quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

Em 31 de outubro

NÓS, SERES HUMANOS...

Fico aturdida com o quanto e o como muitos de nós inventam um jeito de viver (ou seria sobreviver?) e seguem adiante, tropeçando, acotovelando, desumanizando-se em atitudes deploráveis, do ponto de vista da generosidade e de uma convivência fraterna. Na aparência têm postura ereta, polegar opositor visto a olho nu, formas e gestos de um ser humano como qualquer outro – boca no lugar, nariz a trazer e levar o ar necessário à vida, mãos eficientes para as tarefas do cotidiano, pernas em sintonia com o movimento global do corpo, tudo visivelmente de gente como nós –, mas totalmente opacas, ocultando suas índoles apequenadas, reduzidas a uma visão de que “se a farinha é pouca, o meu pirão primeiro”... E seguem adiante, disfarçadas que estão sob sua enganosa aparência, deixando a nós, simples mortais, que estamos a seu lado, por força de circunstâncias que se colocam em nossa vida, a tarefa de nos surpreendermos com alguma atitude descabida, cretina, maldosa, a nós que estávamos apenas ali, ao lado, sem supor malícias ou perversidades, obrigando-nos a, de repente, entendermos que estamos diante de alguém com quem não queremos conviver. É como se estar acompanhado de um elefante, vamos dizer assim, e de repente se sentir mordido por uma cobra, e peçonhenta. Mas, como? Não era elefante? Como me picou com tamanho veneno?

Depois de tantos anos de terapia e de vida, ainda me assusto com pessoas de má índole. E, com certeza, até o final de meus dias, não me livrarei das surpresas que a vida coloca à nossa frente. É da vida e de quem está vivo. Como nos chegam surpresas mais do que adoráveis, também nos surgem  cobras, e é assim mesmo. Ser feliz é viver o que se apresenta e saber lidar com o que nos chega a cada esquina... Só que antes eu me sentia vítima do mundo. Ao ser estranho, portador de baixos índices de humanidade, era posta toda a culpa, e eu, coitada!, era vista por mim mesma como a vítima de suas garras maléficas. Mas, que maravilha!, cresci! E como é um alento saber-me madura, mantendo a necessária irreverência e pureza da tenra idade, mas com capacidade de ir construindo instrumentos para ultrapassar as pedras do caminho. Hoje, não é que não doa. Constatar baixezas e maus sentimentos e práticas dói. Mas a vida já me deu maior lucidez para escolher quem eu quero comigo, a compartilhar minha trajetória. Diante de atitudes desagregadoras, autoritárias ou que denotem egoísmo, dispenso a companhia e sigo com minhas outras e queridas pessoas, minhas almas gêmeas, aquelas que, se houver um tigre vindo em nossa direção, não vão calçar um tênis que lhes dê maior agilidade para se safarem do perigo, deixando-nos sozinhos para enfrentar a fera faminta.

Carmen e Mel
Escolhas, sempre elas, e cada vez feitas com maior sensibilidade e critério. Isso é saber viver. Difícil, mas humanizante. E vamos em frente que atrás vem gente...


Nenhum comentário:

Postar um comentário