quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

Em 11 de novembro de 2013

PRIMEIRA HISTORIETA DA PRIMA DE MÂRFI
Eram tempos em que eu viajava diariamente no antigo 999, indo do então Saco de São Francisco, onde morava, até o centro do Rio, onde trabalhava, na secretaria de educação. Voltava sempre às tantas, pois na época a diretora do departamento costumava chegar para trabalhar do meio para o final da tarde; então, até concluirmos o trabalho, eu que era sua assessora, precisávamos ir pela noite adentro, e eu acabava só conseguindo retornar à casa lá pelas 11 da noite.
Nesse horário, era comum o ônibus não vir muito cheio de volta a Niterói e ir ficando vazio ao passar por Icaraí. Normalmente, chegava a São Francisco com pouquíssimos passageiros. Até havia dias, em que sobravam dois a três deles, eu entre eles, claro!, ansiosa por retornar à casa.
O percurso normal da linha era vir de Icaraí, entrar na Presidente Roosevelt, nela seguir até o final, entrar na última rua à direita, pegando a paralela, Estrada Cachoeiras, para voltar novamente até a praia, de modo a seguir para Charitas (para quem não conhece, é a próxima praia depois de São Francisco).
Quando acontecia de o ônibus esvaziar demais, era comum o motorista virar-se para trás e perguntar: “Posso ir direto? Ou alguém vai ficar lá para dentro?” Ou seja: naturalmente, já cansado, queria evitar a volta que dava até o final e já ir direto pela praia até Charitas, onde era o ponto final do ônibus .
Pois um dia, eu já também cansada e querendo zelar pelo trabalhador que dirigia o ônibus, já quase às onze da noite, na condição de ser A ÚNICA passageira no dito ônibus, e querendo ser gentil, antes dele entrar na Presidente Roosevelt, a ele me dirijo, com voz maviosa: “O senhor quer ir direto? Pode seguir pela praia. Meu ponto é no final da praia mesmo. Facilita, não?”.
Vocês, claro, estão pensando que o moço me olhou agradecido e até puxou uma conversinha, deixando de dobrar à esquerda e tomando o rumo da beira-mar, não é? Que nada! O cidadão me olhou com cara feia, seguiu seu caminho usual – e mais longo e cansativo – e deixou-me atônita sem entender onde foi que eu havia errado.
A mim coube apenas ficar em silêncio, encolhida em meu banco, até aquele percurso, que nunca me pareceu tão longo, ser todo percorrido e eu descer do veículo, não sem antes lhe desejar “boa noite”. Mocinha educada, mas que, com certeza, por não lhe ter indagado na hora o motivo da estranha atitude, guardei comigo o ocorrido, só para hoje, sob o testemunho de meus cabelos brancos, contar para quem quiser imaginar a cena e rir um pouquinho da minha inexplicável derrota, aqui registrada. E eu junto, pois concordo com sei lá quem disse isso, que é muito bom a gente rir da gente mesmo... Como estou fazendo aqui, décadas depois do ocorrido.



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