APELO AOS NOSSOS GRAMÁTICOS
(Escrito
em 11/7/2014)
Amanheci com isto na cabeça e vou dar
tratos à bola para ver como concretizar minha proposta de reforma gramatical. É
que estou convencida de que (vá saber o que sonhei à noite para chegar a
isso...) se mudarmos uma pequena regra de nosso manual da língua – nem é muito,
é apenas no tocante aos pronomes pessoais, caso reto – as coisas podem começar
a mudar. Imagino ser ideia com dificuldades significativas para ser levada a
bom termo. Mas, entro pela velha discussão filosófica acerca do dilema “os fins
justificam os meios ou não”, opto pelo sim, de que justificam, sim, e, adotada
tal premissa, tento vencer todos os obstáculos e proponho que seja adotada uma
nova regra quanto ao modo de encarar e dizer a realidade. Ou seja: sempre que,
diante de qualquer circunstância adversa, qualquer brasileiro afirmar que ELES
são responsáveis, culpados, merecedores de punição ou qualquer coisa do gênero,
que ele seja instado a incluir, de maneira inerente a esse ELES – terceira
pessoa do plural – a primeira pessoa do singular – EU. É que estou amalucadamente
(será?) pensando que quando cada um de nós tomar qualquer postura acusatória
indicando qualquer dELES como merecedor de críticas e xingamentos, que,
simultânea e categoricamente, o EU esteja inteiramente associado, vinculado,
integrado ao ELES que aparentemente isenta o indivíduo. E faz as coisas ficarem
imutáveis. Ora, se o erro está fora de mim, estou alforriado de qualquer compromisso
ou ação para corrigir o mal feito.
Assim como um dia Thiago de Melo
decretou que a palavra Liberdade deveria ser expulsa dos dicionários para viver
no coração dos homens, eu ouso propor (me perdoem a ousadia) que seja analisada
por quem de direito essa conjugação entre o ELES – que exime cada um – e o EU –
que, se acionado, dito, explicitado traz a chance de, cada um vendo a si mesmo
envolvido no fato, como parte de uma comunidade, poder fazer com que alguma
coisa mude pela própria ação individual. Afinal de contas, a forma de se dizer as
coisas tem vínculos profundos, inseparáveis mesmo, com aquilo sobre o que
falamos. Já até disse um certo filósofo: nós estamos em tudo aquilo que
fazemos.
Eu sempre me repito: não somos
vítimas nem sujeitos autônomos diante dos fatos! Tudo de belo e de penoso que
nos atinge, a ELES e a cada UM de nós, tem um quê que sai do indivíduo, nem que
seja por nossa omissão e indiferença. Mais explícita ainda: quando cada um
expulsar de si qualquer responsabilidade sobre um fato e apontar um ELES –
concreto ou abstrato – que simultaneamente cada um se indague "E EU COM
ISSO?". Na verdade, o uso do ELES esconde, silencia, deixa escapar as inúmeras
oportunidades que temos de avaliar nossa própria responsabilidade no cotidiano
das coisas e das pessoas todas.
Diálogo, por favor! Antes que eu
acione o Evanildo Bechara e me dê mal com essa historiada toda (que eu nem sei
se ficou clara para cada um ou só para minha própria pessoa).
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