FREUD, LACAN E AGREGADOS, TENHAM PIEDADE DE MIM!

7/5/2015

Sonhar que trouxe uma família do Nepal para morar comigo, duas crianças e uma mulher já idosa, não dá!

Que, ainda por cima, fiquei preocupada com as duas crianças que se vestiam com os trajes de seu país e que, ao saírem à rua, as crianças nossas vizinhas, quando as viram na rua, começaram a rir, impiedosamente, não dá.

Que junto vieram um cavalo e um cão, dos quais eu também cuidava, limpando-os e alimentando-os, não dá.

Que isso tudo, minha casa, era vizinhança de uma igreja católica onde crianças brasileiras entravam, porta adentro, numa roda enorme de lata (como uma imensa lata de leite Ninho), girando seu objeto de distração, às gargalhadas, não dá.

Que eu alimentei cavalo e cão, do lado da igreja e depois vim para o interior de minha casa para limpá-la todinha, não dá.

Que, como havíamos chegado de viagem, saí para comprar pão e mais alguma coisa que fosse do agrado da família estrangeira e pobre, e não encontrar nada, apenas lojinhas mínimas que vendiam sabão em pó, não dá.

Que, ao retornar, encontrei uma de minhas irmãs, já falecida, num dos quartos, descansando numa cama, que ainda não havia sido limpa, ela que sempre foi super higiênica, não dá.

Que comecei a limpar a casa, cujo cômodo principal era uma sala enorme, à moda oriental, com um tapete imenso que cobria quase todo o seu assoalho, tapete muito envelhecido, empoeiradíssimo, e que eu varria, varria, mas os cantos ainda ficavam com uma espécie de lantejoulas agarradas na madeira do chão, não dá.

Que eu acordei e senti que ainda há muita muita situação ainda incompreendida por baixo do tapete da minha vida, aí dá. Mas e o resto, santo Deus? Que culpa é esta que carrego diante dos pobres? Por que minha irmã veio me visitar numa casa – minha – inadequada às suas exigências? Para eu mais uma vez ter que lembrar que eu era a "diferente" da família? Ou, o que é mais santo sentir, para mostrar que ela, apesar de nossas diferenças gritantes, podia contar com minha cama, com meu colo?

Serra da Tiririca, valei-me! Dialética que me faz cruzar raízes, caminhos e pontas, auxiliai-me! Santa Silvia da Psicanálise, socorrei-me! Trabalho que me aguarda, ocupai-me! Coração indômito que não cansa de me surpreender, dai-me entendimento! Bom humor que me compõe, invadi-me!