REGA
(Escrito em 13/09/2014)
Como meu lado frágil anda exacerbado, roubo da querida Cecilia Goulart essa lição de Camus por ela recolhida ("Na profundidade do inverno, finalmente aprendi que dentro de mim havia um verão invencível.” e postada no Facebook), na tentativa de que, tal qual as flores irrompem do solo mais que ressequido, minha alma reencontre seu brilho, fazendo com que meu riso retome seu posto de salvaguarda da esperança. Para essa lição de Camus eu abro portas, janelas e frestas. Prefiro-a à que ouvi de outra querida pessoa um dia desses, quando lançou esta sua máxima, na melhor das intenções de me prevenir contra a vida e suas circunstâncias: "o mundo é mau".
Não! Não é! É tb, mas não só. O aladrilhado de dimensões e possibilidades que sedimentam nosso íntimo, de forma similar se espalha pelo lado de fora, em cada ser com quem cruzamos na larga avenida do viver. Tudo e todos estão em mim como eu também me espalho por entre as demais criaturas.
Assim, com fé no amplo "isto e aquilo" que integra o misterioso barro que nos dá forma, saio da cama para molhar o jardim. As flores - e nem precisam ser tantas nem tão cheia de cores - estão por vir, até mesmo pelo tempo em que andam sufocadas pela secura da terra.
Anda! Deixe o berço, dona Carmen! Onde anda a sua lucidez? Você não se gaba de entender de política, de mídia, dessa coisa toda? E a água não lhe tem sido companheira? Abra a torneira, mulher, e deixe-se intanguir, a você e as plantas! O sol lá fora está quase como se brilhasse em Atafoninha!
Foto extraída da página de Cecília Goulart no dia 13/09/2014) |
A fotógrafa regadora em tempos pós-modernos: a rega foi feita a contento, pois já está registrada e exposta ao mundo. Hoje não basta a vida vivida, mas espalhados seus momentos visíveis para quem quiser ver. Ainda bem que a sombra protege o essencial - até quando? -, cujo domínio ainda fica sob a aura de quem age, vive, sente, respira, espera... Tim tim!
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