domingo, 10 de julho de 2016

PORTAS SEM TRANCAS

(Escrito no dia 10 de julho de 2015)


“Não deixe portas entreabertas
Escancare-as
Ou bata-as de vez.
Pelos vãos, brechas e fendas
Passam apenas semiventos,
Meias verdades
E muita insensatez.

Flora Figueiredo


Ao ler esta fala poética, logo tratei de incorporá-la ao meu íntimo para me inspirar em meu início de dia. Abrir portas, devo dizer, já é tentativa antiga, que insisto em não me esquecer a cada dia, sempre buscando viver, o que para mim é meio sinônimo de tentar exaustivamente estar aberta ao novo. Não é simples, mas é tarefa de quem não quer morrer em vida. Portas abertas: tudo bem! Quanto ao trancar de vez, ao evitar o lusco-fusco da incerteza, do trancar de vez todas as portas, encerrar todos os assuntos, concluir os antigos percursos, aí eu me penitencio. Nem sempre tenho êxito nesse intento. Uma coisa é racionalmente pretender esse encerramento, essa finalização, esse ponto final em coisas lá de trás. Mas, em se tratando de sentimentos, há portas que não consigo cerrá-las por completo. Não sei se é devido à qualidade da madeira, à teimosia trazida pelo vento nordeste que as empurra vez por outra, ao modo como foram construídas pelo artesão, há portas teimosas, ameaçadoras até, em seu caráter renitente e portador de luzes que deveriam há muito estar de um outro lado, sem acesso ao íntimo de minha casa de afetos.

De todo modo, foi muito bom e proveitoso ler a poesia. Se a poeta diz e ensina, é porque eu devo continuar tentando...



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