sexta-feira, 1 de julho de 2016

Jardim de minha antiga casa em Atafona, símbolo da simplicidade para mim
SIMPLICIDADE - UMA BUSCA INCESSANTE
(Escrito em julho de 2015)

Como é simples... o mundo adulto é que complica. Aliás, a simplicidade sempre ensina. Acabo de ver um vídeo onde uma criança encara da maneira mais simples um casal de namorados homens e dá uma aula de entendimento sobre a vida para seu pai. Esta criança – e isso não é apenas o que se observa sobre ESTA criança, mas é um comportamento DAS CRIANÇAS antes de receberem as camadas e mais camadas de poluição de coisas tortas e preconceitos que se movem enquanto o mundo gira.  A simplicidade desta criança ver o mundo de uma maneira simples - e nos ensina com isso -, me lembrou imediatamente um fato que também me ensinou muito, e que se passou há muitos anos.


Estávamos conversando, num final de tarde, encerrado um dia de trabalho. Um grupo de professores, intelectuais, vamos dizer assim, sendo que apenas um de nós era um sujeito mais simples, motorista de profissão, que conosco papeava naquele começo de noite, num escritório no centro do Rio.


A surpresa veio por conta de um dos presentes, professor, bem jovem ainda, que passou mal, surpreendendo-nos com uma crise convulsiva, que nos atordoou e que custou a ser debelada, até porque era uma experiência totalmente nova para cada um ali reunido. Passado o susto, e com êxito, pois cada qual foi se lembrando e juntando o pouco que sabia de primeiros socorros para um caso como aquele, veio a espera pela volta à consciência do amigo que aos poucos voltava a dar sinais de vida.


De minha parte e de uma amiga presente no recinto, lembro-me bem, havia um certo receio, um contido desconcerto pela falta de jeito que imaginávamos poder ser a reação do amigo recém desperto, diante de nós. Como se ele pudesse ficar envergonhado pelo que sucedera. Tudo dentro de nós e projetado nele, diga-se de passagem. Como soe acontecer conosco, mortais viventes, acostumados a preconceitos e temores quase sempre descabidos.


Qual não foi a nossa surpresa, de todos nós, quando João, o motorista, ao ver que Pedro abria os olhos e voltava a si, quebrou o gelo e foi logo dizendo, na maior descontração: "Cara, eu que nunca vou querer você num time meu. Já pensou você dar um treco destes no meio do jogo?" E essa foi a senha para que amorosamente nos entregássemos ao amigo necessitado de uma atenção maior naquele instante. A falta de jeito foi para escanteio, por conta apenas da simplicidade com que aquele moço simples, João, o motorista, encarou um fato que faz parte da vida. Sem fantasmas e melindres, abriu a porta para todos nós e nossa atenção ao companheiro que retornava à vida, com um sorriso nos lábios...

Não sei se me engano, mas máscaras e vergonhas, faltas de jeitos e cerimônias são esquisitices e falsetas que afastam as pessoas e que, pelo compromisso com a “pose” que se tem que ter diante do outro, ficam muito mais grudadas nas ações dos integrantes da classe média. As pessoas do povo, talvez por lidarem muito mais com a necessidade concreta do dia a dia, capazes de pedir uma xícara de açúcar ao vizinho de cima ou que a outra vizinha do lado olhe sua criança enquanto o ela busca o mais velho na escola, vivem mais livres dessas inutilidades. O melhor sentido da infância parece que dura mais dentro de si.

E viva o João! Muita saudade dele, que, além de tudo, sempre foi tão lindo...




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