À
DISPOSIÇÃO DA JUSTIÇA!
É o que me dá vontade de dizer, pondo-me à disposição da lei, quando leio que uma deputada do PSOL, partido da minha simpatia (afinal nele milita Marcelo Freixo), está às voltas com denúncias por fazer umas contas meio diferentes com a verba dos funcionários de seu gabinete. É que lá pelos idos de 80, por aí, assessorei um grande amigo, na época deputado estadual. Também em se tratando de salários, na sua equipe, havia grande diferença entre as pessoas. Havia os que lá chegavam sem ter nenhum emprego e que passaram a ter um cargo comissionado, como sua única fonte de renda para o trabalho a ser feito; outras – era o meu caso e mais uma outra colega – professoras, chegadas ao gabinete com seus respectivos salários, já que durante o período do mandato ficariam à disposição da ALERJ, lá trabalhando e cumprindo sua carga horária; um outro colega, requisitado do governo federal, trazendo um salário bem maior e que ali receberia uma gratificação pela função que passaria a ter; e uma outra situação específica, que, pelo tempo já decorrido, não me recordo do aporte financeiro recebido a cada mês pelo colega. Se é que não havia um ou outro caso a mais... Mas uma coisa é certa: havia a mais total disparidade em termos de ganhos individuais entre os que lá trabalhavam. E era trabalho intenso, nas mais variadas frentes, fosse no atendimento aos representantes do movimento social, na elaboração de propostas para a Constituinte Estadual, na reflexão sobre os pareceres a dar acerca das pospostas apresentadas pelos demais parlamentares, até mesmo no debate interno sobre como tornar possível o convívio com tanta gente reacionária e até perigosa, em outras palavras, em como o nosso parlamentar não se sentir e não se posicionar como um peixe fora d’água no meio daquele ofidário. Ou seja, era um sem fim de coisas a nos fazer, não raras vezes, pegar a barca de volta pra Niterói muito além do horário previsto.
Ora (voltando à minha quase situação de ré perante a justiça anunciada lá no início), se aquele se propunha a ser um mandato diferente, a serviço de outra lógica, comprometido com um pensamento e uma prática de esquerda, como aceitar tamanha desigualdade salarial? Em valores de hoje, era como se um chegasse ao gabinete já ganhando R$1.500,00 e passasse a ganhar mais R$1.500,00 de gratificação (total: R$3.000); outro não ganhasse nada fora do gabinete e passasse a receber de lá os mesmos R$1.500,00 (total: R$1.500,00); outros, por receberem uma gratificação maior, mesmo sem ter nada fora do gabinete, tivessem um salário mensal de R$6.000,00; e assim por diante. Uma injustiça, pensei! Era caso de mudança, e imediata!
Que fiz? Se comunista tem que comunistar, se a meta era – e é – fazer cada vez mais a teoria virar prática coerente, mãos à obra! Uma tabela com a entrada mensal de cada qual foi providenciada, por mim, é claro!, tendo à direita o quanto cada qual deveria receber do gabinete para conseguirmos uma redistribuição de gratificações, de modo a fazer justiça com o conjunto da equipe. Ou seja, a partir dali, cada qual receberia em seus contracheques as suas respectivas quantias, mas todos devolveriam uma parte, que seria repassada a quem recebesse menos, de modo a obtermos uma isonomia que garantisse maior justiça em termos de remuneração. Uma conta seria aberta, cada qual nela depositaria as diferenças, já calculadas por mim, e eu me encarregaria de pagar a quem tinha algo a receber.
Felizmente, tal ideia foi abortada por falta de tempo. O meu amigo era suplente, deixou o mandato pelo retorno do titular e eu só tenho agradecer à vida por não estar tendo que pagar pelo meu crime. Já pensaram? Nem no GLOBO seria, mas na capa do FLUMINENSE, com certeza, teríamos algo assim como manchete, seguida do respectivo e escandaloso lead: “Chamada a depor a professora da UFF. Com cara de boa gente, a hoje aposentada, era a articuladora de uma caixinha no gabinete do amigo deputado. Não foi apenas a autora da indecorosa proposta, como era quem administrava a conta aberta em seu nome no BANERJ. E o pior: é cínica, defende-se afirmando ter tramado tudo, sozinha, e em nome da justiça. Uma verdadeira espertalhona (E todos acreditariam porque cada vez é mais fácil pensar que todos são bandidos. Até do Barroso andam falando mal...).
Nesse caso nem embargo infringente haveria. Muito menos um Celso de Mello a votar em meu favor. Era direto pra Cadeia do Caju, no mínimo! Seria um retorno cruel à cidade natal! Sai como menina bonitinha mas inteligente, volta como bonitona mas salafrária?
Na verdade, não sei o que aprontaram a deputada e seus companheiros de trabalho. Nunca a vi nem sei quem é. Mas será que não tem por lá alguma tresloucada como eu, querendo fazer justiça com as próprias mãos? Vamos ler melhor. Uma coisa é o estardalhaço da imprensa a condenar mais do que depressa alguém do PSOL, outra é o que aparenta ser, ser mesmo a essência do ocorrido.
É o que me dá vontade de dizer, pondo-me à disposição da lei, quando leio que uma deputada do PSOL, partido da minha simpatia (afinal nele milita Marcelo Freixo), está às voltas com denúncias por fazer umas contas meio diferentes com a verba dos funcionários de seu gabinete. É que lá pelos idos de 80, por aí, assessorei um grande amigo, na época deputado estadual. Também em se tratando de salários, na sua equipe, havia grande diferença entre as pessoas. Havia os que lá chegavam sem ter nenhum emprego e que passaram a ter um cargo comissionado, como sua única fonte de renda para o trabalho a ser feito; outras – era o meu caso e mais uma outra colega – professoras, chegadas ao gabinete com seus respectivos salários, já que durante o período do mandato ficariam à disposição da ALERJ, lá trabalhando e cumprindo sua carga horária; um outro colega, requisitado do governo federal, trazendo um salário bem maior e que ali receberia uma gratificação pela função que passaria a ter; e uma outra situação específica, que, pelo tempo já decorrido, não me recordo do aporte financeiro recebido a cada mês pelo colega. Se é que não havia um ou outro caso a mais... Mas uma coisa é certa: havia a mais total disparidade em termos de ganhos individuais entre os que lá trabalhavam. E era trabalho intenso, nas mais variadas frentes, fosse no atendimento aos representantes do movimento social, na elaboração de propostas para a Constituinte Estadual, na reflexão sobre os pareceres a dar acerca das pospostas apresentadas pelos demais parlamentares, até mesmo no debate interno sobre como tornar possível o convívio com tanta gente reacionária e até perigosa, em outras palavras, em como o nosso parlamentar não se sentir e não se posicionar como um peixe fora d’água no meio daquele ofidário. Ou seja, era um sem fim de coisas a nos fazer, não raras vezes, pegar a barca de volta pra Niterói muito além do horário previsto.
Ora (voltando à minha quase situação de ré perante a justiça anunciada lá no início), se aquele se propunha a ser um mandato diferente, a serviço de outra lógica, comprometido com um pensamento e uma prática de esquerda, como aceitar tamanha desigualdade salarial? Em valores de hoje, era como se um chegasse ao gabinete já ganhando R$1.500,00 e passasse a ganhar mais R$1.500,00 de gratificação (total: R$3.000); outro não ganhasse nada fora do gabinete e passasse a receber de lá os mesmos R$1.500,00 (total: R$1.500,00); outros, por receberem uma gratificação maior, mesmo sem ter nada fora do gabinete, tivessem um salário mensal de R$6.000,00; e assim por diante. Uma injustiça, pensei! Era caso de mudança, e imediata!
Que fiz? Se comunista tem que comunistar, se a meta era – e é – fazer cada vez mais a teoria virar prática coerente, mãos à obra! Uma tabela com a entrada mensal de cada qual foi providenciada, por mim, é claro!, tendo à direita o quanto cada qual deveria receber do gabinete para conseguirmos uma redistribuição de gratificações, de modo a fazer justiça com o conjunto da equipe. Ou seja, a partir dali, cada qual receberia em seus contracheques as suas respectivas quantias, mas todos devolveriam uma parte, que seria repassada a quem recebesse menos, de modo a obtermos uma isonomia que garantisse maior justiça em termos de remuneração. Uma conta seria aberta, cada qual nela depositaria as diferenças, já calculadas por mim, e eu me encarregaria de pagar a quem tinha algo a receber.
Felizmente, tal ideia foi abortada por falta de tempo. O meu amigo era suplente, deixou o mandato pelo retorno do titular e eu só tenho agradecer à vida por não estar tendo que pagar pelo meu crime. Já pensaram? Nem no GLOBO seria, mas na capa do FLUMINENSE, com certeza, teríamos algo assim como manchete, seguida do respectivo e escandaloso lead: “Chamada a depor a professora da UFF. Com cara de boa gente, a hoje aposentada, era a articuladora de uma caixinha no gabinete do amigo deputado. Não foi apenas a autora da indecorosa proposta, como era quem administrava a conta aberta em seu nome no BANERJ. E o pior: é cínica, defende-se afirmando ter tramado tudo, sozinha, e em nome da justiça. Uma verdadeira espertalhona (E todos acreditariam porque cada vez é mais fácil pensar que todos são bandidos. Até do Barroso andam falando mal...).
Nesse caso nem embargo infringente haveria. Muito menos um Celso de Mello a votar em meu favor. Era direto pra Cadeia do Caju, no mínimo! Seria um retorno cruel à cidade natal! Sai como menina bonitinha mas inteligente, volta como bonitona mas salafrária?
Na verdade, não sei o que aprontaram a deputada e seus companheiros de trabalho. Nunca a vi nem sei quem é. Mas será que não tem por lá alguma tresloucada como eu, querendo fazer justiça com as próprias mãos? Vamos ler melhor. Uma coisa é o estardalhaço da imprensa a condenar mais do que depressa alguém do PSOL, outra é o que aparenta ser, ser mesmo a essência do ocorrido.
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