Em 31 de outubro
NÓS, SERES HUMANOS...
Fico
aturdida com o quanto e o como muitos de nós inventam um jeito de viver (ou
seria sobreviver?) e seguem adiante, tropeçando, acotovelando, desumanizando-se
em atitudes deploráveis, do ponto de vista da generosidade e de uma convivência
fraterna. Na aparência têm postura ereta, polegar opositor visto a olho nu,
formas e gestos de um ser humano como qualquer outro – boca no lugar, nariz a
trazer e levar o ar necessário à vida, mãos eficientes para as tarefas do
cotidiano, pernas em sintonia com o movimento global do corpo, tudo
visivelmente de gente como nós –, mas totalmente opacas, ocultando suas índoles
apequenadas, reduzidas a uma visão de que “se a farinha é pouca, o meu pirão
primeiro”... E seguem adiante, disfarçadas que estão sob sua enganosa
aparência, deixando a nós, simples mortais, que estamos a seu lado, por força
de circunstâncias que se colocam em nossa vida, a tarefa de nos surpreendermos
com alguma atitude descabida, cretina, maldosa, a nós que estávamos apenas ali,
ao lado, sem supor malícias ou perversidades, obrigando-nos a, de repente,
entendermos que estamos diante de alguém com quem não queremos conviver. É como
se estar acompanhado de um elefante, vamos dizer assim, e de repente se sentir
mordido por uma cobra, e peçonhenta. Mas, como? Não era elefante? Como me picou
com tamanho veneno?
Depois de
tantos anos de terapia e de vida, ainda me assusto com pessoas de má índole. E,
com certeza, até o final de meus dias, não me livrarei das surpresas que a vida
coloca à nossa frente. É da vida e de quem está vivo. Como nos chegam surpresas
mais do que adoráveis, também nos surgem
cobras, e é assim mesmo. Ser feliz é viver o que se apresenta e saber
lidar com o que nos chega a cada esquina... Só que antes eu me sentia vítima do
mundo. Ao ser estranho, portador de baixos índices de humanidade, era posta
toda a culpa, e eu, coitada!, era vista por mim mesma como a vítima de suas
garras maléficas. Mas, que maravilha!, cresci! E como é um alento saber-me
madura, mantendo a necessária irreverência e pureza da tenra idade, mas com
capacidade de ir construindo instrumentos para ultrapassar as pedras do
caminho. Hoje, não é que não doa. Constatar baixezas e maus sentimentos e
práticas dói. Mas a vida já me deu maior lucidez para escolher quem eu quero
comigo, a compartilhar minha trajetória. Diante de atitudes desagregadoras,
autoritárias ou que denotem egoísmo, dispenso a companhia e sigo com minhas
outras e queridas pessoas, minhas almas gêmeas, aquelas que, se houver um tigre
vindo em nossa direção, não vão calçar um tênis que lhes dê maior agilidade
para se safarem do perigo, deixando-nos sozinhos para enfrentar a fera faminta.
Carmen e Mel |
Escolhas,
sempre elas, e cada vez feitas com maior sensibilidade e critério. Isso é saber
viver. Difícil, mas humanizante. E vamos em frente que atrás vem gente...
Nenhum comentário:
Postar um comentário