quinta-feira, 14 de julho de 2016

EU E O MUNDO

(Escrito em 14/07/2015)

(Dolorida frustração pelo coletivo, mansidão pelo pequeno prazer individual numa manhã de gostoso veranico)

... Aí a gente vai até o jardim, rega as plantas, observa o crescimento de cada uma, vê que a acácia imperial já vai a quase um metro, torce para ter tempo em vida até seus primeiros e gloriosos cachos amarelos se dependurarem  sobre a grade, percebe que os camarões estão floridos como nunca, constata que as mudas, todinhas, daquela flor vermelhe que Carlinhos plantou um dia destes estão todas agarradinhas, anda mais um pouco, cruza o portão de entrada e sorri, sozinha,  ao ver que o arco de flamboyant está ainda mais carregadinho sobre sua cabeça, pára e olha em torno a vegetação - cada qual com seu jeito, sua tonalidade, sua graça - e se sente feliz por existir naquele momento de plena integração com a natureza. 

Como se não bastasse, puxa com força a mangueira até o quintal, vai levando o seu peso escadas abaixo, molhando tudo que está no caminho, observa alguns brotos de orquídea que se anunciam, percebe que o chifre de veado da porta da cozinha está precisando de um pouco mais de água, e se detém com ele mais um pouco... Vai adiante e chega à horta. Não suspeitara, mas é ali o clímax de sua tarefa de jardineira auxiliar, que cumpre com extraordinário prazer:  nada é tão anunciador de esperanças do que o fato de perceber, quase em êxtase, o avanço das mudas de aipim de Atafona, daquele aipim manteiga que provou na casa de Renatinho e Aninha e do qual trouxe mudas da última vez em que esteve lá. Quanta alegria!

E vem pra cá e escreve. De contradições assim, vivemos. Alegrias no ninho, decepções do lado de fora. Ou vice e versa. E seguimos, contrabalançando porradas e aconchegos. Tem jeito, não. Viver é isso. Ou não sei do que se trata.

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