domingo, 31 de julho de 2016

BRASIL, MEU BRASIL BRASILEIRO
(escrito em 31/07/2014)


Inspirada por amigas, meu papel é só contar...

1  Historinha brasileira número 1 - a amiga me conta que acabara de receber em casa por uns dias uma senhora de elevado grau de instrução, apreciadora de arte e com quem viveu dias de intensa troca e inesperado aprendizado. Diante de minha indagação sobre quem era tão interessante criatura, ela me fez desistir de saber quem era a moça. Não é daqui e é a excelente empregada doméstica de uma sua amiga, em férias visitando o Rio. A tal senhora, meio na contra mão do mais usual dos mundos, faz parte da Academia de Letras de sua cidade, no interior de São Paulo. Raridade, que nos anima a acreditar que um outro mundo é mesmo possível...
2  Historinha brasileira número 2 - outra amiga me conta, chorando de rir, já meio rouca e até com um pouco de falta de ar, que ligou para a prima, pessoa simples, para contar da morte de alguém da família. Deixe estar que essa minha amiga vive um antigo romance com um intelectual, há décadas, como também, há décadas, ele é casado com uma outra senhora. Pois bem, a outra, do outro lado da linha, a que recebe o telefonema, ao perceber que a conversa caminhava para o assunto de morte, velórios e coisas tais, que estava por vir o anúncio de algum “passamento”, tendo visto na TV sobre a morte do criador de Zé Grilo, pensando finalmente ter descoberto o segredo de alcova da prima da zona sul, a interrompe, sem chance da minha amiga se explicar:"Mentira, então era ele, o Ariano Suassuna, o seu caso de amor?" (Também começo a pigarrear pela risada escandalosa e incessante que me toma toda. Não sem razão, acredito...)


Viver é alegria!


O OPERÁRIO EM CONSTRUÇÃO (mesmo)
(Anotação feita em 31/07/2015, Murano- Itália)

Vendo os mestres de Murano e recordando os conceitos, ao vivo, sobre quem produz a riqueza e quem dela se apropria: o produtor aqui, na oficina, lidando com um forno que atinge 1.500 graus centígrados, a loja com 25 salas cobertas da mais legítima e preciosa arte está mais adiante, com peças cujo valor atinge alguns milhares de euros.
Mas, como diz, meu filho" Aposenta a pedagoga, mãe!" Ao que eu replico, por dentro, sem nada dizer com voz de ouvir: "Que pedagoga que nada, filho, isso vem da consciência humana que tento construir na vida... Eu poderia ser costureira, artesã ou cantora de uma boite de segunda, daquela que não tem peças de Murano no seu toucador ."

sábado, 30 de julho de 2016

SOBRE FRANCISCO, NOVAMENTE
DEUS EXISTE, E É BRASILEIRO!


(Escrito em 25/07/2013)




As aflições que inúmeras pessoas sentiram por conta da (in)segurança prestada ao Papa na sua chegada e, para dar o necessário arremate, o fracasso do retorno dos peregrinos às suas respectivas hospedagens, na madrugada de ontem, diante da pane irestrita do sistema de transportes, se outras não há, é a prova mais cabal e definitiva de que Deus existe. E é brasileiro.
As máscaras caíram! O rei está nu! Os ausentes ou péssimos serviços públicos que são prestados à população brasileira ganharam dimensão internacional e só isso já nos aproxima mais ainda do Papa Francisco, pelo bem que veio fazer ao nosso País.
Até o último grande evento, que eu me lembre, quando Ronaldo Fenômeno atravessou uma imensa passarela, no meio da multidão na praia de Botafogo (ou seria do Flamengo?) levando a tocha olímpica – e tudo funcionou mágica e sincronizadamente, sem atropelos, numa organização mais do que impecável (se bem que ali, quanto ao evento em si, contávamos com a incomparável competência do gênio Péricles de Barros e sua mais do que eficiente companheira Ângela Azevedo), mas quanto ao mais, naquilo que dependeu da prestação dos serviços, por parte do poder público que atua na cidade, não se soube de atropelos ou quase desastres, como agora.
Até aquela ocasião, me parece, os serviços iam sendo prestados precariamente, mas tudo mantinha-se meio camuflado. Disfarçava-se e tudo prosseguia no dia seguinte, sem nenhum alarde. Para efeito externo, tudo 100%; para nós, dependentes do papel do Estado na garantia dos nossos direitos básicos, o fingimento gerava até novos ditos populares que muitos, até ingenuamente, repetiam, sem se dar conta da gravidade da situação – “eles fazem de conta que dão educação, nós fazemos de conta que cumprimos a nossa parte”. Tudo “arreglado”, os fracassos mantinham-se permanentes, subjacentes, sem nenhum tumulto. Sabíamos nós, os prestadores dos serviços, e aqui eu falo de dentro de uma categoria específica, a dos professores. Tudo em paz! (Aliás, aproveitando o embalo: duvido quem me diga de pronto o nome do secretário de educação do estado. Nunca senti tanta falta de Dona Myrtes Wenzel – e olhem que estivemos em lados bem distintos quando de nossas lutas na década de 70).
Dali pra cá, o descompromisso dos nossos representantes chegou a um nível tão alarmante, cruel, insustentável, crítico, as verbas que passaram a sobrar para os serviços públicos passaram a ser tão apequenadas que, cá na ponta, chegam quantias impossíveis de atender a qualquer setor com um mínimo de qualidade. Vergonha!
Hoje, nossos meninos estão nas ruas. Não inauguraram tal forma de protesto, é verdade, mas estão inaugurando novas formas de ocupá-las. E Francisco chegou, também usando física e simbolicamente as ruas, para aclarar o que até então estava camuflado. Juntou-se a fome com a vontade de comer. Como soe acontecer em momentos de crise, vem pondo-se de pé a base para que avancemos na conquista de nossos direitos fundamentais. Parece mesmo o fim de um ciclo. Quem sabe um dia a gente (as próximas gerações que isso não dá para eu alcançar, pois é um direito bem mais elaborado...), mas, quem sabe, até, um pouco mais adiante, a gente não venha a incluir aquele outro direito, mais difícil, o direito a ser feliz? Ele já está sendo reivindicado por aí...
Viva nós! Viva o povo brasileiro! Viva o Papa Francisco! Pois que, graças a ele, nosso país é outro, mostrou-se visível,o pó acumulado saiu debaixo dos tapetes, está aí, a ser visto a olho nu, pronto para seguir um outro destino. Aqui na terra mesmo, sem precisar ninguém esperar pela vida eterna.
Está em nossas mãos! Vamos adiante! Aliás, nem fui eu quem disse de nossa responsabilidade. Foi ele, o bom argentino, no seu discurso de ontem.
Terá sido seu primeiro milagre? Cá entre nós, ando tão à mercê de Francisco e seus encantos que acho um dia ainda volto a catolicar, como diz uma amiga minha já meio madurona – “É, estou envelhecendo, está quase na hora de eu voltar a rezar meus terços...”. Ou como disse uma atriz numa entrevista, ao ser indagada pela entrevistadora o porquê de tantos santos em sua casa: “É, minha filha, quando o diabo não quer mais, a gente se lembra de Deus”.
... E mais não digo, se não poderei ficar mais irreverente do que de costume. E também tenho que parar para rir de mim mesma. Quer melhor? O dia hoje vai ser bom!



CONJUGANDO O VERBO AMAR

(HOMENAGEM À MENINA QUE CAIU DA REDE)
(Escrito em30/07/2016)
Luna

Festa sempre foi e continua sendo assim, gerando expectativas que a trazem para a frente, gerando devaneios ante sua chegada. Não falo de festas para as quais somos convidados e temos que ir por dever social, estas coisas de obrigações para não ficar mal com quem quer que seja. E às quais já fui (hoje não mais), dormindo tranquila pelo dever cumprido. Falo de outras festas, festas mesmo, dignas de seu nome, essas que, só em saber que estão por chegar, a gente se arruma toda por dentro, coloca fita nos cabelos da alma e deixa brotar ideias para tudo sair do jeito mais iluminado que a ocasião merece.
No jogo do viver, se cada um de nós entendesse melhor (e mais cedo) o que é viver com sabedoria, com certeza iria liberar esta sensação de arreglo geral, a cada novo dia, tamanha a beleza de ver o dia amanhecer por trás dos montes, ou à beira mar, ou dentro de um quarto escuro mesmo, com máscara nos olhos, tudo escuro, sem noção da hora que se dá. Viver é alegria e bem merece preparação sem pejo de estar recebendo uma bela dádiva. Mas, reconheço, vou no vai-da-valsa-de-ir-indo, o dia chega e não solto fogos por antecedência. Apenas, quando abro os olhos e me defronto com a festa já posta, o dia já em pé na porta, só aí é que comemoro, e sem preparação alguma, com o bem-estar já posto e servido. Essa é, sem sombra de dúvida, uma destas injustiças que cometemos com as coisas corriqueiras que nos chegam pelas águas da rotina, sem que elas não causem estremecimentos prévios Parece mesmo que as desvalorizamos por  força de sua presença repetida e intrusa, sem convite. Só o raro parece merecer tapete vermelho.  E isso precisa ser revisto, confirmando que viver é estar aprendendo pela existência inteira, sem cessar.
Mas, há uma situação para cuja chegança, eu me engalano toda, por dentro, por fora, estendendo enfeites por tudo que me cerca, animada como uma criança pequena diante do seu brinquedo preferido. Ou do pintor diante de seu quadro mais representativo. Ou do compositor ao ouvir sua sonata repleta de bemóis que incendeiam o seu e o nosso coração. Ou da operária que acaba de olhar para o tecido que acaba de ganhar desenhos e cores. Ou de qualquer criatura diante do que ama e lhe dá prazer realizar. Meu dia de festa, que começa de véspera e que me comove e me coloca em ação de preparo e júbilo é quando eu sei que Luna vem ficar comigo. Se for pra dormir, então, aí a alma dá até retoques nos adornos que escolhe para a recepção à criatura de cujos olhos escapam sentimentos, de cuja boca saem palavras mágicas e de cujo corpo emanam movimentos, cheiros e trejeitos que permanecem comigo por dias, dias  e dias, até ela voltar a trazer festa pra minha casa, a de tijolo e pedras e a de carne osso e amorosidade. E aí será, então, outro dia de festa a exigir nova preparação cheia de encantamento. Bom até dizer chega!
FOME ZERO
 (Escrito em 30/07/2014)
Ser feliz é chorar de saudade, entristecer-se ao ouvir qualquer música cujos tons e semitons falem mais ao coração, e, depois, voltar a si, a horas mais leves,  ao sorriso no olhar e nos lábios,  sabendo o quanto é reconfortante ter pessoas para recordar, pessoas de quem se recebeu amor e a quem se entregou parte da vida. Ser feliz é viver com intensidade dores e alegrias, tudo a seu tempo, sem ilusões quanto a permanências idealizadas e além do tempo do possível e desejado.

Chifres de veado quando começavam a crescer - 2011
Ontem ouvi algumas músicas que me trouxeram antigas vivências e levaram por várias vezes as minhas mãos à face para enxugar lágrimas que vazaram do poço de saudades que guardo na alma e que por vezes transbordam “janelas da alma” afora. Hoje, imaginem!, acordei feliz da vida! Amei e fui amada de maneira intensa e definitiva. Imaturidades não são capazes de diluir a força de sentimentos compartilhados que tiveram vida concreta num determinado tempo, qualquer que seja ele. Tudo vivido com vigor é alimento, seja em que época for, para garantir um certo estado de felicidade.
Quanta alegria ter histórias de amor para recordar! E saber que elas bastam. Determinadas delícias prescindem de complementos ou tentativas de repetição. Abrir mão de um novo porta-retrato na cabeceira é apenas ter clareza quanto a um nível de satisfação já alcançado e insuperável.  Coisa de quem adora camarão pitu do Paraiba, fartou-se com uma boa porção dele, feito apenas no bafo, num bom azeite e com a medida certa de um alho de primeira, a quem não adianta oferecer mais nada. Plenamente satisfeita, a pessoa só quer saber de uma boa rede para descansar do intenso prazer que acabou de ter para si.  Mais nada.  No caso em pauta, mais ninguém.

quinta-feira, 28 de julho de 2016


Sobre Leandro Gomes de Barros
(escritinho de 28/07/2014)


A ele fui apresentada por Ariano Suassuna e ele tocou meu coração. Simples e verdadeiro. Sua síntese me contempla. Não resolve minha questão, mas me inclui como irmã numa mesma agonia. Por agora, está bom assim... O mais além parece ser inalcançável. Aliás, desde a semana passada, por conta de uma sessão de análise, estou repetindo baixinho para ver se aprendo: nem tudo na vida pode ser compreendido...

E vamos a LEANDRO GOMES DE BARROS, que o assunto é ele:

(...)
Se eu conversasse com Deus
iria lhe perguntar
por que é que sofremos tanto
quando viemos pra cá
que dívida é essa
que a gente tem que morrer pra pagar.

Perguntaria também
como é que ele é feito
que não dorme, que não come
e assim vive satisfeito
porque é que ele não fez
a gente do mesmo jeito.

Por que existe uns felizes
e outros que sofrem tanto
nascendo do mesmo jeito
morando no mesmo canto
quem foi que temperou o choro
e acabou salgando o pranto.





quarta-feira, 27 de julho de 2016

INADEQUAÇÕES
(Escrito em 27/07/2014)

(JURO QUE É VERDADE!)


Sempre que posso, adoro aproveitar um caminho qualquer para dar conta de uma tarefa imprevista, só para não desperdiçar o tempo e a hora. Não sei com quem aprendi isso, mas o fato é que não vou a caminho do quarto sem pegar na sala a pilha de roupas que foram passadas por Zelinha. Não quero dizer que serão guardadas na hora, mas já terão dado um passo a caminho de seu destino. Pode ser que fiquem em cima da cômoda um par de dias, aí só Deus sabe quando novamente vou passar por ali e me dedicar a finalizar a tarefa. É assim e pronto.
Assim é que, esperando uma grande amiga para almoçarmos juntas, cheguei antecipadamente ao local do encontro e aproveitei para entrar na loja em frente. Esperar à toa, jamais! Algo de útil precisa ser providenciado. Um sobrinho neto que reside nos Estados Unidos está no Brasil e aquela seria uma boa oportunidade para eu comprar um mimo brasileiro para agradá-lo, aproximando-o da sua terra e, claro!, humanizando sua educação que lá, naquele país, do meu ponto de vista, é avessa a formas menos rígidas e que não se preocupem tanto com resultados.
A loja, muito atraente, não era propriamente uma loja de brinquedos, era um papelaria dessas que hoje existem, bem requintadas, com mil objetos alternativos, coloridos, criativos, até brinquedos. Ousei imaginar que ali encontraria algo adequado.
Entro e logo aviso, simpaticamente à moça (a verdade é que cada vez sou mais conversadeira com quem vou encontrando pelo caminho) da minha intenção: presente para menino, de 7 anos, residente fora daqui, algo leve, que lembre nossa maneira brasileira de ser...
A moça pensa por um segundo e logo me sugere: “Um cofrinho? Veja que lindo!” Eu, meio lamentando por não ter sido compreendida, retruco: “Um cofre? Não, não! (Cá com meus botões, o menino já está no antro maior do capitalismo e eu vou dar um cofrinho para ele juntar sua graninha?)”.
A moça prossegue e eu a acompanho por entre as alas das prateleiras lotadas de coisas: “Huuum, uma caveira! Veja quantas! De todo o tipo: de louça, de plástico, de metal...” E eu confiro, de fato, na segunda prateleira, uma sequência de caveiras, realmente dos mais variados materiais, cores e texturas. “É moda? As crianças agora brincam com caveiras?” E ela: “Sim. Veja, tem até um abajur em forma de caveira.”
Eu já vou desistindo, mas com a mania de produtividade me empurrando para decidir ali o presente do lindo e adorável sobrinho, antes de desistir, ainda dou uma enroladinha, vasculhando com o olhar as inúmeras opções, à procura de algo. É quando sou interrompida pela vendedora: “Ah, já sei... veja que lindo este despertador, é em forma de super herói. Será que ele não vai gostar?” Aí foi demais: duas inadequações na mesma proposta, era mesmo caso de ir embora – um despertador para assustar o menino ao amanhecer e em forma de um super herói enoooooorme?”
Agradeci, saí porta afora, ao encontro de minha amiga, com quem compartilhei a historinha real. Depois do almoço, por certo, parti para uma livraria onde dezenas de livros aguardavam apenas que eu viesse selecionar quais deles comprar. E como foi difícil! Muita coisa boa à disposição de todos nós. E viva a Literatura Brasileira! Para criança, então, tem cada preciosidade!!!!
E de tudo isso, fica a lição de que nossas manias precisam ser repensadas. Algumas nos levam a situações que, muito mais do que nos aliviar, trazem irritação e desencontros. Arre!

sexta-feira, 15 de julho de 2016

A pergunta que não quer calar: por que tanta gente lê os textos do blog e não comenta nada? Anime-se leitor! Nem é preciso assinar.
CarmenCarmeadora


“Tem dias que a gente se sente...”
(Escrito em 15/07/2016)


Ai, que vontade de escrever sobre o que me vai por dentro. Dirão vocês: "e o que temos com isso?" E eu respondo: "nada, nada, nada mesmo, em sua mais autêntica ‘nadice’; ou tudo; ou alguma coisa; depende, só lendo pra saber...". Quem quiser, então, pode parar por aqui a leitura: interromper sem ao menos saber do que se trata, dar início e deixar de lado... à vontade, sobre o depois nenhum poder posso – nem desejo ou pretendo – ter. O ato da escrita tem sempre o lado de quem escreve e inúmeros outros, de quem lê. Que pode até escolher não ler.  Mas, dou de ombros, e,  como faço deste espaço um canto de minhas conversas comigo mesma e que, por algum motivo, vazo para o mundo (aquelas que entendo ter sentido para tal; os segredos têm lugar próprio, apenas meu, cerrados – pelo menos ainda –), prossigo. É como se eu estivesse abrindo a janela do meu quarto, olhando a serra e me pusesse a lançar ao léu algo que tivesse em minhas mãos, e que fosse alguma coisa com alma de voar. Quem passasse os olhos pelo céu e visse poderia se dar ao trabalho de apreciar; de dar apenas uma conferida de canto de olho e seguir com sua própria vida, indiferente; de estranhar e se deter e se permitir fazer indagações sobre; de colocar-se com os cotovelos em sua própria janela e imaginar coisas que quisesse e pudesse inventar diante da imagem inusitada diante de si: sobre aquela alguma coisa alheia à sua natureza de algo não alado e que estivesse a voar, sem destino...

Eu, cá, faço a minha arte (arte, de arteira ou em qualquer sentido que queira entender o termo). Escrevo e pronto, acabou. “Cala a escrita já morreu, quem manda na minha escrita sou eu”. Cada qual que faça a sua parte, como bem quiser. Pois que estou a lançar chumaços de palavras sem destino certo. Peguem aí, se for o caso... ou não...

(E por aqui fiquei... creio que eu só queria mesmo era implicar com vocês aí do outro lado que, talvez, estimulados com esse início, poderiam estar esperando dar de cara com uma bandeja cor de rosa subindo e descendo pelo ar sem que dela caísse qualquer das guloseimas nela postas; ou uma boneca de louça ricamente trajada com um vestido todo bordado em cores bem suaves como as sua pele da bochecha e seu entorno; ou o que mais pudesse pensar a respeito deste meu desvario).

Caio em mim e quase ao final desta minha toada, sinto que não é nada disso, não. Quem eu queria mesmo pôr a voar até sumir no horizonte é esta farta dor que me habita inteirinha. Bingo! É ela mesma que eu queria que saísse do meu peito, cruzasse o peitoril da janela e voasse pra bem longe, pois, pelo que sinto aqui, na alma, parece que ela cresceu a tal ponto que está além do meu espaço de guardar coisas de angústias, saudades e similares...

Mas Chico é amplo em suas lições e também ensinou – felizmente! – que “amanhã será outro dia”.


UMA VEZ MAIS - E SEMPRE - O AMOR
(Escrito em 15/07/2014)

Revendo as fotos que fiz quando da exposição de Ron Mueck, esta volta a me comover e creio mesmo que sempre me comoverá. A intimidade dessa mão masculina e envelhecida, deixando sua suave marca na carne flácida da velha companheira, é alimento potente para o sentir das almas românticas que não desistem de acreditar no amor. A exposição foi toda impactante, mas apenas a escultura desse casal eu fotografei,  e tomada por grande emoção.  Naturalmente, penso agora,  para numa outra hora eu reencontrar o registro e reafirmar minha permanente crença num verdadeiro encontro de amor. Num verdadeiro encontro de amor.  Num encontro. No amor.


ATENÇÃO! TEXTO DE OUTRO AUTOR

Para Maria da Graça – Paulo Mendes Campos
Agora, que chegaste à idade avançada de 15 anos, Maria da Graça, eu te dou este livro: Alice no País das Maravilhas.
Este livro é doido, Maria. Isto é: o sentido dele está em ti.
Escuta: se não descobrires um sentido na loucura acabarás louca. Aprende, pois, logo de saída para a grande vida, a ler este livro como um simples manual do sentido evidente de todas as coisas, inclusive as loucas. Aprende isso a teu modo, pois te dou apenas umas poucas chaves entre milhares que abrem as portas da realidade. A realidade, Maria, é louca.
Nem o Papa, ninguém no mundo, pode responder sem pestanejar à pergunta que Alice faz à gatinha: “Fala a verdade Dinah, já comeste um morcego?
Não te espantes quando o mundo amanhecer irreconhecível. Para melhor ou pior, isso acontece muitas vezes por ano. “Quem sou eu no mundo?” Essa indagação perplexa é lugar-comum de cada história de gente. Quantas vezes mais decifrares essa charada, tão entranhada em ti mesma como os teus ossos, mais forte ficarás. Não importa qual seja a resposta; o importante é dar ou inventar uma resposta. Ainda que seja mentira.
A sozinhez (esquece essa palavra que inventei agora sem querer) é inevitável. Foi o que Alice falou no fundo do poço: “Estou tão cansada de estar aqui sozinha!” O importante é que ela conseguiu sair de lá, abrindo a porta. A porta do poço! Só as criaturas humanas (nem mesmo os grandes macacos e os cães amestrados) conseguem abrir uma porta bem fechada ou vice-versa, isto é, fechar uma porta bem aberta.
Somos todos tão bobos, Maria. Praticamos uma ação trivial, e temos a presunção petulante de esperar dela grandes conseqüências. Quando Alice comeu o bolo e não cresceu de tamanho, ficou no maior dos espantos. Apesar de ser isso o que acontece, geralmente, às pessoas que comem bolo.
Maria, há uma sabedoria social ou de bolso; nem toda sabedoria tem de ser grave.
A gente vive errando em relação ao próximo e o jeito é pedir desculpas sete vezes por dia: “Oh, I beg your pardon” Pois viver é falar de corda em casa de enforcado. Por isso te digo, para tua sabedoria de bolso: se gostas de gato, experimenta o ponto de vista do rato. Foi o que o rato perguntou à Alice: “Gostarias de gato se fosses eu?”
Os homens vivem apostando corrida, Maria. Nos escritórios, nos negócios, na política, nacional e internacional, nos clubes, nos bares, nas artes, na literatura, até amigos, até irmãos, até marido e mulher, até namorados todos vivem apostando corrida. São competições tão confusas, tão cheias de truques, tão desnecessárias, tão fingindo que não é, tão ridículas muitas vezes, por caminhos tão escondidos, que, quando os atletas chegam exaustos a um ponto, costumam perguntar: “A corrida terminou! mas quem ganhou?” É bobice, Maria da Graça, disputar uma corrida se a gente não irá saber quem venceu. Se tiveres de ir a algum lugar, não te preocupe a vaidade fatigante de ser a primeira a chegar. Se chegares sempre onde quiseres, ganhaste.
Disse o ratinho: “A minha história é longa e triste!” Ouvirás isso milhares de vezes. Como ouvirás a terrível variante: “Minha vida daria um romance”. Ora, como todas as vidas vividas até o fim são longas e tristes, e como todas as vidas dariam romances, pois o romance só é o jeito de contar uma vida, foge, polida mas energeticamente, dos homens e das mulheres que suspiram e dizem: “Minha vida daria um romance!” Sobretudo dos homens. Uns chatos irremediáveis, Maria.
Os milagres sempre acontecem na vida de cada um e na vida de todos. Mas, ao contrário do que se pensa, os melhores e mais fundos milagres não acontecem de repente, mas devagar, muito devagar. Quero dizer o seguinte: a palavra depressão cairá de moda mais cedo ou mais tarde. Como talvez seja mais tarde, prepara-te para a visita do monstro, e não te desesperes ao triste pensamento de Alice: “Devo estar diminuindo de novo” Em algum lugar há cogumelos que nos fazem crescer novamente.
E escuta a parábola perfeita: Alice tinha diminuído tanto de tamanho que tomou um camundongo por um hipopótamo. Isso acontece muito, Mariazinha. Mas não sejamos ingênuos, pois o contrário também acontece. E é um outro escritor inglês que nos fala mais ou menos assim: o camundongo que expulsamos ontem passou a ser hoje um terrível rinoceronte. É isso mesmo. A alma da gente é uma máquina complicada que produz durante a vida uma quantidade imensa de camundongos que parecem hipopótamos e rinocerontes que parecem camundongos. O jeito é rir no caso da primeira confusão e ficar bem disposto para enfrentar o rinoceronte que entrou em nossos domínios disfarçado de camundongo. E como tomar o pequeno por grande e grande por pequeno é sempre meio cômico, nunca devemos perder o bom-humor. Toda a pessoa deve ter três caixas para guardar humor: uma caixa grande para o humor mais ou menos barato que a gente gasta na rua com os outros; uma caixa média para o humor que a gente precisa ter quando está sozinho, para perdoares a ti mesma, para rires de ti mesma; por fim, uma caixinha preciosa, muito escondida, para grandes ocasiões. Chamo de grandes ocasiões os momentos perigosos em que estamos cheios de dor ou de vaidade, em que sofremos a tentação de achar que fracassamos ou triunfamos, em que nos sentimos umas drogas ou muito bacanas. Cuidado, Maria, com as grandes ocasiões.
Por fim, mais uma palavra de bolso: às vezes uma pessoa se abandona de tal forma ao sofrimento, com uma tal complacência, que tem medo de não poder sair de lá. A dor também tem o seu feitiço, e este se vira contra o enfeitiçado. Por isso Alice, depois de ter chorado um lago, pensava: “Agora serei castigada, afogando-me em minhas próprias lágrimas”.
Conclusão: a própria dor deve ter a sua medida: É feio, é imodesto, é vão, é perigoso ultrapassar a fronteira de nossa dor, Maria da Graça.

quinta-feira, 14 de julho de 2016

Mania de estar em diálogo com as palavras
(Escrito em 14/7/2014)

Um dia desses eu me preocupava com a necessidade da palavra ELES trazer em si a dimensão do EU, como maneira de inserir cada um na responsabilização pelos fatos que se sucedem*. Hoje continuo a estar invadida pelas palavras, seus sentidos e o que encerram de vida ao servirem a nós,  humanos, para expressar o que queremos transmitir ao mundo.

A palavra que hoje me invade é ENQUANTO. Não há como nos deixar levar pela ampla tranquilidade ou nos dedicarmos inocentemente a apenas uma  única circunstância de nossa vida. ENQUANTO vc se deixa levar por uma simples bitoca ou por um beijo de amor daqueles que apertam o peito,  tem coisas sem fim acontecendo em torno.  É de impressionar e nos conclamar à ação o tanto que sucedeu de arbitrariedade fora do campo ENQUANTO nós apenas nos voltávamos para a vontade de ver um país sul-americao sair vencedor do duelo esportivo que nos roubou a atenção nos últimos dias. Não há como ficarmos alheios.  Fora dos gramados, o duelo continua  sendo bem outro (o de sempre, na verdade), e é brutal.

*Refiro-me ao texto "Apelo aos nossos gramáticos".

ILUSÃO À TOA
                 (Escrito em 14/07/2015)

Desde ontem, mantenho-me atordoada e apequenada, com a reafirmação do poderio dos "donos do mundo". É aterrador como o rede do Capital (assim mesmo, com maiúscula) enreda todos os cantos do mundo, sem que o chão ressequido pela mão dura de seu comando possa deixar que surja qualquer nova floração por uma fresta, mínima que seja, vinda de baixo e que traga vida e terra úmida e saudável.

Não é nenhuma novidade que a luta por transformação alcança todos os níveis, espaços e dimensões, mas sempre que se confirma a brutal desigualdade que nos submete em termos planetários dói o corpo todo, como se clamasse por um socorro imaginário e inexistente.

Uma voz, a do brilhante Italo Moriconi, nos fala a respeito.



ATENÇÃO! TEXTO DE OUTRO AUTOR
A União Europeia vai acabar
Não quero ser apocalíptico e ainda não vimos o final deste episódio, pois ainda temos pela frente o voto parlamentar grego. 
Tenho porém a impressão de que com essa crise da dívida grega, começou o fim da União Europeia.
Imagino que os ingleses, já recalcitrantes em relação ao projeto, vão começar a se dar conta do perigo alemão.
Não existe o menor motivo para a Inglaterra se juntar a um projeto comandado por esta Alemanha - a Alemanha de sempre?
Lamentável a postura da França, da Itália.
Dá até saudade de Mitterrand, de Chirac...
A Europa para sobreviver teria que ser repactuada a partir das vontades populares de cada Nação, cada região, cada povo.
Essa vontade simplesmente não existe, nunca existiu. 
Tínhamos uma Europa das tecnocracias estatais, algo abstrato, superestrutural.
Enquanto ela vinha revestida pelos discursos civilizados dos socialistas centristas franceses, italianos, espanhois, tudo parecia lindo.
MAs quem pode gostar de uma Europa comandada por banqueiros e pela teimosia arrogante alemã com seus aliados nórdicos?
O fim é o melhor caminho. 
Ou uma Europa dos povos, ou nada.
Diz um jornal inglês que a Merkel quer que o euro seja um marco.
Lembram do marco do pós-guerra? Nos anos 60 e 70?
Esse o meu manifestinho geoglobal pós-passagem pela SBPC (depois eu talvez conte - o Brasil que eu vi/ouvi lá é completamente diferente do Brasil da imprensa... foi bom ser bombardeado por informação relevante)
EU E O MUNDO

(Escrito em 14/07/2015)

(Dolorida frustração pelo coletivo, mansidão pelo pequeno prazer individual numa manhã de gostoso veranico)

... Aí a gente vai até o jardim, rega as plantas, observa o crescimento de cada uma, vê que a acácia imperial já vai a quase um metro, torce para ter tempo em vida até seus primeiros e gloriosos cachos amarelos se dependurarem  sobre a grade, percebe que os camarões estão floridos como nunca, constata que as mudas, todinhas, daquela flor vermelhe que Carlinhos plantou um dia destes estão todas agarradinhas, anda mais um pouco, cruza o portão de entrada e sorri, sozinha,  ao ver que o arco de flamboyant está ainda mais carregadinho sobre sua cabeça, pára e olha em torno a vegetação - cada qual com seu jeito, sua tonalidade, sua graça - e se sente feliz por existir naquele momento de plena integração com a natureza. 

Como se não bastasse, puxa com força a mangueira até o quintal, vai levando o seu peso escadas abaixo, molhando tudo que está no caminho, observa alguns brotos de orquídea que se anunciam, percebe que o chifre de veado da porta da cozinha está precisando de um pouco mais de água, e se detém com ele mais um pouco... Vai adiante e chega à horta. Não suspeitara, mas é ali o clímax de sua tarefa de jardineira auxiliar, que cumpre com extraordinário prazer:  nada é tão anunciador de esperanças do que o fato de perceber, quase em êxtase, o avanço das mudas de aipim de Atafona, daquele aipim manteiga que provou na casa de Renatinho e Aninha e do qual trouxe mudas da última vez em que esteve lá. Quanta alegria!

E vem pra cá e escreve. De contradições assim, vivemos. Alegrias no ninho, decepções do lado de fora. Ou vice e versa. E seguimos, contrabalançando porradas e aconchegos. Tem jeito, não. Viver é isso. Ou não sei do que se trata.

quarta-feira, 13 de julho de 2016


APÓS SABER QUE EDUARDO CUNHA CONSEGUIU ADIAR A SUA CASSAÇÃO


13/07/2016




V E R G O N H A !







O GLOBO DA MORTE E SEUS HERÓIS
                               CIRCOS REVISITADOS
(Escrito em 13/7/2013)

Nos circos que conheci na infância, ali pelas cercanias do Mercado Municipal de Campos, duas atrações me encantavam: o globo da morte e os trapezistas. Ontem, quando recebi de um amigo belíssimo vídeo de trapezistas fazendo das suas, voltei àqueles tempos lá na cidade pequena que abandonei na juventude e me recordei de como era bom ir a circos. O barulho ensurdecedor do globo da morte, eu o escuto com nitidez agora, e os heróis que se lançavam àquela aventura de girar ali por dentro das grades, mesmo que nunca tivesse lhes visto o rosto por trás do capacete, juro que eram lindos e tão ou mais fortes do que William Holden em algum de seus papéis no cinema.
Pensando em circos, lembrei até de quando o Grande Circo de Orlando Orfei visitou a cidade, aí eu já estava na Faculdade e o espetáculo foi no Ginásio do Automóvel Clube, clube onde inúmeras vezes fui ver jogos de basquete onde Paulinho e Godofredo eram astros de destaque. No dia em que fui, creio que o próprio Orlando Orfei foi quem pediu um voluntário para participar de uma parte do espetáculo na qual a “vítima” iria, pendurada por uma corda, tentar montar num cavalo que corria, em círculos pelo picadeiro. Jane Alt, então minha colega (Saudades! Nunca mais vi. Quem sabe dela?) logo se apresentou e foi motivo de grandes gargalhadas por parte de todos nós que a víamos, corajosa e alegremente, tentar cumprir a tarefa de montar, sem sucesso. É que, a cada tentativa, era alçada às alturas, pelo responsável por movimentar a corda, esperneando-se pelo ar, sem que conseguisse pousar no lombo do pobre cavalo. Belos tempos! Tão lá atrás foi que comecei a empilhar as histórias que me trouxeram até aqui, com tanta vida vivida, a viver, a recordar... E a contar por palavras, vá saber porquê...
Ainda sobre circos, não posso deixar de me lembrar também da fala de Faraó, amigo querido que, ao ver aquele espetáculo grandioso, esse mesmo do próprio Orlando Orfei, onde tudo era iluminado, bem feito e colorido, reclamar, cheio de mágoa: “Isso não é circo de verdade, circo eram aqueles de minha infância, lá em Lagoa de Cima, onde o palhaço não tinha a menor graça, as roupas eram surradas, e as mulheres eram mal pintadas, feiosas, mal ajeitadas...” E ele tinha razão – também o não havido, o imaginado, os sonhos e a irrealidade podiam – e podem – nos levar a outros cantos dignos de serem visitados.
Grande lição!

terça-feira, 12 de julho de 2016

CACOS

Há muitos anos isto não acontecia. Mas ontem, durante o café da manhã, por um movimento inesperado, lá se foi ao chão a bonita garrafa térmica preta que há anos nos acompanha,  anunciando, ela própria, em cima do lance,  pelo som que liberou de seu interior, a certeza de que sua vida útil chegará ao fim. O barulhinho tipico dos mil cacos em que sua proteção espelhada se transformou, quando eu a trouxe do chão da cozinha de volta à mesa, não deixou dúvidas: fim de linha, cessação de missão,  término de caminho.

Com a garrafa, eu sei bem o que fazer. Até tenho opção: ou comprar uma nova ou repor o miolo, que existe à venda lá  pelo centro da cidade.

Mas, e com este governo em frangalhos, o que fazer?  Como vamos continuar a assistir ao despencar dos frutos podres que murcham, ao chocoalhar dos fragmentos asquerosos em suas  sucessivas quedas,  ao desmantelar do engodo que tentam emplacar sem a menor legitimidade?

Um jurista,  pelo amor de Deus!

segunda-feira, 11 de julho de 2016


APELO AOS NOSSOS GRAMÁTICOS
(Escrito em 11/7/2014)


Amanheci com isto na cabeça e vou dar tratos à bola para ver como concretizar minha proposta de reforma gramatical. É que estou convencida de que (vá saber o que sonhei à noite para chegar a isso...) se mudarmos uma pequena regra de nosso manual da língua – nem é muito, é apenas no tocante aos pronomes pessoais, caso reto – as coisas podem começar a mudar. Imagino ser ideia com dificuldades significativas para ser levada a bom termo. Mas, entro pela velha discussão filosófica acerca do dilema “os fins justificam os meios ou não”, opto pelo sim, de que justificam, sim, e, adotada tal premissa, tento vencer todos os obstáculos e proponho que seja adotada uma nova regra quanto ao modo de encarar e dizer a realidade. Ou seja: sempre que, diante de qualquer circunstância adversa, qualquer brasileiro afirmar que ELES são responsáveis, culpados, merecedores de punição ou qualquer coisa do gênero, que ele seja instado a incluir, de maneira inerente a esse ELES – terceira pessoa do plural – a primeira pessoa do singular – EU. É que estou amalucadamente (será?) pensando que quando cada um de nós tomar qualquer postura acusatória indicando qualquer dELES como merecedor de críticas e xingamentos, que, simultânea e categoricamente, o EU esteja inteiramente associado, vinculado, integrado ao ELES que aparentemente isenta o indivíduo. E faz as coisas ficarem imutáveis. Ora, se o erro está fora de mim, estou alforriado de qualquer compromisso ou ação para corrigir o mal feito.

Assim como um dia Thiago de Melo decretou que a palavra Liberdade deveria ser expulsa dos dicionários para viver no coração dos homens, eu ouso propor (me perdoem a ousadia) que seja analisada por quem de direito essa conjugação entre o ELES – que exime cada um – e o EU – que, se acionado, dito, explicitado traz a chance de, cada um vendo a si mesmo envolvido no fato, como parte de uma comunidade, poder fazer com que alguma coisa mude pela própria ação individual. Afinal de contas, a forma de se dizer as coisas tem vínculos profundos, inseparáveis mesmo, com aquilo sobre o que falamos. Já até disse um certo filósofo: nós estamos em tudo aquilo que fazemos.

Eu sempre me repito: não somos vítimas nem sujeitos autônomos diante dos fatos! Tudo de belo e de penoso que nos atinge, a ELES e a cada UM de nós, tem um quê que sai do indivíduo, nem que seja por nossa omissão e indiferença. Mais explícita ainda: quando cada um expulsar de si qualquer responsabilidade sobre um fato e apontar um ELES – concreto ou abstrato – que simultaneamente cada um se indague "E EU COM ISSO?". Na verdade, o uso do ELES esconde, silencia, deixa escapar as inúmeras oportunidades que temos de avaliar nossa própria responsabilidade no cotidiano das coisas e das pessoas todas.

Diálogo, por favor! Antes que eu acione o Evanildo Bechara e me dê mal com essa historiada toda (que eu nem sei se ficou clara para cada um ou só para minha própria pessoa).


IDADE AVANÇADA? NOVIDADES À VISTA!

(Escrito em 11/07/2015)

A amiga de 68 fala com a de 70 pelo whatsApp. Uma dedilha pra lá, a outra dedilha pra cá, a conversa não tem fim e esta tem sido uma prática diária entre elas. Moram longe, a virtualidade veio para ficar e as tem socorrido em suas recíprocas necessidades de falar de suas próprias vidas, trocando impressões e "bons conselhos" a distancia.
De repente, a mais velha olha para a telinha de seu tablet tomada pela foto da amiga distante. Inexplicavelmente, algo mudou na comunicação estabelecida entre elas. Por costume já mais do que arraigado, ao ver um telefonezinho verde, a setentona clica nele. A cor verde sempre foi anunciadora de que o passo certo é o de avançar, seguir adiante. Virtualmente, é o SIM clamando para ser acionado. E ela atende ao comando implícito. Vem daí um momento de uma boa surpresa - a conversa passa a ser como num telefonema convencional, liberam-se os dedos, impõem-se as vozes de cada qual no prosseguimento do assunto que, aí, então, em novas bases, prolonga-se por um tempo bem mais estendido do que o originalmente imaginado. Tudo porque a outra fez algo sem querer e abriu o diálogo por voz.
Na verdade, tem sido mais comum do que se pensa esse tipo de avanço tecnológico surgir ao acaso para aqueles que em tempos de outrora foram alfabetizados em moldes restritos às letras arrumadas em sílabas, moldes bem diversos da farra tecnológica dos dias de hoje. Sem querer, ao acaso, fruto de algum gesto involuntário, os velhotes acabam por abrir novas portas, surpreendentes, sem que ao menos pudessem suspeitar ser possível o que acabam de ter diante de si. Caem na risada, continuam tricotando e torcem para saberem repetir o procedimento quando desejarem voltar a falar no dia seguinte...
O acaso fez a maçã lhes cair na cabeca, agora é aprender a teorizar sobre a nova descoberta que a vida pôs em seus caminhos...