sábado, 28 de dezembro de 2013

SURPRESAS SEMPRE SURGEM... E NOS FAZEM VIVER E PENSAR...

Galo que me olha espantado quando vejo TV e faço palavras cruzadas ao mesmo tempo
Parte 1

Final de tarde, um olho na TV, outro nas palavras cruzadas. Não sei o motivo, mas tem sido assim nos últimos tempos: raramente apenas a novela. Mesmo a das seis, que tem o tal comunista bonitão e a consequente inveja que me apossa diante dos prazeres vividos por Carolina Dieckeman em seus braços, nem isso me ocupa por inteiro. Assim, os olhos vão e vêm, desembaraçados, da TV para a página do jornal e vice-versa. Creio que a produtividade de uma vida inteira está virando doença... Duas ações ao mesmo tempo? (Pânico silencioso!). Qualquer dia (Deus me livre e guarde!), vou ficar tal qual aquela amiga que, acabado o último gole de seu café, na famosa padaria, mesmo com o assunto ainda pelo meio, com o grupo de mulheres ainda em plena briga por espaço para ver que conta a última do último ano, levanta-se e se põe a postos para encerrar o encontro, pronta a se dirigir ao caixa e pagar a conta, com ares de que já está na hora de “ticar” de sua lista o tal “encontro tradicional natalino de amigas que um dia militaram no movimento dos professores”. Papa Francisco me proteja! Que eu faça bem feito, mas sem ansiedade, e uma coisa de cada vez, por favor!

Esquisito o hábito, mas a verdade é que, com a idade, as nossas formas de ser parecem se sedimentar. Até costumo falar disso com pessoas amigas, que, tanto para o bem como para o mal, é como se os calos que vamos formando pela vida se acentuem com o passar do tempo. Os individualistas tornam-se egoístas de primeira enquanto aqueles outros, conhecidos por sua bondade, chegam às raias do altruísmo, quando solicitados por alguma circunstância da vida. E, assim, com tudo o mais em nossos comportamentos...
Comigo, o gosto pela organização e por ter o que preciso à mão cresce cada vez mais e tem feito com que, após lido o jornal do dia, as palavras cruzadas sejam guardadas numa cesta de palha ao lado da cama, as quais, pela facilidade de contar com canetas e lápis 2B (de preferência, apontados à moda das irmãs Calomeni – pontas feitas à estilete, enormes –) disponíveis já na primeira gaveta da mesinha de cabeceira, acabam por facilitar a combinação das ações – a de atentar para o enredo televisivo simultaneamente à atividade complementar de descoberta de palavras que podem preencher aquelas horizontais e verticais, quase a cada dia. Só não é atividade diária pelo meu próprio jeito de ser onde sempre é possível que o planejado seja irremediavelmente invertido ou transformado em outra coisa, bem outra.

Sobre elas, as palavras cruzadas, não é pelo fato de cada vez se tornarem mais fáceis, certamente, pelo exercício frequente de dar conta do dito passatempo, que eu tenha até aqui me desinteressado de preenchê-las. Apenas, cada vez se tornam mais fáceis e rápidas de serem concluídas. E as respostas já surgem quase sem muito pensar. Dá para ver o beijo do casal apaixonado na telinha e ir escrevendo a letra grega ou as iniciais do ator global, pedidas para preenchimento dos espaços ainda em branco. Quase sem pestanejar. A repetição dos enunciados (ou anunciados, como disse uma colega um dia desses...), qualquer hora acaba por me tirar o interesse pela brincadeira vespertina...

Hoje é que, como há muito não via, deparei-me com um conceito inusitado que me pôs a pensar: fator de desvalorização de um bem. Com três letras. Com certeza por ter acabado de trocar de carro e verificar que o valor pago há dois anos por ele, caiu à sua terça parte, não tive muito que pensar. Também indicava a possível resposta pelo espaço a ela destinado, como que me condicionando o pensamento. Três letras? Bom, a primeira resposta surgiu rápida: USO.  Até a escrevi no devido lugar. Mas seria isso mesmo?

O problema foi depois continuar a tarefa da brincadeirinha com aquelas tais palavras, dando conta de concluir o exercício. Dei de pensar em se isso era fato de fato e acabei largando o que fazia para vir dedilhar as minhas letrinhas em torno da dúvida instalada.

Será mesmo o uso que faz desvalorizar um bem? Valerá essa definição para todo e qualquer objeto? Ou, apenas se restringe ao que em nossa sociedade capitalista é tido e havido como mercadoria? E onde foi parar o tal valor de uso que define o valor das mercadorias? Estarão minhas mãos desvalorizadas pelo tanto que produziram vida afora? E minha capacidade de pensar e programar aulas e conferências? Projetos e escritos? 

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