe do chão da cozinha de volta à mesa, não deixou dúvidas: fim de linha, cessação de missão, término de caminho.
Com a garrafa, eu sei bem o que fazer. Até tenho opção: ou comprar uma nova ou repor o miolo, que existe à venda lá pelo centro da cidade.
Mas, e com este governo em frangalhos, o que fazer? Como vamos continuar a assistir ao despencar dos frutos podres que murcham, ao chocoalhar dos fragmentos asquerosos em suas sucessivas quedas, ao desmantelar do engodo que tentam emplacar sem a menor legitimidade?
Um jurista, pelo amor de Deus!
As moças da GLOBO NEWS são muito previsíveis!
30/5/2016
Elas dão as notícias de uma tal maneira que só rindo.E eu dou risada porque quando qualquer uma delas começa a falar, eu já presumo o que virá em seguida. E não dá outra: para cada podre que o "mui amigo" Machado, da Transpetro revela, em seguida é feita alguma associação a algum fato que consideram similar e que é do tempo do PT.
Apenas nesta última hora, foram ouvidas falas mais ou menos assim:
- "O que se ouviu na fita não difere muito do que já se ouviu Lula falar, Dilma falar... Lula e Dilma também já falaram mal da Lava Jato."
- "Isso do ministro Fabiano não prova nada que justifique sua saída. Ele apenas falou informalmente sobre a Lava Jato. De concreto, não há nada."
- "O que está acontecendo agora (denúncia contra ministros) já aconteceu com o governo Dilma, lembram? Foi quando ela teve várias denúncias e saiu demitindo ministros, creio que uns 7..."
(KKKKK - Temer está com crédito quanto a corruptos)
-" E isso dá a maior força para os petistas que vêm chamando de golpe o que está acontecendo..."
- "O que as fitas trazem e contaminam a opinião pública não podem apagar a herança maldita do governo Dilma."
- "O mais importante para o governo agora é acabar com esta angústia e acelerar o processo so impeatchement. Anastasia tem pressa, Temer tem pesssa..."
E o último veneno (este agorinha:) "... até porque, cá entre nós, o PT não morre de amores pela Dilma, não é? O próprio partido e o Lula não a querem de volta, não é? (risinhos)"
QUERO MEUS ALUNOS DE VOLTA!!!!
ESSA COISA DE ANALISAR O QUE VAI SENDO DITO FAZ RIR, MAS, EM DEMASIA, DÁ NÁUSEA!

segunda-feira, 29 de maio de 2017

RESIGNAÇÃO
                                                                                                                                            29/05/2014

É meio fora do normal do mais comum caminhar das coisas, mas ando procurando um jeito de encontrar um sorrisinho, por menor que seja, pra tirar o traço amargo que entorta meus lábios em direção ao chão. Muito ruim demais constatar que aproveitar a alegria que a vida me oferece significa tão somente me entregar de corpo e alma ao novo sofrimento que me surpreende, só pelo prazer dele me livrar da última dor que me consumia. Cada qual é feliz ao seu próprio jeito. O meu, no momento, é sentir a boca desprovida de umidade, mas, o que me alegra, é que ainda constato a inteireza de meu corpo, e com o costumeiro volume de sangue a correr por dentro, espalhando vida por onde passa. Ser feliz é, pois, nesta agoridade, agradecer à vida pela substituição de uma antiga dor pela dor de novo tipo que chega sem avisar. Vou a ela, aliviada, olho no olho, como convém. Por falta de espaço na alma, uma sequela de cada vez. Ou, explicando de maneira mais científica: é apenas cumprir à risca aquela lei da Física, a de que dois corpos não ocupam o mesmo lugar no espaço.
O BOM HUMOR, SEMPRE!
28/05/2017
A amiga de lá manda um zap daqueles delicadinhos de BOM DOMINGO. A de cá, sabendo do seu pequeno acidente da véspera, indaga:
" - E seu pé, melhorou?"
" - Sim, já até já voltei de viagem, e está bem melhor."
"- Me alegro. Pois aqui, o coração, a lombar, o intestino, meio soltinho, cê sabe, né?, a azia, as pernas um pouco mais quentes do que deveriam, a artrose das mãos, a vista cansadíssima, o quadril meio fracote e etc, tudo segue normalmente."
"- Ah, então, está bem? Venha até aqui me visitar."
"- Não, queridinha, normalmente não quer dizer 'bem', quer dizer 'na mesma precariedade de sempre'. Mas, tranquilize-se, darei tudo de mim para meu domingo ser cheio de vitórias, fé, alegrias, paz, saúde e força (para seguir sua orientação dominical). Se algo me acontecer com o esforço que terei que empreender, você logo saberá. Notícia ruim chega rápido, não é assim? MUITOS RISOS!!!!!"
AMOUR - ORIENTAÇÃO PARA NOVATOS
29/05/2017
Sabe quando você sabe que um amor foi "aquele" amor? Quando você escuta a música bem romântica do tempo de um outro amor, sempre tido como o maior de todos, e se lembra dele, sabe de qual?, daquele outro. Pode crer. Vai por mim.

sexta-feira, 26 de maio de 2017

ENTRE NÓS, IDOSAS INTERNAUTAS
26/5/2014
Andam reclamando que eu ando muito reclamona, sem escrever nem mais um textinho daqueles que têm sempre uma boa dose de humor. Quase que só tenho mirado o lado pesado das coisas que andam brotando aqui e acolá. E é verdade! A culpa, juro que não é minha. Está difícil captar indícios de comicidade nos últimos giros do Planeta. Só se for no aspecto irônico ou sarcástico, sempre atrelados ao humor. Mas, aquelas coisicas do cotidiano que sempre me pegam pelo pé e que me fazem rir e querer por no papel virtual para levar os amigos a rirem comigo, sei lá por qual motivo, estão escasseando aqui por minhas bandas.
Hoje, no entanto, feliz da vida, eu me lembrei de um encontro que tive com uma velha amiga um dia desses e o que ela me falou me pôs pra rir e a querer compartilhar com vocês. O tema é atualíssimo e de interesse de grande parte dos que aqui dividem comigo este espaço de trocas. Trata-se do contingente, mais do que expressivo, principalmente de senhoras, que têm aproveitado seu tempo vago de aposentadas, usando e abusando da comunicação digital, principalmente aqui no “Face” (e todas falam assim mesmo, pensando que, com isso reduzem uma meia dúzia de anos pelo intimidade com a rede). Estou a imaginar que os mais jovens vão nos deixar aqui falando entre nós, para não misturar alhos com bugalhos. Ou, Cauby Peixoto com a mais nova banda inglesa de rock progressivo. Sinto algo no ar indicando que este espaço está se tornando pequeno demais para tamanha junção intergeracional... Um sobrinho-neto já me ameaçou: “Não me chame pra amigo que eu não aceito, viu, tia?” E eu obedeci.
A mulherada da faixa dos 60 "mora" no Face. As professoras, então, essas trocaram os infames diários de classe pelo novo brinquedinho, e tome de mandar mensagens, uma profusão delas, não se sabe oriundas de qual fonte inesgotável. Há momentos em que eu não sei se rezo a Ave Maria, se curto a paisagem escandinava ou se convoco os interessados para o próximo ato a favor ou contra alguma nova medida jurídica que acaba de atingir uma parcela específica da população... Sem falar do que quero mesmo postar, que são sempre as minhas mal traçadas linhas, como agora, por exemplo...
Cada amiga cuidou de ter o seu técnico de plantão para lhe garantir um mínimo de entendimento de como as coisas funcionam e...mãos à obra. É diálogo que não acaba mais. E ai daquela que não curtir durante um tempo as postagens da outra. É coisa de gente ingrata! Nem precisa comentar nem compartilhar, mas curtir? Aí já é demais. Tem que curtir! Um dia desses até, uma amiga me mandou in box uma mensagem dizendo: “Vc viu o que escrevi na sua página? Vc nem curtiu!!” Eu corri lá e dei uma geral nos agrados a respeito do que ela havia escrito. E, pronto, dormi tranquila!
Meninas, este Face é um barato! Está rendendo boas trocas, não é? Chegou em boa hora! Para mim, que não faço tricô nem crochê, é uma opção mais que louvável! Agora, o nosso não saber a respeito da tecnologia que temos em mão é o que me leva a gargalhar. Os jovens que já nasceram com a mão num teclado sabem tudo, mas nós... isso não é de nosso tempo e não é simples a adaptação. Vejam, se não é engraçado, eu ouvir de uma outra idosa a seguinte pérola: “Carmen, o seu computador tb tem vírus? Menina, quando eu ligo o meu tem um japonês que dá de falar... No seu, esse tal japonês fala tb?” Sem reposta, sufocada pelo riso, corri para casa e hoje repasso para todas as outras aposentadas como eu esta história que para mim não teve preço.
Felizmente, antes de me despedir da amiga querida, ela me confidenciou: “Agora, está tudo certinho lá em casa, o meu técnico foi lá, deu uma geral no meu micro e o japonês sossegou.”
Estou rindo tanto que nem sei se expliquei bem a historieta... Vou é tomar um copo d’água. E que atire a primeira pedra quem já não ficou em pânico diante deste “cérebro eletrônico” (assim o chamávamos quando ele surgiu lá longe, no outro hemisfério).
E antes que eu me vá, indago: "tem japonês falando por aí?"


AINDA ACABO DESISTINDO DE SER MULHER DE MALANDRO!
25/05/2017


Ainda bem que não tenho mais alunos à espera em sala de aula. Rever textos e sobre eles dar meus pitacos, nem que seja madrugada adentro, dou conta. Aluno em sala de aula é que sempre me ocupou mais amplamente. É que ando meio paralisada e não consigo sair do estado de agonia permanente - buscando questões, analisando circunstâncias, consumindo-me em maus sentimentos, vislumbrando brechas, como se estivesse mergulhada e buscando atingir o fundo do poço onde, lá chegando, pudesse dar um impulso bem forte para voltar à tona.
Bons tempos aqueles em que (lembro-me bem), saindo de uma escola, num subúrbio do Rio, o prazer era tamanho em haver estado discutindo educação com um grupo de professores, que, mal entrei no carro, virei-me para "seu" Hélio, grande amigo e meu fiel escudeiro (Helio Ferreira Araujo Araujo), quase sem respirar, disse: "Ainda morro disso!", provocando seu sorriso mais que amistoso. Ele bem sabia do tanto que eu amava o que fazia.
Hoje em dia o que me faz quase "morrer disso" não é a alegria nem o prazer em estar construindo algo de mais humano em direção à justiça social, mas a agonia da busca em vão e o sofrimento de ter que marcar na prova da vida "nenhuma das opções anteriores" quando esta me indaga sobre saídas breves e sãs para a barbárie e para a repetição de erros que vão nos tomando por inteiro.


QUE ALGUÉM ME BELISQUE, POR FAVOR, E DESMINTA QUE O PT JÁ ESTÁ COMEÇANDO A ARTICULAR CANDIDATOS PARA UMA POSSÍVEL ELEIÇÃO INDIRETA! E QUE A LUTA PELAS DIRETAS É SÓ PARA NÃO FICAR MAL NA FITA. SERÁ QUE REALMENTE A FORMA DE FAZER POLÍTICA EM QUE ESSA TURMA SE METEU ENTORTOU-LHE A BOCA, O CORAÇÃO E A MENTE? E NÃO SE EMENDAM?




UM DIVÃ PRO CRIVELLA, URGENTE!
26/05/2017

Quando vi ontem esse senhor que conseguiu se eleger para prefeito do Rio falar na TV que acabava de chegar de Moscou e que o que viu por lá deveria ser feito aqui, quase encomendei alguns comprimidos de fluoxetina para colocar goela abaixo e conseguir puxar o ar pra dentro dos pulmões no átimo de segundo seguinte, para não cair dura, asfixiada. E ele deu detalhes. É bem verdade que o olho de peixe morto não se alterava, a sua máscara de tipo mortuária estava posta em sua inteireza: nenhuma emoção maior podia ser vislumbrada. Era a inexpressividade em seu estado mais puro. Mas da garganta saiam palavras – mesmo que também um tanto apagadas – para explicar o seu entusiasmo com a obra russa. Algo assim:
“- Não estamos aqui mesmo sobre uma laje? (apontando para o piso do lugar onde dava a entrevista) Pois é exatamente assim em Moscou. Temos que trazer para cá aquela maravilha. Por baixo, um túnel. Sobre a laje, ergue-se uma nova cidade: escolas, shoppings, tudo que há numa cidade. Uma maravilha!”
Creio ser de bom alvitre providenciar uma junta de psicanalistas e psicólogos, chamando até um ou outro da linha comportamentalista, misturando todas as tendências e seus dignos representantes (alguns russos fariam bem ao grupo) para cuidar do senhor prefeito. O que ele parece querer mesmo é cobrir o Rio, deixar a dura realidade que ele teima em não considerar – sequer ver – como se fosse possível se alienar do que está sendo o Rio de Janeiro por baixo dessa sonhada laje que ele deseja projetar.

Não dá pra esconder, não! Acorda, Prefeito! Ao trabalho, meu senhor!

quinta-feira, 25 de maio de 2017




REVENDO CONCEITOS E PALADARES
21/05/2014
Zelinha de férias, cá fiquei eu escrevendo, acertando coisas, até que olho o relógio e constato - quase 3 da tarde. Hi, o almoço! O que comer? Para que sabores meu apetite me encaminha? Vejamos: de carne, há aquele bolo delicioso, recheado, é com ele que vou. Mas, fazer arroz? Não, quero não. Fazer uma massinha? Também não.
Já embaixo, na cozinha, busco diálogo com quem pode me ajudar nesta hora: o que a geladeira me propõe? É, vou exercitar os ensinamentos dos orientais e dialogar com o que se põe diante de mim. Das diversas prateleiras, surgem alguns ingredientes, alguns até improváveis, mostrando suas qualidades alimentícias, a me seduzir para que os escolha e aproveite no complemento a ser produzido para se juntar à fatia de carne que me espera, suculenta. A imaginação toma seu lugar - merecido, e incorporo meu lado que vez por outra faz umas e outras como cozinheira, mesmo que de maneira sazonal.
Pego um tabuleiro, unto com manteiga, espalho uma batata toda fatiada ali, na hora, por cima, uns amendoins salgadinhos que sobraram do bolo que fiz no domingo, um punhado farto de queijo parmezão ralado, dos bons, uma camada de alguns tomatinhos mínimos cortados ao meio, um naquinho de orégano salpícado para dar um toque italiano ao prato recém pensado e feito, e ... forno. Forno alto, inicialmente na direção "assar por baixo", logo em seguida substituída por "grill por cima". Não mais que uns 10 minutos. O forno havia sido aquecido antes. E, voilá, um belo de um almoço, feito por minhas mãozinhas tão raramente postas a fazer das suas na cozinha.
Nossa! Não é que ficou bom meu improviso? Só faltou um vinhozinho! Tive que me satisfazer com um suco. Mas tb era de uma boa uva. Foi um belo complemento! Agora, totalmente fora de hora, como meu corpo viciado resolverá o impasse de dormitar a esta altura da tarde, já caminhando para seu fim? Na TV, novamente está Dori Caymmi, talvez ele seja a companhia ideal para chamar meu sono, embalada por sua poesia musicada... A conferir.



A VERDADEIRO PRAZER NUNCA MORRE
23/05/2014
A gente vai envelhecendo e parece que o que é legítimo dentro de nossa carcaça (até que jeitosinha por fora) brota sem pedir licença e, quando a gente vê, já está claro que nem luz do amanhecer em Atafona à beira mar. A crença é até a de que se olharmos de frente até cega, tamanha a luminosidade com que se apresenta.
A gente vem seguindo a vida, adotando hábitos, posturas, costumes, sem perceber que está driblando os chamados mais profundos dos nossos gostares e prazeres. De repente, com o passar dos anos e com o chegar da idade do chapéu lilás (ou verde limão, não sei qual é pior), como num terremoto do bem, a nossa superfície-pele-terra se vai abrindo, fazendo surgir das profundezas o que andava escondido desde os tempos em que Dondon jogava no Andaraí (ou, para ser mais bairrista, desde que Didi fazia a sua "folha-seca" com aquela elegância toda). A coisa vem, empurra barreiras, afasta carnes, pensamentos e quaisquer outros empecilhos e, quando se espanta, é realidade viva, impondo-se a nós mesmos e aos jeitos que fomos introduzindo em nosso cotidiano e que não nos era tão natural, muito menos promotor de prazer.
Esse palavrório todo (como é do meu feitio...), só para dizer que, quanto mais meus cabelos se tornam prateados, mais eu gosto de andar sem sapatos, descalcinha da silva. Tocando com os pés diretamente o chão - seja ele de terra, grama, pedra ou madeira - o caminho que tenho pela frente é só prazer, só falta que eu venha a assobiar para explicitar vivamente a minha alegria. Mas, por dentro, bem que tem música boa acompanhando meus passos, ora titubeantes, ora firmes, não importa, mas que são os que legitimamente sei desenhar pelo solo da vida que vem vindo, enquanto vem vindo com seus surpreendentes traçados... e isso, com os pés trazendo diretamente a todo o corpo o calor, o frio, a maciez e tudo mais que vem do chão que nos suporta enquanto seguimos adiante...




DESAMPARO

25/05/2016
Não há pintor que dê conta de combinar quaisquer cores e formas para se contrapor à vergonha que sinto.
Não há compositor que junte palavras em rimas pobres ou ricas para dar conta da vergonha que sinto.
Não há escritor que arrume palavras no idioma que for para me aliviar da vergonha que sinto.
Não há construtor no mundo, nem aquele das ilhas artificiais de Dubai ou das suas piscinas de bordas infinitas que seja capaz de me abrigar do frio- vergonha que sinto.
Não há cientista de qualquer tendência, destes que os laboratórios transnacionais tentam comprar a preço de diamantes que me ofereça uma poção capaz de anular a dor-vergonha que sinto.
Não há ourives de canto algum do mundo que crie uma jóia mais luminosa e rica que encubra a nudez-vergonha que sinto.
Não há cineasta por mais poético que seja em suas narrativas por campos de lavanda que distraia meu coração da vergonha que sinto.
Não há doceira, nem em Campos nem em terras portuguesas que combine ovos e favas de baunilha para adoçar minha fronte crispada pela vergonha que sinto.
Não há agricultor que plante hortaliças ou pinhões limpinhos de agrotóxicos, que traga à minha boca alimento capaz de expulsar a vergonha que sinto.
Não há escultor que transforme pedra em arte e que me alegre com a beleza de sua criação, expulsando de minhas vísceras todo o amargor- vergonha que eu sinto.
Não há ninguém capaz. Não adianta buscar. Contra essa vergonha entranhada, não há Ciência nem Arte nem Filosofia nem nada que dê conta de me recolocar de pé, sem a tal tamanha vergonha instalada. A Política está agonizante. A mentira dança à nossa frente e só se abordam os detalhes. Ouvidos moucos. Olhares foscos. Razões cínicas. Falas viciadas. E chega de palavras. Elas estão órfãs de sentido. A vergonha tomou tudo que era possível de ser tomado.




O ONTEM E O AMANHÃ NO MOMENTO PRESENTE - LINHAS SEMPRE CRUZADAS 
(com um beijo para Maria Eduarda)
25/05/2014
Cá com meus botões, enquanto caminhava para abraçar a linda filha de um casal de amigos, em sua primeira comunhão, na igreja aqui do lado de casa, fui pensando em como a vida que a gente vai vivendo não traz apenas cada fato vivo, ali, na hora, mas tudo com o que com ele se cruza de lembranças e de expectativas. Nunca havia tido tão nitidamente esta noção do presente como dependente do que lhe precedeu e do que virá. Escrever até já escrevi sobre isso e até já dei aulas a respeito: a dialética entre o presente, o passado e o futuro. Mas, eu falo é de sentir a coisa na carne mesmo. Como agora, sentindo com nitidez a conjugação dos tempos.
O senhor que passa na caminhonete, ao meu lado, e deixa a mocinha na esquina sem levá-la até a porta da igreja – e a rua está enlameada – não é apenas ele e seu gesto. É ele, sua atitude incompreensível (para mim) e tudo quanto é carona que já dei e recebi em toda a minha vida. Ou seja: é o agora, o antes e o depois. Juntos. Do antes, eu trago o conceito, forjado através da vida, que carona é de porta a porta. Isso, de minha parte. Tem o lado dele, o da "vítima" de meu olhar, olhar que apenas ia garimpando imagens em torno enquanto fugia de uma poça e outra... Do lado dele, do moço, eu nem suspeito, e nem é o caso agora...
Eu olho e – mania de julgar coisas, gestos e pessoas – dou-me umas palmadas simbólicas na região do cérebro e do coração – que já se uniram a pensar mal do já rotulado egoísta – e me ponho a escapar da tendência de saber o caminho de todas as pedras e de todas as melhores práticas para todas as circunstâncias. Como posso saber o que se passou e arbitrar que a cena que vi é um equívoco no lugar da idealizada carona da origem de um percurso até o seu final?
Será preciso mais uma vez tomar o exemplo de Scarlett O’Hara no final de “E o vento levou”: viver o aqui e agora e deixar a dúvida para ser enfrentada depois. Tenho que me emendar. E me emendar depois de refletir sobre o assunto. Não sou eu quem sempre defende que a aparência é muito precária para dar conta de explicar as coisas que se sucedem a cada passo do caminho? Como já vou jogando o motorista da tal caminhonete no rol dos indelicados e insensíveis?
Mas isso eu penso mais tarde. Agora, o que quero dizer, o que me fez pensar mesmo (antes mesmo do moço cruzar meu caminho na rua da igreja) foi na nítida sensação do entrelaçamento entre os tempos. O hoje não consegue ser apreciado, simplesmente vivido, sem tudo que já vivemos antes. Eles se determinam mutuamente. Sem falar dos anseios de futuro que temos, que também regem nossa forma de ser aqui e agora, quando não abrimos mão de sonharmos com um mundo solidário entre todos, os que vão a pé, os que vão de carro e até mesmo os que nem chegaram a vir... O que almejamos também interfere do que vemos no tempo do agora.
... Tudo isso sendo pensado até entrar finalmente na tal igrejinha tão singela atrás de casa e olhar Maria Eduarda, lindinha, encantadora, totalmente contrita, enlevada, ao receber a hóstia pela primeira vez. É quando, novamente os tempos se enredam e eu me vejo, na mesma pureza, quando foi a minha vez, lá em Campos, na Catedral, após o período de catequese, ministrado por dona Floriana, no Calomeni. 
 Sem palavras. Só emoção! E lágrimas, claro, se não, não sou eu...
Emocione-se muito mesmo, Maria Eduarda! Entregue-se por inteiro ao sonho de bondade e de generosidade que leva você à Religião. Mas, sem culpas, querida! Estejamos unidos, todos nós, em procurar fazer dos bons sentimentos – de que seu olhar é a mais pura expressão – o caminho mais seguro no qual as palavras se transformem em gestos. Um dia de cada vez e todos eles tendo por meta transformar nossas palavras em gestos – esse é um desafio e tanto. Continuemos em seu encalço! Com você junto, com certeza, fica mais leve...

quarta-feira, 24 de maio de 2017


COMO SE EXIGE DE DEUS, MEU DEUS!
24/05/2017
O carinho das mensagens que me chegam a cada manhã ou no final de cada dia, sempre com desejos os mais afetuosos, a me augurar um variado rol de boas intenções, é interminável.  Outro dia já disse e agora repito: respondo, certa de que, mesmo que eu não comungue da mesma fé de quem me envia, nunca duvido da boa vontade do remetente e só faço agradecer e retribuir. Ao menos um bom dia ou boa noite eu envio, envolvida em sincera sensibilidade. Nada de mensagenzinha pronta, mas uma retribuição caseira, de próprio punho.
Dada a ampliação do que vem a mim desejado, começo a pensar que a carga de Deus está ficando desmedida e volumosa além da conta O que se deixa ao controle de Deus está ultrapassando os limites (Será este meu sentimento ditado por minha carência de fé?), por mais que eu já tenho aprendido a lição de que para Ele não há limites para nada.
Hoje foi o clímax dessa minha impressão. Uma das mensagens por mim recebidas realmente me deixou perplexa, quase com pena de Deus, da carga que estão deixando a seu encargo. Simplesmente vinha escrito assim: “comece o dia colocando tudo nas mãos de Deus e descanse porque Ele vai cuidar de tudo!!!”
Não é uma distorção absurda quanto ao que cabe a cada parte neste mundo? Não será mais razoável que os humanos cumpram o que lhes cabe, deixando pra Deus o que foge à nossa humilde condição e conhecida incapacidade?
Não será mais adequado, vamos dizer assim, numa divisão mais justa, relembrarmos o que disse próprio Jesus: “A Cesar o que é de Cesar, a Deus o que é de Deus?”

Interessante (ou engraçado)
24/05/2016
Tem pelo menos uns vinte e poucos anos que eu trabalhei com Luiz Raul Machado, querido amigo e autor de deliciosos textos para crianças, a começar pelo mais que delicado João Teimoso. Desde a leitura desse pioneiro, fiquei viciada em ler Luiz Raul e guardo aqui comigo cada uma de suas obras, hoje, arrumadas na mesa de Luna para quando ela vem alegrar algumas (sempre poucas) horas de meus dias. E foi lá atrás, por essa ocasião, que eu, ainda engomada no meu jeito de escrever, no convívio com a simplicidade do dizer do amigo escritor, fui começando a retirar as capas artificiais do meu dizer, buscando uma maior simplicidade na maneira de fazer sair as ideias de mim para o mundo.
Até hoje, a conquista da simplicidade é um desafio. Desafio muito difícil de alcançar. Luto com as palavras e nem sempre consigo me livrar dos longos parágrafos, recheados de vírgulas e que sempre poderiam ser menores. Os erros, os vícios, o jeito barroco e encurvado de traçar a escrita me perseguem e quase nunca dou conta de alcançar a suavidade que o jeito de narrar menos complexo favorece. Apenas uma conquista obtive e com relação a ela posso dormir tranquila: estou livre das mesóclises, tão artificiais quanto criadoras de um aparente (só aparente) acerto no dizer. Um alívio!


terça-feira, 23 de maio de 2017

MORTE EM VIDA
23/5/2017
É mais ou menos assim. Impossível encontrar palavras, ainda mais pretensamente exatas, para traduzir o estado d’alma desta hora em que me faltam o ar e o mínimo de higidez para qualquer passo para além da porta. Esmiuçando termos e expressões que possam me traduzir aos fora de mim e de minha agonia, é como seu estivesse à procura do essencial e mesmo ele se esquivasse aos meus apelos. As impossibilidades se expandem e alcançam os mais essenciais dos elementos necessários à vida. Onde a liquidez da água? O calor do fogo? A terra como chão a sustentar o passo? Ou o estado gasoso do ar a me garantir a vida? O estabelecido foge e se esvai. O translúcido, repentinamente, turvo. À volta, tudo em suspenso. Não há garantia, nem a mínima, para o próximo passo a ser dado. A visão sem alcançar mais que um fosso escurecido. Melodias ausentes de meus ouvidos. A pele, ressequida, sem encontrar o conforto de um abraço. Na boca, tudo insosso, expulsos os bons sabores que tão bem conheço.
Sensação – plena – de oco, vazio, ausência. Até quando?

sábado, 20 de maio de 2017


WESLEY E JOESLEY
20/05/2017

É só ler o nome dos personagens que damos de cara com a realidade, sem chance de dela fugir nem por milagre: Wesley e Joesley. Brasileiros na testa, carimbados. Praticamente duas jabuticabas. Alvoroçando-me em voos imaginativos, até com carimbo de reconhecimento ISO.
Poderiam ter sido alunos meus lá de Imburi de Barra ou do Henrique Lage; ou uma dupla sertaneja de sucesso (até do sub-ramo “sertanejo universitário”, que, aproveito, e peço que me expliquem do que se trata, ignorante que sou no assunto...); ou um par de gêmeos univitelinos filhos de um casal de jovens recém formados por benefício de um destes programas sociais que o tal do Lula (este, sim, com nome imperial – Luis Inácio!) inventou com a sua mania de dar direito a pobre de estudar e fazer Ciência.
Qual nada! Wesley e Joesley são dois brasileiros, dois pequenos açougueiros, como andam dizendo por aí, bem pejorativamente, claro para desmerecê-los, lá de Goiás, e que deram certo na vida: enricaram. Enricaram, é pouco. Enricaram para c$#@lho! Atingiram o que as “boas escolas” privadas brasileiras estão fazendo de tudo para conseguir com seus pimpolhos bem nascidos: dominaram o mundo dos negócios e se deram bem. Sim, porque não venham com chorumelas de que o que se deseja é formar o cidadão bem sucedido de bom coração, preocupado com o outro, ao lado, o pobrezinho. Faz-me rir! Não se serve a dois senhores, minha gente! Ou bem se forma o cidadão de bem ou bem se forma o cidadão de bens. As prioridades se chocam, convenhamos. Mas, isso é outro assunto, não cabe agora.
O caso aqui é o elogio ao que a sociedade brasileira faz por conseguir e que merece todo o nosso reconhecimento. Acompanhem comigo. Dois moços, interioranos, com sotaque que costuma ser rejeitado pela elite, têm chance de ampliarem seus negócios, pelo apoio de um governo de um certo cunho popular de valorizar a indústria nacional, crescem e ficam ricos. O que fazem? Seguem a lógica que aprenderam nas linhas e entrelinhas do agir de sucesso: compram pessoas; casam-se com mulheres enquadradas no padrão de beleza que domina a sociedade; passam a adorar os Estados Unidos e sua sociedade marcada pela forma imperialista de ser; deixam-se levar pelo luxo e pelas aparências; dominam com dólares de seus lucros todo o aparelho de Estado; o Outro, seja qual for, é Objeto que submete mediante seu poder de servir ao deus DINHEIRO; seguem a cartilha do individualismo exacerbado e endossam o egoísmo como regra de vida; postam-se nas nuvens de quem tudo pode e tudo compra; jogam às favas qualquer resquício de Ética; traem quaisquer pessoas para garantir seus propósitos; garantem a sua liberdade e a dos seus, mediante seus instrumentos próprios; e ... final feliz... voam para os Estados Unidos para viver no país que funciona bem e que não é um brasilzinho qualquer, de merda.
Parabéns, Brazil!!!!!!!!!!!!!!!!!! É só dar chance que qualquer um faz o que ensinamos. E viva Wesley e Joesley! Bom proveito, caros vermes! E nós todos, que cá ficamos, façamos nossa autocrítica. Esse sucesso todo tem tudo a ver com o nosso fracasso como sociedade educadora. No sentido da humanização, claro.






quarta-feira, 17 de maio de 2017

Escrever por antecipação, não
17/5/2014
O café da manhã especial - onde me deliciei com uma muito doce banana da terra cozida, coberta por uma manteiguinha de primeira e uma nuvenzinha de açúcar de mentira por cima - foi dos deuses... Saí da mesa com o jornal em baixo do braço em direção à rede do jardim feliz da vida. O sol aqui fora, sol de maio, daquele que acaricia a pele da gente com uma suavidade difícil de descrever, coloca ainda mais luz em meu coração e em minha alegria de estar aqui recebendo seu calor. O jornal fica de lado, esperando, e eu olho em volta a beleza da vida que me acolhe nesta manhã iluminada. Logo vem a vontade de escrever. Mas não é hora disso. É melhor parar. Viver tudo isso e o que virá. Escrever, só depois...

quinta-feira, 11 de maio de 2017

A TRISTEZA PELO OUTRO
11/5/2016
Que 11 de maio é este onde nas ruas de minha cidade tudo transcorreu normalmente sem nada de diferente que perturbasse o caminhar das pessoas, o buzinar dos motoristas apressados ou, em seu todo, o correr costumeiro dos dias banais?
Que 11 de maio é este onde os chamados senadores da República se sucedem na tribuna, falando para as câmeras da TV, com o plenário totalmente esvaziado (pasmem, eu vi, uns gatos pingados, aqui e acolá), indicando que os oradores só chegam ao local da sessão quando se aproxima a sua vez de falar, num jogo de cena falso até a medula?
Que 11 de maio é este em que os apoiadores da cassação e que tanto incentivaram os parlamentares golpistas, agora estão silenciosos, cada qual em seu canto, sem demonstrar nenhuma vontade de se entregar a uma até natural comemoração coletiva?
Não sei responder. Só sei e sinto que para mim não haverá mais tempo de ver nosso país viver alguma outra tentativa menos elitista de desenvolver políticas públicas. Não deu.
Não quero ser pessimista, mas desconfio que está por vir um largo tempo de perdas e indignidades.
Quanta dor! Não por mim que estou aqui deitada em minha cama acolhedora, cheirosa e protegida. Mas, por quem não tem onde deitar. Ou onde cair morto, como se diz por aí.
DA ORDEM DAS INUTILIDADES
11/5/2016
As coisas não servem apenas para o que foram criadas
Não é falta do que fazer, não. Mas também não sei o porquê. O certo é que cá estou eu a escrever sobre inutilidades. Sem ao menos entender o motivo. Mas, vamos lá. Por que não?
É que Cecilia Goulart fez cá um comentário sobre a minha postagem da charge do Renato Aroeira e quando dei por mim estava a ver que o Face acaba sendo também um anunciador da vida alheia. Mais especificamente, dos amigos que acordam cedo.
Primeiro surjo eu, duvido que alguém dê bom dia à rede antes de mim. Logo, logo, surge Flávio Mussa Tavares (aliás, cadê ele hoje? Perdeu a hora, colega?); Ana Chrystina Mignot é das minhas, chega cedo também, madrugadeira como ela só; Cecilia Goulart tem que pular da cama cedo, afinal tem que cruzar a Ponte bem cedo para chegar á UFF). Lucinha Rodrigues Bastos não tarda a chegar e por aí vão se sucedendo as presenças que, mesmo distantes, se fazem presentes nas nossas conversas de manhãzinha. E são muitas...
O Mark Zuckerberg atirou no que viu e acertou em cheio em muitas coisas que não viu. Eu, sem nenhum alarde, pegando uma rebarba do seu invento, acabo de criar um meio eficaz de fuxicar a vida dos outros, mais especificamente, a quantas anda o relógio biológico de cada um. É só acordar e esperar que os amigos chegam, um a um, certeiros.
Dará dinheiro? Vou patentear. Em tempos bicudos, quem sabe não dá algum?
(Preguiça de sair da cama dá nisso...)

segunda-feira, 8 de maio de 2017

O QUE COLOCAR NO LUGAR DO CINISMO?
8/5/2015
Olho prum lado, a amiga me manda, emocionada, lá de Portugal, a foto do quarto de Fernando Pessoa, e eu me emociono junto.
Olho pra frente e assisto na TV a situação das 3 mil famílias, acho que é esse o número, que ficaram com suas casas alagadas lá no norte do país, vendo seus móveis saírem porta afora, “apenas” porque a empresa abriu as comportas da represa sem avisar a ninguém e, lástima!, estão na rua, desconsoladas. (Claro que os responsáveis já anunciaram que estão dando todo o apoio. Me enganem que eu gosto!) .
Comunico-me com os filhos e me animo com nossos planos que vão sendo costurados para termos alguns dias juntos, em família. Sonho antigo, e dos bons!
Escuto a porta e é o entregador com as compras que chegam do mercado, com alguns “errinhos de cálculo” e “apenas” um saco de laranjas totalmente passadas. Por que não fui diretamente lá e fiquei trabalhando? Agora é perder um tempinho para corrigir os equívocos.
Abro meus e-mails e encontro uma inteligente mensagem encaminhando um artigo excelente relembrando a truculência e esperteza do presidente da Câmara e a falta de espaço para o Executivo negociar, ficando entregue às mais sórdidas propostas que lhe são exigidas, dia após dia.Estamos mesmo indo de fracasso em fracasso. E como reclamar mesmo?
Leio uma postagem – uma pessoa afirmando isto e aquilo a respeito de uma outra, carregada de certezas. Não concordo e penso comigo: respondo? Não. Onde está escrito que sou a dona da verdade? Fico mais com Nei Latorraca que disse que quando tiver certezas prefere sair de cena, algo assim.
Mais um tempinho, ainda ao amanhecer e vejo um debate onde uma “estudiosa” (não a conhecia) e um secretário de educação de um dos estados em que os professores estão em greve discutem com um apresentador, conhecido por suas posições conservadoras, sobre o Magistério e a relação entre bons salários e boa atuação profissional. Lamentável! Em foco, um lado, apenas um lado! Essa aparência de democracia, em que se colocam dois ou mais personagens para “blablablar” sem que se contemple uma opinião contrária, mas que, pelo contrário, sejam todos concordantes, só serve para disseminar equívocos, preconceitos e falácias. Lamentável mesmo!
E por aí vai. Só não continuo a desfiar o rosário de incoerências que me chegam por total falta de tempo. É alegria daqui, baboseiras de lá, perversidades de acolá, tudo triturado, pronto para ser servido (ou sorvido, vá saber.). Pra sobreviver, dou meia volta, me desligo por algum tempo e me alieno, voltando a ler um trabalho que trata de conceitos e soluções para a educação brasileira. A vaca vai indo toda faceira para o brejo, e eu aqui fazendo de conta que acredito que as palavras movem o mundo.
Por isso, a pergunta: o que colocar no lugar do cinismo?

domingo, 7 de maio de 2017


Resultado de imagem para união faz a força

POR QUE O SILÊNCIO?
UAU! TEREI DESCOBERTO?
7/5/2017


Pequena amostra do contexto...
A vizinha reclama da violência. A prima desanca a roubalheira, xinga seus autores e quer o "nosso" dinheiro de volta. O amigo estremece de ódio só de ouvir falar o nome do temer e de outros membros de sua tropa. A moça franzina puxa conversa no ônibus para falar do medo de andar na rua. A aposentada, pegando remédio na Farmácia Popular, diz que só pode tomar medicamentos gratuitos, os demais não tem como sustentar e sua saúde (precária) que aguente. O síndico se esgoela pelo atraso de alguns proprietários no pagamento do condomínio e tome de dispensar uns e outros funcionários para cortar custos. A madame arregala os olhos ao saber que o filho da empregada não tem mais como ir à escola sem condução gratuita e que a doméstica terá que trazê-lo ao trabalho pelo menos duas vezes por semana. O danado (e careiro) do dono do supermercado da vizinhança alega que está com as prateleiras pouco abastecidas porque a crise o deixou sem recursos para investir...
Esses são alguns dados empíricos, observados a olho nu sem grande esforço por qualquer um de nós, aqui perto ou mais adiante. E como eles, muitíssimos outros poderiam ser descritos como indícios da insatisfação desmedida reinante entre nós, brasileiros. É raiva, revolta e desgosto até dizer chega. Qualquer assunto descamba para o alto grau de maus sentimentos das pessoas com as quais convivemos, com maior ou menor proximidade.
Com um olho no padre, outro na missa, diante da situação constatada, a índole viciadamente inquiridora extrai do íntimo a indagação e me faz indagar: se assim é, se há praticamente um uníssono de desagrado, por que o silêncio no âmbito do coletivo? Por que só os resmungos ao pé do ouvido, as falações individualizadas que apenas aliviam na hora a ranhetice e não servem para nada que faça mudar substancialmente a realidade posta?
(Fundo musical de suspense)
Suspeito de que começo a ter uma resposta plausível a respeito e convido meus 25 seguidores a pensarem comigo...
Sabem o que pensei? Sabem porque só tem ido para a rua é a esquerda e quem é contra o golpe de abril de 2016?
Está me parecendo simples, límpido, translúcido: é porque cada qual prefere perder o que tiver que perder - a paz de espírito, a tranquilidade, a segurança financeira, e o que mais for - mas jamais abrir mão da situação de se sentir superior, diferenciado, privilegiado em relação ao conjunto dos mortais. É a velha lógica do matrimônio aplicada ao conjunto da vida em sociedade: "sou infeliz, mas tenho marido".
No dia em que aquele que se pretende e se vê como privilegiado perder a arrogância e olhar o outro como também um sujeito de direitos e estivermos juntos na mesma calçada da mesma rua... ah, o mundo, enfim, será um lugar respirável e de possibilidades de vida inteligente e fraterna. VIDA HUMANA.
Ah, Francisco, siga adiante, não desista, para que nossas vozes possam ser reunidas um dia num cântico em uníssono de louvor à justiça social e ao bem querer.
AMÉM!