ATÉ NISSO, VOU NA CONTRAMÃO?
(Escrito em 25/09/2013, quando fiquei magrinha)
Recebo uma mensagem trazendo a boa nova de que a EM CIMA DA HORA está aceitando inscrições para a ala das baianas. Eu, que hoje em dia, já ando com mais vagar, no samba, então, só vou de passinho curto, abro um largo sorriso, de fora a fora, e me satisfaço com a possibilidade de finalmente conhecer, por dentro, as tão cantadas emoções, de desfilar na Avenida. Sim, porque, até aqui, a única avenida que contou com o meu samba no pé foi a de São João da Barra ...
Sim, era tudo que eu mais queria, eu que ando alimentando a minha criança sadia, aquela que, enquanto eu vim virando gente adulta, sempre esteve irrequieta, saltitante em minhas entranhas, mas a quem eu nem podia dar a atenção devida, pois que estava a brincar de ser adulta, tratando de criar as duas crianças que conseguia ver fora de mim, meus adorados filhos... Então, é agora, chegou a hora! Bom por demais!
Mais que depressa, penso logo em quem mais, gorducha, poderia querer me acompanhar, destas amigas que também já estão se embaianando com a idade e que poderiam ver no chamado da Escola a sua oportunidade de rodopiar sem grande esforço. Ou com o esforço possível para a sua disposição corporal por metro cúbico. Ah, sim, Rita. É ela, ela vai adorar. Tem, inclusive, grande gosto pelo samba, samba com vontade, mais até do que o imaginado para os seus tão bem vividos e prolongados anos de vida.
Em questão de segundos a mensagem já lhe é retransmitida e passo a aguardar o seu aceite, enquanto trato de ir ticando as tarefas que tenho sobre a mesa: ligar para o serralheiro, escrever para a minha amada Martucha que faz anos, acabar de rever o texto que preciso concluir hoje, de qualquer maneira, avisar a Carlinhos, o jardineiro, que as plantas que estão na garagem são para serem plantadas no canteiro da frente do escritório, responder às inúmeras mensagens recebidas ontem, negar aquela possibilidade de consultoria, pois a instituição é privada e a grana proposta é curta demais, vergonhosa até, ..., enfim, viver a simplicidade de meu dia, com o espírito mais que aberto para o que já se faz necessário e para o for chegando...
Rita é notívaga, não foram poucas as vezes em que eu escrevi para ela às cinco e pouco da manhã e ela me respondia imediatamente – eu, já saída da cama para um novo dia, e ela, ainda por ir se deitar. Parecia até aquela história do boêmio de minha cidade que, ao ser encontrado pela manhã, no bar, pelo amigo trabalhador, indo comprar pão, foi questionado: “Já, Sebastião?” E ele, “Não, amigo, ainda”.
Fora esse descompasso de horário, no mais Rita e eu somos amigas, irmãs de afinidades e modos de vida. Sempre gostamos muito uma da outra. Um desfile juntas – e na Ala das Baianas! – vai ser bem legal. Mas, hoje, a decepção foi enorme com ela. Com sua resposta dela, quase fui ao chão, estatelada: “Está maluca, menina?” Esqueceu que você deixou de ter corpo graúdo, criatura? Na mensagem que vc me mandou eles pedem foto. Você, agora, com a sua magreza, está mais para sambista velha do que para velha sambista, companheira.”
Que desacerto! Isso, para não dizer “Que ódio!!!!”. Até meu emagrecimento chegou na hora errada, Deus meu? Pelo escasseamento das minhas forças físicas temo fraquejar, se desfilar em qualquer das outras alas. Não me atrevo. E da maneira que imagino possível, na ala das baianas, não posso entrar por inadequação corporal? Quando chegará a minha vez? Acho que é caso de, rapidinho, começar a acreditar em uma segunda, terceira, sei lá quantas, vidas depois desta. Caso contrário, é guardar essa frustração para compor meus restos que se banharão no mar de Atafona? Será? Por qual motivo, EM CIMA DA HORA você chegou pra mim DEPOIS DA HORA? Se fosse ano passado...
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Em frente de casa, em 2013 |