quinta-feira, 25 de maio de 2017




O ONTEM E O AMANHÃ NO MOMENTO PRESENTE - LINHAS SEMPRE CRUZADAS 
(com um beijo para Maria Eduarda)
25/05/2014
Cá com meus botões, enquanto caminhava para abraçar a linda filha de um casal de amigos, em sua primeira comunhão, na igreja aqui do lado de casa, fui pensando em como a vida que a gente vai vivendo não traz apenas cada fato vivo, ali, na hora, mas tudo com o que com ele se cruza de lembranças e de expectativas. Nunca havia tido tão nitidamente esta noção do presente como dependente do que lhe precedeu e do que virá. Escrever até já escrevi sobre isso e até já dei aulas a respeito: a dialética entre o presente, o passado e o futuro. Mas, eu falo é de sentir a coisa na carne mesmo. Como agora, sentindo com nitidez a conjugação dos tempos.
O senhor que passa na caminhonete, ao meu lado, e deixa a mocinha na esquina sem levá-la até a porta da igreja – e a rua está enlameada – não é apenas ele e seu gesto. É ele, sua atitude incompreensível (para mim) e tudo quanto é carona que já dei e recebi em toda a minha vida. Ou seja: é o agora, o antes e o depois. Juntos. Do antes, eu trago o conceito, forjado através da vida, que carona é de porta a porta. Isso, de minha parte. Tem o lado dele, o da "vítima" de meu olhar, olhar que apenas ia garimpando imagens em torno enquanto fugia de uma poça e outra... Do lado dele, do moço, eu nem suspeito, e nem é o caso agora...
Eu olho e – mania de julgar coisas, gestos e pessoas – dou-me umas palmadas simbólicas na região do cérebro e do coração – que já se uniram a pensar mal do já rotulado egoísta – e me ponho a escapar da tendência de saber o caminho de todas as pedras e de todas as melhores práticas para todas as circunstâncias. Como posso saber o que se passou e arbitrar que a cena que vi é um equívoco no lugar da idealizada carona da origem de um percurso até o seu final?
Será preciso mais uma vez tomar o exemplo de Scarlett O’Hara no final de “E o vento levou”: viver o aqui e agora e deixar a dúvida para ser enfrentada depois. Tenho que me emendar. E me emendar depois de refletir sobre o assunto. Não sou eu quem sempre defende que a aparência é muito precária para dar conta de explicar as coisas que se sucedem a cada passo do caminho? Como já vou jogando o motorista da tal caminhonete no rol dos indelicados e insensíveis?
Mas isso eu penso mais tarde. Agora, o que quero dizer, o que me fez pensar mesmo (antes mesmo do moço cruzar meu caminho na rua da igreja) foi na nítida sensação do entrelaçamento entre os tempos. O hoje não consegue ser apreciado, simplesmente vivido, sem tudo que já vivemos antes. Eles se determinam mutuamente. Sem falar dos anseios de futuro que temos, que também regem nossa forma de ser aqui e agora, quando não abrimos mão de sonharmos com um mundo solidário entre todos, os que vão a pé, os que vão de carro e até mesmo os que nem chegaram a vir... O que almejamos também interfere do que vemos no tempo do agora.
... Tudo isso sendo pensado até entrar finalmente na tal igrejinha tão singela atrás de casa e olhar Maria Eduarda, lindinha, encantadora, totalmente contrita, enlevada, ao receber a hóstia pela primeira vez. É quando, novamente os tempos se enredam e eu me vejo, na mesma pureza, quando foi a minha vez, lá em Campos, na Catedral, após o período de catequese, ministrado por dona Floriana, no Calomeni. 
 Sem palavras. Só emoção! E lágrimas, claro, se não, não sou eu...
Emocione-se muito mesmo, Maria Eduarda! Entregue-se por inteiro ao sonho de bondade e de generosidade que leva você à Religião. Mas, sem culpas, querida! Estejamos unidos, todos nós, em procurar fazer dos bons sentimentos – de que seu olhar é a mais pura expressão – o caminho mais seguro no qual as palavras se transformem em gestos. Um dia de cada vez e todos eles tendo por meta transformar nossas palavras em gestos – esse é um desafio e tanto. Continuemos em seu encalço! Com você junto, com certeza, fica mais leve...

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