quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

Em 3 de outubro

Manias

Cada um tem as suas, bem sei. Mas há algumas que doem mais que outras. Mania pode doer? Claro que pode! Tudo pode doer! Tudo pode tudo! Na última segunda-feira, o exemplo vale aqui, quando fui à missa de sétimo dia da avó da minha sobrinha emprestada, enquanto todos ouviam compenetrados, contritos, a fala do padre, elogiando os avanços da Medicina e o quanto ela, hoje em dia, faz pelas pes...soas, lá de dentro de mim, saltou logo aquela minha rabugice costumeira, felizmente só de mim mesma para o interior de minhas vielas coronarianas, sem ninguém perceber, o pensamento habitual – “Nem para todos, padre, nem para todos...”. Não adianta: meias verdades não me descem.

Então, é assim, não tem jeito: tudo pode ser lido (ou ouvido) assim ou assado. O que dá pra rir dá pra chorar. Já bem disseram – claro que eu não me lembro quem – que há tantas formas de se ler quantas forem os habitantes deste mundão de Deus. A vida conduz cada um a um jeito de olhar e ver.

Hoje de manhã, a comprovar essa diversidade e as diferentes reações às manias de cada qual, tenho o exemplo de Zelinha, quando reclamou comigo da ausência de seu paninho da pia. Eu, que só passo pela cozinha sazonalmente, para fazer esse tipo de coisa que tira as coisas de seu (dela) devido lugar, logo me adianto a explicar que joguei no lixo, pra ela pegar outro, ali naquela gaveta que tem paninhos e mais paninhos que eu corto para esse tipo de empreendimento, alongando sua vida útil, um que já foi camisa, outro toalha de prato, aquele outro, menor, uma rede que manchou... e por aí vai. Eu e minha mania de reaproveitamento. E que nada tem de influência do atual discurso de sustentabilidade e coisa e tal. É coisa de mania mesmo, já veio de fábrica. Colares viram pulseiras. Meias viram prendedores de cabelo, azulejos bonitos que sobraram viram tampos de mesinha de cabeceira... É coisa de louco, mesmo. Ou mania. Ponto. O prazer é imenso ver coisas que se prolongam em outras funções e espaços...



Mas, maldita a hora em que falei pra Zelinha abrir a tal gaveta... Pois, com o que ela sai lá de dentro? Com um retalho de cambraia de linho, da camisa do homem amado que, quando se fez velha e esgarçada, eu tratei de aproveitar os pedaços ainda inteiros para quando precisasse de um paninho assim... E pior: todo ele com uma franjinha de fios que puxei, um a um, para que ficasse como que um guardanapinho bem acabado e pronto para um uso ainda digno.

Sai pra lá com isso, Zelinha! Apenas por fora, ele é um paninho. Por entre sua trama surrada de tão deliciosa cambraia, há uma história de amor que, por incompetência de seus protagonistas, acabou e deixou muita saudade! Pega aqueles restos da rede amarela, minha amiga, eles não têm spray de pimenta e não retiram, mesmo que temporariamente, o viço de meu olhar. Voilà!

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