POR QUE O SILÊNCIO?
ESTAREI NO CAMINHO DE DESCOBRIR?
7/5/2017
Pequena amostra do contexto...
A vizinha reclama da violência. A prima desanca a roubalheira, xinga seus autores e quer o "nosso" dinheiro de volta. O amigo estremece de ódio só de ouvir falar o nome do temer e de outros membros de sua tropa. A moça franzina puxa conversa no ônibus para falar do medo de andar na rua. A aposentada, pegando remédio na Farmácia Popular, diz que só pode tomar medicamentos gratuitos, os demais não tem como sustentar e sua saúde (precária) que aguente. O síndico se esgoela pelo atraso de alguns proprietários no pagamento do condomínio e tome de dispensar uns e outros funcionários para cortar custos. A madame arregala os olhos ao saber que o filho da empregada não tem mais como ir à escola sem condução gratuita e que a doméstica terá que trazê-lo ao trabalho pelo menos duas vezes por semana. O danado (e careiro) do dono do supermercado da vizinhança alega que está com as prateleiras pouco abastecidas porque a crise o deixou sem recursos para investir...
Esses são alguns dados empíricos, observados a olho nu sem grande esforço por qualquer um de nós, aqui perto ou mais adiante. E como eles, muitíssimos outros poderiam ser descritos como indícios da insatisfação desmedida reinante entre nós, brasileiros. É raiva, revolta e desgosto até dizer chega. Qualquer assunto descamba para o alto grau de maus sentimentos das pessoas com as quais convivemos, com maior ou menor proximidade.
Com um olho no padre, outro na missa, diante da situação constatada, a índole viciadamente inquiridora extrai do íntimo a indagação e me faz indagar: se assim é, se há praticamente um uníssono de desagrado, por que o silêncio no âmbito do coletivo? Por que só os resmungos ao pé do ouvido, as falações individualizadas que apenas aliviam na hora a ranhetice e não servem para nada que faça mudar substancialmente a realidade posta?
(Fundo musical de suspense)
Suspeito de que começo a ter uma resposta plausível a respeito e convido meus 25 seguidores a pensarem comigo...
Sabem o que pensei? Sabem porque só quem tem ido para a rua é a esquerda e quem é contra o golpe de abril de 2016?
Está me parecendo simples, límpido, translúcido: é porque cada qual prefere perder o que tiver que perder - a paz de espírito, a tranquilidade, a segurança financeira, e o que mais for - mas jamais abrir mão da situação de se sentir superior, diferenciado, privilegiado em relação ao conjunto dos mortais. É a velha lógica do matrimônio aplicada ao conjunto da vida em sociedade: "sou infeliz, mas tenho marido". Coisa de quem preza a aparência e o "sabe com quem está falando".
No dia em que aquele que se pretende e se vê como privilegiado perder a arrogância e olhar o outro como também um sujeito de direitos e estivermos juntos na mesma calçada da mesma rua... ah, o mundo, enfim, será um lugar respirável e de possibilidades de vida inteligente e fraterna. VIDA HUMANA.
Ah, Francisco, siga adiante, não desista, para que nossas vozes possam ser reunidas um dia num cântico em uníssono de louvor à justiça social e ao bem querer.
AMÉM!
Aqui há palavras que vão de mim para o mundo, esperando que voltem recriadas, junto a tantas outras, construídas por quem quiser compartilhar este espaço. Entendo ser este um ninho verbal, cujos galhos-palavras podem e devem acolher sentimentos, saberes, expectativas, percursos. O nome? Vem de CARMEAR, “ação de desfazer nós”. Caminhemos, pois. Carmeando.
segunda-feira, 7 de maio de 2018
quinta-feira, 3 de maio de 2018
DA ORDEM DAS INUTILIDADES
EXERCÍCIO DO PENSAR
2/5/2016
(Só perca tempo lendo esta bobice se estiver totalmente à toa)
Leio por aqui uma gentil mensagem vinda de algum dos inúmeros membros desta rede, repassando a seguinte ideia: “faça de você mesmo o centro de seu dia”. Chamamento perfeito para mim, que vivo insistentemente em busca de mim mesma, de minha integralidade. Estava dada a chave irresistível para abrir as minhas primeiras especulações neste novo amanhecer.
Ponho-me em alerta e começo a entrar na trama dessas palavras, em seus sentidos e no que está a propor o conjunto delas, que deve trazer um bom conselho.
Anunciando-se como premissa do que estava posto na superfície das palavras, encontro a proposição de que a mim mesma cabe a ação. Está dado o primeiro passo. Em termos lúdicos, andei uma casa. O fazer é meu e se eu fizer de mim mesma o centro de meu dia, isso será bom. Bom? Onde está escrito isso? Não, aí já é um passo adiante, metendo o bedelho por trás das palavras. Ora, ninguém iria propor um caminho sem saber onde quer chegar. Se não, para que o conselho? A ideia de que devo fazer de mim mesma o centro do mundo só pode ter a sustentá-la a perspectiva de que vale a pena agir assim, o final do dia deve me trazer algo desejável, saboroso, agradável, de algum ponto de vista. Deve, pois, valer a pena. Certamente, o autor propôs tal direção tendo em mente um caminho para algo de bom para cada um. Se não, para quê? Há, pois, imagino, um bom resultado para quem se dispuser a ser o centro de si mesmo.
Continuo minhas especulações, quem sabe dá certo? Imagino que se está postado aqui, é uma proposta que não surgiu assim, assim, do nada. Alguém pensou, imaginou, juntou alhos com bugalhos, e chegou à assertiva que gerou essa sugestão que está correndo mundo, alcançando uns e outros, onde me incluo.
Avanço, então, mais um tanto, já me enlaçando nas palavras do outro e me vejo diante de mais um acréscimo que me levou a entender melhor o que acabava de ler. E, aí, a ideia se amplia e fica mais ou menos assim: “se quer encontrar uma situação de prazer, de realização, no mundo, seja o centro de sua vida”. Ou, dito de outro jeito: “Para se sentir bem no mundo, aja na vida tendo você como o centro de seus dias, começando pelo dia de hoje”.Ou, ainda, numa outra maneira de escrever: “o êxito de seu dia depende de você ao agir como o centro das horas que o compõem”.
Posto isso, no percurso de entendimento que me dispus a traçar, era chegada a hora de enfrentar o cerne da questão: o que pode significar, para mim, fazer de mim mesma o cento de minha vida? Como entender minha individualidade para que ela seja o centro que possa conter a gênese na qual eu possa buscar os elementos para fazer de mim mesma o centro de mim mesma para obter um sentimento de realização pessoal ao final das horas do dia?
Aí é que surgiu a pedra do meio do meu caminho. Frustração das brabas. Danou-se! A boniteza toda dessa “instrução para o bem viver” não serve pra mim. Eu não sou só eu. Em mim há o mundo todo. Eu ser o centro do meu dia envolve a mim mesma na relação com o mundo. Não sou só. Minha individualidade se faz no convívio com as gentes e as coisas do mundo.
Aí fica difícil. Impossível, chego a pensar. Fosse eu cartesiana, pudesse repartir o que só eu sou e o que é só o outro, dava para seguir io conselho alheio. Não sendo assim, resta-me prosseguir convivendo com todas as contradições de todos que se entrecruzam. O centro de meu dia, para ser fiel a mim mesma, contém bem mais do que me deliciar com 6 pães de queijo acompanhados de um capuccino bem cremoso no Café da esquina. Isso, sim, seria só meu, sozinha.
Cá da minha poltroninha gostosa, já com os pés mais protegidos diante da nova temperatura, fico mesmo é querendo que o conselheiro que me inspirou tenha também o entendimento de que não dá para separar o que a natureza e a cultura juntaram para sempre: o cada um e o outro, reciprocamente acolhidos um no âmago do outro. Inseparáveis.
EXERCÍCIO DO PENSAR
2/5/2016
(Só perca tempo lendo esta bobice se estiver totalmente à toa)
Leio por aqui uma gentil mensagem vinda de algum dos inúmeros membros desta rede, repassando a seguinte ideia: “faça de você mesmo o centro de seu dia”. Chamamento perfeito para mim, que vivo insistentemente em busca de mim mesma, de minha integralidade. Estava dada a chave irresistível para abrir as minhas primeiras especulações neste novo amanhecer.
Ponho-me em alerta e começo a entrar na trama dessas palavras, em seus sentidos e no que está a propor o conjunto delas, que deve trazer um bom conselho.
Anunciando-se como premissa do que estava posto na superfície das palavras, encontro a proposição de que a mim mesma cabe a ação. Está dado o primeiro passo. Em termos lúdicos, andei uma casa. O fazer é meu e se eu fizer de mim mesma o centro de meu dia, isso será bom. Bom? Onde está escrito isso? Não, aí já é um passo adiante, metendo o bedelho por trás das palavras. Ora, ninguém iria propor um caminho sem saber onde quer chegar. Se não, para que o conselho? A ideia de que devo fazer de mim mesma o centro do mundo só pode ter a sustentá-la a perspectiva de que vale a pena agir assim, o final do dia deve me trazer algo desejável, saboroso, agradável, de algum ponto de vista. Deve, pois, valer a pena. Certamente, o autor propôs tal direção tendo em mente um caminho para algo de bom para cada um. Se não, para quê? Há, pois, imagino, um bom resultado para quem se dispuser a ser o centro de si mesmo.
Continuo minhas especulações, quem sabe dá certo? Imagino que se está postado aqui, é uma proposta que não surgiu assim, assim, do nada. Alguém pensou, imaginou, juntou alhos com bugalhos, e chegou à assertiva que gerou essa sugestão que está correndo mundo, alcançando uns e outros, onde me incluo.
Avanço, então, mais um tanto, já me enlaçando nas palavras do outro e me vejo diante de mais um acréscimo que me levou a entender melhor o que acabava de ler. E, aí, a ideia se amplia e fica mais ou menos assim: “se quer encontrar uma situação de prazer, de realização, no mundo, seja o centro de sua vida”. Ou, dito de outro jeito: “Para se sentir bem no mundo, aja na vida tendo você como o centro de seus dias, começando pelo dia de hoje”.Ou, ainda, numa outra maneira de escrever: “o êxito de seu dia depende de você ao agir como o centro das horas que o compõem”.
Posto isso, no percurso de entendimento que me dispus a traçar, era chegada a hora de enfrentar o cerne da questão: o que pode significar, para mim, fazer de mim mesma o cento de minha vida? Como entender minha individualidade para que ela seja o centro que possa conter a gênese na qual eu possa buscar os elementos para fazer de mim mesma o centro de mim mesma para obter um sentimento de realização pessoal ao final das horas do dia?
Aí é que surgiu a pedra do meio do meu caminho. Frustração das brabas. Danou-se! A boniteza toda dessa “instrução para o bem viver” não serve pra mim. Eu não sou só eu. Em mim há o mundo todo. Eu ser o centro do meu dia envolve a mim mesma na relação com o mundo. Não sou só. Minha individualidade se faz no convívio com as gentes e as coisas do mundo.
Aí fica difícil. Impossível, chego a pensar. Fosse eu cartesiana, pudesse repartir o que só eu sou e o que é só o outro, dava para seguir io conselho alheio. Não sendo assim, resta-me prosseguir convivendo com todas as contradições de todos que se entrecruzam. O centro de meu dia, para ser fiel a mim mesma, contém bem mais do que me deliciar com 6 pães de queijo acompanhados de um capuccino bem cremoso no Café da esquina. Isso, sim, seria só meu, sozinha.
Cá da minha poltroninha gostosa, já com os pés mais protegidos diante da nova temperatura, fico mesmo é querendo que o conselheiro que me inspirou tenha também o entendimento de que não dá para separar o que a natureza e a cultura juntaram para sempre: o cada um e o outro, reciprocamente acolhidos um no âmago do outro. Inseparáveis.
sábado, 28 de abril de 2018
DA ORDEM DE "A SAÍDA É PELO RISO" (*)
28/04/2016
Esta eu soube agora cedo. E, como soe acontecer, venho contar pra quem quiser saber. É porque não adianta, já desisti de lutar contra mim mesma. Não consigo ser diferente. Fazer o quê? Cismei que meu papel no mundo passa pelo uso das palavras, seja para debater ideias sérias sobre a politica e o cotidiano, seja para rir e fazer rir. E, aí, escrevo, escrevo, escrevo.
Escrever em minha vida exerce, como na própria escrita, o papel de uma vírgula, de um ponto e vírgula ou de um ponto entre um parágrafo e outro. Até a história terminar e chegar o momento do inexorável ponto final. Vou vivendo, dando conta dos meus dias, tenham eles a cor que tiverem, mas, de um intervalinho, de uma pausa, maior ou menor, eu não posso abrir mão. Já é o normal: posso estar no meio da mais rebuscada ou simples tarefa, quando bate a necessidade de escrever, é parar e cumprir "a missão". Isso só não vale para momentos totalmente avessos à possibilidade de dar vida ao desejo, seja por estar acompanhada, no cinema, na rua,... Aí, é anotar no tablet para não esquecer e, logo que possível, escrever.
A historinha de hoje não precisou esperar. Me alcançou ainda na cama, quando começava a dedilhar o celular para trocar teleafetos com aquelas pessoas com quem converso antes mesmo de tomar o meu indispensável Tecta. Então, foi viver o diálogo e vir direto contar aqui.
Quem me contou foi a sobrinha querida. Uma explicação prévia, no entanto, se faz necessária. A criatura vive num luto doentio por conta de um antigo amor e todos nós, que gostamos dela, tentamos de todo modo tirá-la dessa mania de viver deste passado já morto e enterrado. Mas tem sido difícil. Até o momento, tarefa inglória.
Mas, vamos à historinha. Ela me conta que uma sua amiga lhe mandou uma destas mensagens inspiradas que servem de ajuda para quem estiver precisando, seja seu problema de que tipo for. A mensagem, ela me repassou, trazia uma texto bem poético que terminava exatamente assim: "aprenda que você não pode controlar o que acontece com você, mas pode treinar a forma de reagir diante do que lhe acontece."
Pois ela não perdeu tempo. Rindo-se do seu próprio enredo, mais que depressa respondeu ao conselho, dizendo apenas assim:
"Hoje comecei a treinar, com fé, a forma de reagir diante do que me acontece. Veja se assim está bem:
Hoje não vou pensar em Luiz Eduardo.
Hoje não vou pensar em Luiz Eduardo.
Hoje não vou pensar em Luiz Eduardo.
Hoje não vou pensar em Luiz Eduardo.
Hoje não vou pensar em Luiz Eduardo.
Hoje não vou pensar em Luiz Eduardo.
Hoje não vou pensar em Luiz Eduardo.
Hoje não vou pensar em Luiz Eduardo.
Hoje não vou pensar em Luiz Eduardo.
Hoje não vou pensar em Luiz Eduardo.
Agora é só ficar repetindo isso o dia inteiro. Creio que desta vez eu me curo. Dará certo? Estou confiante!"
Tinha eu, com esta mania de escrever, não registrar esta pérola?
(*) Politicamente, claro que é pela esquerda!
28/04/2016
Esta eu soube agora cedo. E, como soe acontecer, venho contar pra quem quiser saber. É porque não adianta, já desisti de lutar contra mim mesma. Não consigo ser diferente. Fazer o quê? Cismei que meu papel no mundo passa pelo uso das palavras, seja para debater ideias sérias sobre a politica e o cotidiano, seja para rir e fazer rir. E, aí, escrevo, escrevo, escrevo.
Escrever em minha vida exerce, como na própria escrita, o papel de uma vírgula, de um ponto e vírgula ou de um ponto entre um parágrafo e outro. Até a história terminar e chegar o momento do inexorável ponto final. Vou vivendo, dando conta dos meus dias, tenham eles a cor que tiverem, mas, de um intervalinho, de uma pausa, maior ou menor, eu não posso abrir mão. Já é o normal: posso estar no meio da mais rebuscada ou simples tarefa, quando bate a necessidade de escrever, é parar e cumprir "a missão". Isso só não vale para momentos totalmente avessos à possibilidade de dar vida ao desejo, seja por estar acompanhada, no cinema, na rua,... Aí, é anotar no tablet para não esquecer e, logo que possível, escrever.
A historinha de hoje não precisou esperar. Me alcançou ainda na cama, quando começava a dedilhar o celular para trocar teleafetos com aquelas pessoas com quem converso antes mesmo de tomar o meu indispensável Tecta. Então, foi viver o diálogo e vir direto contar aqui.
Quem me contou foi a sobrinha querida. Uma explicação prévia, no entanto, se faz necessária. A criatura vive num luto doentio por conta de um antigo amor e todos nós, que gostamos dela, tentamos de todo modo tirá-la dessa mania de viver deste passado já morto e enterrado. Mas tem sido difícil. Até o momento, tarefa inglória.
Mas, vamos à historinha. Ela me conta que uma sua amiga lhe mandou uma destas mensagens inspiradas que servem de ajuda para quem estiver precisando, seja seu problema de que tipo for. A mensagem, ela me repassou, trazia uma texto bem poético que terminava exatamente assim: "aprenda que você não pode controlar o que acontece com você, mas pode treinar a forma de reagir diante do que lhe acontece."
Pois ela não perdeu tempo. Rindo-se do seu próprio enredo, mais que depressa respondeu ao conselho, dizendo apenas assim:
"Hoje comecei a treinar, com fé, a forma de reagir diante do que me acontece. Veja se assim está bem:
Hoje não vou pensar em Luiz Eduardo.
Hoje não vou pensar em Luiz Eduardo.
Hoje não vou pensar em Luiz Eduardo.
Hoje não vou pensar em Luiz Eduardo.
Hoje não vou pensar em Luiz Eduardo.
Hoje não vou pensar em Luiz Eduardo.
Hoje não vou pensar em Luiz Eduardo.
Hoje não vou pensar em Luiz Eduardo.
Hoje não vou pensar em Luiz Eduardo.
Hoje não vou pensar em Luiz Eduardo.
Agora é só ficar repetindo isso o dia inteiro. Creio que desta vez eu me curo. Dará certo? Estou confiante!"
Tinha eu, com esta mania de escrever, não registrar esta pérola?
(*) Politicamente, claro que é pela esquerda!
quinta-feira, 26 de abril de 2018
Dos olhos para a garganta – novo movimento dos sentires maternos
26/04/2014
Quem lê o que vez por outra escrevo já se deparou com minhas insistentes confissões do quanto não sei coisas. Já até pôde ler a relação dos meus especialistas-amigos de plantão que me socorrem para me abastecer das respostas que não sei sobre como lidar com o dia-a-dia, desde a febre do filho pequeno até a melhor maneira de guardar mantimentos ou fazer o acabamento de uma costura em ponto de cruz. Não é falha do mundo, não. A incapacidade nasceu comigo e, pelo andar da carruagem, comigo seguirá até o fim. Mas há uma coisinha ou outra sobre a qual eu julgo ter algum pequeno comentário a fazer. Em outras palavras e sem medo de errar, posso garantir que sobre uma experiência ou outra, bem que eu tenho alguma coisa a ensinar, um pouquinho que seja... Em geral, é sobre coisas do sentimento, daquilo que fere a alma e espeta o peito. Não é ser dramática, não, mas uma delas é sobre a dor de perder um filho. Felizmente, não por vivê-la, na própria carne, mas por ver minha mãe perder aquele que era um seu filho, além de jovenzinho, muito particularmente adorado. Aliás, Maninho tinha um fascínio especial ao qual nos dobrávamos, ela e eu. Então, ver uma mãe, a minha mãe, sofrer a dor da perda de um filho, eu vi e trago comigo o que vi e senti. E lá se vão muitos e muitos anos. Foram meses acamada, conosco em torno, ela sem conseguir voltar à realidade, tomada por um pranto interminável, até mesmo às vezes transformado num riso descontrolado que a nós deixava perplexos e atormentados. Seus olhos e possibilidades de viver realmente custaram muito a retomarem a cor novamente...
Por que penso nisso há alguns dias? Por um motivo que se banaliza entre nós e que me ensina que em cinquenta anos a dor de perder filhos tem outras formas de se manifestar. Hoje em dia, torna-se cada vez mais corriqueiro as mães que perdem filhos não terem sequer tempo de chorar. A dor tem outras formas de sair para o mundo: mal recebem a notícia, os olhos não são mais os portadores das lágrimas que tentam aliviar a dor que atinge em cheio o coração materno. É a garganta o novo órgão capaz de expressar a dor que não se explica. É por meio dos incessantes gritos de pedido de justiça que a dor escapa. Se é que escapa... Ou seja: nem de lágrimas as mães de hoje em dia podem se servir para lavar seu sentimento de fracasso e a interrupção de um caminho comum com aquele com quem vinha dividindo o mundo. A antiga sensação – coisa instintiva mesmo – de chorar apenas por total impossibilidade de se servir de outro recurso que não o choro – foi superado pelas novas circunstâncias históricas. Perder filhos exige frieza e bons pulmões para se fazer ouvir. E sem certeza NENHUMA do resultado que virá.
Estou ficando amarga. Amigos, precisamos nos juntar de algum modo. Sozinhos, nem lágrimas nem gritos serão jamais ouvidos.
26/04/2014
Quem lê o que vez por outra escrevo já se deparou com minhas insistentes confissões do quanto não sei coisas. Já até pôde ler a relação dos meus especialistas-amigos de plantão que me socorrem para me abastecer das respostas que não sei sobre como lidar com o dia-a-dia, desde a febre do filho pequeno até a melhor maneira de guardar mantimentos ou fazer o acabamento de uma costura em ponto de cruz. Não é falha do mundo, não. A incapacidade nasceu comigo e, pelo andar da carruagem, comigo seguirá até o fim. Mas há uma coisinha ou outra sobre a qual eu julgo ter algum pequeno comentário a fazer. Em outras palavras e sem medo de errar, posso garantir que sobre uma experiência ou outra, bem que eu tenho alguma coisa a ensinar, um pouquinho que seja... Em geral, é sobre coisas do sentimento, daquilo que fere a alma e espeta o peito. Não é ser dramática, não, mas uma delas é sobre a dor de perder um filho. Felizmente, não por vivê-la, na própria carne, mas por ver minha mãe perder aquele que era um seu filho, além de jovenzinho, muito particularmente adorado. Aliás, Maninho tinha um fascínio especial ao qual nos dobrávamos, ela e eu. Então, ver uma mãe, a minha mãe, sofrer a dor da perda de um filho, eu vi e trago comigo o que vi e senti. E lá se vão muitos e muitos anos. Foram meses acamada, conosco em torno, ela sem conseguir voltar à realidade, tomada por um pranto interminável, até mesmo às vezes transformado num riso descontrolado que a nós deixava perplexos e atormentados. Seus olhos e possibilidades de viver realmente custaram muito a retomarem a cor novamente...
Por que penso nisso há alguns dias? Por um motivo que se banaliza entre nós e que me ensina que em cinquenta anos a dor de perder filhos tem outras formas de se manifestar. Hoje em dia, torna-se cada vez mais corriqueiro as mães que perdem filhos não terem sequer tempo de chorar. A dor tem outras formas de sair para o mundo: mal recebem a notícia, os olhos não são mais os portadores das lágrimas que tentam aliviar a dor que atinge em cheio o coração materno. É a garganta o novo órgão capaz de expressar a dor que não se explica. É por meio dos incessantes gritos de pedido de justiça que a dor escapa. Se é que escapa... Ou seja: nem de lágrimas as mães de hoje em dia podem se servir para lavar seu sentimento de fracasso e a interrupção de um caminho comum com aquele com quem vinha dividindo o mundo. A antiga sensação – coisa instintiva mesmo – de chorar apenas por total impossibilidade de se servir de outro recurso que não o choro – foi superado pelas novas circunstâncias históricas. Perder filhos exige frieza e bons pulmões para se fazer ouvir. E sem certeza NENHUMA do resultado que virá.
Estou ficando amarga. Amigos, precisamos nos juntar de algum modo. Sozinhos, nem lágrimas nem gritos serão jamais ouvidos.
REPUGNÂNCIA
26/04/2017
(Chegando de Atafona)
Voltar à casa e sentir-se desconfortável. Estranhamento diante do que sempre foi berço. Remexer-se dentre de si mesma para ver se a alma se ajeita no interior do corpo e não encontrar o emparelhamento do invólucro com as entranhas. Esquisitice no sentir e no reencontro com o que sempre foi familiar e escolha.
Tudo no lugar e tudo em desacerto. A beleza e o que sempre quis está aqui. O que antes vim escolhendo pela vida afora e colocando em cada canto – tudo em ordem: do galinho colorido que veio da terra portuguesa à minha foto com Luna na cabeceira. Tudo tão o mesmo quanto pouco íntimo e receptivo.
Que sensação será esta?
Verdade: desta vez não teve mergulho nas “minhas” águas douradas, aquelas que me reabastecem para a volta ao ambiente de seguir em frente. Na calha da minha parca vontade diante da mãe natureza, em Atafona os dias foram de alguma ou muita chuva e de mais acolhida familiar-afetiva em torno de intermináveis trocas do que de sol e conversas à beira mar e mergulhos. O corpo não vagou por entre as ondas de águas tíbias, como soe acontecer anos a fio, na minha medicalização particular de resistência às agruras da vida.
Volto. Cá estou. Meu quarto, meu espaço mais íntimo, meu delicioso ninho me acolhem. A tarde é sonolenta e de readaptação à rotina e a seus cheiros, cores e plasticidade. Me ajeito, me banho, me situo. Mas...
Sei não, mas toda a construção de uma vida inteira que me rodeia em minha deliciosa casa de viver e toda a restauração que sempre veio da praia da infância em seus véus de proteção estão fora de prumo. Onde a esperança? Quando a possibilidade? De onde o movimento de construção do novo? Por que o desconforto?
Tempo de pensar. Intervalo na escrita. Busca. Reflexão.
Uma hipótese (a que me vem e me domina): só eu sei o que significou a desorientação de que fui acometida, em meio à pureza da fé daquelas pessoas simples com quem reencontro a cada ano na Festa da Penha, na interação com a santa de sua fé. É, talvez seja isto: como me fez o peito apertar de mágoa, em plena missa campal, em que meu olhar e meu coração se abastecem não propriamente da religião ali professada, mas das vivas imagens de crença e piedade do arrebatamento dos fieis, ouvir ser anunciada ao microfone a presença de um profissional da política sem nenhum vínculo com aquela terra e aquele trecho de mar tão especial e sofrido onde o Paraíba do Sul despeja o que lhe resta de vida. Um estranho no ninho plantando alguma sórdida semente em busca de alguns votinhos por lá quando se fizer a hora?
Ah, Atafona..., foi realmente lamentável. Mas, felizmente, por mais que essa seja a fétida mistura que muitos e muitos estejam espalhando diante de nossos narizes, há um outro movimento que já consegue vislumbrar as intenções desprezíveis escondidas por trás dessas fisionomias que de cristãs não têm nem a sombra projetada no chão cru das areias por onde pisam.
Dê meia volta e pegue a estrada de volta, meu senhor! O "negócio" aqui é outro e dele sua alma pragmática não parece entender. Sinceramente, creio que não lhe diz respeito.
26/04/2017
(Chegando de Atafona)
Voltar à casa e sentir-se desconfortável. Estranhamento diante do que sempre foi berço. Remexer-se dentre de si mesma para ver se a alma se ajeita no interior do corpo e não encontrar o emparelhamento do invólucro com as entranhas. Esquisitice no sentir e no reencontro com o que sempre foi familiar e escolha.
Tudo no lugar e tudo em desacerto. A beleza e o que sempre quis está aqui. O que antes vim escolhendo pela vida afora e colocando em cada canto – tudo em ordem: do galinho colorido que veio da terra portuguesa à minha foto com Luna na cabeceira. Tudo tão o mesmo quanto pouco íntimo e receptivo.
Que sensação será esta?
Verdade: desta vez não teve mergulho nas “minhas” águas douradas, aquelas que me reabastecem para a volta ao ambiente de seguir em frente. Na calha da minha parca vontade diante da mãe natureza, em Atafona os dias foram de alguma ou muita chuva e de mais acolhida familiar-afetiva em torno de intermináveis trocas do que de sol e conversas à beira mar e mergulhos. O corpo não vagou por entre as ondas de águas tíbias, como soe acontecer anos a fio, na minha medicalização particular de resistência às agruras da vida.
Volto. Cá estou. Meu quarto, meu espaço mais íntimo, meu delicioso ninho me acolhem. A tarde é sonolenta e de readaptação à rotina e a seus cheiros, cores e plasticidade. Me ajeito, me banho, me situo. Mas...
Sei não, mas toda a construção de uma vida inteira que me rodeia em minha deliciosa casa de viver e toda a restauração que sempre veio da praia da infância em seus véus de proteção estão fora de prumo. Onde a esperança? Quando a possibilidade? De onde o movimento de construção do novo? Por que o desconforto?
Tempo de pensar. Intervalo na escrita. Busca. Reflexão.
Uma hipótese (a que me vem e me domina): só eu sei o que significou a desorientação de que fui acometida, em meio à pureza da fé daquelas pessoas simples com quem reencontro a cada ano na Festa da Penha, na interação com a santa de sua fé. É, talvez seja isto: como me fez o peito apertar de mágoa, em plena missa campal, em que meu olhar e meu coração se abastecem não propriamente da religião ali professada, mas das vivas imagens de crença e piedade do arrebatamento dos fieis, ouvir ser anunciada ao microfone a presença de um profissional da política sem nenhum vínculo com aquela terra e aquele trecho de mar tão especial e sofrido onde o Paraíba do Sul despeja o que lhe resta de vida. Um estranho no ninho plantando alguma sórdida semente em busca de alguns votinhos por lá quando se fizer a hora?
Ah, Atafona..., foi realmente lamentável. Mas, felizmente, por mais que essa seja a fétida mistura que muitos e muitos estejam espalhando diante de nossos narizes, há um outro movimento que já consegue vislumbrar as intenções desprezíveis escondidas por trás dessas fisionomias que de cristãs não têm nem a sombra projetada no chão cru das areias por onde pisam.
Dê meia volta e pegue a estrada de volta, meu senhor! O "negócio" aqui é outro e dele sua alma pragmática não parece entender. Sinceramente, creio que não lhe diz respeito.
quinta-feira, 22 de março de 2018
AULA DE HISTÓRIA
(Uma versão plausível para os meus netos)
Era uma vez um país que estava se tornando mundialmente reconhecido, até provocando um certo alvoroço junto aos elementos centrais do capitalismo, até mesmo por criar mecanismos alternativos de integração econômica (os BRICS) frente aos tradicionais imperadores dominantes, e até gerando um certo incômodo por seu enorme potencial frente ao mercado mundial. Internamente, a sua população, que convivia, historicamente, com inúmeras dificuldades, notadamente em relação aos atendimentos de saúde e de educação, sempre bastante precários, neste novo tempo, por força de algumas políticas sociais que passaram a ser adotadas pelos governantes de então, obteve proezas de grande vulto: teve a sua parcela mais sacrificada excluída da zona de miséria mais aguda, deixando de estar na Zona de Pobreza Extrema, índice aferido pela ONU, o que se constituiu num feito admirável; segmentos carentes da sociedade passaram a ser beneficiados como nunca e algumas mudanças passaram a ser visíveis em termos de acesso aos bens culturais, antes exclusivos das camadas mais abastadas – o acesso à Universidade, por exemplo, a saúde descentralizada a seu alcance, o usufruto de viagens dentro e fora do país, a realização de viagens de estudo para fora do país em centros de excelência acadêmica, dentre outros.
O seu governante, um operário de pouca instrução, passou a ser internacionalmente aclamado como um líder de rara competência política e dezenas de Universidade e outras instituições similares a ele atribuíram títulos e honrarias jamais atribuídos a quaisquer outros presidentes daquele Estado em todos os tempos.
De repente, tudo começou a mudar e o país entrou numa crise sem precedentes, trazendo consequências inimagináveis para seu povo e suas lideranças que, mesmo que ainda aclamadas por grande parte da população, caíram em desgraça. Cientistas, chamados dos mais afamados centros de pesquisa foram reunidos, passaram a estudar o fenômeno e desenvolveram esforços amplos e profundos para compreender o ocorrido.
Empiricamente, o renomado grupo reuniu os seguintes dados e sobre eles tem-se debruçado para buscar alguma explicação plausível para o ocorrido e já começa a especular a possibilidade de ter havido uma ação de âmbito internacional para desestabilizar o país, enfraquecendo seu moral e economia internos, abrindo suas portas para o grande capital, num gesto maquinado pelo Império em seu desejo de garantir e ampliar seu espaço no mundo globalizado dos negócios, até mesmo pelo crescimento que a China nas últimas décadas. São eles:
• O primeiro – a PETROBRAS, destacadíssima empresa do ramo petrolífero em termos mundiais, passou a contar com uma campanha jamais vista de desmoralização, em função da qual enfrentou uma difamação por força da denúncias de antigos e enraizados processos de corrupção que passaram a ser divulgados ininterruptamente, como se fosse um processo iniciado no governo que promoveu as mudanças no país. Tal estratégia abriu à opinião pública o aceite de que empresas estrangeiras passassem a explorar o pré-sal, riqueza inestimável que vinha sendo saudada internacionalmente como um capital de valor incalculável, recém descoberto pela empresa. E o capital internacional passou a explorar as riquezas petrolíferas do país, já que a PETROBRAS estava moralmente desqualificada e indefensável perante quem que quer fosse.
• O momento seguinte trouxe a desmoralização das maiores empresas de engenharia do país, que passaram a ser destruídas, também por força de denúncias de corrupção que as obrigou praticamente a interromper suas atividades, demitindo milhares de funcionários. Obras foram interrompidas e tais empresas viram suas atividades paralisadas, deixando regiões e mais regiões em estado de abandono e famílias em situação de extrema precariedade, com a elevação dos índices de desemprego a níveis alarmantes. O país ganha destaque em todo o mundo pela corrupção que grassa em seu interior e sua credibilidade cai, não só perante organismos financeiros internacionais como perante a opinião pública mundial. Importantes filhos de seu solo o abandonam e passam a entender que o lugar em que nasceram é intrinsecamente desonesto e genuinamente incapaz de ser um bom abrigo para os seus. A entrega dos bens nacionais a estrangeiros passa a ser vista até como desejável, já que internamente não há capacidade nem de gestão nem de produção eficaz.
• Recentemente, um ataque inesperado e injusto teve por foco as maiores empresas exportadoras de carne do país, que passaram por um vexame em rede nacional, de imediata e drástica repercussão planetária, sendo acusadas de corrupção e imundícies sem precedentes, na produção de seus produtos, fazendo com que o mercado internacional passasse a cancelar encomendas dos frigoríficos nacionais. O mercado externo se beneficia, os competidores internacionais crescem diante da infame propaganda anti-nacional que a todos surpreendeu, dentro e fora do país.
Não sei se faz sentido, mas de minha parte eu recomendaria aos cientistas que desistissem de ir adiante. Só esses três acontecimentos parecem gerar uma versão bastante lógica para se pensar que há uma orquestração vinda de outras bandas, com cúmplices dentro do próprio país para fazê-lo vir ao chão. Afinal de contas, o que lá sucedeu é mais inexplicável, inconcebível mesmo, do que a construção das pirâmides do Egito e a existência das Linhas de Nazca, no Peru.
(Uma versão plausível para os meus netos)
Era uma vez um país que estava se tornando mundialmente reconhecido, até provocando um certo alvoroço junto aos elementos centrais do capitalismo, até mesmo por criar mecanismos alternativos de integração econômica (os BRICS) frente aos tradicionais imperadores dominantes, e até gerando um certo incômodo por seu enorme potencial frente ao mercado mundial. Internamente, a sua população, que convivia, historicamente, com inúmeras dificuldades, notadamente em relação aos atendimentos de saúde e de educação, sempre bastante precários, neste novo tempo, por força de algumas políticas sociais que passaram a ser adotadas pelos governantes de então, obteve proezas de grande vulto: teve a sua parcela mais sacrificada excluída da zona de miséria mais aguda, deixando de estar na Zona de Pobreza Extrema, índice aferido pela ONU, o que se constituiu num feito admirável; segmentos carentes da sociedade passaram a ser beneficiados como nunca e algumas mudanças passaram a ser visíveis em termos de acesso aos bens culturais, antes exclusivos das camadas mais abastadas – o acesso à Universidade, por exemplo, a saúde descentralizada a seu alcance, o usufruto de viagens dentro e fora do país, a realização de viagens de estudo para fora do país em centros de excelência acadêmica, dentre outros.
O seu governante, um operário de pouca instrução, passou a ser internacionalmente aclamado como um líder de rara competência política e dezenas de Universidade e outras instituições similares a ele atribuíram títulos e honrarias jamais atribuídos a quaisquer outros presidentes daquele Estado em todos os tempos.
De repente, tudo começou a mudar e o país entrou numa crise sem precedentes, trazendo consequências inimagináveis para seu povo e suas lideranças que, mesmo que ainda aclamadas por grande parte da população, caíram em desgraça. Cientistas, chamados dos mais afamados centros de pesquisa foram reunidos, passaram a estudar o fenômeno e desenvolveram esforços amplos e profundos para compreender o ocorrido.
Empiricamente, o renomado grupo reuniu os seguintes dados e sobre eles tem-se debruçado para buscar alguma explicação plausível para o ocorrido e já começa a especular a possibilidade de ter havido uma ação de âmbito internacional para desestabilizar o país, enfraquecendo seu moral e economia internos, abrindo suas portas para o grande capital, num gesto maquinado pelo Império em seu desejo de garantir e ampliar seu espaço no mundo globalizado dos negócios, até mesmo pelo crescimento que a China nas últimas décadas. São eles:
• O primeiro – a PETROBRAS, destacadíssima empresa do ramo petrolífero em termos mundiais, passou a contar com uma campanha jamais vista de desmoralização, em função da qual enfrentou uma difamação por força da denúncias de antigos e enraizados processos de corrupção que passaram a ser divulgados ininterruptamente, como se fosse um processo iniciado no governo que promoveu as mudanças no país. Tal estratégia abriu à opinião pública o aceite de que empresas estrangeiras passassem a explorar o pré-sal, riqueza inestimável que vinha sendo saudada internacionalmente como um capital de valor incalculável, recém descoberto pela empresa. E o capital internacional passou a explorar as riquezas petrolíferas do país, já que a PETROBRAS estava moralmente desqualificada e indefensável perante quem que quer fosse.
• O momento seguinte trouxe a desmoralização das maiores empresas de engenharia do país, que passaram a ser destruídas, também por força de denúncias de corrupção que as obrigou praticamente a interromper suas atividades, demitindo milhares de funcionários. Obras foram interrompidas e tais empresas viram suas atividades paralisadas, deixando regiões e mais regiões em estado de abandono e famílias em situação de extrema precariedade, com a elevação dos índices de desemprego a níveis alarmantes. O país ganha destaque em todo o mundo pela corrupção que grassa em seu interior e sua credibilidade cai, não só perante organismos financeiros internacionais como perante a opinião pública mundial. Importantes filhos de seu solo o abandonam e passam a entender que o lugar em que nasceram é intrinsecamente desonesto e genuinamente incapaz de ser um bom abrigo para os seus. A entrega dos bens nacionais a estrangeiros passa a ser vista até como desejável, já que internamente não há capacidade nem de gestão nem de produção eficaz.
• Recentemente, um ataque inesperado e injusto teve por foco as maiores empresas exportadoras de carne do país, que passaram por um vexame em rede nacional, de imediata e drástica repercussão planetária, sendo acusadas de corrupção e imundícies sem precedentes, na produção de seus produtos, fazendo com que o mercado internacional passasse a cancelar encomendas dos frigoríficos nacionais. O mercado externo se beneficia, os competidores internacionais crescem diante da infame propaganda anti-nacional que a todos surpreendeu, dentro e fora do país.
Não sei se faz sentido, mas de minha parte eu recomendaria aos cientistas que desistissem de ir adiante. Só esses três acontecimentos parecem gerar uma versão bastante lógica para se pensar que há uma orquestração vinda de outras bandas, com cúmplices dentro do próprio país para fazê-lo vir ao chão. Afinal de contas, o que lá sucedeu é mais inexplicável, inconcebível mesmo, do que a construção das pirâmides do Egito e a existência das Linhas de Nazca, no Peru.
quarta-feira, 21 de março de 2018
O RISCO DE SER ABERTA A PORTEIRA DO ARBÍTRIO
21/03/2016
(sem fazer prosa bonitinha, só pensando alto)
Se por um acaso nós, brasileiros, permitirmos que a Constituição Federal, a nossa Carta Magna, seja desrespeitada, em qualquer de suas determinações, estaremos chancelando, avalizando, autorizando as seguintes situações como totalmente possíveis, razoáveis, aceitas:
- o vizinho neurótico pretender mudar a convenção do prédio para impedir crianças, em plena luz do dia, de transitarem pelos corredores, fazendo ruídos, como crianças que são;
- a mãe preconceituosa sugerir à diretora de escola que "dê um jeitinho" para não matricular crianças "diferentes" para não atrapalhar o ritmo da maioria, os ditos "normais";
- a vizinha de porta dar queixa ao síndico porque teve que dividir o elevador com a diarista negra que chegava ao trabalho e tinha ares de "metida";
- a mãe moralista ir pedir mudanças na escola de sua filha de 3 anos pelo fato de a professora ter brincado com a turma, dando um gostoso banho de mangueira, com os pequenos de calcinha e cueca, quando o calor mostrava-se insuportável no meio da manhã;
- a síndica, arbitrariamente, ter a si própria e a seus próprios valores e crenças, como referência para determinar o que pode e o que não pode no cotidiano da comunidade;
- o diretor de escola dividir as turmas por aproveitamento, sem "misturar" quem quer que seja, para "dar no couro dos melhores" e estes terem sucesso no ENEM e serem propaganda viva e gratuita da instituição...
Se a Lei Maior é desrespeitada, o vale-tudo se instala. As regras, quaisquer delas, em qualquer espaço coletivo, poderão ser manipuladas, contornadas, adaptadas para agrado de uns e outros. E aí, não serão apenas os pobres que perderão (estes quase sempre já perdem), mas é o neto autista do cunhado, a prima de meu colega, a minha filha, o seu afilhado, todos nós: eu, tu, ele, nós, vós, eles.
E ATENÇÃO! EM CADA HIPÓTESE QUE EU LEVANTEI, VOCÊ PODE SER O LADO FRACO DA HISTÓRIA (a mãe do menino autista, o pai do menino que não foi selecionado para a turma dos "bons", ou seja, o lado prejudicado da história...)
21/03/2016
(sem fazer prosa bonitinha, só pensando alto)
Se por um acaso nós, brasileiros, permitirmos que a Constituição Federal, a nossa Carta Magna, seja desrespeitada, em qualquer de suas determinações, estaremos chancelando, avalizando, autorizando as seguintes situações como totalmente possíveis, razoáveis, aceitas:
- o vizinho neurótico pretender mudar a convenção do prédio para impedir crianças, em plena luz do dia, de transitarem pelos corredores, fazendo ruídos, como crianças que são;
- a mãe preconceituosa sugerir à diretora de escola que "dê um jeitinho" para não matricular crianças "diferentes" para não atrapalhar o ritmo da maioria, os ditos "normais";
- a vizinha de porta dar queixa ao síndico porque teve que dividir o elevador com a diarista negra que chegava ao trabalho e tinha ares de "metida";
- a mãe moralista ir pedir mudanças na escola de sua filha de 3 anos pelo fato de a professora ter brincado com a turma, dando um gostoso banho de mangueira, com os pequenos de calcinha e cueca, quando o calor mostrava-se insuportável no meio da manhã;
- a síndica, arbitrariamente, ter a si própria e a seus próprios valores e crenças, como referência para determinar o que pode e o que não pode no cotidiano da comunidade;
- o diretor de escola dividir as turmas por aproveitamento, sem "misturar" quem quer que seja, para "dar no couro dos melhores" e estes terem sucesso no ENEM e serem propaganda viva e gratuita da instituição...
Se a Lei Maior é desrespeitada, o vale-tudo se instala. As regras, quaisquer delas, em qualquer espaço coletivo, poderão ser manipuladas, contornadas, adaptadas para agrado de uns e outros. E aí, não serão apenas os pobres que perderão (estes quase sempre já perdem), mas é o neto autista do cunhado, a prima de meu colega, a minha filha, o seu afilhado, todos nós: eu, tu, ele, nós, vós, eles.
E ATENÇÃO! EM CADA HIPÓTESE QUE EU LEVANTEI, VOCÊ PODE SER O LADO FRACO DA HISTÓRIA (a mãe do menino autista, o pai do menino que não foi selecionado para a turma dos "bons", ou seja, o lado prejudicado da história...)
terça-feira, 20 de março de 2018
LIBERDADE
20/03/2016
Sob a inspiração de Irmã Zilda (*)
Vá saber o porquê eu ter amanhecido e, feito o trivial simples pós-bom-dia-vida, ter subido aqui pro escritório e, silenciosa - como que guiada por sei lá qual senso e de que tipo - ter procurado a cópia que eu trouxe de viagem da pintura A LIBERDADE GUIANDO O POVO, de Delacroix. Ainda tomada por um silêncio fora do meu jeito, abro a pasta grande e transparente onde guardo gravuras e imagens outras que um dia hão de ser emoldurados, e cumpro a “ordem” que vêm de dentro, só seguindo a intuição, sem nada pensar, somar ou refletir. Encontrado o objeto, miro com emoção aquela linda mulher representando a Liberdade, guiando o povo, em tempos idos, da Revolução Francesa, e trato de imaginá-la numa moldura antiga que tinha guardada no fundo de um armário.
Era pra já! Tesoura, durex, um fundo de cartolina grossa e lá fui eu para mais uma de minhas artes manuais.
Num impulso, as mãos envelhecidas mas arteiras deram conta de construir um belíssimo e simbólico quadro que logo coloquei em meu quarto, do lado esquerdo de minha deliciosa cama. Não sei se Freud ou qual outro de meus sustentáculos emocionais e psicológicos pode explicar esse movimento. Todo ele feito em silêncio, sem nem cantarolar nenhuma de minhas canções preferidas. E tampouco importa. Mais vale a inspiração para os cuidados a continuarem a ser tomados no contexto de hoje, no Brasil.
Só depois de bem admirado o novo enfeite é que recomecei a tarefa que mais me tem tomado nos últimos dias – a de ler cada vez mais o que vai sendo dito e por quem. A gravidade da hora exige de nós atenção, debate, reflexão e boas companhias. O compasso há de ser acionado e nele se verificar para onde pende a LIBERDADE como um dos maiores bens a serem preservados. Um bem que garanta que eu saia à rua com um blusa rubra sem correr risco. Um bem que me permita não ter que conversar em voz baixa na travessia das barcas por receio de quem quer que seja, sentado ao lado. Um bem que faça com que os diferentes convivam em paz e respeitosamente, em prol da ampliação da dignidade para todos.
Momento mais que delicado este nosso. Mas, vale o empenho. É no que acredito. É um lado ou outro, bem sei. Mas ouso imaginar que podemos procurar compreender com as lentes do entendimento e da crítica o que faz com que as pessoas estejam onde estão em suas visões de mundo e práticas de vida. Nem que, por um tempinho, os amores tenham que esperar um pouquinho para mais adiante se expressarem sem travas.
(a foto ficou feinha, mas o original está uma beleza).
(*) Irmã Zilda é a única freira do Auxiliadora de quem me lembro com admiração e saudade.
20/03/2016
Sob a inspiração de Irmã Zilda (*)
Vá saber o porquê eu ter amanhecido e, feito o trivial simples pós-bom-dia-vida, ter subido aqui pro escritório e, silenciosa - como que guiada por sei lá qual senso e de que tipo - ter procurado a cópia que eu trouxe de viagem da pintura A LIBERDADE GUIANDO O POVO, de Delacroix. Ainda tomada por um silêncio fora do meu jeito, abro a pasta grande e transparente onde guardo gravuras e imagens outras que um dia hão de ser emoldurados, e cumpro a “ordem” que vêm de dentro, só seguindo a intuição, sem nada pensar, somar ou refletir. Encontrado o objeto, miro com emoção aquela linda mulher representando a Liberdade, guiando o povo, em tempos idos, da Revolução Francesa, e trato de imaginá-la numa moldura antiga que tinha guardada no fundo de um armário.
Era pra já! Tesoura, durex, um fundo de cartolina grossa e lá fui eu para mais uma de minhas artes manuais.
Num impulso, as mãos envelhecidas mas arteiras deram conta de construir um belíssimo e simbólico quadro que logo coloquei em meu quarto, do lado esquerdo de minha deliciosa cama. Não sei se Freud ou qual outro de meus sustentáculos emocionais e psicológicos pode explicar esse movimento. Todo ele feito em silêncio, sem nem cantarolar nenhuma de minhas canções preferidas. E tampouco importa. Mais vale a inspiração para os cuidados a continuarem a ser tomados no contexto de hoje, no Brasil.
Só depois de bem admirado o novo enfeite é que recomecei a tarefa que mais me tem tomado nos últimos dias – a de ler cada vez mais o que vai sendo dito e por quem. A gravidade da hora exige de nós atenção, debate, reflexão e boas companhias. O compasso há de ser acionado e nele se verificar para onde pende a LIBERDADE como um dos maiores bens a serem preservados. Um bem que garanta que eu saia à rua com um blusa rubra sem correr risco. Um bem que me permita não ter que conversar em voz baixa na travessia das barcas por receio de quem quer que seja, sentado ao lado. Um bem que faça com que os diferentes convivam em paz e respeitosamente, em prol da ampliação da dignidade para todos.
Momento mais que delicado este nosso. Mas, vale o empenho. É no que acredito. É um lado ou outro, bem sei. Mas ouso imaginar que podemos procurar compreender com as lentes do entendimento e da crítica o que faz com que as pessoas estejam onde estão em suas visões de mundo e práticas de vida. Nem que, por um tempinho, os amores tenham que esperar um pouquinho para mais adiante se expressarem sem travas.
(a foto ficou feinha, mas o original está uma beleza).
(*) Irmã Zilda é a única freira do Auxiliadora de quem me lembro com admiração e saudade.
segunda-feira, 12 de março de 2018
LIÇÕES DE PROFESSOR SÃO ETERNAS, E ISSO É PERIGOSO
O bilhetinho que Inês Lemos Motta, querida ex-aluna, escreveu, aqui mesmo, numa outra postagem, dijaojinha (adoro quando tenho oportunidade de usar este termo de minha terra!), lembrando de nossas aulas, vividas há muitos e muitos anos atrás, me pôs a pensar e pensar e pensar. Aliás, vivo disso: é pensar de dia e sonhar de noite. Uma coisa assim como missão, karma, sei lá, mas que é de tal maneira entranhada em meu ser cotidiano que já nem ligo mais.
Para alguma coisa há de servir (será?) esta trama que começo a tramar, mesmo sem querer, até mesmo contra a vontade, quando qualquer sinal externo - ou interno ou no cruzamento entre uma coisa e outra - vem em minha direção, como a recente fala de Inês. Um vem e me fala de menino que não sabe ler, pronto!, está dada a partida: isso gera tempos soltos de conjecturas a respeito, podendo meus devaneios - ou desvarios, como queiram - chegar até outros tempos e espaços totalmente alheios ao tema gerador da cruzada pensamentística.
Outro vem e me apresenta um novo estudo sobre inseminação artificial combinando características de quem doa com as de quem recebe, e também está emitida a senha para que meu pensamento se despregue, ligando situações e hipóteses, livremente, percorrendo ideias as mais distantes e aparentemente desconexas. Creio mesmo que se alguém me vir nesses momentos de (des) alinhavos internos, abertamente postos, sei lá vindos de onde e a caminho de qual porto, deve encontrar uma pessoa totalmente fora do ar, com a fisionomia a mais estranha possível, absorta até não mais poder e visivelmente fora de um alinhamento previamente imaginado.
O elogio de Inês fez isto comigo: saí por aí com minhas lembranças, fui até Campos àquele curso onde nos conhecemos, na então escola Técnica Federal; revisitei a UFF (quantas histórias!); o Henrique Lage, de outras tantas pensatas e praticatas; até dar de cara com meus anos coordenando um reconhecido projeto que colocava jornais nas mãos dos professores para que aprendessem os meandros das notícias e sua maneira de ir compondo nosso jeito de pensar e agir. Foram anos e anos na função, acreditando com toda a minha consciência cidadã ser fundamental aquele trabalho de desvendamento e de encontrar novos sentidos no que a Imprensa põe em seus noticiários de todo tipo.
Foram milhares de professores e centenas de escolas a que tive acesso e a quem animei a identificar a maneira de ser do jornal. Só lendo e analisando a linguagem jornalística poderíamos, todos nós, estar aptos a verificar - e com exemplos concretos, - a influência na formação de nosso individualismo, a transformação de fatos históricos em fatos naturais, o simplismo e o imediatismo com que são apresentadas as notícias, e muitas outras formas com que os fatos são transformados em notícias pelas diversas mídias. Seria preciso colocar a mão na massa e ler, e indagar e comparar e interrelacionar.
Se não fosse na escola, onde seria feita essa leitura crítica, capaz de permitir que, "por tabela", também os alunos percebessem que há fatores determinantes que os fazem pensar como pensam e serem do jeito que são, gostarem do que gostam e desejarem o que desejam? Conhecerem-se a si mesmos exigia que penetrassem no mundo dos noticiosos que influenciam diuturnamente cada um.
Pois bem... esse trecho de minha história profissional, agora relembrado aqui, me pôs frente a frente comigo mesma. Fiquei a me indagar, inquieta, sobre o quanto é crucial a função do Magistério. Nós, professores, realmente deixamos um lastro - para o bem e para o mal - junto àqueles com quem cruzamos nas salas de aula.
Hoje, a força da mídia parece ter-se ampliado desmedidamente. O espaço das contradições me parece estar drasticamente reduzido no âmbito da Imprensa. Pouco parece restar de brecha para o pensamento divergente no interior dos jornais.
Vejo-me forçada e repensar e a tornar pública esta minha incerteza: nas atuais circunstâncias como nos manter informados? Já não leio mais jornais de papel. Os noticiários da TV, sim, vejo-os o mais que posso. Mas, com a pretensão de captar e me prevenir contra os discursos hegemônicos que se lançam a todos nós. As redes sociais e as leituras sugeridas por amigos é que acabam sendo a minha fonte de informação. Do Globo, por exemplo, tirando o grande Verissimo e outras pequenas contribuições de uma ou outra seção, o que nos resta senão o compromisso com o que está posto e plantado no solo da manutenção da desigualdade?
Repensemos juntos a nossa premência e desejo de crescermos juntos e por influência mútua e saudável entre todos nós.
O bilhetinho que Inês Lemos Motta, querida ex-aluna, escreveu, aqui mesmo, numa outra postagem, dijaojinha (adoro quando tenho oportunidade de usar este termo de minha terra!), lembrando de nossas aulas, vividas há muitos e muitos anos atrás, me pôs a pensar e pensar e pensar. Aliás, vivo disso: é pensar de dia e sonhar de noite. Uma coisa assim como missão, karma, sei lá, mas que é de tal maneira entranhada em meu ser cotidiano que já nem ligo mais.
Para alguma coisa há de servir (será?) esta trama que começo a tramar, mesmo sem querer, até mesmo contra a vontade, quando qualquer sinal externo - ou interno ou no cruzamento entre uma coisa e outra - vem em minha direção, como a recente fala de Inês. Um vem e me fala de menino que não sabe ler, pronto!, está dada a partida: isso gera tempos soltos de conjecturas a respeito, podendo meus devaneios - ou desvarios, como queiram - chegar até outros tempos e espaços totalmente alheios ao tema gerador da cruzada pensamentística.
Outro vem e me apresenta um novo estudo sobre inseminação artificial combinando características de quem doa com as de quem recebe, e também está emitida a senha para que meu pensamento se despregue, ligando situações e hipóteses, livremente, percorrendo ideias as mais distantes e aparentemente desconexas. Creio mesmo que se alguém me vir nesses momentos de (des) alinhavos internos, abertamente postos, sei lá vindos de onde e a caminho de qual porto, deve encontrar uma pessoa totalmente fora do ar, com a fisionomia a mais estranha possível, absorta até não mais poder e visivelmente fora de um alinhamento previamente imaginado.
O elogio de Inês fez isto comigo: saí por aí com minhas lembranças, fui até Campos àquele curso onde nos conhecemos, na então escola Técnica Federal; revisitei a UFF (quantas histórias!); o Henrique Lage, de outras tantas pensatas e praticatas; até dar de cara com meus anos coordenando um reconhecido projeto que colocava jornais nas mãos dos professores para que aprendessem os meandros das notícias e sua maneira de ir compondo nosso jeito de pensar e agir. Foram anos e anos na função, acreditando com toda a minha consciência cidadã ser fundamental aquele trabalho de desvendamento e de encontrar novos sentidos no que a Imprensa põe em seus noticiários de todo tipo.
Foram milhares de professores e centenas de escolas a que tive acesso e a quem animei a identificar a maneira de ser do jornal. Só lendo e analisando a linguagem jornalística poderíamos, todos nós, estar aptos a verificar - e com exemplos concretos, - a influência na formação de nosso individualismo, a transformação de fatos históricos em fatos naturais, o simplismo e o imediatismo com que são apresentadas as notícias, e muitas outras formas com que os fatos são transformados em notícias pelas diversas mídias. Seria preciso colocar a mão na massa e ler, e indagar e comparar e interrelacionar.
Se não fosse na escola, onde seria feita essa leitura crítica, capaz de permitir que, "por tabela", também os alunos percebessem que há fatores determinantes que os fazem pensar como pensam e serem do jeito que são, gostarem do que gostam e desejarem o que desejam? Conhecerem-se a si mesmos exigia que penetrassem no mundo dos noticiosos que influenciam diuturnamente cada um.
Pois bem... esse trecho de minha história profissional, agora relembrado aqui, me pôs frente a frente comigo mesma. Fiquei a me indagar, inquieta, sobre o quanto é crucial a função do Magistério. Nós, professores, realmente deixamos um lastro - para o bem e para o mal - junto àqueles com quem cruzamos nas salas de aula.
Hoje, a força da mídia parece ter-se ampliado desmedidamente. O espaço das contradições me parece estar drasticamente reduzido no âmbito da Imprensa. Pouco parece restar de brecha para o pensamento divergente no interior dos jornais.
Vejo-me forçada e repensar e a tornar pública esta minha incerteza: nas atuais circunstâncias como nos manter informados? Já não leio mais jornais de papel. Os noticiários da TV, sim, vejo-os o mais que posso. Mas, com a pretensão de captar e me prevenir contra os discursos hegemônicos que se lançam a todos nós. As redes sociais e as leituras sugeridas por amigos é que acabam sendo a minha fonte de informação. Do Globo, por exemplo, tirando o grande Verissimo e outras pequenas contribuições de uma ou outra seção, o que nos resta senão o compromisso com o que está posto e plantado no solo da manutenção da desigualdade?
Repensemos juntos a nossa premência e desejo de crescermos juntos e por influência mútua e saudável entre todos nós.
sábado, 10 de março de 2018
AMIGAS ATÉ NAS LOUCURAS DO AMOR
10/3/2017
Uma amiga e outra combinam de almoçar juntas. Necessidade recíproca de conversar sobre os males do coração. A primeira a falar se sai com esta, antes mesmo de fazer o pedido ao garçom que acabara de recomendar um cuzcuz marroquino com legumes assados para acompanhar o frango:
"-Desisti de seguir adiante sem auxílio de algum remedinho para me ajudar a combater a minha mania... ah, sim, porque só pode ser mania, coisa doente mesmo, ficar pensando no antigo amor como se ele ainda me amasse e apenas estivesse longe por pura incapacidade de lidar com o estado estranho de amar e ser amado... Sempre imaginando o dia em que voltará. Vou partir para algum antidepressivo para aliviar essas maluquices brotadas das dores da alma..."
Mais não disse. A outra não lhe deu chance, interrompendo-a quase pedindo socorro, com os olhos clamando por alguma ajuda milagreira:
"-Jura? Pois quando a psiquiatra receitar a sua pilulinha mágica, me passe o nome rapidinho pois se você é meio novata nesta espera, que dizer de mim que espero há décadas pela volta do MEU amor? E pior: esperando na certeza de que virá. A vida só está fazendo uns volteios, mas o final será feliz. Na novela, não acontecem mil desencontros mas o final não é do mocinho com a mocinha, juntos e para sempre? Por que comigo não?" (segundos de silêncio e o trágico complemento): "Ou eu não sou a mocinha da história??????????????????"
"- Pois é... (diz a primeira)... será que estamos nos imaginando como a linda e sortuda Gata Borralheira e somos na verdade as irmãs malvadas???????????????"
10/3/2017
Uma amiga e outra combinam de almoçar juntas. Necessidade recíproca de conversar sobre os males do coração. A primeira a falar se sai com esta, antes mesmo de fazer o pedido ao garçom que acabara de recomendar um cuzcuz marroquino com legumes assados para acompanhar o frango:
"-Desisti de seguir adiante sem auxílio de algum remedinho para me ajudar a combater a minha mania... ah, sim, porque só pode ser mania, coisa doente mesmo, ficar pensando no antigo amor como se ele ainda me amasse e apenas estivesse longe por pura incapacidade de lidar com o estado estranho de amar e ser amado... Sempre imaginando o dia em que voltará. Vou partir para algum antidepressivo para aliviar essas maluquices brotadas das dores da alma..."
Mais não disse. A outra não lhe deu chance, interrompendo-a quase pedindo socorro, com os olhos clamando por alguma ajuda milagreira:
"-Jura? Pois quando a psiquiatra receitar a sua pilulinha mágica, me passe o nome rapidinho pois se você é meio novata nesta espera, que dizer de mim que espero há décadas pela volta do MEU amor? E pior: esperando na certeza de que virá. A vida só está fazendo uns volteios, mas o final será feliz. Na novela, não acontecem mil desencontros mas o final não é do mocinho com a mocinha, juntos e para sempre? Por que comigo não?" (segundos de silêncio e o trágico complemento): "Ou eu não sou a mocinha da história??????????????????"
"- Pois é... (diz a primeira)... será que estamos nos imaginando como a linda e sortuda Gata Borralheira e somos na verdade as irmãs malvadas???????????????"
sexta-feira, 9 de março de 2018
Risos em alto e bom som
9/03/2015
(Proibido para menores. Filhos, não leiam! Ou, lendo, guardem suas críticas à minha mania de me expor, bla bla bla bla bla bla)
Faz parte da diferença entre as pessoas. Para mim, o humor vem sempre abrindo as portas. Não que eu queira. Ele se apresenta e se instala. Tem uma autonomia fora do normal. Para não ser assim, o assunto tem que ser grave mesmo. Até em dores do coração, o lado engraçado da coisa sai pelas frestas do assoalho do coração partido.
Foi assim hoje na minha segunda aula de alongamento. Quase perdi as forças – das quais necessito com todo o rigor para cumprir os exercícios a serem feitos –, tamanha a vontade de rir. Vejam se não estou coberta de razão: só mesmo numa sala de gente pra lá de gasta, com homens inseridos no mesmo processo de ganhar uma forcinha nas pernas, é possível haver aquele grupo de mulheres de pernas abertas, ao ar, sem que haja, em seguida, nenhuma cena de sexo explícito, e em público. Só mesmo com os hormônios tendo ido passear em outras plagas bem distantes, aquela minha/nossa posição de pernas lançadas ao ar, “abertas até onde der”, em direção ao teto, prontas para alguma ação mais erótica pode deixar os velhos da sala sem reação alguma diante de tamanha provocação. Ou será por isso (penso agora) que fazem exercício com os olhinhos fechados?
Pois é, não bastasse a minha má vontade de colocar o corpo em movimento (para este tipo de sobe e desce, esclareço), ainda tenho o riso querendo explodir do peito para me tirar do sério na hora de cumprir as 30 vezes que a professora ordena, em posição tão, digamos, provocativa. E para me distanciar mais ainda daquele ambiente avesso a meus mais legítimos interesses, ainda vem a moça, a professora, ao me ver fazendo minhas estrepolias com as pernas: “Meu Deus, que flexibilidade vc tem! Que coisa rara! Dá até raiva!” Aí, do riso contido, passo ao riso solto, escancarado e (quase) não resisto: “Pra que, né, companheira? Não há de ser para estas sessões matinais destes inúteis vai pra lá e vem pra cá...” Fala sério!
KKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKK
9/03/2015
(Proibido para menores. Filhos, não leiam! Ou, lendo, guardem suas críticas à minha mania de me expor, bla bla bla bla bla bla)
Faz parte da diferença entre as pessoas. Para mim, o humor vem sempre abrindo as portas. Não que eu queira. Ele se apresenta e se instala. Tem uma autonomia fora do normal. Para não ser assim, o assunto tem que ser grave mesmo. Até em dores do coração, o lado engraçado da coisa sai pelas frestas do assoalho do coração partido.
Foi assim hoje na minha segunda aula de alongamento. Quase perdi as forças – das quais necessito com todo o rigor para cumprir os exercícios a serem feitos –, tamanha a vontade de rir. Vejam se não estou coberta de razão: só mesmo numa sala de gente pra lá de gasta, com homens inseridos no mesmo processo de ganhar uma forcinha nas pernas, é possível haver aquele grupo de mulheres de pernas abertas, ao ar, sem que haja, em seguida, nenhuma cena de sexo explícito, e em público. Só mesmo com os hormônios tendo ido passear em outras plagas bem distantes, aquela minha/nossa posição de pernas lançadas ao ar, “abertas até onde der”, em direção ao teto, prontas para alguma ação mais erótica pode deixar os velhos da sala sem reação alguma diante de tamanha provocação. Ou será por isso (penso agora) que fazem exercício com os olhinhos fechados?
Pois é, não bastasse a minha má vontade de colocar o corpo em movimento (para este tipo de sobe e desce, esclareço), ainda tenho o riso querendo explodir do peito para me tirar do sério na hora de cumprir as 30 vezes que a professora ordena, em posição tão, digamos, provocativa. E para me distanciar mais ainda daquele ambiente avesso a meus mais legítimos interesses, ainda vem a moça, a professora, ao me ver fazendo minhas estrepolias com as pernas: “Meu Deus, que flexibilidade vc tem! Que coisa rara! Dá até raiva!” Aí, do riso contido, passo ao riso solto, escancarado e (quase) não resisto: “Pra que, né, companheira? Não há de ser para estas sessões matinais destes inúteis vai pra lá e vem pra cá...” Fala sério!
KKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKK
quarta-feira, 7 de março de 2018
HOJE, ONTEM, SEMPRE, QUANDO, AGORA
7/3/2017
Particularmente apropriada, poética, mesmo que dolorida, a imagem que a amiga Zulma Guimarães utiliza para descrever o envelhecimento - a perda de intimidade com a vida. Cá com minhas rugas, dou de pensar que ainda tem o fato da gente perder intimidade até com a gente mesma.
Sair para ir à ótica mandar fazer um par de óculos era só sair de casa para mandar fazer um par de óculos. Simples assim. Hoje em dia, a pessoa em processo de envelhecimento pode muito bem esquecer em casa a receita onde o tipo de lente e o grau dos benditos óculos estão descritos. E essa é ela, hoje, distanciada dela mesma e da sua super eficiência de antes. Em síntese: uma grande decepção (na intimidade ou no popular, uma merda mesmo)! Sorte se a pessoa se der conta na esquina de casa, ao vasculhar a bolsa. Se não, é viagem com perda total, o que eleva a frustração a uma potência bem mais elevada. E não venham me dizer que um bailinho da terceira idade dará uma aliviada na saudade de si mesma que a criatura passa a acalentar daí em diante. Argh!
7/3/2017
Particularmente apropriada, poética, mesmo que dolorida, a imagem que a amiga Zulma Guimarães utiliza para descrever o envelhecimento - a perda de intimidade com a vida. Cá com minhas rugas, dou de pensar que ainda tem o fato da gente perder intimidade até com a gente mesma.
Sair para ir à ótica mandar fazer um par de óculos era só sair de casa para mandar fazer um par de óculos. Simples assim. Hoje em dia, a pessoa em processo de envelhecimento pode muito bem esquecer em casa a receita onde o tipo de lente e o grau dos benditos óculos estão descritos. E essa é ela, hoje, distanciada dela mesma e da sua super eficiência de antes. Em síntese: uma grande decepção (na intimidade ou no popular, uma merda mesmo)! Sorte se a pessoa se der conta na esquina de casa, ao vasculhar a bolsa. Se não, é viagem com perda total, o que eleva a frustração a uma potência bem mais elevada. E não venham me dizer que um bailinho da terceira idade dará uma aliviada na saudade de si mesma que a criatura passa a acalentar daí em diante. Argh!
sexta-feira, 2 de março de 2018
Notícias
OS INCÊNDIOS DE SÃO PAULO
2/3/2017
Ontem, mais um incêndio destruiu mais uma comunidade popular em São Paulo. Desta vez, uma enormidade de atingidos de Paraisópolis, cujas casas foram destruídas sob as câmeras da TV, como mórbido espetáculo, totalmente naturalizado. A NOTÍCIA tem mesmo compromisso é com a Imprensa como negócio. Atenção a pobre perdendo suas histórias e pertences não dá camisa a ninguém. Não é assim mesmo que o enredo sugere que seja? Qual a surpresa? São ruelas, sem acesso a serviços, caminhão de bombeiro não entra mesmo... E só noticiar mesmo para mais uma vez ficar evidente como este povo é ignorante e teimoso, querem o que da vida?
Importante notar que tragédias que envolvam as camadas médias (Boite Kiss, Carnaval do Rio com acidentes) costumam gerar, pelo menos para dar alguma satisfação à opinião pública, protocolos para que não voltem a acontecer. Mas com favelas - nem isso. É esperar o próximo incêndio. É natural que venha, mais dia, menos dia.
O de ontem foi em plena quarta-feira de cinzas. Dia em que, não raro, uns e outros - de fora da favela, podem ter tido outro tipo de "problema": um mal estar, uma enxaqueca, totalmente previsível, para quem se excedeu muito além da conta bebendo algum whisky - dos bons -, só que além do limite. Esse, o do whisky, faz um pequeno resguardo, tira uma soneca no dia seguinte, e está novo em folha para outra experiência em sua vida de quem gosta de whisky. Já o que perdeu a casa, procura um primo que mora numa outra favela que não pegou fogo (ainda), usa e abusa de sua hospitalidade por um dias, e só depois vai ver como recompor sua história, sua vida, contando com a sua força de trabalho para voltar à estaca zero. E faz isso, levando uma cesta básica que acaba de receber da prefeitura, fornecida por alguma empresa que, sabe-se lá a que preço, ganhou a licitação para a prestação de tal serviço.
Está tudo certo. Nada a reclamar. E segue o baile porque este é o jogo e seus personagens no cenário em que vivem uns e outros.
Idiota foi quem inventou de colocar o nome de Paraisópolis num lugar que de Paraíso não tem nada. Aliás, fogo, pelo que nos ensinam por aí combina bem mais é com inferno.
OS INCÊNDIOS DE SÃO PAULO
2/3/2017
Ontem, mais um incêndio destruiu mais uma comunidade popular em São Paulo. Desta vez, uma enormidade de atingidos de Paraisópolis, cujas casas foram destruídas sob as câmeras da TV, como mórbido espetáculo, totalmente naturalizado. A NOTÍCIA tem mesmo compromisso é com a Imprensa como negócio. Atenção a pobre perdendo suas histórias e pertences não dá camisa a ninguém. Não é assim mesmo que o enredo sugere que seja? Qual a surpresa? São ruelas, sem acesso a serviços, caminhão de bombeiro não entra mesmo... E só noticiar mesmo para mais uma vez ficar evidente como este povo é ignorante e teimoso, querem o que da vida?
Importante notar que tragédias que envolvam as camadas médias (Boite Kiss, Carnaval do Rio com acidentes) costumam gerar, pelo menos para dar alguma satisfação à opinião pública, protocolos para que não voltem a acontecer. Mas com favelas - nem isso. É esperar o próximo incêndio. É natural que venha, mais dia, menos dia.
O de ontem foi em plena quarta-feira de cinzas. Dia em que, não raro, uns e outros - de fora da favela, podem ter tido outro tipo de "problema": um mal estar, uma enxaqueca, totalmente previsível, para quem se excedeu muito além da conta bebendo algum whisky - dos bons -, só que além do limite. Esse, o do whisky, faz um pequeno resguardo, tira uma soneca no dia seguinte, e está novo em folha para outra experiência em sua vida de quem gosta de whisky. Já o que perdeu a casa, procura um primo que mora numa outra favela que não pegou fogo (ainda), usa e abusa de sua hospitalidade por um dias, e só depois vai ver como recompor sua história, sua vida, contando com a sua força de trabalho para voltar à estaca zero. E faz isso, levando uma cesta básica que acaba de receber da prefeitura, fornecida por alguma empresa que, sabe-se lá a que preço, ganhou a licitação para a prestação de tal serviço.
Está tudo certo. Nada a reclamar. E segue o baile porque este é o jogo e seus personagens no cenário em que vivem uns e outros.
Idiota foi quem inventou de colocar o nome de Paraisópolis num lugar que de Paraíso não tem nada. Aliás, fogo, pelo que nos ensinam por aí combina bem mais é com inferno.
segunda-feira, 26 de fevereiro de 2018
TOTALIDADE
26/02/2018
A tática é sempre a velha tática, ela me acompanha, mais ainda, ela me integra, em minhas miradas e percepções envolvendo o mundo; e não só: ela também me abastece e direciona minha vida no trato com meu próprio corpo. Desde que ouvi “Um por todos, todos por um” - desde criança ainda, ouvi, gravei, aprendi. Com os filhos, vinda das vísceras, sem grandes reflexões, a mesma máxima sempre me guiava: “ou brincam todos ou não brinca ninguém” (e eles até hoje rememoram essa minha orientação para conduzir as desavenças ocorridas em seus jogos infantis). Hoje, é com minha saúde que vale “a união do todo para o bem estar da parte”. Daqui a um par de horas, todo o meu corpo estará atravessado por estranhas substâncias ditas curativas para que um pedaço meu - a mama, tão simbólica!!!! - fique apenas e simplesmente com esta cicatriz, que até já acho um charme, bonitinha que só. Verdade, parte minha, por você, meu peitão, meu corpo todo se oferece à cura global. É pra valer: “um por todos, todos por um e “ou brincam todos, ou não brinca ninguém”.
quinta-feira, 22 de fevereiro de 2018
OLHOS NOS OLHOS? NÃO!
22/02/2018
Aí vc chega ao consultório médico e é atendida pela mesma recepcionista, é, aquela que vc conheceu da vez passada e pôs suas barbas de molho, a que fala sem cessar, aproveitando qualquer deixa de qualquer dos clientes que aguardam a vez.
Ela vê um muxoxo de alguém ao receber uma mensagem pelo celular, já engata uma primeira, especulando sobre as notícias que invadem nossa privacidade... É a outra que estava cochilando e abre os olhos? Lá vem ela a falar do desânimo que o verão traz pra cada um... Não há nada que lhe pegue desprevenida: qualquer gesto do público ali reunido serve de mote para a sua intervenção, boba, desnecessária, que não leva a nada.
Eu, que cada vez quero menos perder tempo com inutilidades, ajeito-me na cadeira como quem está por adentrar um campo de batalha: “como fazer pra não abrir o flanco para a criatura que quer passar seu tempo às custas de qualquer idiota que lhe abrir, sem querer, um novo tema adequado para um insosso trelelê?
Pra mim, alívio foi quando o filho chegou pra me buscar e eu lhe prestei contas: “Até agora, invicta! Nem por um átimo de segundo deixei meu olho cruzar com o da faladeira. Não me curvei à bobice. Ou bem eu gastava meu latim em vão ou bem eu gastava minha atenção em guardar meus olhos de um cruzamento inútil. Fiquei com a segunda opção. E resguardei meu olhar para encontros mais interessantes!
22/02/2018
Aí vc chega ao consultório médico e é atendida pela mesma recepcionista, é, aquela que vc conheceu da vez passada e pôs suas barbas de molho, a que fala sem cessar, aproveitando qualquer deixa de qualquer dos clientes que aguardam a vez.
Ela vê um muxoxo de alguém ao receber uma mensagem pelo celular, já engata uma primeira, especulando sobre as notícias que invadem nossa privacidade... É a outra que estava cochilando e abre os olhos? Lá vem ela a falar do desânimo que o verão traz pra cada um... Não há nada que lhe pegue desprevenida: qualquer gesto do público ali reunido serve de mote para a sua intervenção, boba, desnecessária, que não leva a nada.
Eu, que cada vez quero menos perder tempo com inutilidades, ajeito-me na cadeira como quem está por adentrar um campo de batalha: “como fazer pra não abrir o flanco para a criatura que quer passar seu tempo às custas de qualquer idiota que lhe abrir, sem querer, um novo tema adequado para um insosso trelelê?
Pra mim, alívio foi quando o filho chegou pra me buscar e eu lhe prestei contas: “Até agora, invicta! Nem por um átimo de segundo deixei meu olho cruzar com o da faladeira. Não me curvei à bobice. Ou bem eu gastava meu latim em vão ou bem eu gastava minha atenção em guardar meus olhos de um cruzamento inútil. Fiquei com a segunda opção. E resguardei meu olhar para encontros mais interessantes!
quarta-feira, 21 de fevereiro de 2018
21/02/2017
MINHA VIDA, MINHAS LINHAS
Sempre que se lê algo saído de algum autor, mesmo que no âmbito da ficção, quando de suas invencionices, especula-se sobre o caráter autobiográfico do material. Comigo nem é preciso supor tal gênese ou imaginar outra passibilidade para o que trago ao mundo com o que escrevo. Que quem lê nem se dê ao trabalho. Sempre tomo a mim mesma como a mais autêntica e indisfarçável fonte para o que saio por aí apregoando. Sou a origem de mim mesma no que projeto sobre o mundo e seus circunstantes. Só imagino reações e entendimentos de um jeito assim e não assado porque aquela seria a maneira como minha alma se comportaria numa encruzilhada da vida de mesmo tipo. Se imagino o oposto também sou a referência, aí já em oposição àquele que seria o meu jeito de pensar ou agir num determinado momento de vida.
Por isso, quando vejo e aprecio as belezas dos bordados e artes que bela e singelamente Luiza Sarmet faz com suas mãos tão abençoadas, eu olho com tanta admiração e imagino, além do que vejo, o seu avesso, imaginando-o limpo e perfeito. Um avesso que poderia ser o direito.
Meu avesso, quando ouso tecer uma arte como a de Luiza não é limpo nem suave. É tosco e remendado. Minha suavidade reside em outra esfera. Não duvidem dela. Pode estar até meio agoniada, desgovernada, sem pouso. Mas é uma minha fração que se expressa de outros modos. Tenho provas.
Bom dia!
MINHA VIDA, MINHAS LINHAS
Sempre que se lê algo saído de algum autor, mesmo que no âmbito da ficção, quando de suas invencionices, especula-se sobre o caráter autobiográfico do material. Comigo nem é preciso supor tal gênese ou imaginar outra passibilidade para o que trago ao mundo com o que escrevo. Que quem lê nem se dê ao trabalho. Sempre tomo a mim mesma como a mais autêntica e indisfarçável fonte para o que saio por aí apregoando. Sou a origem de mim mesma no que projeto sobre o mundo e seus circunstantes. Só imagino reações e entendimentos de um jeito assim e não assado porque aquela seria a maneira como minha alma se comportaria numa encruzilhada da vida de mesmo tipo. Se imagino o oposto também sou a referência, aí já em oposição àquele que seria o meu jeito de pensar ou agir num determinado momento de vida.
Por isso, quando vejo e aprecio as belezas dos bordados e artes que bela e singelamente Luiza Sarmet faz com suas mãos tão abençoadas, eu olho com tanta admiração e imagino, além do que vejo, o seu avesso, imaginando-o limpo e perfeito. Um avesso que poderia ser o direito.
Meu avesso, quando ouso tecer uma arte como a de Luiza não é limpo nem suave. É tosco e remendado. Minha suavidade reside em outra esfera. Não duvidem dela. Pode estar até meio agoniada, desgovernada, sem pouso. Mas é uma minha fração que se expressa de outros modos. Tenho provas.
Bom dia!
sábado, 17 de fevereiro de 2018
EMBATES ÉTICOS
17/02/2016
Quando o meu pirão chega na frente, em caso de farinha pouca...
Tenho sossego não. Nem no ônibus, calada no meu canto, não deixo de ter um dilema para resolver. É de impressionar aos mais incrédulos! Tem horas que dá vontade de extrair todo e qualquer vestígio de pensamento crítico e atirar longe, pra lá do horizonte. Como um dardo lançado por um campeão olímpico. Ou como um longo suspiro de um iatista europeu quando se livrar das porcarias que se perpetuam na Baía, após a prova de fogo (e de água podre) enfrentada na próxima Olimpíada..
Meu caso é sem volta. Impossível viver de dúvida em dúvida, de desassossego em desassossego. Não dá nem para me deliciar com um cochilo ou com uma olhada para o lado para ver a nova propaganda da igreja por onde o ônibus passa ("Abaixo a violência em Itaipu!", o que já me faz pensar, pois que deixa implícito que se a violência for em Várzea das Moças ou no Engenho do Mato dá para aguentar...)... Não é brincadeira, não. São infinitos os chamados da vida para que eu reflita e decida. E eu não quero mais decidir nada, não. Quero ser uma maria-vai-com-as outras. Chega de ter senso e me exigir posições. Saco!
Hoje foi a mulher que entrou e me encontrou quieta, no banco do corredor, eu que, minutos antes, havia deixado a cadeira da janela pois lá batia sol e o calor era canicular. Só na volta é que peguei um ônibus "desenvolvido", com ar refrigerado... Mas o que conto foi na ida. Eu na sombra, a mulher paga sua passagem e vem em minha direção. Seu olhar chegou antes dela, anunciando sua disposição de estar ao meu lado na condução, o que já me colocou em alerta. Pronto! Acabou a paz! Aí vem mais uma coisinha do cotidiano para me pôr a pensar. Que faço eu? Vou pro sol e faço a gentileza de deixar a nova usuária do serviço de transporte ficar à sombra? Ou me faço de boba, mantenho-me calminha em meu canto, mais aprazível do que o que a espera, sob o sol ardente de três horas da tarde?
Foram segundos que tardaram horas. Eu ou ela? Quem fica com a melhor parte? Dou meu lugar? Ou sou a mais horrível das criaturas e afasto a minha perninha pro lado dando lugar para a moça ir ao encontro da solina sem fim?
Tenho uma conhecida que esteve lá em casa em Atafona numa certa ocasião e que, ao ver a saborosa fatia de melancia que coloquei para irmos beliscando, enquanto papeávamos, pegou a faca e cortou toda a parte vermelhinha de cima e me deixou a ver navios (ou melancia insossa, como queiram), ou seja, a procurar o que restava de doce na fruta, que não fosse aquela parte mais esbranquiçada, já perto da casca.
Assim foi hoje. Como decidir? Ficar com a parte doce da fruta ou a entregá-la à companheira de viagem? Se fosse para nós duas ficarmos na sombra, seria moleza. O diabo é quando se trata da escolha por si próprio ou pelo outro. Quando a sombra só dá para um. Aí é que a porca torce o rabo.
Muito feio dizer, mas eu cheguei ao meu destino fresquinha da silva. Pelo menos estou sendo sincera. E vim correndo escrever. Com certeza imaginando que a sinceridade serviria de atenuante para aliviar a culpa por meu egoísmo. Mas também, vamos e venhamos, a moça era bem mais jovem, ainda tem bem mais hormônios do que eu para serem derretidos pelo sol da tarde. A vez agora é dela. Mas, a verdade, é que nem assim, sossego. Na hora de reparar os outros, estou viva a verificar equívocos e manias. Mas, quando é comigo, deixo o altruísmo de lado e deixo pender para o meu lado, justificando-me pelo tanto que já caminhei, sob sol e sob chuva. Sem falar de intempéries outras, até mais castigantes.
(CREIO QUE JÁ PUBLIQUEI ISSO AQUI, SEI LÁ...)
PARTIÇÕES
17/02/2017
Sou mais compartimentada do que uma daquelas pinhas suculentas que brotavam lá no quintal da Beira Rio, é, aquelas mesmas que Maninho adorava enquanto eu preferia uma laranja lima, seguida de outra e mais algumas, sempre doces e amarelinhas das dezenas que papai trazia do Mercado.
O porquê da comparação é de fácil explicação, até meio bobinha, pra qualquer criança entender de primeira, sem auxílio dos recursos mais rebuscados do pensamento abstrato. Sou, sim, gominhos mais gominhos, vizinhos fraternos, até serem apartados pelo nosso desejo de aproveitar de seu sabor e gozo. Um simplesmente representa um doce sorriso que deixo escapar ante uma carta de amor endereçada à filha também por mim tão amada; outro, um duro golpe na boca do estômago pelo último gesto cínico de algum representante da banda fétida que faz de conta que nos governa enquanto ganha para si mais poder e benesses dos mais variados tipos; outro, o riso mais efusivo e desgovernado diante da última piada produzida pelo humor incansável e hilário que os brasileiros repartem entre si; mais um gomo, da saudade e das dores e alegrias que compõem nosso percurso pelas trilhas do viver; e por aí vai, ora mordiscando o gomo mais suculento, ora com alguma dificuldade de eliminar o caroço de maior porte, que teima em se apegar ao que de delicioso queremos sorver.
Não sei mesmo se a imagem é a melhor - Lulu, a pinha de uma manhã - mas fazer o quê quando me vejo repartida entre a mulher que ri, lamenta, espera, projeta e simplesmente quer escrever estas mal traçadas linhas antes de se por de pé e dar bom dia ao mundo?
sexta-feira, 16 de fevereiro de 2018
ATÉ QUANDO RESISTIREI?
17/02/2016
Há que se ter paciência e ir-se encontrando os jeitos de serem eliminadas as chaturas e ameaças que a comunicação virtual vive aprontando com a gente. Competindo com as mensagens mais que bem-vindas de amigos, com as cartas de amor mais que saborosas, com as imagens e canções super atrativas que uns e outros distribuem para nós, e com as tantas outras informações úteis e interessantes que nos chegam daqui e dali, há uma bobajada sem fim que, a cada dia, temos que limpar, antes da leitura propriamente dita, do que vale a pena e interessa ser sorvido com prazer.
Falo isso porque nem dá para contar o sem número de vezes que recebi mensagens tentando, de alguma maneira me enganar, para que eu abra algum anexo que, pelo que dizem os especialistas, encherá de vírus super poderosos e potencialmente destruidores da alma da minha máquina, capazes de causar os danos mais sinistros a toda a memória nela acumulada. Diariamente a trama se repete e os apelos são os mais diferenciados: ou são fotos que eu não posso deixar de ver “daquela nossa festinha inesquecível”; ou é uma dívida que tenho que pagar urgentemente, sob o risco de ser severamente punida na forma da lei; ou é uma nota fiscal de um serviço qualquer que contratei e que devo salvar para providenciar a quitação; ou é qualquer cosia do gênero que vem como isca para ver se eu caio na conversa.
Mas hoje a coisa extrapolou: a mensagem era de uma senhora estrangeira, escrevendo com falhas, até mesmo pra comprovar a autenticidade de sua “missiva”, dizendo-se viúva de um senhor milionário que trabalhou no Kuwait e que deixou alguns milhões de dólares, tendo ela me escolhido para herdá-los. Não tem filhos e os familiares não são dignos de confiança... Basta a minha resposta e ela providenciará o repasse do “volume morto” que está num banco da Costa do Marfim, para que eu aplique em prol de viúvas, pobres, algo assim...
Sempre que bate em minha caixa de entrada esse tipo de coisa, eu fico imaginando o dia em que eu cairei na esparrela de acreditar. E me ponho a me perguntar, quietinha, para mim mesma, qual será o assunto que me levará a nocaute e que finalmente abrirá as portas para os inimigos ferozes que destruirão a minha história, aqui depositada neste instrumento de trabalho e de prazer, que é o meu computador (E lá se vão mais de 25 anos de doce e inconteste parceria...).
Sempre acho que não serei a única pessoa a sair ilesa desse tipo de ação criminosa e que um dia certamente vou me deixar enganar. E aí fico a imaginar: qual será a isca perfeita que um dia há de me seduzir irremediavelmente? É aí que fico imaginando que hão de me vencer pela boca.O anúncio de alguma receita mais que especial há de ser o “Abre-te Sésamo” que me fará providenciar o download do que quer que seja. Se for, então, algum mal intencionado que anuncie que irá me reapresentar ao sabor daquela maionese de camarão que conheci, há mais de 40 anos, no Hotel Palace, lá em Campos (nunca provei nem consegui fazer outra igual), caio que nem uma boba. Vírus surgirão de toda parte, farão um estrago tão inusitado que o fato corre o risco de virar notícia. Coisa para hackers mais que habilidosos serem chamados para dar conta da destruição. Eu, gulosa que só, estarei posta fora de combate, pois que minhas resistências cairão por terra, definitivamente. As lembranças permanecem com uma força descomunal dentro da gente. E a força delas está justamente, já disse alguém, na sua própria irrealidade.
17/02/2016
Há que se ter paciência e ir-se encontrando os jeitos de serem eliminadas as chaturas e ameaças que a comunicação virtual vive aprontando com a gente. Competindo com as mensagens mais que bem-vindas de amigos, com as cartas de amor mais que saborosas, com as imagens e canções super atrativas que uns e outros distribuem para nós, e com as tantas outras informações úteis e interessantes que nos chegam daqui e dali, há uma bobajada sem fim que, a cada dia, temos que limpar, antes da leitura propriamente dita, do que vale a pena e interessa ser sorvido com prazer.
Falo isso porque nem dá para contar o sem número de vezes que recebi mensagens tentando, de alguma maneira me enganar, para que eu abra algum anexo que, pelo que dizem os especialistas, encherá de vírus super poderosos e potencialmente destruidores da alma da minha máquina, capazes de causar os danos mais sinistros a toda a memória nela acumulada. Diariamente a trama se repete e os apelos são os mais diferenciados: ou são fotos que eu não posso deixar de ver “daquela nossa festinha inesquecível”; ou é uma dívida que tenho que pagar urgentemente, sob o risco de ser severamente punida na forma da lei; ou é uma nota fiscal de um serviço qualquer que contratei e que devo salvar para providenciar a quitação; ou é qualquer cosia do gênero que vem como isca para ver se eu caio na conversa.
Mas hoje a coisa extrapolou: a mensagem era de uma senhora estrangeira, escrevendo com falhas, até mesmo pra comprovar a autenticidade de sua “missiva”, dizendo-se viúva de um senhor milionário que trabalhou no Kuwait e que deixou alguns milhões de dólares, tendo ela me escolhido para herdá-los. Não tem filhos e os familiares não são dignos de confiança... Basta a minha resposta e ela providenciará o repasse do “volume morto” que está num banco da Costa do Marfim, para que eu aplique em prol de viúvas, pobres, algo assim...
Sempre que bate em minha caixa de entrada esse tipo de coisa, eu fico imaginando o dia em que eu cairei na esparrela de acreditar. E me ponho a me perguntar, quietinha, para mim mesma, qual será o assunto que me levará a nocaute e que finalmente abrirá as portas para os inimigos ferozes que destruirão a minha história, aqui depositada neste instrumento de trabalho e de prazer, que é o meu computador (E lá se vão mais de 25 anos de doce e inconteste parceria...).
Sempre acho que não serei a única pessoa a sair ilesa desse tipo de ação criminosa e que um dia certamente vou me deixar enganar. E aí fico a imaginar: qual será a isca perfeita que um dia há de me seduzir irremediavelmente? É aí que fico imaginando que hão de me vencer pela boca.O anúncio de alguma receita mais que especial há de ser o “Abre-te Sésamo” que me fará providenciar o download do que quer que seja. Se for, então, algum mal intencionado que anuncie que irá me reapresentar ao sabor daquela maionese de camarão que conheci, há mais de 40 anos, no Hotel Palace, lá em Campos (nunca provei nem consegui fazer outra igual), caio que nem uma boba. Vírus surgirão de toda parte, farão um estrago tão inusitado que o fato corre o risco de virar notícia. Coisa para hackers mais que habilidosos serem chamados para dar conta da destruição. Eu, gulosa que só, estarei posta fora de combate, pois que minhas resistências cairão por terra, definitivamente. As lembranças permanecem com uma força descomunal dentro da gente. E a força delas está justamente, já disse alguém, na sua própria irrealidade.
VIDA, E NA VEIA!
16/02/2018
Deu um dia, nada. Dois, três, quatro, o mesmo - total ausência de um tema, qualquer que fosse ele - uma banalidade, uma observação risível, um registro ou uma lembrança - que pudesse me instigar a escrever. Logo eu que sou movida a palavras e que, em jejum, a cada dia, faço da escrita o elemento vital capaz de abrir o traçado dos momentos pós-aurora em seus pigmentos, até disfarces. E é verdade, desde que soube da seriedade do tratamento a que me submeteria, emudeci. Não de imediato surgiu a consciência quanto ao silêncio recém instalado. A lucidez surgiu alguns dias depois da consulta ao oncologista, quando vim a saber da demorada sequência de sessões à qual terei que me submeter. Apenas percebi o tanto de dias sem escrever. Era como se, diante da ardilosa fase da vida que se impôs - e que eu tão bem vim respeitando e absorvendo, com meu bom humor sempre alerta - agora tenha sido introjetado de verdade o seu real percurso como fato consumado (e doído). A coisa é pra valer. E que, com isso, tenha sido expulso o meu, tão intrinsecamente meu, gosto pelas emoções do falar ao mundo pela via da escrita. Não bastou o naco de mim levado ao lixo hospitalar no dia 8 de dezembro. A história vai além, não para aí é faz pensar...
Estarei expulsando as emoções que me fazem pulsar diante da vida para que o organismo faça uma certa abstinência para receber um outro tipo de química, curativa mas arrasadora? O motivo do engasgo no palavrório virá com o tempo, imagino. Por enquanto, apenas a surpreendente constatação. Emudeci. E hoje, desperta deste tempo tão quieto, vi-me impelida a falar do meu silêncio, tão raro.
Que minha aparência se altere! Que minha vaidade se aquiete! Que minha química com as palavras tire seu merecido ano sabático! Eu me enquadro, vá lá. Mas que seja breve! Não há salvação fora do prazer. Pelo menos assim aprendi até os tempos em que a supresa de um câncer - e no coração da minha feminilidade - veio me tombar diante da fragilidade de pretensiosos planos de viver sem esse tipo de surpresa, maligna. Com certeza, eu estava carecendo desta lição de humildade. Somos, sim, ínfimos insetos com pouca margem de manobra diante dos temporais mais avassaladores postos no caminho.
Que venha o líquido restaurador e prometidamente eliminador de riscos! Em minhas veias já corre vida suficiente para receber essa influência - que guarda tanto mistério e poder! Da nova mistura injetada hão de advir novos delírios, sonhos e constatações. E palavras, por suposto. É o que espero. E faço isso, em estado de total ignorância quanto a efeitos e bizarras especulações, abrindo meu corpo ao que virá e abrindo mão, por um tempo, de minhas palavras de pensamento e emoção.
Apronto-me, sem mais dizeres, se esta parece ser a primeira regra do jogo. Desprendo-me de dizeres. Entrego-me ao novo e ao medo que ele apregoa, mesmo sem nenhum anúncio explícito. Pago o preço! É vida. Vamos a ela!
16/02/2018
Deu um dia, nada. Dois, três, quatro, o mesmo - total ausência de um tema, qualquer que fosse ele - uma banalidade, uma observação risível, um registro ou uma lembrança - que pudesse me instigar a escrever. Logo eu que sou movida a palavras e que, em jejum, a cada dia, faço da escrita o elemento vital capaz de abrir o traçado dos momentos pós-aurora em seus pigmentos, até disfarces. E é verdade, desde que soube da seriedade do tratamento a que me submeteria, emudeci. Não de imediato surgiu a consciência quanto ao silêncio recém instalado. A lucidez surgiu alguns dias depois da consulta ao oncologista, quando vim a saber da demorada sequência de sessões à qual terei que me submeter. Apenas percebi o tanto de dias sem escrever. Era como se, diante da ardilosa fase da vida que se impôs - e que eu tão bem vim respeitando e absorvendo, com meu bom humor sempre alerta - agora tenha sido introjetado de verdade o seu real percurso como fato consumado (e doído). A coisa é pra valer. E que, com isso, tenha sido expulso o meu, tão intrinsecamente meu, gosto pelas emoções do falar ao mundo pela via da escrita. Não bastou o naco de mim levado ao lixo hospitalar no dia 8 de dezembro. A história vai além, não para aí é faz pensar...
Estarei expulsando as emoções que me fazem pulsar diante da vida para que o organismo faça uma certa abstinência para receber um outro tipo de química, curativa mas arrasadora? O motivo do engasgo no palavrório virá com o tempo, imagino. Por enquanto, apenas a surpreendente constatação. Emudeci. E hoje, desperta deste tempo tão quieto, vi-me impelida a falar do meu silêncio, tão raro.
Que minha aparência se altere! Que minha vaidade se aquiete! Que minha química com as palavras tire seu merecido ano sabático! Eu me enquadro, vá lá. Mas que seja breve! Não há salvação fora do prazer. Pelo menos assim aprendi até os tempos em que a supresa de um câncer - e no coração da minha feminilidade - veio me tombar diante da fragilidade de pretensiosos planos de viver sem esse tipo de surpresa, maligna. Com certeza, eu estava carecendo desta lição de humildade. Somos, sim, ínfimos insetos com pouca margem de manobra diante dos temporais mais avassaladores postos no caminho.
Que venha o líquido restaurador e prometidamente eliminador de riscos! Em minhas veias já corre vida suficiente para receber essa influência - que guarda tanto mistério e poder! Da nova mistura injetada hão de advir novos delírios, sonhos e constatações. E palavras, por suposto. É o que espero. E faço isso, em estado de total ignorância quanto a efeitos e bizarras especulações, abrindo meu corpo ao que virá e abrindo mão, por um tempo, de minhas palavras de pensamento e emoção.
Apronto-me, sem mais dizeres, se esta parece ser a primeira regra do jogo. Desprendo-me de dizeres. Entrego-me ao novo e ao medo que ele apregoa, mesmo sem nenhum anúncio explícito. Pago o preço! É vida. Vamos a ela!
quinta-feira, 15 de fevereiro de 2018
Com o sonho de hoje, pelo menos 1 ano sem nenhum exercício físico. Pelo menos isso!
Caminhada confusa e longa demais
15/02/2014
Já escrevi sobre isto – não paro de sonhar. A cada noite os sonhos proliferam e são todos muito especiais. Farto material para minha terapia. Não estou é com tempo de dedilhá-los, mas o desta noite é impossível não registrar, por mais rapidamente que seja.
Eu passeava, creio que com mamãe, sim, com mamãe, pelo Pontal, em Atafona e me deparo com uma casa feita à beira do rio, com um desvio que impedia o livre trânsito das pessoas que quisessem caminhar por ali. Havia que se dar a volta. Passamos por trás do muro, longe do rio, portanto, e depois de passar voltei a olhar e a família já não estava mais banhando-se no rio, como estava antes, mas sentados numa poltrona ao ar livre vendo um filme por um telão dentro do rio. Antes, eles se banhavam em ondas artificiais provocadas por uma máquina, um tipo de ventilador gigante. Eu volto e brigo com eles, falo da ilegalidade do que fizeram, minha voz se faz ouvir e eles, me parece, são expulsos dali. Mas a barbaridade continua. Deparo-me com toda a beira do rio fechada. Agora eu estou caminhando pela beira do rio e não consigo atravessar para o outro lado, o lado do mar. Ou bem mar, ou bem rio. Liberdade de ir e vir, não! Havia uma barreira de casas, sem nenhum intervalo entre elas, uma barreira mesmo, fechando a passagem. Entro numa das casas e passo para o outro lado por um janelão aberto. Vou seguindo, há uma escadaria imensa para se chegar ao mar. Subo por ela. E, partir daí, vira pesadelo. Quem aparece? Edson Lobão, a quem detesto, pois ele aparece dentro de uma das casas, com seus cabelinhos horrorosos pintados e era o responsável por aquela obra de privatização nojenta que impedia o livre acesso de um lado a outro. Grito com ele e brigamos feio. Parece que eu sonhei para brigar. Ele tinha um jornal em suas mãos. Eu queria mudar alguma coisa que estava no jornal a respeito do assunto, como se com minha ação eu pudesse mudar alguma coisa da realidade e ele fica tentando me impedir.
Não sei como termina, mas foi incrível. Dava um filme. Ah, uma hora, já no final da “história”, eu olhei por uma janela de uma das casas toscas por onde passava e vi que o mar não era mais o de Atafona, estava calminho. É quando alguém me informa que já estávamos em Araruama. E eu me sinto morta de cansada. E acordo. Muito além do meu horário normal de despertar. Pode???????????
Caminhada confusa e longa demais
15/02/2014
Já escrevi sobre isto – não paro de sonhar. A cada noite os sonhos proliferam e são todos muito especiais. Farto material para minha terapia. Não estou é com tempo de dedilhá-los, mas o desta noite é impossível não registrar, por mais rapidamente que seja.
Eu passeava, creio que com mamãe, sim, com mamãe, pelo Pontal, em Atafona e me deparo com uma casa feita à beira do rio, com um desvio que impedia o livre trânsito das pessoas que quisessem caminhar por ali. Havia que se dar a volta. Passamos por trás do muro, longe do rio, portanto, e depois de passar voltei a olhar e a família já não estava mais banhando-se no rio, como estava antes, mas sentados numa poltrona ao ar livre vendo um filme por um telão dentro do rio. Antes, eles se banhavam em ondas artificiais provocadas por uma máquina, um tipo de ventilador gigante. Eu volto e brigo com eles, falo da ilegalidade do que fizeram, minha voz se faz ouvir e eles, me parece, são expulsos dali. Mas a barbaridade continua. Deparo-me com toda a beira do rio fechada. Agora eu estou caminhando pela beira do rio e não consigo atravessar para o outro lado, o lado do mar. Ou bem mar, ou bem rio. Liberdade de ir e vir, não! Havia uma barreira de casas, sem nenhum intervalo entre elas, uma barreira mesmo, fechando a passagem. Entro numa das casas e passo para o outro lado por um janelão aberto. Vou seguindo, há uma escadaria imensa para se chegar ao mar. Subo por ela. E, partir daí, vira pesadelo. Quem aparece? Edson Lobão, a quem detesto, pois ele aparece dentro de uma das casas, com seus cabelinhos horrorosos pintados e era o responsável por aquela obra de privatização nojenta que impedia o livre acesso de um lado a outro. Grito com ele e brigamos feio. Parece que eu sonhei para brigar. Ele tinha um jornal em suas mãos. Eu queria mudar alguma coisa que estava no jornal a respeito do assunto, como se com minha ação eu pudesse mudar alguma coisa da realidade e ele fica tentando me impedir.
Não sei como termina, mas foi incrível. Dava um filme. Ah, uma hora, já no final da “história”, eu olhei por uma janela de uma das casas toscas por onde passava e vi que o mar não era mais o de Atafona, estava calminho. É quando alguém me informa que já estávamos em Araruama. E eu me sinto morta de cansada. E acordo. Muito além do meu horário normal de despertar. Pode???????????
quarta-feira, 14 de fevereiro de 2018
14/02/2014
Entristecer-se com a morte do Santiago é uma coisa. Sentir-se culpado por ela é outra, antagônica. E olhar em torno e por dentro das nossas atuais circunstâncias históricas, é obrigação. O momento é grave.
Com a realidade dando pinotes e os de sempre aproveitando-se dos novos fatos para semearem consensos que lhes são favoráveis, no jogo de poder instalado, quase colocando no colo de quem reivindica nas ruas a pecha de "assassino coletivo" do repórter da Band, cuja morte nos comove a todos, encontro um pequeno texto meu aqui, escrito há mais de uma década. Será que ainda vale alguma coisa?
SOBRE PERGUNTAS E RESPOSTAS
em março de 2002
Ouvir e fazer perguntas não significa negar o passado e suas respostas. Significa, sim, saber que esse passado é sempre relativo e está sempre diante de novas perguntas. São tais perguntas que condicionam a forma como vamos recortá-lo para entender as perguntas que incessantemente não param de surgir...
Tomar por referência a prática – e suas perguntas – não significa – nem poderia significar – cada um de nós se esvaziar de experiências e ideias anteriores para olhar a vida e viver cada um de seus momentos. Pelo contrário, toda a nossa história interfere na nossa maneira de observar e compreender a vida. O que não devemos – e até devemos insistir em lutar contra dentro de nós mesmos – é buscar modelos (esses, sim, ideais) para comparar com os fatos que se apresentam, no nosso dia-a-dia (vistos como imperfeitos, incompletos, equivocados se não corresponderem ao modelo ideal). Lidar com o que está posto concretamente é até mais sábio do que “dar murro em ponta de faca”, querendo mudar o que existe, sem levar em conta as circunstâncias.
Acreditamos que, para quem quer melhorar o mundo, para quem insiste em querer contribuir para a construção de um mundo mais humanizado e justo, diferente do que está aí, a necessidade de tomar a prática como referência é até mais premente. Quando olhamos com mais atenção para o jeito de ser das coisas é que podemos perceber com maior clareza suas fragilidades e pontos de maior resistência, quem é aliado, quem não é, quais as características mais e menos aparentes de cada situação, como cada fato se liga com o seu contexto, essas coisas... Se ficarmos presos ao modelo ideal de sociedade e quisermos moldar o cotidiano a ele, a tendência é o fracasso.
A forma idealizada de perceber o mundo, não raras vezes, faz com que cada um de nós se sinta desanimado de tentar mudar as coisas diante da forma como elas se apresentam. Sem sabermos olhar bem como as coisas funcionam, sem compreendermos bem o porquê da relação dos homens e mulheres entre si e deles com a natureza ser como é, tentamos mudar e, não raras vezes, fracassamos. Ora aumentamos desmedidamente as nossas possibilidades como sujeitos da História (imaginamos que tudo podemos e, como não podemos, de fato, desistimos e tornamo-nos pessimistas e desesperançados). Outras vezes, nem tentamos nada ou quase nada porque julgamos que somos vítimas de um contexto perverso, e nada ou quase nada podemos contra os poderosos e contra as forças constituídas.
Pois bem: nem vítimas nem sujeitos – idealizados e a qualquer custo – da História! Seremos sujeitos da História, de verdade, se olharmos bem como esta História se desenrola, suas forças, seus personagens, seu movimento, suas tendências, suas versões, seus discursos, sua multiplicidade... Aí, sim, com base nos nossos sonhos, poderemos – e sempre coletivamente – ir transformando o status quo, estruturando uma nova forma de viver, melhor para cada um e para todos.
Entristecer-se com a morte do Santiago é uma coisa. Sentir-se culpado por ela é outra, antagônica. E olhar em torno e por dentro das nossas atuais circunstâncias históricas, é obrigação. O momento é grave.
Com a realidade dando pinotes e os de sempre aproveitando-se dos novos fatos para semearem consensos que lhes são favoráveis, no jogo de poder instalado, quase colocando no colo de quem reivindica nas ruas a pecha de "assassino coletivo" do repórter da Band, cuja morte nos comove a todos, encontro um pequeno texto meu aqui, escrito há mais de uma década. Será que ainda vale alguma coisa?
SOBRE PERGUNTAS E RESPOSTAS
em março de 2002
Ouvir e fazer perguntas não significa negar o passado e suas respostas. Significa, sim, saber que esse passado é sempre relativo e está sempre diante de novas perguntas. São tais perguntas que condicionam a forma como vamos recortá-lo para entender as perguntas que incessantemente não param de surgir...
Tomar por referência a prática – e suas perguntas – não significa – nem poderia significar – cada um de nós se esvaziar de experiências e ideias anteriores para olhar a vida e viver cada um de seus momentos. Pelo contrário, toda a nossa história interfere na nossa maneira de observar e compreender a vida. O que não devemos – e até devemos insistir em lutar contra dentro de nós mesmos – é buscar modelos (esses, sim, ideais) para comparar com os fatos que se apresentam, no nosso dia-a-dia (vistos como imperfeitos, incompletos, equivocados se não corresponderem ao modelo ideal). Lidar com o que está posto concretamente é até mais sábio do que “dar murro em ponta de faca”, querendo mudar o que existe, sem levar em conta as circunstâncias.
Acreditamos que, para quem quer melhorar o mundo, para quem insiste em querer contribuir para a construção de um mundo mais humanizado e justo, diferente do que está aí, a necessidade de tomar a prática como referência é até mais premente. Quando olhamos com mais atenção para o jeito de ser das coisas é que podemos perceber com maior clareza suas fragilidades e pontos de maior resistência, quem é aliado, quem não é, quais as características mais e menos aparentes de cada situação, como cada fato se liga com o seu contexto, essas coisas... Se ficarmos presos ao modelo ideal de sociedade e quisermos moldar o cotidiano a ele, a tendência é o fracasso.
A forma idealizada de perceber o mundo, não raras vezes, faz com que cada um de nós se sinta desanimado de tentar mudar as coisas diante da forma como elas se apresentam. Sem sabermos olhar bem como as coisas funcionam, sem compreendermos bem o porquê da relação dos homens e mulheres entre si e deles com a natureza ser como é, tentamos mudar e, não raras vezes, fracassamos. Ora aumentamos desmedidamente as nossas possibilidades como sujeitos da História (imaginamos que tudo podemos e, como não podemos, de fato, desistimos e tornamo-nos pessimistas e desesperançados). Outras vezes, nem tentamos nada ou quase nada porque julgamos que somos vítimas de um contexto perverso, e nada ou quase nada podemos contra os poderosos e contra as forças constituídas.
Pois bem: nem vítimas nem sujeitos – idealizados e a qualquer custo – da História! Seremos sujeitos da História, de verdade, se olharmos bem como esta História se desenrola, suas forças, seus personagens, seu movimento, suas tendências, suas versões, seus discursos, sua multiplicidade... Aí, sim, com base nos nossos sonhos, poderemos – e sempre coletivamente – ir transformando o status quo, estruturando uma nova forma de viver, melhor para cada um e para todos.
segunda-feira, 12 de fevereiro de 2018
QUERO MINHA INFÂNCIA DE VOLTA (E OLHE QUE NÃO FOI DAS MAIS TRANQUILAS COM "SEU" JOÃO COMO DONO DE MEU DESTINO) !
12/2/2017
Em menos de 6 horas, vivi duas situações que me deixaram perplexa, inconformada, desalentada, com a minha hérnia de hiato gritando escandalosamente como uma louca desvairada aqui na frente, se espichando tanto que quase dava para dar as mãos à sua amiguinha lá de trás, a hérnia de disco que se estende por meu tronco calejado de vida (leiam-se muitas alegrias também, felizmente, ao lado das aporrinhações do cotidiano):
- Fato 1 - ouvir de uma pessoa de quem gosto muito que Dilma e Temer são farinha do mesmo saco. Sim, Dilma, a mulher a quem admiro, aquela mesma que, mesmo sob tortura manteve-se digna e respeitável;
- Fato 2 - ir a uma festinha e ver a babá de uma criança se acercar da mesa de doces e quase "furtar" uma brigadeiro, tamanha a falta de jeito com que pegou aquele docinho e o levou à boca, mastigando-o disfarçadamente. Ela sabia que não era para ela. Não é só a piscina de um filme (Que horas ela volta?) que tem gente certa para dela se servir. Pra que meus olhos bateram nela justo naquele momento? A vontade foi de lhe servir outros. E não o fiz. Fiquei foi embasbacada mesmo. Covardemente omissa.
Quero minha inocência de volta!
12/2/2017
Em menos de 6 horas, vivi duas situações que me deixaram perplexa, inconformada, desalentada, com a minha hérnia de hiato gritando escandalosamente como uma louca desvairada aqui na frente, se espichando tanto que quase dava para dar as mãos à sua amiguinha lá de trás, a hérnia de disco que se estende por meu tronco calejado de vida (leiam-se muitas alegrias também, felizmente, ao lado das aporrinhações do cotidiano):
- Fato 1 - ouvir de uma pessoa de quem gosto muito que Dilma e Temer são farinha do mesmo saco. Sim, Dilma, a mulher a quem admiro, aquela mesma que, mesmo sob tortura manteve-se digna e respeitável;
- Fato 2 - ir a uma festinha e ver a babá de uma criança se acercar da mesa de doces e quase "furtar" uma brigadeiro, tamanha a falta de jeito com que pegou aquele docinho e o levou à boca, mastigando-o disfarçadamente. Ela sabia que não era para ela. Não é só a piscina de um filme (Que horas ela volta?) que tem gente certa para dela se servir. Pra que meus olhos bateram nela justo naquele momento? A vontade foi de lhe servir outros. E não o fiz. Fiquei foi embasbacada mesmo. Covardemente omissa.
Quero minha inocência de volta!
sexta-feira, 9 de fevereiro de 2018
O que é céu mesmo?
9/2/308
Ah, que inveja eu tenho de quem ou vê preto, ou vê branco; ou julga uma atitude certa ou a julga errada; ou sabe logo, logo, dizer sim – ou não –, diante de um convite ou possibilidade...
Como o assunto me parece complexo, escondo-me de mim mesma e de meu lado que adora um preâmbulo, e vou direto ao ponto, antes que comece a fazer aquelas elucubrações que gastam a metade do texto antes de entrar no assunto propriamente dito. Desta vez, não dá. A coisa é séria demais e dissemina-se nas conversas e especulações em cada canto deste país. Tudo me parece grave demais!
O que me conclama hoje a pensar e pensar e pensar... e dizer, é o dilema entre DILMA/PT/CORRUPÇÃO, de um lado, e os interesses da direita e do capitalismo internacional, de outro. Esse é o tema. Essa é a conversa. Esse é o drama. O “escândalo da PETROBRAS” é apenas o elemento visível (e que elemento!), mas o determinante é bem outro, bem mais além das nossas águas profundas, e tem a ver com os grandes interesses do atual momento do capitalismo internacional.
Como seria simples acusar um e absolver o outro! Independente de qual seja o lado que se escolha, mas como seria, até mais rápido e menos conflitivo dizer sim a um e dizer não ao outro. Como seria simples anunciar que “O PT é uma quadrilha que se apoderou do aparelho de Estado e todos que o acusam estão carregados de razão”. Ou, de modo similar, como também poderia ser fácil concordar em que “há interesses internacionais em jogo em querer acabar com o pré-sal e em querer dar chance às empresas multinacionais desmoralizando as empresas nacionais, e o PT é vítima do quarto poder, que representa tais interesses e joga na sua destruição”. Ah, como seria simples endeusar um e demonizar o outro. Como no poema, tb não seria uma solução. E nem ao menos rima.
Mas, assim como a mentira, também esse pender para um ou para o outro lado, sem uma análise mais ampla, tem pernas – e argumentos – curtos... Como essa caolhice nos faz vítimas de uma atitude simplista e enganosa! Fazer pender a varinha de condão da fada boa que escolhe um lado e o eleva aos céus e deixar que a bruxa má jogue o outro no fogo do inferno, é um ledo engano, é de uma parcialidade sem fim, é de uma capenguice total no modo de ver e analisar a vida e suas tramas.
Como seria adequado, simples, até mesmo elegantemente aceito, pender para um lado OU para o outro. Mas, mesmo sabendo que a verdade é uma utopia quase inalcançável, que a luta se faz no sentido de buscá-la, mesmo sabendo-a permanentemente em xeque e em processo, o compromisso com um olhar indagativo diante dos fatos deve ser sempre norteado pelo compromisso com a busca da verdade da História ...
Abrir mão do “vício” de duvidar, de questionar, de olhar para os vários ângulos e facetas de uma dada circunstância história é abrir mão do compromisso com a verdade dos fatos e se apegar a uma visão unilateral, parcial, pequena, mais transitória do que o próprio tempo...
Há momentos em que quase rogo por ter de volta o pensamento aprendido na infância, no colo da Igreja que separa o joio do trigo, o céu do inferno, o certo do errado, os bons dos maus, a pureza do pecado. Como seria menos traumático. Mas, isso é tolice, é apenas uma rota de fuga, sem efeito, sem raízes em minha alma de quem quer viver o que tem que ser vivido, sem enganos ou meias verdades... Tendo o questionamento por método, a dúvida por inspiração, a totalidade como jeito de perceber a mim, ao outro, ao mundo, sou forçada a ver cada lado com suas nuances, cada banda com suas incompletudes, cada instância com seus percalços, essas coisas que não nos fazem chegar a um único posicionamento, fechado, sem tonalidades, sem nuances, sem certezas...
Desse modo, pelo que ando lendo e estudando, e conversando, e tornando a ler e a estudar... há uma grandíssima intenção de derrubar os interesses nacionais. Estivesse o inesquecível Leonel ainda por aqui, estaria a bradar mais uma vez contra as perdas internacionais... pois bem, mas isso é um lado. Aliás, o que considero o mais relevante. É o que faz mais brasileiros perderem com o desgaste a que está submetida a PETROBRAS, como símbolo inconteste de nossa voz terceiromundista (Deixe-me falar à moda antiga, que ainda vale neste mar de lágrimas e de desigualdades!). Decepcionou-me ver que o PT, meu antigo partido, o que iria mudar métodos e costumes de se fazer política, ter-se deixado invadir pelas antigas e tradicionais práticas de “fazer andar” a política, mediante o toma-lá-dá-cá que sempre nos caracterizou... Ah, isso é de matar, isso me dói, isso me envergonha, isso me entristece, isso me deixa politicamente sem pai nem mãe, isso é um golpe mortal para nossos sonhos... Mas, eu não posso me deixar enganar e ver o quanto a continuidade da corrupção em nosso país está servindo a interesses distantes do Partido, interesses totalmente antidemocráticos e que nada mais pretendem do que aprofundar a distância entre pobres e ricos, que, em última instância, é o que define o lado contra o qual devemos pender. Não me importa se o PT, via de regra, fez caixa não para indivíduos enriquecerem, mas para fazer campanha e garantir determinados ideais. Não seria igualando-se aos demais que a luta poderia avançar. Até porque, não duvido de que haja militantes, até por uma ausência de firmeza maior de sua formação, tenham-se deixado levar e entendido que nada era para mudar mesmo... No meu ponto de vista, aliás, estamos vendo os resultados. Todos os poderosos contra. E o povo descrente, vivendo a pior das ilusões – a de que o poder corrompe, independente de qual seja o partido no poder. Isso é o que há de pior! Quando a população voltará a ter esperança? Os fins não justificavam os meios! Não mesmo! Os resultados estão aí.
Isso é um lado: o erro do Partido em ter agido com agiu, aprimorando as práticas de corrupção de antes. Mas, olhar esse ângulo, não nos pode impedir de ver o outro, o do grande capital. Até imagino (Imaginação é comigo mesma!), em banquetes muito bem servidos, em mansões de alto luxo (que aliás, que eu saiba José Genuíno não tem!), quantos brindes têm sido lançados ao ar, em meio a estridentes gargalhadas, pelo erro estratégico do PT e do quanto ele vem servindo aos poderosos e a seus intentos criminosos de fazer permanecer e aprofundar as dores do povo mais sofrido e menos aquinhoado, que, espero, nunca deixe de nos emocionar e de nos colocar a seu lado, em prol de sua humanização e dignidade.
Como sempre, a aparência é apenas uma parte da realidade, o mais está por ela mesma escondido ou disfarçado... Ou, em bom português, no bom popular, que sempre nos ensina: por baixo do angu tem carne. E quanta! E para quão poucos!
9/2/308
Ah, que inveja eu tenho de quem ou vê preto, ou vê branco; ou julga uma atitude certa ou a julga errada; ou sabe logo, logo, dizer sim – ou não –, diante de um convite ou possibilidade...
Como o assunto me parece complexo, escondo-me de mim mesma e de meu lado que adora um preâmbulo, e vou direto ao ponto, antes que comece a fazer aquelas elucubrações que gastam a metade do texto antes de entrar no assunto propriamente dito. Desta vez, não dá. A coisa é séria demais e dissemina-se nas conversas e especulações em cada canto deste país. Tudo me parece grave demais!
O que me conclama hoje a pensar e pensar e pensar... e dizer, é o dilema entre DILMA/PT/CORRUPÇÃO, de um lado, e os interesses da direita e do capitalismo internacional, de outro. Esse é o tema. Essa é a conversa. Esse é o drama. O “escândalo da PETROBRAS” é apenas o elemento visível (e que elemento!), mas o determinante é bem outro, bem mais além das nossas águas profundas, e tem a ver com os grandes interesses do atual momento do capitalismo internacional.
Como seria simples acusar um e absolver o outro! Independente de qual seja o lado que se escolha, mas como seria, até mais rápido e menos conflitivo dizer sim a um e dizer não ao outro. Como seria simples anunciar que “O PT é uma quadrilha que se apoderou do aparelho de Estado e todos que o acusam estão carregados de razão”. Ou, de modo similar, como também poderia ser fácil concordar em que “há interesses internacionais em jogo em querer acabar com o pré-sal e em querer dar chance às empresas multinacionais desmoralizando as empresas nacionais, e o PT é vítima do quarto poder, que representa tais interesses e joga na sua destruição”. Ah, como seria simples endeusar um e demonizar o outro. Como no poema, tb não seria uma solução. E nem ao menos rima.
Mas, assim como a mentira, também esse pender para um ou para o outro lado, sem uma análise mais ampla, tem pernas – e argumentos – curtos... Como essa caolhice nos faz vítimas de uma atitude simplista e enganosa! Fazer pender a varinha de condão da fada boa que escolhe um lado e o eleva aos céus e deixar que a bruxa má jogue o outro no fogo do inferno, é um ledo engano, é de uma parcialidade sem fim, é de uma capenguice total no modo de ver e analisar a vida e suas tramas.
Como seria adequado, simples, até mesmo elegantemente aceito, pender para um lado OU para o outro. Mas, mesmo sabendo que a verdade é uma utopia quase inalcançável, que a luta se faz no sentido de buscá-la, mesmo sabendo-a permanentemente em xeque e em processo, o compromisso com um olhar indagativo diante dos fatos deve ser sempre norteado pelo compromisso com a busca da verdade da História ...
Abrir mão do “vício” de duvidar, de questionar, de olhar para os vários ângulos e facetas de uma dada circunstância história é abrir mão do compromisso com a verdade dos fatos e se apegar a uma visão unilateral, parcial, pequena, mais transitória do que o próprio tempo...
Há momentos em que quase rogo por ter de volta o pensamento aprendido na infância, no colo da Igreja que separa o joio do trigo, o céu do inferno, o certo do errado, os bons dos maus, a pureza do pecado. Como seria menos traumático. Mas, isso é tolice, é apenas uma rota de fuga, sem efeito, sem raízes em minha alma de quem quer viver o que tem que ser vivido, sem enganos ou meias verdades... Tendo o questionamento por método, a dúvida por inspiração, a totalidade como jeito de perceber a mim, ao outro, ao mundo, sou forçada a ver cada lado com suas nuances, cada banda com suas incompletudes, cada instância com seus percalços, essas coisas que não nos fazem chegar a um único posicionamento, fechado, sem tonalidades, sem nuances, sem certezas...
Desse modo, pelo que ando lendo e estudando, e conversando, e tornando a ler e a estudar... há uma grandíssima intenção de derrubar os interesses nacionais. Estivesse o inesquecível Leonel ainda por aqui, estaria a bradar mais uma vez contra as perdas internacionais... pois bem, mas isso é um lado. Aliás, o que considero o mais relevante. É o que faz mais brasileiros perderem com o desgaste a que está submetida a PETROBRAS, como símbolo inconteste de nossa voz terceiromundista (Deixe-me falar à moda antiga, que ainda vale neste mar de lágrimas e de desigualdades!). Decepcionou-me ver que o PT, meu antigo partido, o que iria mudar métodos e costumes de se fazer política, ter-se deixado invadir pelas antigas e tradicionais práticas de “fazer andar” a política, mediante o toma-lá-dá-cá que sempre nos caracterizou... Ah, isso é de matar, isso me dói, isso me envergonha, isso me entristece, isso me deixa politicamente sem pai nem mãe, isso é um golpe mortal para nossos sonhos... Mas, eu não posso me deixar enganar e ver o quanto a continuidade da corrupção em nosso país está servindo a interesses distantes do Partido, interesses totalmente antidemocráticos e que nada mais pretendem do que aprofundar a distância entre pobres e ricos, que, em última instância, é o que define o lado contra o qual devemos pender. Não me importa se o PT, via de regra, fez caixa não para indivíduos enriquecerem, mas para fazer campanha e garantir determinados ideais. Não seria igualando-se aos demais que a luta poderia avançar. Até porque, não duvido de que haja militantes, até por uma ausência de firmeza maior de sua formação, tenham-se deixado levar e entendido que nada era para mudar mesmo... No meu ponto de vista, aliás, estamos vendo os resultados. Todos os poderosos contra. E o povo descrente, vivendo a pior das ilusões – a de que o poder corrompe, independente de qual seja o partido no poder. Isso é o que há de pior! Quando a população voltará a ter esperança? Os fins não justificavam os meios! Não mesmo! Os resultados estão aí.
Isso é um lado: o erro do Partido em ter agido com agiu, aprimorando as práticas de corrupção de antes. Mas, olhar esse ângulo, não nos pode impedir de ver o outro, o do grande capital. Até imagino (Imaginação é comigo mesma!), em banquetes muito bem servidos, em mansões de alto luxo (que aliás, que eu saiba José Genuíno não tem!), quantos brindes têm sido lançados ao ar, em meio a estridentes gargalhadas, pelo erro estratégico do PT e do quanto ele vem servindo aos poderosos e a seus intentos criminosos de fazer permanecer e aprofundar as dores do povo mais sofrido e menos aquinhoado, que, espero, nunca deixe de nos emocionar e de nos colocar a seu lado, em prol de sua humanização e dignidade.
Como sempre, a aparência é apenas uma parte da realidade, o mais está por ela mesma escondido ou disfarçado... Ou, em bom português, no bom popular, que sempre nos ensina: por baixo do angu tem carne. E quanta! E para quão poucos!
terça-feira, 6 de fevereiro de 2018
QUAL SAÍDA? E HÁ?
7/2/2014
A cabeça ferve, a alma pena. Não tem escapatória quando me vejo diante de uma notícia ruim que me abala. O ansiado equilíbrio nunca se diz presente e a angústia chega certeira, com intimidade, sabendo que meu peito é berço esplêndido com o qual troca figurinhas amiúde.
Eduardo Coutinho morre. Da forma que morre. Como um raio, a sensação que me arrebata é a de sempre: sentir-me o próprio penitente, imaginar suas dores, ver-me em sua fisionomia crispada a olhar, incrédulo, sofrido, impactado, a imagem de quem lhe tira a vida. Sim, aquele a quem ele mesmo a deu, há umas tantas décadas atrás. Terá partido com um olhar de pavor a lhe compor dramaticamente a fisionomia? Não me parece possível ser diferente! E tome de pensar no sofrimento alheio, quase me deixando sufocar pelo que me traz.
Por que não ser diferente? Não foi isso que aprendi na escola. O que me foi sendo cravado na consciência – religião faz dessas coisas – é que , diante da desgraça alheia temos que rezar um pouquinho para que o sofredor se alivie, se for amigo a gente deve dar um socorro presencial, mas não devemos nunca nos esquecer de que temos que nos aliviar e agradecer por não ter sido conosco. Tomada tal providência, dentro de nós mesmos, em silêncio, conversa íntima de filho de Deus diretamente com Ele, é hora de lembrar do quanto somos privilegiados: graças a deus não tenho um filho esquizofrênico, graças a deus não fui eu quem caiu na rua (tenho uma amiga que se espatifou na praia de Icaraí por descuido dos responsáveis pelos orelhões, que retirou um deles do lugar mas deixou aquela pedra “sinalizadora” da sua presença no local, a qual, sem ele, tornou-se a legítima pedra no meio do caminho para tombar – e arrebentar – uns e outros. E se minha amiga caísse de lado? Ou num grau um pouco mais à esquerda ou à direita que fizesse com que as leis da Física a levassem a ter ferido seu crânio e não a face??????????)
Então, por que eu não aprendi a ser uma católica com maior teor de fé e maior nível de fidelidade às regras que devem orientar o procedimento humano diante de si e do próximo????????? Por que, ao invés de agradecer e me sentir eleita para não ter passado por aquele sofrimento eu sofro junto com o outro? Eu não poderia evitar o ocorrido, não dependeu de mim o ocorrido, por que me sentir assim? Por que me ver uma vez mais acometida por inútil e conflituoso sofrimento diante da dor alheia. devo ser presunçosa, achando que posso mais do que realmente posso. Falta-me humildade, é isso.
O pior é que só sobra o inútil sofrimento mesmo. Nada posso fazer. Nada poderia ter feito. Nada poderei fazer. Não há tempo de verbo que atribua a mim a menor possibilidade de reconstruir o fato já levado a cabo.
Por que sentir a dor alheia como minha? E só sentir que o nó que está agarrado na garganta não se dissolve? Nem quando eu venho me utilizar das mesmas velhas, companheiras e ineficazes palavras eu resolvo meu conflito. Nem resolvo o problema do outro, nem o meu. Por quais motivos vejo-me tão contaminada pelos rios pelos quais passei em minha vida, para me dar tão insistentemente a inutilidades?
O jogo não era para ser jogado assim, pela vida adentro – naquela base do “alivie-se, amiga, você vai reclamar de quê? Tanta gente em situação pior e você sofrendo à toa? Falta-lhe fé , para dizer o mínimo, filha ingrata!”
Vou mesmo correr pra minha adorável terapeuta (argentina, não poderia ser diferente!). Mas não creio haver jeito. A briga interna é sexagenária. Nem dá mais tempo de pacificar essas partes em contenda.
7/2/2014
A cabeça ferve, a alma pena. Não tem escapatória quando me vejo diante de uma notícia ruim que me abala. O ansiado equilíbrio nunca se diz presente e a angústia chega certeira, com intimidade, sabendo que meu peito é berço esplêndido com o qual troca figurinhas amiúde.
Eduardo Coutinho morre. Da forma que morre. Como um raio, a sensação que me arrebata é a de sempre: sentir-me o próprio penitente, imaginar suas dores, ver-me em sua fisionomia crispada a olhar, incrédulo, sofrido, impactado, a imagem de quem lhe tira a vida. Sim, aquele a quem ele mesmo a deu, há umas tantas décadas atrás. Terá partido com um olhar de pavor a lhe compor dramaticamente a fisionomia? Não me parece possível ser diferente! E tome de pensar no sofrimento alheio, quase me deixando sufocar pelo que me traz.
Por que não ser diferente? Não foi isso que aprendi na escola. O que me foi sendo cravado na consciência – religião faz dessas coisas – é que , diante da desgraça alheia temos que rezar um pouquinho para que o sofredor se alivie, se for amigo a gente deve dar um socorro presencial, mas não devemos nunca nos esquecer de que temos que nos aliviar e agradecer por não ter sido conosco. Tomada tal providência, dentro de nós mesmos, em silêncio, conversa íntima de filho de Deus diretamente com Ele, é hora de lembrar do quanto somos privilegiados: graças a deus não tenho um filho esquizofrênico, graças a deus não fui eu quem caiu na rua (tenho uma amiga que se espatifou na praia de Icaraí por descuido dos responsáveis pelos orelhões, que retirou um deles do lugar mas deixou aquela pedra “sinalizadora” da sua presença no local, a qual, sem ele, tornou-se a legítima pedra no meio do caminho para tombar – e arrebentar – uns e outros. E se minha amiga caísse de lado? Ou num grau um pouco mais à esquerda ou à direita que fizesse com que as leis da Física a levassem a ter ferido seu crânio e não a face??????????)
Então, por que eu não aprendi a ser uma católica com maior teor de fé e maior nível de fidelidade às regras que devem orientar o procedimento humano diante de si e do próximo????????? Por que, ao invés de agradecer e me sentir eleita para não ter passado por aquele sofrimento eu sofro junto com o outro? Eu não poderia evitar o ocorrido, não dependeu de mim o ocorrido, por que me sentir assim? Por que me ver uma vez mais acometida por inútil e conflituoso sofrimento diante da dor alheia. devo ser presunçosa, achando que posso mais do que realmente posso. Falta-me humildade, é isso.
O pior é que só sobra o inútil sofrimento mesmo. Nada posso fazer. Nada poderia ter feito. Nada poderei fazer. Não há tempo de verbo que atribua a mim a menor possibilidade de reconstruir o fato já levado a cabo.
Por que sentir a dor alheia como minha? E só sentir que o nó que está agarrado na garganta não se dissolve? Nem quando eu venho me utilizar das mesmas velhas, companheiras e ineficazes palavras eu resolvo meu conflito. Nem resolvo o problema do outro, nem o meu. Por quais motivos vejo-me tão contaminada pelos rios pelos quais passei em minha vida, para me dar tão insistentemente a inutilidades?
O jogo não era para ser jogado assim, pela vida adentro – naquela base do “alivie-se, amiga, você vai reclamar de quê? Tanta gente em situação pior e você sofrendo à toa? Falta-lhe fé , para dizer o mínimo, filha ingrata!”
Vou mesmo correr pra minha adorável terapeuta (argentina, não poderia ser diferente!). Mas não creio haver jeito. A briga interna é sexagenária. Nem dá mais tempo de pacificar essas partes em contenda.
quinta-feira, 1 de fevereiro de 2018
Enquanto é tempo...
1/02/2017
Eu inventei uma neta pra mim. Ainda não chegaram os rebentos que vêm de pedaços de mim? Sem problema. Eu espero, mas vou dando uma adiantada por aqui com filhos de uma barriga meio filha também mas que vem lá da Bahia e das Minas Gerais, sem nem sonhar com a planície goitacá ou terras patagônicas. Pois foi isto mesmo: não perdi tempo. Enquanto seu lobo não vem, à luta, companheira! Se está difícil confirmar que sou sujeito da História, historicamente falando, aqui no pessoal, sou dona do meu chão e planto o diamante que eu quiser. Sei lá quanto tempo ainda tenho por estas bandas daqui... Vamos adiantar esta avozice que eu quero é viver o amor na sua mais intensa integralidade.
Alguns plantam diamantes abaixo do chão. Nem sei bem para quê. Já perdi tempo pensando na utilidade de tal plantio e não consegui decifrá-lo. Mas que esses cultivadores de inutilidades existem, está cada vez mais público e notório. Não sei em que escola aprenderam tal asneira. Diamantes abaixo do chão... vejam que inutilidade... Deve ter sido numa aula antes ou depois daquela outra onde se ensina a banhar dinheiro vivo no mar. Tudo tão inadequado que nem sei por onde começar a lamentar tais equívocos e compreender sua finalidade.
Outros, e cá estou eu a provar, deixam-se brotar fazendo-se sementes que viram relações de amor, entendendo serem estas as pedras preciosas que trazem brilhos insuspeitáveis à alma e que devem ser cultivados pela entrega afetiva que humaniza e floresce em gestos da mais viva emoção.
Luna chegou a este mundo. Pequenina, deixava-se ficar em meu colo. Mas, quando os olhos deram de ver, não queria saber de mim e olhava-me desconfiada. Até chorava sem me querer por perto. Mas, minha paixão foi tão arrebatadora (fosse espírita entenderia por outras vias...) que me fiz daquele personagem bobinho de telenovela de quinta, que julga que seu amor basta para os dois, diante da indiferença da mocinha, e investi na conquista de minha neta, escolhida por mim como tal. Fiz de tudo em forma de artimanhas de conquista. Não gosta de mim por causa do cabelo branco? Vai um chapéu na cabeça. Não quer meu colo porque estou de cara limpa, sem problema: maquiagem completa para receber Luna. Mais o quê? Perfume? Roupa nova? O que for. À conquista.
E Luna ganhou um espaço dela aqui em casa. Ganho o coração da avó inventante de neta, o mais foi consequência: uma mesa, reformada e pintada de branco, livros, papel, tintas, um banquinho feito por mim, brinquedos improvisados, bonecas que foram de Mariana, bugigangas as mais diversas, prontinhas para virar outras coisas por nossas brincadeiras. E, óbvio: eu, inteirinha, na minha total disponibilidade quando Lu Luciana Farias Sampaio ou Zeca Zeca Azevedo anunciam que ela virá. É tomar banho e me entregar ao que iremos inventar no tempo em que estiver aqui.
No dia em que essa figurinha, ao me ver chegar junto a um grupo de pessoas queridas, e veio correndo em minha direção, na ponta dos pés, correndo, rindo incontida, eu entendi o que é a felicidade.
Vamos em frente, Luninha! Viver é alegria! Você é a minha pedra preciosa. Lapidemo-nos pelo amor! Isso vale.
1/02/2017
Eu inventei uma neta pra mim. Ainda não chegaram os rebentos que vêm de pedaços de mim? Sem problema. Eu espero, mas vou dando uma adiantada por aqui com filhos de uma barriga meio filha também mas que vem lá da Bahia e das Minas Gerais, sem nem sonhar com a planície goitacá ou terras patagônicas. Pois foi isto mesmo: não perdi tempo. Enquanto seu lobo não vem, à luta, companheira! Se está difícil confirmar que sou sujeito da História, historicamente falando, aqui no pessoal, sou dona do meu chão e planto o diamante que eu quiser. Sei lá quanto tempo ainda tenho por estas bandas daqui... Vamos adiantar esta avozice que eu quero é viver o amor na sua mais intensa integralidade.
Alguns plantam diamantes abaixo do chão. Nem sei bem para quê. Já perdi tempo pensando na utilidade de tal plantio e não consegui decifrá-lo. Mas que esses cultivadores de inutilidades existem, está cada vez mais público e notório. Não sei em que escola aprenderam tal asneira. Diamantes abaixo do chão... vejam que inutilidade... Deve ter sido numa aula antes ou depois daquela outra onde se ensina a banhar dinheiro vivo no mar. Tudo tão inadequado que nem sei por onde começar a lamentar tais equívocos e compreender sua finalidade.
Outros, e cá estou eu a provar, deixam-se brotar fazendo-se sementes que viram relações de amor, entendendo serem estas as pedras preciosas que trazem brilhos insuspeitáveis à alma e que devem ser cultivados pela entrega afetiva que humaniza e floresce em gestos da mais viva emoção.
Luna chegou a este mundo. Pequenina, deixava-se ficar em meu colo. Mas, quando os olhos deram de ver, não queria saber de mim e olhava-me desconfiada. Até chorava sem me querer por perto. Mas, minha paixão foi tão arrebatadora (fosse espírita entenderia por outras vias...) que me fiz daquele personagem bobinho de telenovela de quinta, que julga que seu amor basta para os dois, diante da indiferença da mocinha, e investi na conquista de minha neta, escolhida por mim como tal. Fiz de tudo em forma de artimanhas de conquista. Não gosta de mim por causa do cabelo branco? Vai um chapéu na cabeça. Não quer meu colo porque estou de cara limpa, sem problema: maquiagem completa para receber Luna. Mais o quê? Perfume? Roupa nova? O que for. À conquista.
E Luna ganhou um espaço dela aqui em casa. Ganho o coração da avó inventante de neta, o mais foi consequência: uma mesa, reformada e pintada de branco, livros, papel, tintas, um banquinho feito por mim, brinquedos improvisados, bonecas que foram de Mariana, bugigangas as mais diversas, prontinhas para virar outras coisas por nossas brincadeiras. E, óbvio: eu, inteirinha, na minha total disponibilidade quando Lu Luciana Farias Sampaio ou Zeca Zeca Azevedo anunciam que ela virá. É tomar banho e me entregar ao que iremos inventar no tempo em que estiver aqui.
No dia em que essa figurinha, ao me ver chegar junto a um grupo de pessoas queridas, e veio correndo em minha direção, na ponta dos pés, correndo, rindo incontida, eu entendi o que é a felicidade.
Vamos em frente, Luninha! Viver é alegria! Você é a minha pedra preciosa. Lapidemo-nos pelo amor! Isso vale.
quarta-feira, 24 de janeiro de 2018
Longo comentário sobre um belíssimo dia de sol numa praia encantadora:
24/01/2016
A praia merece ser visitada. É divina! Vale o esforço da descida que, até pouco tempo, era feita por trilha acidentada, impossível para preguiçosos como eu... Agora, uma escada de madeira, para facilitar.
Aí, a gente chega a esse paraíso vencendo a tal escada de mais de 200 degraus, cansada, mas polianamente feliz de ter vencido tal desafio, e, como uma amiga argentina levou o maiô para se trocar lá, eu pergunto no primeiro quiosque onde há um banheiro. E a moça diz: "Tem não. O povo usa uma grutinha que tem mais pra lá, naquele canto, lá naquela ponta." E eu insisto: "mas e se a pessoa precisar ir ao banheiro, não há nenhum?". "Não, senhora! Aqui, o número 1 é no mar e o número 2 é na grutinha mesmo!" E falou rindo, me deixando "desconfortável", não com ela, claro!, mas em constatar mais uma vez como a banda toca mal em nossas bandas e seu jeito desafinado é encarado como natural.
Na saída, a mesma escada. Fui tão positiva e estive todo o tempo tão encantada com o banho - sublime! - relembrando meu espanhol portenho com o pequeno grupo, que não me atormentei durante o dia, imaginando o sofrimento da volta (subir a tal escalera, o que deveria ser pior). Digo isso, porque uma vez, indo à Ilha de Convivência, na foz do Paraíba, o barco na ida deu uma guinada tão abrupta que nos fez imaginar que iria virar. Pois bem, o dia em Convivência foi meio sem brilho, o medo da volta nos acompanhou todo o tempo. Ontem, não foi o caso.
Agora, a volta, ao subir o escadão. Até o meio, tudo bem. O coração disparado, mas sendo fiel à necessidade da sua portadora. Um cavalheiro! O único problema era eu mesma e minha falta de preparo físico. Mas, da metade em diante, me vi tomada por uma nova crítica aos nossos serviços/obras públicos. A escada vai indo bem até mais ou menos a metade. Daí para o topo, quando qualquer cidadão já está pra lá de cansado (Antes de qualquer um passar pelo outro, a respiração ofegante já anunciava sua presença), os degraus vão ficando mais altos à medida que se avança. Inacreditável, mas verdade. Ou seja: os degraus que imagino deveriam ser todos da mesma altura ou maiores no início do percurso, crescem depois, quando o cansaço já está tomando o caminhante de maneira mais intensa. "Quem projetou esta escada assim, virgem santa? (pensei) "Não teve a perspectiva do outro? O infeliz deve ser parente daquele senhor que estava na sala de espera um dia destes..." (Ver nota de rodapé)
O fato é que, apesar dos pesares, a Prainha do Pontal do Atalaia, que só conheci ontem (e olhem que já morei em Cabo Frio!) é deslumbrante e, pelo menos ontem, não estava gelada, como soe acontecer por ali.
Programaço!
(Nota de rodapé) Ultimamente, lugar cabrunco de desagradável é sala de espera de médico. Um dia desses, fui obrigada a ouvir um idiota (para mim, entenda-se) dizer a um outro cara, enquanto aguardava uma consulta médica: "Minha empregada é analfabeta de pai, mãe, madrinha, sogro e afilhado." Ao que o segundo idiota (também no meu ponto de vista) respondeu com uma baita gargalhada. Fala e resposta típicas de quem não entende - ou finge não entender - nada de ser humano, circunstâncias impeditivas ou facilitadoras da vida de cada um nesta nossa sociedade totalmente desigual.
24/01/2016
A praia merece ser visitada. É divina! Vale o esforço da descida que, até pouco tempo, era feita por trilha acidentada, impossível para preguiçosos como eu... Agora, uma escada de madeira, para facilitar.
Aí, a gente chega a esse paraíso vencendo a tal escada de mais de 200 degraus, cansada, mas polianamente feliz de ter vencido tal desafio, e, como uma amiga argentina levou o maiô para se trocar lá, eu pergunto no primeiro quiosque onde há um banheiro. E a moça diz: "Tem não. O povo usa uma grutinha que tem mais pra lá, naquele canto, lá naquela ponta." E eu insisto: "mas e se a pessoa precisar ir ao banheiro, não há nenhum?". "Não, senhora! Aqui, o número 1 é no mar e o número 2 é na grutinha mesmo!" E falou rindo, me deixando "desconfortável", não com ela, claro!, mas em constatar mais uma vez como a banda toca mal em nossas bandas e seu jeito desafinado é encarado como natural.
Na saída, a mesma escada. Fui tão positiva e estive todo o tempo tão encantada com o banho - sublime! - relembrando meu espanhol portenho com o pequeno grupo, que não me atormentei durante o dia, imaginando o sofrimento da volta (subir a tal escalera, o que deveria ser pior). Digo isso, porque uma vez, indo à Ilha de Convivência, na foz do Paraíba, o barco na ida deu uma guinada tão abrupta que nos fez imaginar que iria virar. Pois bem, o dia em Convivência foi meio sem brilho, o medo da volta nos acompanhou todo o tempo. Ontem, não foi o caso.
Agora, a volta, ao subir o escadão. Até o meio, tudo bem. O coração disparado, mas sendo fiel à necessidade da sua portadora. Um cavalheiro! O único problema era eu mesma e minha falta de preparo físico. Mas, da metade em diante, me vi tomada por uma nova crítica aos nossos serviços/obras públicos. A escada vai indo bem até mais ou menos a metade. Daí para o topo, quando qualquer cidadão já está pra lá de cansado (Antes de qualquer um passar pelo outro, a respiração ofegante já anunciava sua presença), os degraus vão ficando mais altos à medida que se avança. Inacreditável, mas verdade. Ou seja: os degraus que imagino deveriam ser todos da mesma altura ou maiores no início do percurso, crescem depois, quando o cansaço já está tomando o caminhante de maneira mais intensa. "Quem projetou esta escada assim, virgem santa? (pensei) "Não teve a perspectiva do outro? O infeliz deve ser parente daquele senhor que estava na sala de espera um dia destes..." (Ver nota de rodapé)
O fato é que, apesar dos pesares, a Prainha do Pontal do Atalaia, que só conheci ontem (e olhem que já morei em Cabo Frio!) é deslumbrante e, pelo menos ontem, não estava gelada, como soe acontecer por ali.
Programaço!
(Nota de rodapé) Ultimamente, lugar cabrunco de desagradável é sala de espera de médico. Um dia desses, fui obrigada a ouvir um idiota (para mim, entenda-se) dizer a um outro cara, enquanto aguardava uma consulta médica: "Minha empregada é analfabeta de pai, mãe, madrinha, sogro e afilhado." Ao que o segundo idiota (também no meu ponto de vista) respondeu com uma baita gargalhada. Fala e resposta típicas de quem não entende - ou finge não entender - nada de ser humano, circunstâncias impeditivas ou facilitadoras da vida de cada um nesta nossa sociedade totalmente desigual.
sábado, 20 de janeiro de 2018
DIREITO E AVESSO
Carmen Lucia Pessanha,
em 19/01/2018
Ao perceber que minha filha precisava de uma faixa flexível para proteger os cabelos para quando passa seus creminhos na face, fui à cata de um tecido em minha caixa de retalhos e encontrei um na medida, animando-me, como sempre, a, ao invés de comprar, eu mesma fazer (ou reformar, quando é o caso).
Mesmo com o intenso calor que faz, o que me direcionaria para o frescor de um banho no chuveirão ou na piscina, impedida de pegar sol, devido a uma intervenção dentária na véspera, ponho-me a tecer a faixa para a pimpolha, mulher feita, mas minha eterna menina, apesar de estar a léguas de ponderação e racionalidade adiante de mim.
Trabalhar com as mãos é a mais pura desculpa para pensar e elucubrar - esta é a verdade. Só que hoje o desvario do meu pensar se deteve nesta horinha de trabalho recém concluída, na própria costura que ia saindo de minhas mãos. muito mais calejadas pelo uso de gizes e teclados do que de agulhas.
O que surge em meu pensamento em sua algazarra de gostar de sair por aí à procura de novidades? Nunca me satisfaço com os avessos que produzo. Parece uma sina, uma incapacidade mesmo. Mais vale aproveitar um botão bonito que sobrou de um antigo vestido de baile ou uma argola antiga para dar um acabamento ou incluir um adereço ao novo artesanato criado, do que o que lhe vai dar sustentação interna, posto que estará afastado do olhar de quem vê a sua bela aparência. Hum!!!, estranho isso!
Para mim, que valorizo o que as aparências escondem, esta faixa acabada de ser aprontada, com sua costura interna tão imperfeita (se Luiza Sarmet olhar, me expulsa da minha pretensa condição de costureira, mesmo que amadora!), me faz pensar em como me movo na vida. Nunca fujo de aproximações e interações de tudo com tudo. Entre o de dentro e o de fora também, com certeza. A realidade não é a construção mediante a reflexão para conquista da unidade entre o visto e o subjacente? Com isso me indago: o que ando deixando mal feito por dentro da alma enquanto por fora a bela viola se exibe vaidosa e impune?
A faixa preta de veludo está pronta, lindinha e útil para a filhota. Mas do processo de criação de tal objeto fica mais uma indagação para o meu próximo divã: qual a parte do meu avesso que o meu direito esconde, tímido, temeroso ou ainda preguiçoso de desnudar?
Carmen Lucia Pessanha,
em 19/01/2018
Ao perceber que minha filha precisava de uma faixa flexível para proteger os cabelos para quando passa seus creminhos na face, fui à cata de um tecido em minha caixa de retalhos e encontrei um na medida, animando-me, como sempre, a, ao invés de comprar, eu mesma fazer (ou reformar, quando é o caso).
Mesmo com o intenso calor que faz, o que me direcionaria para o frescor de um banho no chuveirão ou na piscina, impedida de pegar sol, devido a uma intervenção dentária na véspera, ponho-me a tecer a faixa para a pimpolha, mulher feita, mas minha eterna menina, apesar de estar a léguas de ponderação e racionalidade adiante de mim.
Trabalhar com as mãos é a mais pura desculpa para pensar e elucubrar - esta é a verdade. Só que hoje o desvario do meu pensar se deteve nesta horinha de trabalho recém concluída, na própria costura que ia saindo de minhas mãos. muito mais calejadas pelo uso de gizes e teclados do que de agulhas.
O que surge em meu pensamento em sua algazarra de gostar de sair por aí à procura de novidades? Nunca me satisfaço com os avessos que produzo. Parece uma sina, uma incapacidade mesmo. Mais vale aproveitar um botão bonito que sobrou de um antigo vestido de baile ou uma argola antiga para dar um acabamento ou incluir um adereço ao novo artesanato criado, do que o que lhe vai dar sustentação interna, posto que estará afastado do olhar de quem vê a sua bela aparência. Hum!!!, estranho isso!
Para mim, que valorizo o que as aparências escondem, esta faixa acabada de ser aprontada, com sua costura interna tão imperfeita (se Luiza Sarmet olhar, me expulsa da minha pretensa condição de costureira, mesmo que amadora!), me faz pensar em como me movo na vida. Nunca fujo de aproximações e interações de tudo com tudo. Entre o de dentro e o de fora também, com certeza. A realidade não é a construção mediante a reflexão para conquista da unidade entre o visto e o subjacente? Com isso me indago: o que ando deixando mal feito por dentro da alma enquanto por fora a bela viola se exibe vaidosa e impune?
A faixa preta de veludo está pronta, lindinha e útil para a filhota. Mas do processo de criação de tal objeto fica mais uma indagação para o meu próximo divã: qual a parte do meu avesso que o meu direito esconde, tímido, temeroso ou ainda preguiçoso de desnudar?
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