segunda-feira, 11 de julho de 2016


APELO AOS NOSSOS GRAMÁTICOS
(Escrito em 11/7/2014)


Amanheci com isto na cabeça e vou dar tratos à bola para ver como concretizar minha proposta de reforma gramatical. É que estou convencida de que (vá saber o que sonhei à noite para chegar a isso...) se mudarmos uma pequena regra de nosso manual da língua – nem é muito, é apenas no tocante aos pronomes pessoais, caso reto – as coisas podem começar a mudar. Imagino ser ideia com dificuldades significativas para ser levada a bom termo. Mas, entro pela velha discussão filosófica acerca do dilema “os fins justificam os meios ou não”, opto pelo sim, de que justificam, sim, e, adotada tal premissa, tento vencer todos os obstáculos e proponho que seja adotada uma nova regra quanto ao modo de encarar e dizer a realidade. Ou seja: sempre que, diante de qualquer circunstância adversa, qualquer brasileiro afirmar que ELES são responsáveis, culpados, merecedores de punição ou qualquer coisa do gênero, que ele seja instado a incluir, de maneira inerente a esse ELES – terceira pessoa do plural – a primeira pessoa do singular – EU. É que estou amalucadamente (será?) pensando que quando cada um de nós tomar qualquer postura acusatória indicando qualquer dELES como merecedor de críticas e xingamentos, que, simultânea e categoricamente, o EU esteja inteiramente associado, vinculado, integrado ao ELES que aparentemente isenta o indivíduo. E faz as coisas ficarem imutáveis. Ora, se o erro está fora de mim, estou alforriado de qualquer compromisso ou ação para corrigir o mal feito.

Assim como um dia Thiago de Melo decretou que a palavra Liberdade deveria ser expulsa dos dicionários para viver no coração dos homens, eu ouso propor (me perdoem a ousadia) que seja analisada por quem de direito essa conjugação entre o ELES – que exime cada um – e o EU – que, se acionado, dito, explicitado traz a chance de, cada um vendo a si mesmo envolvido no fato, como parte de uma comunidade, poder fazer com que alguma coisa mude pela própria ação individual. Afinal de contas, a forma de se dizer as coisas tem vínculos profundos, inseparáveis mesmo, com aquilo sobre o que falamos. Já até disse um certo filósofo: nós estamos em tudo aquilo que fazemos.

Eu sempre me repito: não somos vítimas nem sujeitos autônomos diante dos fatos! Tudo de belo e de penoso que nos atinge, a ELES e a cada UM de nós, tem um quê que sai do indivíduo, nem que seja por nossa omissão e indiferença. Mais explícita ainda: quando cada um expulsar de si qualquer responsabilidade sobre um fato e apontar um ELES – concreto ou abstrato – que simultaneamente cada um se indague "E EU COM ISSO?". Na verdade, o uso do ELES esconde, silencia, deixa escapar as inúmeras oportunidades que temos de avaliar nossa própria responsabilidade no cotidiano das coisas e das pessoas todas.

Diálogo, por favor! Antes que eu acione o Evanildo Bechara e me dê mal com essa historiada toda (que eu nem sei se ficou clara para cada um ou só para minha própria pessoa).

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