O QUE COLOCAR NO LUGAR DO CINISMO?
8/5/2015
Olho prum lado, a amiga me manda, emocionada, lá de Portugal, a foto do quarto de Fernando Pessoa, e eu me emociono junto.
Olho pra frente e assisto na TV a situação das 3 mil famílias, acho que é esse o número, que ficaram com suas casas alagadas lá no norte do país, vendo seus móveis saírem porta afora, “apenas” porque a empresa abriu as comportas da represa sem avisar a ninguém e, lástima!, estão na rua, desconsoladas. (Claro que os responsáveis já anunciaram que estão dando todo o apoio. Me enganem que eu gosto!) .
Comunico-me com os filhos e me animo com nossos planos que vão sendo costurados para termos alguns dias juntos, em família. Sonho antigo, e dos bons!
Escuto a porta e é o entregador com as compras que chegam do mercado, com alguns “errinhos de cálculo” e “apenas” um saco de laranjas totalmente passadas. Por que não fui diretamente lá e fiquei trabalhando? Agora é perder um tempinho para corrigir os equívocos.
Abro meus e-mails e encontro uma inteligente mensagem encaminhando um artigo excelente relembrando a truculência e esperteza do presidente da Câmara e a falta de espaço para o Executivo negociar, ficando entregue às mais sórdidas propostas que lhe são exigidas, dia após dia.Estamos mesmo indo de fracasso em fracasso. E como reclamar mesmo?
Leio uma postagem – uma pessoa afirmando isto e aquilo a respeito de uma outra, carregada de certezas. Não concordo e penso comigo: respondo? Não. Onde está escrito que sou a dona da verdade? Fico mais com Nei Latorraca que disse que quando tiver certezas prefere sair de cena, algo assim.
Mais um tempinho, ainda ao amanhecer e vejo um debate onde uma “estudiosa” (não a conhecia) e um secretário de educação de um dos estados em que os professores estão em greve discutem com um apresentador, conhecido por suas posições conservadoras, sobre o Magistério e a relação entre bons salários e boa atuação profissional. Lamentável! Em foco, um lado, apenas um lado! Essa aparência de democracia, em que se colocam dois ou mais personagens para “blablablar” sem que se contemple uma opinião contrária, mas que, pelo contrário, sejam todos concordantes, só serve para disseminar equívocos, preconceitos e falácias. Lamentável mesmo!
E por aí vai. Só não continuo a desfiar o rosário de incoerências que me chegam por total falta de tempo. É alegria daqui, baboseiras de lá, perversidades de acolá, tudo triturado, pronto para ser servido (ou sorvido, vá saber.). Pra sobreviver, dou meia volta, me desligo por algum tempo e me alieno, voltando a ler um trabalho que trata de conceitos e soluções para a educação brasileira. A vaca vai indo toda faceira para o brejo, e eu aqui fazendo de conta que acredito que as palavras movem o mundo.
Por isso, a pergunta: o que colocar no lugar do cinismo?