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VERDADEIRO PRAZER NUNCA MORRE
23/05/2014
A gente vai envelhecendo e parece que o que é legítimo
dentro de nossa carcaça (até que jeitosinha por fora) brota sem pedir licença
e, quando a gente vê, já está claro que nem luz do amanhecer em Atafona à beira
mar. A crença é até a de que se olharmos de frente até cega, tamanha a
luminosidade com que se apresenta.
A gente vem seguindo a vida, adotando hábitos, posturas,
costumes, sem perceber que está driblando os chamados mais profundos dos nossos gostares e prazeres. De repente, com o passar
dos anos e com o chegar da idade do chapéu lilás (ou verde limão, não sei qual
é pior), como num terremoto do bem, a nossa superfície-pele-terra se vai
abrindo, fazendo surgir das profundezas o que andava escondido desde os tempos
em que Dondon jogava no Andaraí (ou, para ser mais bairrista, desde que Didi
fazia a sua "folha-seca" com aquela elegância toda). A coisa vem,
empurra barreiras, afasta carnes, pensamentos e quaisquer outros empecilhos e,
quando se espanta, é realidade viva, impondo-se a nós mesmos e aos jeitos que
fomos introduzindo em nosso cotidiano e que não nos era tão natural, muito
menos promotor de prazer.
Esse palavrório todo (como é do meu feitio...), só para dizer
que, quanto mais meus cabelos se tornam prateados, mais eu gosto de andar sem
sapatos, descalcinha da silva. Tocando com os pés diretamente o chão - seja ele
de terra, grama, pedra ou madeira - o caminho que tenho pela frente é só
prazer, só falta que eu venha a assobiar para explicitar vivamente a minha
alegria. Mas, por dentro, bem que tem música boa acompanhando meus passos, ora
titubeantes, ora firmes, não importa, mas que são os que legitimamente sei
desenhar pelo solo da vida que vem vindo, enquanto vem vindo com seus
surpreendentes traçados... e isso, com os pés trazendo diretamente a todo o
corpo o calor, o frio, a maciez e tudo mais que vem do chão que nos suporta
enquanto seguimos adiante...
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