FOME
ZERO
(Escrito em 30/07/2014)
Ser feliz é chorar de saudade, entristecer-se ao ouvir
qualquer música cujos tons e semitons falem mais ao coração, e, depois, voltar
a si, a horas mais leves, ao sorriso no olhar e nos lábios, sabendo
o quanto é reconfortante ter pessoas para recordar, pessoas de quem se recebeu
amor e a quem se entregou parte da vida. Ser feliz é viver com intensidade
dores e alegrias, tudo a seu tempo, sem ilusões quanto a permanências
idealizadas e além do tempo do possível e desejado.
Chifres de veado quando começavam a crescer - 2011 |
Ontem ouvi algumas músicas que me trouxeram antigas
vivências e levaram por várias vezes as minhas mãos à face para enxugar
lágrimas que vazaram do poço de saudades que guardo na alma e que por vezes
transbordam “janelas da alma” afora. Hoje, imaginem!, acordei feliz da vida!
Amei e fui amada de maneira intensa e definitiva. Imaturidades não são capazes
de diluir a força de sentimentos compartilhados que tiveram vida concreta num
determinado tempo, qualquer que seja ele. Tudo vivido com vigor é alimento,
seja em que época for, para garantir um certo estado de felicidade.
Quanta alegria ter histórias de amor para recordar! E saber
que elas bastam. Determinadas delícias prescindem de complementos ou tentativas
de repetição. Abrir mão de um novo porta-retrato na cabeceira é apenas ter
clareza quanto a um nível de satisfação já alcançado e insuperável. Coisa
de quem adora camarão pitu do Paraiba, fartou-se com uma boa porção dele, feito
apenas no bafo, num bom azeite e com a medida certa de um alho de primeira, a
quem não adianta oferecer mais nada. Plenamente satisfeita, a pessoa só quer
saber de uma boa rede para descansar do intenso prazer que acabou de ter para
si. Mais nada. No caso em pauta, mais ninguém.
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