Em 11 de novembro de 2013
PRIMEIRA HISTORIETA DA PRIMA DE MÂRFI
Eram tempos em que eu viajava diariamente no antigo 999,
indo do então Saco de São Francisco, onde morava, até o centro do Rio, onde
trabalhava, na secretaria de educação. Voltava sempre às tantas, pois na época
a diretora do departamento costumava chegar para trabalhar do meio para o final
da tarde; então, até concluirmos o trabalho, eu que era sua assessora,
precisávamos ir pela noite adentro, e eu acabava só conseguindo retornar à casa
lá pelas 11 da noite.
Nesse horário, era comum o ônibus não vir muito cheio de
volta a Niterói e ir ficando vazio ao passar por Icaraí. Normalmente, chegava a
São Francisco com pouquíssimos passageiros. Até havia dias, em que sobravam
dois a três deles, eu entre eles, claro!, ansiosa por retornar à casa.
O percurso normal da linha era vir de Icaraí, entrar na
Presidente Roosevelt, nela seguir até o final, entrar na última rua à direita,
pegando a paralela, Estrada Cachoeiras, para voltar novamente até a praia, de
modo a seguir para Charitas (para quem não conhece, é a próxima praia depois de
São Francisco).
Quando acontecia de o ônibus esvaziar demais, era comum o
motorista virar-se para trás e perguntar: “Posso ir direto? Ou alguém vai ficar
lá para dentro?” Ou seja: naturalmente, já cansado, queria evitar a volta que
dava até o final e já ir direto pela praia até Charitas, onde era o ponto final
do ônibus .
Pois um dia, eu já também cansada e querendo zelar pelo
trabalhador que dirigia o ônibus, já quase às onze da noite, na condição de ser
A ÚNICA passageira no dito ônibus, e querendo ser gentil, antes dele entrar na
Presidente Roosevelt, a ele me dirijo, com voz maviosa: “O senhor quer ir
direto? Pode seguir pela praia. Meu ponto é no final da praia mesmo. Facilita,
não?”.
Vocês, claro, estão pensando que o moço me olhou agradecido
e até puxou uma conversinha, deixando de dobrar à esquerda e tomando o rumo da
beira-mar, não é? Que nada! O cidadão me olhou com cara feia, seguiu seu caminho
usual – e mais longo e cansativo – e deixou-me atônita sem entender onde foi
que eu havia errado.
A mim coube apenas ficar em silêncio, encolhida em meu
banco, até aquele percurso, que nunca me pareceu tão longo, ser todo percorrido
e eu descer do veículo, não sem antes lhe desejar “boa noite”. Mocinha educada,
mas que, com certeza, por não lhe ter indagado na hora o motivo da estranha
atitude, guardei comigo o ocorrido, só para hoje, sob o testemunho de meus
cabelos brancos, contar para quem quiser imaginar a cena e rir um pouquinho da
minha inexplicável derrota, aqui registrada. E eu junto, pois concordo com sei
lá quem disse isso, que é muito bom a gente rir da gente mesmo... Como estou
fazendo aqui, décadas depois do ocorrido.
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