terça-feira, 13 de setembro de 2016


PARA MAIORES DE SESSENTA

(Escrito em 13/09/2013)
Estou quase desistindo de mim. Chega de tanto pensar! E ainda por cima, pensar em várias direções, sem se satisfazer com a primeira leitura? Cansei! Quero envelhecer lendo que o magistério teve 10% de aumento salarial e sorrir de alegria pela conquista da categoria. Não quero mais suspeitar de nada nem ter direitos à dúvida. O que me derem para introjetar, que eu tenha a benção dos deuses (Papa Francisco, meu querido, me auxilie!) para receber sem críticas!
Mas, que nada! É quase um tormento! Não há mensagem que me chegue que não aguce minhas cordas pensantes e que eu não comece a elucubrar, seja para que lado for que me levarem as armadilhas e insights, sempre inquietos, olhos abertos, do lado esquerdo do peito. É, porque se no comum dos mortais é da reflexão, do cérebro, do mais racional que saem as boas ideias, as minhas, sei lá por qual motivo, têm até a dialética como ponto de partida, bem sei, mas sempre passam nas dobras ventriculares do coração alerta. 
Ontem, foi a vez das belas imagens de Audrey Hepburn, uma dela bem jovem, deslumbrante, outra dela, também deslumbrante, já em idade bem avançada. Cada qual deve ter recebido em suas caixas de entrada, pois é dessas que vem e volta, vira “celebridade”, rondando pelas nuvens que nos abastecem de novidades... 
Certamente, coisa de algum amigo, velhote que nem eu, que se alegrara e que também quis me alegrar, fazer um cafuné virtual, me enviando aquelas belas fotos com a frase mágica que poderia me fazer sorrir e, quem sabe?, me confortar, de algum modo, diante do envelhecimento que está por me levar quase aos setenta anos. A frase mágica simplesmente era a de que “ERÓTICA É A ALMA.” Ou seja: se o corpo envelhecido da bela atriz de nossa juventude não está com nada, se o que vale é a sua antiga imagem, de pele lisa e sem as marcas do tempo nela calcadas, que nós todos sejamos sábios de nos mantermos saudosistas em relação aos nossos antigos corpos, eles, sim, poderosos e a serem para sempre relembrados com tristeza pelo que deixaram de ser! Conformemo-nos! Recordemo-nos! Esqueçamo-nos do hoje e vamos viver do passado!


Ora bolas! Quem inventou tamanha baboseira? De onde terá saído tal solução tão antinatural? Se o envelhecimento é amplo, geral e irrestrito, por que cargas d’água temos que nos manter acuados diante dele? É também nisso jogar em nossos próprios ombros uma carga de insatisfação diante do que realmente somos? Que tática cruel! Até as rugas, ganhas por tantas coisas vividas são ruins? E eu aqui, feito idiota, até contente por ter todas as minhas, intactas, como a vida foi formatando cada qual, sem nenhum bisturi ter maltratado nenhuma delas? E a culpa é de cada um que deve adotar a postura de velho como aquele que já foi, já viveu, já amou, já acabou?
Penso pra lá, penso pra cá e quando espanto já estou na máquina, respondendo ao amigo, querendo trazê-lo para pensar junto comigo: “Será? Ouso discordar. Erótico é o corpo, mesmo envelhecido. Duas pessoas idosas se amando é coisa dos deuses. E a carne, esteja ela como estiver, enrugada, áspera, sem o viço da juventude, é fonte de um tipo de prazer que só na idade mais avançada revela a inteireza do amor.”
Mas foi pouco o que disse. Volto a refletir sobre o assunto, desta feita escrevendo sobre o tema e pensando (ou sentindo) mais além: eróticos somos nós, quando amamos. Alma e corpo, tudo junto e misturado. Ficar tempos sem tempo em carinhos desmedidos, entregues ao prazer de toques e sem nenhuma química que artificialize ereções e coisas tais, é o tipo de experiência sensorial e afetiva só para quem passou dos sessenta. Claro que há um elemento essencial também definidor para que tal aconteça: é preciso que o amor, o grande amor, esteja com o casal, enlaçando-o a esta altura da vida... Se depois o erotismo vai passear por outras bandas (ou corpos), aí é outra conversa, que deixo para mais adiante para não quebrar o encanto. Uma coisa de cada vez, por favor! Se não, aí é que eu desisto mesmo!
Em tempo: meu amigo respondeu concordando comigo. Maldosa que sou, já até imaginei o casal fazendo das suas... Bom demais! Mas, é verdade. Quando se é jovem, a pressa atrapalha. Pronto! Já estou sorrindo de novo. Isso também é bom. Em qualquer idade.

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