(Escrito em 9/09/2013)
Na homeopata
Cismei uma época em ser mais alternativa, fugir da medicina alopata e me deliciar com uma consulta a uma homeopata. Isso mesmo, mais uma tentativa, já que a busca era incessante por quase tudo para ver como a vida poderia ir se ajeitando melhor. De uma coisa ia pra outra, naquela de, como na música, ir de fracasso em fracasso, em terapias as mais diversas e pouco eficazes... Me vem à mente umas massagens que eu fiz que, no final de um tempo, me provocaram um inchaço sem tamanho nas costas, de tão mal feitos eram os movimentos daquela terapeuta holística, recém chegada de uma viagem à Índia... Também não posso me esquecer de umas aulas, dadas bem cedinho, por um professor que, naquela época lia O EXTRA, por ser, segundo nos dizia, mais simples de ler, já que não queria se perturbar com as mazelas do mundo. A opção seria ele e a sua pouca informação como saída para o bem viver... E eu, do lado de cá, estudando sem parar, agindo e lendo, partilhando e fazendo a História acontecer. Daria certo?
Eram umas aulas onde, num tatame, eu, de quimono – essa foi demais!!! É pra rir, se não for pra chorar –, eu me atracava com a amiga, companheira na empreitada sinistra, uma e outra tentando se derrubar mutuamente, o que fizemos uma ou duas vezes, porque, como falamos em minha terra, pocávamos de rir diante daquela cena insólita. Nós, militantes, fora dali querendo mudar o mundo e naquele espaço, todo enfeitado de imagens orientais, se batendo... Pra quê, meu Deus? Vambora! Desse mato não sai coelho! Muito menos paz de espírito!
O negócio era ir tentando, geminianamente, sem previsões ou planos, apenas seguindo a sugestão mais recente sobre a última forma de se sentir bem dentro do mundo. E lá ia eu, buscando algo que pudesse dar novos entendimentos e sinais de um maior ajustamento às circunstâncias, trazendo a redução das dores, sempre à espreita. Tentar sempre foi comigo. Houve uma época que até havia pensado que uma boa síntese para a minha lápide seria: “ela tentou”. Até filho no INSS eu já havia tido, na minha tentativa de ser uma mulher do povo. Coerência ou morte! (No meio do texto uma pequena homenagem ao recém passado 7 de setembro.). O bom foi ver minha linda menina vir ao mundo pelas mãos de um belo acadêmico de medicina, de quem até hoje me lembro o rosto mesmo que não lhe saiba o nome. Ficou o essencial.
Queria ser normal, me ajustar... e se alguns amigos, isso lá pela década de 70, se alguns deles estavam nessa de não dar remédio a filho, antibióticos, então, nem pensar, só aquelas pilulinhas iguais, inúmeras que, só de ver tanta semelhança – e em série – me dava arrepios, era bom de se tentar. Claro que eu sempre fui alegre, essa era uma marca pessoal, mas o choro, ah, esse era infernal, ele, sim, o verdadeiro amigo oculto. E se os outros choravam menos, se a vida lhes parecia sempre mais suave do que a minha, por que não tentar? Uma homeopata já!
Hora marcada, era lá mais para o centro da cidade, e lá fui eu. Era chegada a hora daquela consulta longuíssima, como haviam me explicado ser, consulta restauradora que haveria de me varrer a alma, já treinada em se ver vasculhada em sofás de terapeutas, e depois, pronto!, sabidos de cor e salteado os meandros do fio interior que conduzia meus males, providenciar as pilulinhas milagrosas que, finalmente, me dariam o necessário jeito ameno de viver. As gargalhadas com certeza se tornariam menos ruidosas, os choros menos frequentes, as dúvidas, esperava eu, menos presentes, e tudo ficaria na dependência da minha disciplina em abrir os potinhos e mais potinhos sei lá quantas vezes por dia e fazer descer goela abaixo as milagrosas pérolas sabe-se lá de quê.
Pois o sonho não resistiu nem ao término da consulta. Quando a médica se pôs a querer saber de mim, coisinha por coisinha, e que, lá pelas tantas, eu lhe disse da minha satisfação em não ter certezas e de não ter um jeito uniforme de agir, que a instabilidade era de minha natureza e que eu me negava a ser uniformemente posta na vida, dia após dia, a senhora vira-se para mim e diz: “Hi, querida, você está aqui por engano, o meu trabalho é exclusivamente para fazer com que as pessoas ganhem equilíbrio. Não há o que a homeopatia fazer por vc, pois vc simplesmente não deseja o equilíbrio”. Não sei o que a pobre criatura pensou de mim, mas dali mesmo, a meia consulta, me despachou. E eu que já estava vivendo mais uma circunstância das que não me levavam a muita coisa sobre o basicão do viver, saí porta afora, livre, pronta para seguir com o hábito de praticamente não tomar remédios, não saber, como as pessoas sabem, o que é bom para isto e aquilo, e continuar na minha teimosa procura pelo que haveria de me dar alguma luz. Homeopatia não era! Era seguir tentando! Como cá estou até hoje! Qualquer hora, eu canso.
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