quarta-feira, 7 de setembro de 2016



SAÚDE PERFEITA!
(Escrito em 7/09/2015)
A visita feita à amiga na véspera foi mais uma dentre tantas que já ocorreram, sempre nesta mesma direção: eu indo lá, já que ela não arreda pé de seu lugar cativo – sua casa, sua cadeira, sua cama, sua rotina.
Nada de novo. O movimento sempre foi este, unidirecionado, daqui pra lá, e eu cada vez me importando menos em ser a que vai e procura. Ela sempre foi assim e eu sem me importar. A tal extremo de, no meu aniversário, eu ligar para que ela me parabenizar, já que sei que dela não surge nenhuma iniciativa. E ligar até já fazendo disso uma piada e uma maneira de brincar com o seu jeito de ser.
E não é só isso. Tem mais. Antigamente, ela me irritava um pouco. Às vezes até mais do que um pouco, caso eu não estivesse num bom dia. Sempre muito franca (aprendeu desde pequena o extremo valor da sinceridade), nunca fez cerimônia em me dizer o que lhe viesse à cabeça. E por várias vezes me deixou irada diante de seus comentários: “você hoje está horrível, esse cabelo não lhe cai bem...”; “sei que, ao contrário de mim, você anda duríssima, mas...”; “não, não venha aqui hoje, não, estou sem querer movimento em casa...”...
Se Freud, Deus ou sabe-se lá quem explica o fenômeno, não sei. A bronca, de que eu era acometida quando a encontrava e recebia um desses tratamentos “vips”, passava sem grande demora e nunca ela deixou de fazer parte de minha vida. Volta e meia nos víamos e nunca a vi como opositora ou coisa parecida. Gostava dela e entendia seu jeito abrutalhado. Entendia não é bem a palavra. Aceitava, porque entender mesmo seria impossível, não era o caso. Eu que sou ultra desconfiada e só fico onde sou prestigiada, com ela, tal lógica nunca prevaleceu. Tudo que farejei e farejo em relação a qualquer pessoa e me dá indicação do amor (ou falta dele) por mim, com ela não valia. Ou melhor: eu me sentia amada, APESAR dela e de suas ações sincericidas em relação a mim. Eu via além e pronto!, que tudo o mais fosse pro inferno.
Nos últimos dias, o que os amigos comuns andavam me dizendo, davam conta de que só um dos netos a tira da pasmaceira que é a sua rotina. Não abre mão, nem sob tortura, do que lhe agrada e a que se apega cada vez mais: ler até a madrugada, ver TV horas a fio, fumar seu cigarrinho, jogar paciência, tomar algumas tantas cervejas e, ultimamente, estar com os netos, totalmente entregue às suas vontades e mimos. Mas, os amigos trouxeram também uma notícia meio braba de aceitar: a de que a amiga de infância teve um piripaque, algo assim, e que estava mais ainda presa à sua rotineira rotina. Mais quieta e sedentária ainda.
Quis logo ir vê-la. Doente, então..., aí é que meu impulso foi o de ir ao seu encontro. Marquei, não fui rejeitada, e fui.
Pois que tranquilizem-se todos. Passamos um belo dia, conversamos sobre tudo quanto é assunto, seu desânimo não é muito maior do que o de muitos e muitos outros amigos da nossa faixa etária. Tudo mais ou menos como dantes no Quartel de Abrantes. E o que é melhor, quando eu ia saindo, virou-se pra mim e disse: “Pra que comprou esta blusa de listras horizontais! Você não sabe que engorda?”
Sem saúde ando eu... A danada está a de sempre...
 
Minha querida comadre, Maria Amélia

UM ANO DEPOIS...
(Escrito em 7/09/2016)
A danada, minha comadre, continua a mesma. Da última vez que fui vê-la, e isso tem poucos dias, eu que ando mais mansa com a idade (para algumas coisas, nem todas, é verdade), quando eu falei de minha nova "alma", menos rígida, mais paciente, acarinhando-a - como antes não fazia - e lhe disse "Sabe que ando mais suave, minha amiga, sei lá, gostando mais do que gosto nas pessoas, mais amorosa mesmo, ela me olhou firme e respondeu: "É mesmo? Pois eu não, continuo do mesmo jeito..."
Claro que ri, Mas, ri sabendo, por força dos mais de 60 anos de amizade, que é mentira, é o hábito de ser meio durona. A verdade é que ela hoje é muito mais achegada. Nessa visita, então, nada fez para implicar comigo, uma santinha. .
Amar os parecidos é moleza, amor mais fundo é amar os díspares. E eu bem que me penitencio por ter descoberto essa prenda do bem viver com a estrada já a muito mais do meio do percurso...



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