quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

Em 14 de setembro

Carmen, já grisalha, ao natural.
CHEGOU PRA MIM (MUITO ANTES DO QUE EU SUPUNHA)

É bem verdade que eu era pouco mais que uma menina quando ouvi esta história, mas que ela me mostra sem máscaras como estou ficando velha, ah, isso também não é menos verdade. Está certo – ando de novo de bem com a vida, toda faceira, célere, revendo pessoas, vendo e revendo a mim mesma, fazendo o que gosto, mas, não há dúvida - a velhice já está me ...chamando de colega.
O caso é que, lá pelos idos de 1960, antes de eu sair de Campos, uma senhora, dizendo-se pesarosa diante da situação da velhice, no caso, do sogro, que já estava mais pra lá do que pra cá, virou-se para nós e disse (isso lá na beira do mar de Atafona, naquelas conversas sem fim entre os grupos de amigos, conversas que, de tão boas, só perdiam para os tantos e tantos mergulhos que eu nunca deixava de dar para me esbaldar naquelas águas douradas de minha saudade...): “Vejam só se não é triste, o velho (ele, ali, a poucos metros de nós...) já não se aguenta mais, é só bota o velho no sol, tira o velho do sol... e ele ali, impassível, sem nem sequer dar um sinal do menor agrado ou desagrado... Não é triste?”
Nós, outras, solidárias, concordamos com a cabeça umas, com uns jeitos de boca, outras, mas, no fundo nem estávamos atentas de verdade para o senhor que ali, mesmo sem perceber com clareza, ia se despedindo do sol (e da sombra). Parecia que a velhice era coisa pros outros e não que no dia seguinte seríamos nós...
E o que tem ver essa historinha com a minha própria velhice? É que acabo de me lembrar – e sair rindo, comigo mesma – em direção ao jardim para molhar as plantas, como tanto amo fazer, pensando no seguinte: a autora da frase, mulher linda na ocasião, já morreu. E de velhice!
É, estamos indo...
Vamos ao dia de hoje, portanto! E com o coração aberto para o que virá! As plantas já estão regadas, agora é ir pra piscina, sacudir um pouco as carnes que sobraram dentro da água para fingir que me exercito e depois ler o jornal enquanto o corpo absorve os raios solares para fixar a Vitamina D. Após é só continuar a viver – e salivando de prazer, à espera do prato saboroso que virá mais tarde: reunião com amigos chegados para discutirmos política.
Saber ser velho não é para qualquer um! Que as dores do pé e da lombar permaneçam aquietadas. Que a aflição que ontem incomodava o olho esquerdo pegue seu rumo! Que corpo e alma dialoguem em meu favor, que eu quero passar com meu sorriso e com a minha dor!
Bom dia!

Nenhum comentário:

Postar um comentário