sábado, 28 de dezembro de 2013

SURPRESAS SEMPRE SURGEM... E NOS FAZEM VIVER E PENSAR...

Galo que me olha espantado quando vejo TV e faço palavras cruzadas ao mesmo tempo
Parte 1

Final de tarde, um olho na TV, outro nas palavras cruzadas. Não sei o motivo, mas tem sido assim nos últimos tempos: raramente apenas a novela. Mesmo a das seis, que tem o tal comunista bonitão e a consequente inveja que me apossa diante dos prazeres vividos por Carolina Dieckeman em seus braços, nem isso me ocupa por inteiro. Assim, os olhos vão e vêm, desembaraçados, da TV para a página do jornal e vice-versa. Creio que a produtividade de uma vida inteira está virando doença... Duas ações ao mesmo tempo? (Pânico silencioso!). Qualquer dia (Deus me livre e guarde!), vou ficar tal qual aquela amiga que, acabado o último gole de seu café, na famosa padaria, mesmo com o assunto ainda pelo meio, com o grupo de mulheres ainda em plena briga por espaço para ver que conta a última do último ano, levanta-se e se põe a postos para encerrar o encontro, pronta a se dirigir ao caixa e pagar a conta, com ares de que já está na hora de “ticar” de sua lista o tal “encontro tradicional natalino de amigas que um dia militaram no movimento dos professores”. Papa Francisco me proteja! Que eu faça bem feito, mas sem ansiedade, e uma coisa de cada vez, por favor!

Esquisito o hábito, mas a verdade é que, com a idade, as nossas formas de ser parecem se sedimentar. Até costumo falar disso com pessoas amigas, que, tanto para o bem como para o mal, é como se os calos que vamos formando pela vida se acentuem com o passar do tempo. Os individualistas tornam-se egoístas de primeira enquanto aqueles outros, conhecidos por sua bondade, chegam às raias do altruísmo, quando solicitados por alguma circunstância da vida. E, assim, com tudo o mais em nossos comportamentos...
Comigo, o gosto pela organização e por ter o que preciso à mão cresce cada vez mais e tem feito com que, após lido o jornal do dia, as palavras cruzadas sejam guardadas numa cesta de palha ao lado da cama, as quais, pela facilidade de contar com canetas e lápis 2B (de preferência, apontados à moda das irmãs Calomeni – pontas feitas à estilete, enormes –) disponíveis já na primeira gaveta da mesinha de cabeceira, acabam por facilitar a combinação das ações – a de atentar para o enredo televisivo simultaneamente à atividade complementar de descoberta de palavras que podem preencher aquelas horizontais e verticais, quase a cada dia. Só não é atividade diária pelo meu próprio jeito de ser onde sempre é possível que o planejado seja irremediavelmente invertido ou transformado em outra coisa, bem outra.

Sobre elas, as palavras cruzadas, não é pelo fato de cada vez se tornarem mais fáceis, certamente, pelo exercício frequente de dar conta do dito passatempo, que eu tenha até aqui me desinteressado de preenchê-las. Apenas, cada vez se tornam mais fáceis e rápidas de serem concluídas. E as respostas já surgem quase sem muito pensar. Dá para ver o beijo do casal apaixonado na telinha e ir escrevendo a letra grega ou as iniciais do ator global, pedidas para preenchimento dos espaços ainda em branco. Quase sem pestanejar. A repetição dos enunciados (ou anunciados, como disse uma colega um dia desses...), qualquer hora acaba por me tirar o interesse pela brincadeira vespertina...

Hoje é que, como há muito não via, deparei-me com um conceito inusitado que me pôs a pensar: fator de desvalorização de um bem. Com três letras. Com certeza por ter acabado de trocar de carro e verificar que o valor pago há dois anos por ele, caiu à sua terça parte, não tive muito que pensar. Também indicava a possível resposta pelo espaço a ela destinado, como que me condicionando o pensamento. Três letras? Bom, a primeira resposta surgiu rápida: USO.  Até a escrevi no devido lugar. Mas seria isso mesmo?

O problema foi depois continuar a tarefa da brincadeirinha com aquelas tais palavras, dando conta de concluir o exercício. Dei de pensar em se isso era fato de fato e acabei largando o que fazia para vir dedilhar as minhas letrinhas em torno da dúvida instalada.

Será mesmo o uso que faz desvalorizar um bem? Valerá essa definição para todo e qualquer objeto? Ou, apenas se restringe ao que em nossa sociedade capitalista é tido e havido como mercadoria? E onde foi parar o tal valor de uso que define o valor das mercadorias? Estarão minhas mãos desvalorizadas pelo tanto que produziram vida afora? E minha capacidade de pensar e programar aulas e conferências? Projetos e escritos? 

quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

Em 19 de abril

JUNTOS

Inhotim


“O homem não pode esquecer que o que o move e o transcende é a sua frágil condição de desamparo ontológico, só suportável e superável através da convocação ao convívio amoroso e à abertura radical ao Outro, o semelhante.”

(Hélio Pellegrino, lembrado por Maria Clara Pellegrino – O GLOBO – 10 de agosto de 2004

Dia de sol, na vida e na alma. Hoje voltei a uma escola pública, depois de um bom tempo,... para estudar com seus professores, e para estudar não um tema qualquer, mas aquele que me apaixona há longo tempo em minha trajetória profissional – a influência da mídia na formação de nossas subjetividades. Sim, porque estou convencida de que professor que se coloca como um leitor crítico, pode estar mais preparado para fazer seus alunos pensarem e até, se lhes aprouver, interferirem socialmente.

Desde a chegada, ainda na rua, curtindo aquela ponta da Baía, ali em Jurujuba, com seus barcos meio encantados a colorir o canto da praia, já estava pressentindo o prazer que se avizinhava. Quanta saudade de estar naquele meu antigo e permanente lugar! E foi mesmo, chegar e estar em casa! Uma bela escola, com cara de escola de verdade, limpa, cuidada, murais organizados e cativando o interesse dos passantes, cheiro de comida bem temperada sendo feita, e um animado grupo de professoras, todas mulheres, a me aguardar, na sala de leitura, bem equipada, colorida por livros e mais livros de literatura infantil e juvenil.

Tenho aprendido, cada vez mais, que a vida parece ter seu curso próprio e que cada um de nós pega uma carona, sabe-se lá de onde até qual lugar, tamanha a pouca força de nosso controle sobre os fatos e circunstâncias. Sujeito da História é tarefa grande demais sobre a qual não tenho mais grandes ilusões. É amanhecer, olhar o que há para ser feito e construir, generosamente, o que há que ser feito, sempre na perspectiva de nossa utilidade para o mundo ser um pouco menos perverso. É o aqui e agora, e olhe lá! E isso, até quando for o caso, pois o agora também pode ser caçado a qualquer instante.

Pois hoje, a tarefa foi além do esperado. Mais recebi do que me doei. Os olhares e as falas traduziam vontade de estar junto e em sintonia. De fato, reencontrar meus pares, na crença de que juntos podemos ser melhores pelo OUTRO foi de uma valia extrema. Conversamos e conversamos muito. Claro que voltarei! Cada qual se colocar na contramão da lógica dominante é tarefa difícil e que só pode ser feita ombro a ombro e de modo permanente. Rever o que está posto e se lançar numa prática questionadora é tarefa para dia após dia. E o OUTRO, no caso os meninos e meninas em processo de formação, são a razão para a gente querer amanhecer amanhã e seguir adiante. Esse, sim, é o amor que vale a pena e que traz sentido à vida. O imortal Hélio Pellegrino tinha razão: o outro nos abençoa com sua presença em nossas vidas. Como também o inesquecível Carlito Maia, quando afirmou – e eu nunca me canso de repetir – que “precisamos de muito pouco, apenas uns dos outros”. Ou ainda: “Façamos nós por nossas mãos tudo o que a nós diz respeito”. (Fragmento de A Internacional)
SAI UM FILÉ COM FRITAS, AÍ, MEU CAMARADA!

Escrito originalmente em 2011 e relembrado hoje, quando leio, ASSUSTADA, no jornal sobre a fusão de duas empresas gigantescas que oferecem ensino e que somarão juntas mais de 1 milhão de alunos.

Uma vez que fui a uma reunião em uma escola na Barra da Tijuca, pertencente a uma destas redes de ensino privadas que têm mil filiais espalhadas pela cidade, pel...o estado, até mesmo pelo país, as chamadas escolas apostiladas. Pois, vocês não vão acreditar: atende-me uma coordenadora, uniformizada, com cara de gerente de banco ou aeromoça, toda de azul marinho, o emblema da escola no peito, bem na direção do coração. A imagem já era tão pasteurizada que me causou arrepios. Mas, tentei não criar preconceitos, afinal de contas, era aquela minha velha história – ou vício –, não queria me deixar levar pela aparência, estas coisas de quem tenta buscar a tal da unidade entre aparência e essência. Era ir adiante e não me deixar levar pelo impulso de fugir dali, às pressas...

Pois não tive êxito. Conversa vai, conversa vem, enquanto caminhávamos em direção ao auditório onde me aguardavam os professores com quem eu conversaria sobre Mídia e Educação, o que vocês imaginam que a moça possa me ter dito, com galhardia, certa de que sua afirmativa guardava grande sabedoria e que era adequada para aquele momento de jogar conversa fora tão comum para a circunstância? Juro que teria sido melhor se tivéssemos ficado naquele feijão-com-arroz de o-dia-está-quente,-ontem-esteve- mais-frio,-a-chuvinha-veio-em-boa-hora, ou coisa que o valha...

A pérola foi a seguinte:

- Sabe, professora, nossa meta este ano é alcançar a qualidade de ensino, custe o que custar. Temos feito reuniões e mais reuniões com os professores de todas as unidades para debater a nossa intenção. O exemplo que tenho dado para eles e que acho pertinente é que a nossa rede tem que se espelhar no Mc Donald’s. Quando vamos a um Mac Donald’s a batata frita não tem a mesma qualidade, esteja a filial onde estiver? Pois é isto que queremos: que o nosso ensino seja como a batata frita do Mac Donald’s, sempre igual, Afinal, todos têm que receber o mesmo conteúdo, não é?

O bom é que Deus existe e me protegeu naquela hora – para que eu não tivesse tempo para responder nada, com o risco de criar um clima desagradável com a minha anfitriã, eu que já via fugir garganta agora, já pulando na gola da blusa, algumas palavras que iriam tentar fazer conjecturas sobre algumas possíveis diferenças entre batatas fritas e gente. Eis que uma porta se abriu e era o auditório à nossa frente, muitos olhares em minha direção, hora de cumprimentar os colegas e começar a falar. A conversa, com a cumplicidade de Deus, que esgotou o tempo de estarmos juntas, a sós, terminava ali.

Mas, para que eu pudesse dormir tranquila, na noite que viria em seguida – e nas seguintes, por suposto -, arranjei um jeito de, naquela fração de segundos que me separava da moça-que-vê-gente-como-batata frita do auditório cheio, com quem eu esperava dialogar com o coração quente de vontade de tratar das mazelas e perspectivas da escola, pois eu tive tempo de incluir em meu discurso um trecho que tratava justamente de como a mídia nos massifica, tentando fazer de nós uma maçaroca, todo mundo meio de um tom só, de um gosto só, de uma escolha só, quase como as batas fritas do Mac Donald’s, iguaiszinhas onde quer que estejamos...

Nada disso, aqui resistimos, aqui refletimos, aqui insistimos em termos direito à diferença, ao pensamento crítico. Aqui podemos olhar e tentar ver mais além, com todo o direito de gostarmos de bife mal ou bem passado, “ao ponto”, se for esta a preferência, para acompanhar batatas, quaisquer que sejam elas, fritas, assadas, chips, gratinadas, à portuguesa, Rösti, até as da caixinha vermelha do Mc Donald’s, todas deliciosas. No meu ponto de vista, Há outros...
Em 5 de maio

Bananas poucas e maduras!

(Escrito todo o tempo com um baita sorriso nos lábios)

Vivem nos dizendo, aos que passaram dos 60, que está tudo bem conosco, que devemos mais é ficar agradecidos, pois, não estivéssemos aqui com nossas mazelas, já teríamos partido desta para melhor. É uma cruel estratégia dos mais jovens para nos encurralar e tirar um sorriso amarelo de nossos lábios, já menos carnudos... do que outrora. Como isso ninguém quer, já que Gonzaguinha nos ensinou que a vida é bonita, é bonita e é bonita (Repetido assim mesmo pra ver se a gente acredita e fixa o conceito), a gente vai se virando, esquivando-se de um probleminha de coluna aqui, uma nem tão discreta síndrome do túnel do carpo acolá, e prossegue, amparada pelo prazer de, com tudo isso e apesar dos achaques, querer compartir o bem viver com aqueles que ama. Eu, do alto de minhas eternas dúvidas e mais certa de que o último dia de minha vida será mesmo o último dia de minha vida por aqui, vou traçando um cotidiano de coisicas simples, dia após dia, enquanto por aqui transito...

Pois eis que, nesta boa vida de quem simplesmente vive, me deparo com um escrito, dou risada com o pensamento do cidadão - bem mais velho do que eu - e me indago: será que eu vou chegar a dizer isto um dia (Ou não dará tempo?)?

“Com esta minha idade nem mesmo bananas verdes eu compro mais.” George Burns, citado pela Dra. Elaine Morgan.

Não é pra rir? KKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKK
Primeira Comunhão, tempos de católica


UMA EXPERIÊNCIA RELIGIOSA COMO POUCAS

Tem dias que me dá de lembrar coisas que eu não sei porquê, de onde surgem, qual o motivo da rememoração. Isso é comum... Hoje estou tomada por uma história que vivi e, não tem jeito, enquanto eu não me pus a registrá-la, a danada ficou aqui me perturbando, empurrando-me para o teclado e tirando minha concentração para o trabalho que vinha produzindo com tant...a disposição.
Eis que eu estava em Recife, a trabalho, não sei bem se em função de um curso ou apenas de uma palestra para professores dos arredores e da capital de Pernambuco. Era a semana anterior à Semana Santa. O fato é que o jornal local, pela simpatia e delicadeza de um de seus diretores, não aceitou que, estando eu por ali, justamente por ocasião da encenação da Paixão de Cristo, não fosse até lá apreciar o espetáculo. Carro com motorista à disposição, ingressos comprados, não pude recusar o convite, até porque imaginei ser bastante interessante o que poderia apreciar na vizinha cidade de Nova Jerusalém.
Lá fomos nós, e eu, distante de rezas e catoliquices desde a conclusão do Ensino Normal no distante Auxiliadora – quando passei a vergonha de, na missa de formatura, ficar sozinha no banco da igreja sem ir comungar – enquanto o carro seguia pela estrada, fui entrando no clima de reverência às cenas da Paixão de Cristo que estavam por vir. Sempre fui admiradora de Cristo e de suas histórias de generosidade e entrega.
Chegando ao local, uma imensidão de lugar, mais imbuída ainda do espírito religioso que a ocasião sugeria, pus-me a caminhar até chegar ao “maior teatro a céu aberto do mundo”, onde, cercado por umas muralhas de tipo romanas, estava o local onde se distribuíam as cenas da Via Sacra, a serem representadas.
A essa altura, quem me conhece sabe, juntar Cristo, povo humilde, ainda mais do Nordeste, e coisa e tal, eu já estava a ponto de pedir a comunhão e chamar algum padre para me confessar e pedir perdão por todos os meus pecados. Emoção pura! Olhos úmidos! Coração em saltos! Uma católica das boas! E ainda tinha o meu cansaço, preguiçosa como sou, já botando os bofes pela boca para acompanhar cada Estação e os atores nela envolvidos. Também isso, claro!, me deixava mais ainda à mercê da irrealidade.
Cristo se aproxima e eu me comovo mais ainda! A dialética pede licença e sou pura devoção àquele ser iluminado, ferido, sangrando, desnudo.
Pois qual não é a minha surpresa: quando já estava por me entregar inteira ao momento da mais pura religiosidade, eu e Cristo, um perto do outro, caio na realidade e sou interrompida em meu quase êxtase de amor a Deus. Foi quando umas mocinhas, bem perto de mim, ao ver aquele ator da GLOBO vestido de Jesus, postam-se em gritinhos e começam a dar sinais da dura realidade que só eu não via: “Lindo! Gostoso! Vem cá, meu gato”.
(Peço licança. Não dá para escrever isso e permanecer dedilhando teclas. Intervalo para eu poder rir como uma louca, cá no meu canto).
Voltando a mim, pós gargalhadas: é... essa coisa de ser católica parece que não é mesmo pra mim. Bem que eu tentei.
Muitos outros risos!!!!!!!!!!!!
Lagoa de Itaipu, em domingo de sol.
Em 28 de maio

Olin e Neymar - dois meninos num mesmo domingo de sol

Domingo passado foi dia de Ólin e de Neymar. Neymar dá pra entender: despedida de menino pobre, artista mais do que nobre da bola, realizando o sonho de ir jogar no Barcelona, rico, riquíssimo e fazendo o que mais ama na vida – jogar futebol. Esperança para milhares de outros meninos brasileiros, ídolo de todos nós que nascemos e crescemos val...orizando aqueles movimentos corridos e espetaculares num campo de grama verde, de um time contra outro, com seus atletas atrás de uma pelota, até a glória dos gols que nos fazem vibrar quando a rede balança, antes de acolhê-la a seus pés.
Claro que o exagero do valor de mercado do tão querido atleta também daria para gerar um artigo, até um ensaio ou qualquer outro estudo acadêmico de maior fôlego, tamanha a desproporção do que a ele é oferecido como moeda de troca pelos seus passos futebolísticos. São tantos e tão incalculáveis euros, cujo contraste em relação ao valor de mercado dos simples mortais que o apreciam é tão distante que mereceria, sim, um entendimento mais preciso acerca do assunto, como a justificar tamanho desvario. Mas, o menino Neymar, pelo menos, ganha o que ganha em função de seu trabalho e de uma dedicação intensa ao desenvolvimento de seu talento nato.
Mas e Olin? Por que esse menino foi chamada da primeira página do GLOBO e capa da Revista desse jornal, no último domingo? Qual a justificativa para tal escolha? Por que tudo o mais foi deixado de lado para que o namorado de uma “gostosona” (como afirma o próprio jornal), de vida de estudante tão reprovável, como é narrado na matéria, de vida de empresário totalmente mal sucedida (ganha 20 mil e gasta 30 mil a cada contrato), fosse assunto prioritário? Em que ele merece ser valorizado a tal ponto? E como entender o discurso que o apresenta como o outro (o bom, será?) filho do Eike? Está aí subentendido que o outro irmão, o do atropelamento, merece ser deixado de lado, “mal visto” como está, para que se valorize o mais novinho do casal Luma /Eike? (Aliás, lindíssimo como a mãe!).
Da leitura de jornais do último domingo, a capa e a matéria a ela correspondente na Revista O GLOBO me deixaram realmente pasma! Busquei sentido e ainda estou à cata do que querem que eu leia e entenda a respeito. Fiquei, de saída, lamentando o quanto ficou como o componente mau da prole do casal o que não foi capa. Fiquei até com pena do rapaz. Mas isso é pouco. Preciso que me ajudem a ler melhor o que li! Por que motivo o garoto filhinho de papai, de comportamento tão reprovável foi valorizado a tal ponto? Quais silêncios estão presentes naquelas palavras e fotos? O que desejam que nossos jovens leiam e entendam a respeito do menino que tem direito até a dizer como seu nome de batismo deve ser pronunciado?
Em 16 de junho 
Foto tirada em 19 de junho.
De volta à superfície

Aos amigos
De pijaminha novo, lindo e macio, dado pela grande amiga, acordo feliz da vida e cumprimento o sol, através da janela escancarada. Belo dia, deliciosa noite, grande véspera! É que cá estou, aos 68 anos, de volta à superfície, feliz e gostando novamente de viver! Após o delicioso café do nonno, recém descoberto no Hortifruti, acompanhado de um incrível pão de gergelim com queijo, a prime...ira coisa que quis e venho fazer é agradecer aos amigos, de sangue e da vida, que estiveram comigo, de longe, de perto, por aqui pelo Face, por telefone, por todos os meios e formas de me alegrar no dia de meu aniversário. Sempre gostei do dia de meu aniversário, mas ontem foi realmente especial. Teve gosto de vida nova, de renascimento, algo assim...
Foram 150 dias de profundo abatimento, eu que andei consumida pelo remorso de ter sido cruel com uma pessoa querida... e isso abriu as portas de meu corpo fragilizado para uma tal de ileíte que andou furtando meu apetite e acabou levando 20 kg do meu corpitcho. Mas, junho chegou afastando males e agonias. O corpo e a alma reencontraram antigos prazeres e, ontem, junto a quem veio ao vivo e em cores me abraçar, pude aproveitar da especialmente deliciosa feijoada de Zelinha que, desde o início do mês voltou cá pra casa, de armas e bagagens, para me mimar com pratos saudáveis e de dar água na boca. Ô coisa boa!
O convite para um novo trabalho, não posso negar, também me reergueu justamente quanto à dimensão de minha vida que sempre foi reconfortante e sólida. E melhor: junto a professores que têm sido ótima companhia neste meu momento de retraçar um caminho em busca de minhas melhores possibilidades. E é isto aí: viver é uma permanente delícia, até pelas dores que nos cortam a alma, pois elas nos reaproximam de nós mesmos. E todos vocês que estão comigo são as melhores companhias que eu poderia e posso ter para seguir adiante com fé no hoje, na grandeza da vida e com fé no que virá.
Um beijo agradecido e amoroso,
Em 22 de julho

Amor de idosos (desconheço a autoria da foto)
Lições preciosas, ainda que tardias...
Assim como falei há um par de dias sobre a dor pela morte das crianças da Índia, hoje sou impelida a falar das lições de grandeza que tive ontem, quase que aqui na esquina de casa. De Itaipu fui a Pendotiba em menos de 15 minutos para ganhar lições que perdurarão para sempre dentro de cada um dos resíduos de mim mesma que o mar de Atafona ainda há de tragar (...se é que eu posso ter controle sobre esse meu futuro – mais ou menos – próximo).
O simples aniversário de uma amiga, um almoço junto a seus familiares, em sua casa, me trouxe sabores emocionais e afetivos incalculáveis. Primeiro, por rever cada um dos daquela família que foi tão próxima da minha lá atrás, ainda em Campos. Por rever cada rosto, abraçar e beijar cada face, sentir a parecença de cada qual com os dali mesmo e com os distantes, ainda por aqui ou já partidos. Beijoqueira e amante do toque direto nos que amo como sou, fui vencida pelos dali – pelo tanto com que fui acarinhada todo o tempo. E não só pelas palavras (o que também foi muito bom – “Ah, que bom! Su estava feliz demais em saber que vc viria!”) mas na carne mesmo, beijo no beijo, abraço no abraço, afago no afago. Ou seja: a minha presença, eu que só recentemente vejo um pouco menos nebulosamente que sou querida, desde antes de chegar já era anunciada como algo bom. Que sensação deliciosa! Realmente, antes de minha morte, eu precisava aprender a ver e a sentir o que antes, por minhas próprias incertezas e marcas, ficavam invisíveis à minha própria percepção.
Mas isso foi apenas o começo. Muito mais havia por vir. Não que tenho sido menor ou maior o que veio em seguida. Não! Não há quantificações. São sentimentos e observações incomparáveis, apenas sentidas e que me põem a registrar, a pôr pra fora, sempre por intermédio delas – as palavras –, tamanha a força com que se movem dentro de minha alma.
Eu me refiro à chegada dos pais da minha amiga, quando eu já tinha tomado a primeira dose de whisky, tão especialmente a mim servida por um dos primos, em cuja fisionomia reconheci a irmã, que não vejo há tanto tempo... Cara de gente boa, que dá vontade de (re)conhecer melhor. Mas isso é pra depois, como já me ensinou há muitos e muitos anos, Scarlett O’Hara em O VENTO LEVOU.
O momento é de falar dos pais, o lindo casal de velhinhos que chegou para fazer vibrar a minha alma teimosamente romântica. Sei que vale pouco dizer que chorei, já que minhas lágrimas são inteiramente desprestigiadas, meio como arroz de festa em minha face. São tão banais que não comovem a mais ninguém. Creio ser eu mesma a única a acreditar na força e veracidade com que afloram e não se deixam esconder. Pois o fato é que os dois amorosos seres fizeram com que lágrimas encharcassem a minha face envelhecida. Cada qual com seus 90 anos, o carinho do marido pela mulher, tentando trazê-la todo o tempo de volta ao seu redor, eram o meu sonho de amor posto visível, palpável, à prova, ali na minha frente. Era olhar e ver. E as filhas, todas, em relação ao casal? Ora um docinho na boca, ora um passar de mão pela testa, ora o cuidado em ajeitar a almofada por baixo dos pés da linda senhora. Cada qual a seu tempo, cada qual à sua maneira, cada qual em sua forma de amar... e ele, o marido, encantador, bebendo o seu abacaxi com sei lá qual tipo de álcool, sem se esquecer de, todo o tempo estar inteiro, ao lado da mulher.
E tem mais, pois o que não faltou ali foi amor demonstrado em gestos e atitudes. Falo agora do caso da menininha, uma das integrantes da novíssima geração, a dos filhos dos filhos dos filhos. Vivendo uma situação de alergia alimentar, mereceu por parte da dona da casa a busca por um produto que imitasse, de algum modo, o chocolate – pela pequena tão apreciado –, mas, por agora, proibido de ser ingerido. O produto, de que não me recordo o nome, foi adquirido pela aniversariante numa loja especializada – ou seja, foi alvo de trabalho, em nome do amor ao próximo (no caso, de uma proximinha de volumosos e sedosos cabelos encacheados), procurado pelo comércio, vindo a ser o ingrediente do bolo em torno do qual cantamos os “Parabéns pra você”.
E eu que achava que sabia amar! No meu íntimo, o que sinto mesmo é que, no mínimo, preciso registrar essas pequenas historietas para fazer chegar a meus filhos as lições que não pude lhes passar enquanto dava aulas no Henrique Lage ou que redigia panfletos e ia às ruas em torno da última campanha política para mudar o mundo.
Que bom que ainda deu tempo!
Em 23 de julho 

O QUE ME TRAZ FRANCISCO

Francisco, ontem vc me fez lembrar dos meus tempos de menina, bem menina ainda, quando eu fui receber, creio que com mamãe, a imagem de Nossa Senhora de Fátima lá no Automóvel Clube, em Campos. Por que foi lá, não tenho a menor ideia, mas que foi, foi. Sou reconhecidamente uma pessoa de parca memória, mas quando me lembro de algum acontecimento é porque foi daquele jeito,... sem nenhuma dúvida. O raro é haver a lembrança. Havendo, não ouse duvidar, a coisa é pra valer. E a lembrança daquele dia vem intensa – era gente demais, cantando, fervorosamente, os seus louvores e eu, criança ainda, atônita, ingenuamente entregue àquele momento de fé coletiva. Igreja, talvez tenha sido dali em diante, que passou a ser para mim a mais pura emoção à flor da pele. Se for daquelas, então, medievais, altíssimas, onde ficamos menores que insetos, prontos a sermos esmagados pela vontade divina, aí mesmo é que me deixo levar por forte emoção e elas, as lágrimas incontidas, chegam para alagar a face sem que nada as consiga deter. Se duvidar, soluço mais do que no dia em que assisti Suplício de uma Saudade.
Falei em receber Nossa Senhora de Fátima, quando foi a Campos e aí, do jeito que começam a borbulhar lembranças a me por pra escrever, lá vou eu escapulindo do catolicismo e me embrenhando pelos ares profanos da vida a me lembrar de outras visitas ilustres que me levaram às ruas de minha cidade, em tempos idos. Não vale rir do pulo que dou do papa à miss, mas de quem me lembro é de Marta Rocha, que fui receber no aeroporto e diante de quem fiquei sem ar quando, deslumbrante, desceu da escada do avião, tilintando as suas pulseiras cheias de berloques. (Deus meu, até de berloques eu me lembro. Garanto que pouca gente sabe o que é isso hoje em dia. Jovem que me lê, pergunte à sua avó, se viva for...). Outro visitante ilustre (e continuo pedindo clemência por juntar alhos e bugalhos...), dentre os que vi chegar a Campos, foi Carlos Lacerda, só para citar um grande líder que fazia e desfazia dentro da política brasileira da época, com seus discursos inigualáveis. Nesse dia, a grande lembrança é de papai, udenista tradicional na cidade, quase a explodir de emoção ao recebê-lo em frente lá de casa, na Beira Rio, com o coração quase a sair pela boca diante do ídolo de quem só mais tarde, bem mais tarde, eu fui saber das posições na trama de interesses políticos de então. A verdade é que de papai fiquei com várias de suas características, talvez a mais marcante a gargalhada farta, singular, em quem eu mesma me reconheço quando explodo em riso, mas não com a forma de ver e sentir a Política. Aí o desencontro foi pra lá de acentuado, para dizer o mínimo e não atazanar a memória do velho da mais bela cabeleira branca que conheci.
Mas, até aqui são puras divagações. Coisa mesmo de mãos irrequietas e mente transbordante de ideias que teimosamente fogem do fundo da alma. O visitante da vez é o argentino Francisco, com sua cara de gente boa, por conta de quem, ontem, até me pus a cantar o Hino do Vaticano (“Ó Roma Eterna dos mártires, dos santos...”), aprendido nos tempos do Auxiliadora de Irmã Zilda (dentre outras freiras, infelizmente!).
Pois Francisco chegou e lá fiquei eu, aparvalhada em frente à TV, acompanhando o seu trajeto e a beleza das pessoas, em sua pureza de sentirem-se como que abençoadas por vê-lo um pouco mais de perto. Muita gente junta é sempre comovente!
Fiel às minhas incertezas e contradições, fiquei assistindo você, Francisco, você que, com vigor, expõe minhas contradições, colocando-as nuas e cruas para mais uma vez serem vistas por mim e uma vez mais serem guardadas, sem soluções possíveis, pelo menos nos tempos que correm... Ainda bem que cada vez menos eu as temo, posto que antes repleta de dúvidas que podem (ou não) ser sanadas um dia do que de certezas que me congelem para sempre...
Digo que expõe as minhas contradições porque, para mim, você é fortemente a coisa e seu reverso. Como representante de Jesus aqui na terra, conta com minha incondicional admiração e respeito, pois que foi ele, não mais ninguém, quem me iniciou na busca por um viver menos afastado da humanização! Quando conheci Jesus, deixei de ser apenas eu sozinha e o meu semelhante passou a ser mais um pedaço de mim. Se mais tarde Marx me explicou, quem abriu meu coração para ver foi ele.
Também como argentino, assim como meu casal de filhos, você tem meu respeito, Francisco, pois que seu povo é de fazer inveja a qualquer um, como exemplo de cidadania. Em seu país foi onde eu vi um motorista de ônibus parar o veículo, levantar-se de sua cadeira, e dar lugar a uma mulher grávida, até que algum passageiro o fizesse e ele pudesse dar prosseguimento à viagem. A Argentina é, sem dúvida, a minha segunda pátria.
Infelizmente, Francisco, também a moeda que me une a você tem duas faces. E não há como negar, se num dos lados eu vejo nítida a figura de sua mansidão, combinando humanismo e esperança, do outro surge a negação dessa dimensão até poética. Falo, Francisco, da perversidade de você deixar uma parte de nós a descoberto, uma parte órfã, estarrecida e em aflição, pois, confesso, Francisco, está bem distante de cada um de nós a Santa Madre Igreja – Poderosa, Rica e Conservadora – e você, sendo o seu representante, me deixa inquieta, no mínimo, pela existência dos tesouros do Vaticano; no máximo, pela não resposta à desigualdade que se perpetua como natural entre nós.
Não sei, meu amigo, mas me parece não haver soluções à vista, é seguir tentando conviver com o mistério de se saber mais que imperfeita, pequenina, fugaz, impotente, ... até onde der pra ir. E que Nossa Senhora de Fátima nos proteja! Ah, e Nossa Senhora Auxiliadora também (que eu não estou aqui para provocar ciumeira e me deixar à deriva sem a ajuda dessas imponentes figuras, elas, sim, perfeitas, grandiosas, perenes e coisas tais). Amém.
Em 14 de setembro

Carmen, já grisalha, ao natural.
CHEGOU PRA MIM (MUITO ANTES DO QUE EU SUPUNHA)

É bem verdade que eu era pouco mais que uma menina quando ouvi esta história, mas que ela me mostra sem máscaras como estou ficando velha, ah, isso também não é menos verdade. Está certo – ando de novo de bem com a vida, toda faceira, célere, revendo pessoas, vendo e revendo a mim mesma, fazendo o que gosto, mas, não há dúvida - a velhice já está me ...chamando de colega.
O caso é que, lá pelos idos de 1960, antes de eu sair de Campos, uma senhora, dizendo-se pesarosa diante da situação da velhice, no caso, do sogro, que já estava mais pra lá do que pra cá, virou-se para nós e disse (isso lá na beira do mar de Atafona, naquelas conversas sem fim entre os grupos de amigos, conversas que, de tão boas, só perdiam para os tantos e tantos mergulhos que eu nunca deixava de dar para me esbaldar naquelas águas douradas de minha saudade...): “Vejam só se não é triste, o velho (ele, ali, a poucos metros de nós...) já não se aguenta mais, é só bota o velho no sol, tira o velho do sol... e ele ali, impassível, sem nem sequer dar um sinal do menor agrado ou desagrado... Não é triste?”
Nós, outras, solidárias, concordamos com a cabeça umas, com uns jeitos de boca, outras, mas, no fundo nem estávamos atentas de verdade para o senhor que ali, mesmo sem perceber com clareza, ia se despedindo do sol (e da sombra). Parecia que a velhice era coisa pros outros e não que no dia seguinte seríamos nós...
E o que tem ver essa historinha com a minha própria velhice? É que acabo de me lembrar – e sair rindo, comigo mesma – em direção ao jardim para molhar as plantas, como tanto amo fazer, pensando no seguinte: a autora da frase, mulher linda na ocasião, já morreu. E de velhice!
É, estamos indo...
Vamos ao dia de hoje, portanto! E com o coração aberto para o que virá! As plantas já estão regadas, agora é ir pra piscina, sacudir um pouco as carnes que sobraram dentro da água para fingir que me exercito e depois ler o jornal enquanto o corpo absorve os raios solares para fixar a Vitamina D. Após é só continuar a viver – e salivando de prazer, à espera do prato saboroso que virá mais tarde: reunião com amigos chegados para discutirmos política.
Saber ser velho não é para qualquer um! Que as dores do pé e da lombar permaneçam aquietadas. Que a aflição que ontem incomodava o olho esquerdo pegue seu rumo! Que corpo e alma dialoguem em meu favor, que eu quero passar com meu sorriso e com a minha dor!
Bom dia!
Em 3 de outubro

Manias

Cada um tem as suas, bem sei. Mas há algumas que doem mais que outras. Mania pode doer? Claro que pode! Tudo pode doer! Tudo pode tudo! Na última segunda-feira, o exemplo vale aqui, quando fui à missa de sétimo dia da avó da minha sobrinha emprestada, enquanto todos ouviam compenetrados, contritos, a fala do padre, elogiando os avanços da Medicina e o quanto ela, hoje em dia, faz pelas pes...soas, lá de dentro de mim, saltou logo aquela minha rabugice costumeira, felizmente só de mim mesma para o interior de minhas vielas coronarianas, sem ninguém perceber, o pensamento habitual – “Nem para todos, padre, nem para todos...”. Não adianta: meias verdades não me descem.

Então, é assim, não tem jeito: tudo pode ser lido (ou ouvido) assim ou assado. O que dá pra rir dá pra chorar. Já bem disseram – claro que eu não me lembro quem – que há tantas formas de se ler quantas forem os habitantes deste mundão de Deus. A vida conduz cada um a um jeito de olhar e ver.

Hoje de manhã, a comprovar essa diversidade e as diferentes reações às manias de cada qual, tenho o exemplo de Zelinha, quando reclamou comigo da ausência de seu paninho da pia. Eu, que só passo pela cozinha sazonalmente, para fazer esse tipo de coisa que tira as coisas de seu (dela) devido lugar, logo me adianto a explicar que joguei no lixo, pra ela pegar outro, ali naquela gaveta que tem paninhos e mais paninhos que eu corto para esse tipo de empreendimento, alongando sua vida útil, um que já foi camisa, outro toalha de prato, aquele outro, menor, uma rede que manchou... e por aí vai. Eu e minha mania de reaproveitamento. E que nada tem de influência do atual discurso de sustentabilidade e coisa e tal. É coisa de mania mesmo, já veio de fábrica. Colares viram pulseiras. Meias viram prendedores de cabelo, azulejos bonitos que sobraram viram tampos de mesinha de cabeceira... É coisa de louco, mesmo. Ou mania. Ponto. O prazer é imenso ver coisas que se prolongam em outras funções e espaços...



Mas, maldita a hora em que falei pra Zelinha abrir a tal gaveta... Pois, com o que ela sai lá de dentro? Com um retalho de cambraia de linho, da camisa do homem amado que, quando se fez velha e esgarçada, eu tratei de aproveitar os pedaços ainda inteiros para quando precisasse de um paninho assim... E pior: todo ele com uma franjinha de fios que puxei, um a um, para que ficasse como que um guardanapinho bem acabado e pronto para um uso ainda digno.

Sai pra lá com isso, Zelinha! Apenas por fora, ele é um paninho. Por entre sua trama surrada de tão deliciosa cambraia, há uma história de amor que, por incompetência de seus protagonistas, acabou e deixou muita saudade! Pega aqueles restos da rede amarela, minha amiga, eles não têm spray de pimenta e não retiram, mesmo que temporariamente, o viço de meu olhar. Voilà!
Em 7 de outubro

O poder oculto de um sentimento

Hoje ouvi Betânia no Canal Brasil dizendo que música é igual a perfume, de imediato traz imagens, sensações, as coisas do sentimento, guardadas em nosso espírito, meio que adormecidas até serem acordadas de sua aparente inexistência. Ouvi e fiquei a matutar como ela tem razão e o quanto existem determinadas sensações que, realmente, provocam como que um choque e ab...rem as porteiras das lembranças, sem aviso prévio, a ponto de assustar aquele que inocentemente vai dando conta do seu cotidiano, realizando ações as mais diversas, aqui e ali, à luz do dia ou na penumbra da madrugada, até que uma história sua salta à sua frente, da maneira mais do que inesperada, despertada que foi, seja por um cheiro que invade o ambiente, uma música que penetra nossos ouvidos, ou mesmo, acrescento eu, uma imagem recém captada por nosso olhar até ali distraído.

Provocada pela artista tão querida, penso no quanto há algumas imagens que se fixam dentro da gente e que nosso olho quando as percebe diante de si logo faz sinal para o coração e ele, em êxtase, dispara de felicidade! Pois assim é todas as vezes que minha caixa de entrada abre as portas para receber alguma coisa do meu amor. Os meus olhos, profundos conhecedores daquele endereço especial, aquele conjunto de letras, uma seguidinha da outra, daquele jeito único, naquela ordem singular, daquela exata extensão antes da @ e dos acréscimos que garantem a sua chegada ao destino esperado, podem acreditar: como que por milagre, ganham um poder inusitado, o de, como uma poderosa mão tocando um interruptor invisível, sair iluminando minhas entranhas, como que a espalhar choquinhos por todos os recantos de minhas vísceras, a começar pelo meio do peito. É mensagem dele. Parem as máquinas!

Assim como Thiago de Mello um dia decretou que

“fica proibido o uso da palavra liberdade, a qual será suprimida dos dicionários e do pântano enganoso das bocas, a partir deste instante, a liberdade será algo vivo e transparente como um fogo ou um rio, e a sua morada será sempre o coração do homem”,

também eu, decreto, instantaneamente, que cessem todas as demais tarefas, das mais urgentes às mais supérfluas. Sobre a mesa e em todas as direções para as quais eu possa me voltar só há uma única tarefa e exigir a atenção de todos os meus sentidos, razão, tempo, atenção: a leitura do que ele tem a me dizer. O resto é o resto, a sobra, o que pode esperar, o que pode e deve se ver depois, o mundo das desimportâncias.

A ordem vem do fundo da alma e é como se assim dissesse, baixinho: “Fale, querido: como vai você?”
Mãos em tempos de amor - fugazes -  como é da ordem das coisas do mundo dos inconstantes
Eu e papai na casa da Beira Rio, lugar das minhas maiores recordações de infância.
OUTUBRO NÃO EXISTE SEM JANEIRO NEM JUNHO SEM SETEMBRO

Em minha família, dos 9 filhos de papai e mamãe, 3 deles são nascidos em outubro. Dia 13 seria aniversário de Renato, 15 de padrinho Tininho e hoje, 16, de Maninho. Eu, que sobre tudo e sobre todos penso e imagino, me surpreendi por não haver nunca pensado nisto antes, quando um dos filhos, numa conversa, dia desses, à mesa de café, veio com e...sta: “Os velhos gostavam do mês de janeiro, não é? Como se fazia filho no verão...”
Pois não é que é verdade? Vindos à luz em outubro, postos a existir em janeiro. Óbvio. É só subtrair 10 de 9 que chegamos ao mês primeiro. E o que melhor, pensei de imediato: janeiro era tempo de estar no Paraíso, em Atafona. De manhã cedo, na praia, deviam se besuntar de areia monazítica (farta naqueles tempos), e, de noite, fortalecidos, com certeza pela fartura da boa mesa (Um pernil de porco? Um robalo?) e de muita papa de milho com café, ao cair da tarde, se entregavam aos prazeres de se amar. Que danados! E mamãe com aquela cara de santa... Mas, ela não tinha culpa, a papai seria difícil resistir...
Eu que vivi num lar totalmente atípico, com pai e mãe de relações cortadas desde sempre, morria de alegria quando os irmãos mais velhos contavam que o casal, antes de se desentender para sempre, era dado a noites de amor, em alto e bom som. Sexo era assunto inexistente, ainda mais envolvendo pai e mãe... Pois lá em casa, terra de extremos, ou os pais não se falavam – foi o que eu vi, desde sempre – ou eram dados ao amor – coisa de que eu apenas ouvia falar, uma pena! Altos e baixos. Paixão e indiferença. Falas e silêncios. Olhares e distanciamentos. Como eu poderia sair diferente?
Pelo visto, a gente aprende de tudo quanto é jeito – pelo que vê, pelo que escuta, pelo que supõe, pelo que deseja, pelo que prospecta, pelo que fantasia, pelo que... vá saber todas as fontes de onde aporta vida pra cada um de nós... eu é que nem me arrisco a completar o rol de bolhas ensinantes que nos chegam daqui e de acolá.
------------ Tempo -----------
E eu, que conto nos dedos , como aprendi lá no Calomeni, sem nunca decorar a tabuada, faço novos cálculos e tiro a prova dos 9: chegada à vida em meados de junho, fui feita em setembro. É isto! Acabo de entender o porquê esse é um mês que sempre foi tão repleto de flores para mim...


----------------- Comentário final ----------------------------------

Como envelhecer tem (pelo menos) isto de bom: com ou sem cabelos brancos visíveis, a gente (eu, pelo menos) dependuro a alma na janela e a exponho, sem meias conversas, sem falsa moral, sem disfarces. Coisa danada de boa! E viva "seu" João e "dona" Neném

Foto: Ontem, final do dia, vista da janela do meu quarto. Demais, não? Mesmo assim, a vida cá em baixo, não estava iluminada e nem tão azul assim... 

Fui saindo do PT até me desfiliar, à medida que fui percebendo que a Carta aos Brasileiros era pra valer e que o método de se fazer política, mesmo estando o PT à frente do governo, teria que continuar a ser o mesmo e os velhos bandidos de sempre teriam que ser tidos como aliados, sim, eles mesmo, os que sempre mandarem e desmandaram, de norte a sul de nosso país. Não que ainda não vote no PT. Tudo depende da conjuntura. Não foi nem uma nem duas vezes que fui de PSOL, num primeiro momento, e terminei apoiando o PT, como no caso da eleição de Dilma. 

Mas, a sensação de injustiça é maior que a lua e o luar, pois que enquanto os líderes do PT são presos, os bandidos estão soltos, dos mais antigos aos mais novatos, todos felizes, bilionários, esbanjando a glória de que vale a pena continuar a prática o ditado de que "se a farinha pouca, meu pirão primeiro". E haja pirão! Pirão, para dizer o mínimo e não ir além do dito popular...

A lamentar - e profundamente! - é ver quantos de nossos amigos, próximos mesmo de uma visão política a favor do combate à desigualdade social, se desiludiram e estão por aí à mercê do que vier, sujeitos a confundir as coisas e a apoiar qualquer posição que seja contrária ao Partido dos Trabalhadores. Ah, se tudo fosse tão fácil asssim... Infelizmente, nem sempre o fato de olharmos uma direção e a condenarmos não significa que a posição contrária é a correta. Pode ser que não e muitas vezes não é.
Lua da janela do meu quarto, em Itaipu - 16 de novembro 


Ontem, final do dia, vista da janela do meu quarto. Demais, não? Mesmo assim, a vida cá em baixo, não estava iluminada e nem tão azul assim...

Fui saindo do PT até me desfiliar, à medida que fui percebendo que a Carta aos Brasileiros era ...pra valer e que o método de se fazer política, mesmo estando o PT à frente do governo, teria que continuar a ser o mesmo e os velhos bandidos de sempre teriam que ser tidos como aliados, sim, eles mesmo, os que sempre mandarem e desmandaram, de norte a sul de nosso país. Não que ainda não vote no PT. Tudo depende da conjuntura. Não foi nem uma nem duas vezes que fui de PSOL, num primeiro momento, e terminei apoiando o PT, como no caso da eleição de Dilma.

Mas, a sensação de injustiça é maior que a lua e o luar, pois que enquanto os líderes do PT são presos, os bandidos estão soltos, dos mais antigos aos mais novatos, todos felizes, bilionários, esbanjando a glória de que vale a pena continuar a prática o ditado de que "se a farinha pouca, meu pirão primeiro". E haja pirão! Pirão, para dizer o mínimo e não ir além do dito popular...

A lamentar - e profundamente! - é ver quantos de nossos amigos, próximos mesmo de uma visão política a favor do combate à desigualdade social, se desiludiram e estão por aí à mercê do que vier, sujeitos a confundir as coisas e a apoiar qualquer posição que seja contrária ao Partido dos Trabalhadores. Ah, se tudo fosse tão fácil asssim... Infelizmente, nem sempre o fato de olharmos uma direção e a condenarmos não significa que a posição contrária é a correta. Pode ser que não e muitas vezes não é.



Em novembro de 2013

Da ordem da aversão a exercícios físicos

Hoje vou pra piscina sem nem precisar me preocupar com nenhum esforço a mais. Primeiro, porque acordei de um salto, mordida por uma bimbinha, que me fez pular de dor. Morar na roça tem destas coisas: tem o verde, o silêncio, a amplidão, mas também insetos e alguns outros representantes da fauna, sempre por perto, eles que vão ficando cada vez mais acuados diante de nossa presença, a dos ditos humanos. A janela da cozinha, por exemplo, não pode dormir aberta. Macaquinhos estão sempre à espreita para dar conta de algumas bananas. Logo: por minhas contas, pelo menos 1 km a menos de qualquer possível caminhada, mesmo dentro da água.

O segundo motivo para eu apenas ficar lendo (fui ao lançamento ontem e estou doida para começar a ler O bibliotecário do rei, de Marco Lucchesi) é que no sonho desta noite eu simplesmente tive que fazer esforços impensáveis para tomar banho num box onde havia um vaso sanitário. Ou seja, além do esforço para entender o porquê do lugar da limpeza estar junto daquele outro que possibilita a limpeza de nosso organismo - e haja reflexão! Minha adesão à dialética não precisaria me levar à tamanha contradição! - além desse esforço intelectual e emocional, há ainda o físico, porque tive que me retorcer tal qual uma cobra peçonhenta (1)- para conseguir me safar do vaso em busca da água higienizadora. Portanto: posso ficar, também por minhas contas, sem nenhum exerciciozinho. É só mesmo gastar energia com o impulso do mergulho. Depois, só leiturinhas, ao sol. Nada melhor!

(1) Não resisti a qualificar a cobra de peçonhenta, em homenagem a um ex-companheiro que, com raiva de minha pessoa - felizmente hoje creio que superada -, associou meu sobrenome pessanha à peçonha das piores víboras venenosas...
Em 19 de outubro de 2013

SERVIÇO DE UTILIDADE PÚBLICA
Resumo do Jornal Nacional de ontem para quem não viu

Sininho, a médica que abrevia mortes numa UTI de um estado do Sul, saiu apressada da prisão, coberta com uma capa de moto para não ser reconhecida, e se encontrou com Caetano, Roberto Carlos e uma mulher embotocada que não deu para ser reconhecida, os três foram transportados num ônibus da PM que, sem documentação, levava alguns vândalos (chegaram a ser reconhecidos Garotinho, Cabral e três médicos bolivianos que comemoravam seu dia mascando uma coca ali pelas redondezas da Lapa) ...
Não, está tudo errado. Dormi e me esqueci dos fatos... Creio que era assim: Sérgio Cabral com um moço grande de seu lado, Pezão parece ser sua alcunha, foram apartados por Rui Falcão e um tal de Lindinho, que parece que estava com a moça embotocada e gritava em alto e bom som a sua palavra de ordem pra 2014 – pela privacidade de quem tem grana e pela liberdade de expressão de seus pares...  Na rua paralela, creio que bem próxima à da casa de Roseana Sarney, lá no Maranhão, trafegava um ônibus sem documentação que levava uma fadinha, que não saiu das histórias infantis, mas das ruas...
Hi, está difícil me lembrar ... o dólar caiu, a culpa foi dos meninos e meninas que foram presos e levados num ônibus pirata da PM, a ativista brasileira presa na Rússia, confundida com a fada Sininho, permanece sem conseguir sair da realidade e voltar para a ficção, enquanto Eduardo Paes retarda o fim da Perimetral, com receio de que as toneladas de viga que misteriosamente sumiram apareçam no quintal de alguma UPP...
Perdão! Errei novamente. Será que é assim? Um hospital de renome, parece que localizado num dos novos milhares de municípios que estão autorizados a serem criados pelo Senado Federal, se associa a uma Fundação que maltrata animais para prestar serviços a renomados laboratórios, e produz uma nova fórmula para se realizar a deportação de estrangeiros vindos de países onde grassa a fome, sem que tais naufrágios sejam visíveis e, por conseguinte, sejam noticiados, evitando que o mundo todo fica sabendo das  milhares de vidas que se perdem em travessias marítimas fraticidas. Não, a proibição de notícias não tem a ver com as mortes de africanos, não. É com a questão da biografia da filha de Glória Perez...

DESISTO! Alguém aí, me ajude! A realidade pirou. Ou fui eu que enlouqueci?
Carmen, sempre lendo...
O MENINO, A ESTRELA E A LEITURA

O menino chegou pra mãe e falou que gostava muito de soltar estrela, que soltou com o amigo na rua de trás da escola e que foi muito bom ficar vendo aquela coisa colorida voando feito doida pelo ar, piscando pra ele e pedindo mais linha pra ir mais além do ar de agora há pouco. E ele dava. Dava a linha que ela pedia e dava a que ele queria também, mais e mais, até ela ficar quase menor do que a sua mão, ela que era tão grandalhona quando estava perto, na mão mesmo, aqui em baixo.

Com o seu amor pela primeira estrela, que foi só crescendo com a segunda e todas as que vieram depois, o menino foi deixando de ser menino gostando muito de estrelas, grandes e pequenas, amarelas, azuis, de todas as cores. De verdade, o menino e a pipa viveram dali pra frente, desde o dia de trás da escola, um grande caso de amor, menino e pipa, juntos. Juntos criando novas pipas, menino após menino, no mesmo e novo menino.

Mas eu não estou contando esta história só pra dizer que o menino cresceu e virou como que um fabricante de pipas, cada vez mais amarelas e azuis, pretas, vermelhas ou multicoloridas. Não, não é só pra falar desse menino que eu quis falar do menino da pipa (ou da pipa do menino). Do que eu quero mesmo falar é, do quanto gostar do que a gente faz, faz a gente saber melhor o que a gente faz.  Se são pipas, pipas melhores virão sempre, algumas até meio escurecidas, talvez até borradas, por combinarem com uma tristeza que nos machuca naquela hora em que pegamos papel e cola para fazer papel e cola virarem pipa. Mas sempre com o gostinho, a textura e o timbre (por que não posso desafinar de quando em vez ?) tirado do nosso amor por ela.

A conversa que vai acontecendo entre a mão que faz, a cabeça que pensa e o coração que sente, vai fazendo com que a coisa feita, com a mão, a cabeça e o coração, ganhe vida, recebendo de cada pedaço nosso um jeito especial de ser. Dá até pra ter como ingrediente o sentimento escorrido pela mão, um pouco de razão chegada às pressas para ver de perto a intuição primeira, coisas assim... E isso ajuda a coisa e ajuda a gente. A coisa feita não fica só coração ou razão, habilidade ou impulso. E nós vamos ficando melhores, porque sabemos deixar nossas partes se entrelaçarem livremente, sem termos que cumprir um papel definido antes, puramente emoção, puramente razão. Vamos ficando inteiros, já não mais repartidos. Repartida, nem mesmo a pipa, nos seus vários pedaços de papel seda, um de cada cor.  Mesmo em relação a ela - e às outras coisas - dá até pra pensar que, se elas saem de nós por conta dessa harmonia que buscamos a cada dia, pipas e coisas vão ficando cada vez mais vivas e sedutoras, pois que passam a ser a expressão de uma salutar conversa - às vezes meio briguenta - entre cada canto de nosso ser.

E por falar em meninos e pipas ...você gosta de ler?

Se você gostar, ou melhor, se você, ouvindo os vários cantos de seu ser, disser que sim, huum...aí trabalhar com leitura na escola vai ganhar um novo colorido. Eu quase juro que as cores que virão compor a sua prática serão tão vivas e fortes que poderão estar lado-a-lado com as pipas, as do menino que faz pipas e que vem-se fazendo um  homem cada vez mais ciente de suas cores.