27 de novembro
QUAL JEITO, SE NÃO RIR? E
ESCREVER?
Depois vocês não querem que eu ria e que saia por aí contando as minhas derrotas e tudo o que não sei ou não sou capaz de fazer. É dia e noite, não tem hora, a verdade é que não paro de constatar o que vai sucedendo à minha volta e que faz brotar os sentimentos mais palpitantes e contraditórios diante da vida. Parece mentira, mas não é. Olhe para onde olhar, fale com quem falar, há sempre algo a me inspirar a pensar e a escrever, óbvio; e, como sabem bem, não raras vezes, a rir.
Ontem de manhã, indo para a terapia de carona com meu filho, chovendo direto, o motorista do carro do lado avisa que o nosso pneu estava baixo. Faço o quê? Chorar? Nananinanão! Pego o guarda-chuva grandão que já mora no carro, fico protegendo o filho na sua dura tarefa de providenciar a troca, bem no horário de intenso tráfego, recebo sei lá quantos banhos de água suja vinda dos carros que passavam apressados pelas incontáveis poças d’água, inclusive um da PM (esse me aporrinhou um pontinho acima), mas, romântica incorrigível, alegro-me em seguida com a solidariedade de um jovem senhor que, a pé e sem nenhuma proteção, foi o único a perguntar “... e, aí, amigo, alguma ajuda?”. Logo, logo, sigo, até que me menos tempo do que supunha, para o meu compromisso comigo mesma de tratar das angústias que insistem em seguir a par e passo com a minha capacidade de me indignar, de me alegrar, de simplesmente ir vivendo, com certa atenção, algumas boas surpresas e muitos riscos.
Mas isso foi só o começo da manhã. Faltava o resto do dia todo. Pelo Face, vejo que Rosinha Baldan, amiga de toda hora, me convida para tricotar. Daí, conforme prometi, ligo para ela. Ela já me atende em plena atividade, falando com alguém ao lado e me pede um tempinho. Estava a dar instruções a um técnico para trocar a maçanetas da casa. E já vai me explicando, cheia de “sabença”, termo tão costumeiramente usado por meu inesquecível Geraldão: “É que as maçanetas daqui são redondas. Mamãe ficou presa uma vez no banheiro, eu tenho que me prevenir, as mãos escorregam, a pessoa não consegue abrir... Vai que acontece comigo...”
Maçanetas redondas? Risco???
Tenho ou não tenho que pocar de rir? Meu Deus, como são as maçanetas das portas daqui de casa? Nunca reparei ao certo. Estarei correndo risco? Fico eu ouvindo música, reparando no jeito das pessoas, nas intenções dos olhares, na notícia tendenciosa, revirando coisas vividas, e tudo que está ao meu lado, diante de meus olhos, pode estar pondo em risco minha vida e eu nem estou aí para nada? Santa ignorância! Mais uma coisa que eu não sei!!!!
Com o telefone sem fio colado ao ouvido, saio caminhando pela casa analisando as maçanetas, uma após outra. Todas iguais, pelo menos aqui em cima. São de metal, não são redondas, são ovais, pergunto a Rosinha se corro risco: “Serão potencialmente assassinas como as de João Neiva?”
Rosinha me orienta e, pelo menos “a nível de” maçanetas, estou a salvo. UFA!
Dia que segue... faltava ainda uma boa parte das 24 horas a ser vivida. Mais algum aprendizado viria por aí?
Claro! Enquanto há vida há esperança. E novos aprendizados, com certeza.
Lá pelo meio da tarde foi a vez do telefonema de Dorinha, amiga especialíssima, com quem divido ótimos papos e conjecturas – algumas políticas e outras nem tanto. De onde Dorinha me liga? Das barcas, descendo na Praça XV, a caminho do Flamengo, onde iria buscar Babu, a neta com cheiro de amor, para levá-la à natação, aguardar e depois levar à aula de piano. E sem carro, hoje, mais uma vez na oficina.
- “Para, Dorinha! Só de você me anunciar seu percurso eu já estou com dor na batata da perna!” (E falo sabendo que não é impossível que à noite ela tenha um lançamento de livro ou alguma homenagem a um antigo amigo para ir lá pelas bandas do Leblon...)
Pois, essa é minha vida, essa é minha sina – amigas dispostas, repletas de tarefas do mundo prático para dar conta; amigas bordadeiras, de todas as prendas; amigas que caminham, depois ainda vão ao pilates; amigas que prestam atenção em tudo, enquanto eu fico dando voltas em busca do que está subjacente; amigas que tomam dez taças de vinho e não se embebedam, enquanto eu preciso me hidratar desmedidamente para atenuar o efeito da deliciosa bebida, caso contrário, já na terceira taça estou precisando não só retocar o batom como lavar o rosto com água fria. Se estiver casada, então, aí é que o sono vem célere. Nota de rodapé em pleno miolo do texto: Casamento sempre me deu um sono danado...
Desisto ou sigo adiante, conformando-me em saber apenas aquele rol de meia dúzia de coisinhas rasas que sei e continuar sendo açoitada pelos saberes – inúmeros, inesperados e de tipos tão variados com que me cercam as mulheres de minha vida? Hein?
Depois vocês não querem que eu ria e que saia por aí contando as minhas derrotas e tudo o que não sei ou não sou capaz de fazer. É dia e noite, não tem hora, a verdade é que não paro de constatar o que vai sucedendo à minha volta e que faz brotar os sentimentos mais palpitantes e contraditórios diante da vida. Parece mentira, mas não é. Olhe para onde olhar, fale com quem falar, há sempre algo a me inspirar a pensar e a escrever, óbvio; e, como sabem bem, não raras vezes, a rir.
Ontem de manhã, indo para a terapia de carona com meu filho, chovendo direto, o motorista do carro do lado avisa que o nosso pneu estava baixo. Faço o quê? Chorar? Nananinanão! Pego o guarda-chuva grandão que já mora no carro, fico protegendo o filho na sua dura tarefa de providenciar a troca, bem no horário de intenso tráfego, recebo sei lá quantos banhos de água suja vinda dos carros que passavam apressados pelas incontáveis poças d’água, inclusive um da PM (esse me aporrinhou um pontinho acima), mas, romântica incorrigível, alegro-me em seguida com a solidariedade de um jovem senhor que, a pé e sem nenhuma proteção, foi o único a perguntar “... e, aí, amigo, alguma ajuda?”. Logo, logo, sigo, até que me menos tempo do que supunha, para o meu compromisso comigo mesma de tratar das angústias que insistem em seguir a par e passo com a minha capacidade de me indignar, de me alegrar, de simplesmente ir vivendo, com certa atenção, algumas boas surpresas e muitos riscos.
Mas isso foi só o começo da manhã. Faltava o resto do dia todo. Pelo Face, vejo que Rosinha Baldan, amiga de toda hora, me convida para tricotar. Daí, conforme prometi, ligo para ela. Ela já me atende em plena atividade, falando com alguém ao lado e me pede um tempinho. Estava a dar instruções a um técnico para trocar a maçanetas da casa. E já vai me explicando, cheia de “sabença”, termo tão costumeiramente usado por meu inesquecível Geraldão: “É que as maçanetas daqui são redondas. Mamãe ficou presa uma vez no banheiro, eu tenho que me prevenir, as mãos escorregam, a pessoa não consegue abrir... Vai que acontece comigo...”
Maçanetas redondas? Risco???
Tenho ou não tenho que pocar de rir? Meu Deus, como são as maçanetas das portas daqui de casa? Nunca reparei ao certo. Estarei correndo risco? Fico eu ouvindo música, reparando no jeito das pessoas, nas intenções dos olhares, na notícia tendenciosa, revirando coisas vividas, e tudo que está ao meu lado, diante de meus olhos, pode estar pondo em risco minha vida e eu nem estou aí para nada? Santa ignorância! Mais uma coisa que eu não sei!!!!
Com o telefone sem fio colado ao ouvido, saio caminhando pela casa analisando as maçanetas, uma após outra. Todas iguais, pelo menos aqui em cima. São de metal, não são redondas, são ovais, pergunto a Rosinha se corro risco: “Serão potencialmente assassinas como as de João Neiva?”
Rosinha me orienta e, pelo menos “a nível de” maçanetas, estou a salvo. UFA!
Dia que segue... faltava ainda uma boa parte das 24 horas a ser vivida. Mais algum aprendizado viria por aí?
Claro! Enquanto há vida há esperança. E novos aprendizados, com certeza.
Lá pelo meio da tarde foi a vez do telefonema de Dorinha, amiga especialíssima, com quem divido ótimos papos e conjecturas – algumas políticas e outras nem tanto. De onde Dorinha me liga? Das barcas, descendo na Praça XV, a caminho do Flamengo, onde iria buscar Babu, a neta com cheiro de amor, para levá-la à natação, aguardar e depois levar à aula de piano. E sem carro, hoje, mais uma vez na oficina.
- “Para, Dorinha! Só de você me anunciar seu percurso eu já estou com dor na batata da perna!” (E falo sabendo que não é impossível que à noite ela tenha um lançamento de livro ou alguma homenagem a um antigo amigo para ir lá pelas bandas do Leblon...)
Pois, essa é minha vida, essa é minha sina – amigas dispostas, repletas de tarefas do mundo prático para dar conta; amigas bordadeiras, de todas as prendas; amigas que caminham, depois ainda vão ao pilates; amigas que prestam atenção em tudo, enquanto eu fico dando voltas em busca do que está subjacente; amigas que tomam dez taças de vinho e não se embebedam, enquanto eu preciso me hidratar desmedidamente para atenuar o efeito da deliciosa bebida, caso contrário, já na terceira taça estou precisando não só retocar o batom como lavar o rosto com água fria. Se estiver casada, então, aí é que o sono vem célere. Nota de rodapé em pleno miolo do texto: Casamento sempre me deu um sono danado...
Desisto ou sigo adiante, conformando-me em saber apenas aquele rol de meia dúzia de coisinhas rasas que sei e continuar sendo açoitada pelos saberes – inúmeros, inesperados e de tipos tão variados com que me cercam as mulheres de minha vida? Hein?
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