MINHAS
VERGONHAS
(Escrito em julho de 2014)
Muitas foram as que tive pela vida afora. Duas têm a ver com o uso de
anáguas, engomadas e fartas. Uma caiu bem na frente dos meninos, numa ida para
o banheiro, quando cruzava o pátio, bem garota ainda, lá no Calomeni. Outra
anágua, ou foi a mesma, não sei, escolheu também um lugar privilegiado para
despencar pernas abaixo: em frente ao Empório das Sedas, no Boulevard. Vontade
de morrer ao quadrado!
Na minha Primeira Comunhão, mais ou menos na época em que a primeira anágua foi ao chão. |
Outra vergonha notável foi quando vinha para casa, pela Rua da Baronesa e
não resisti, fiz xixi na calcinha bem na curva, quase em frente à casa de Tatau
e Dedé. Sentei num banquinho que havia ali, um banquinho bem rústico de
madeira, tosco mesmo, mas de nada adiantou, tive que seguir até a Beira Rio,
dobrar à direita e chegar em casa, morta de uma vergonha descomunal, muito
maior do que meu tamanho todo àquela altura da vida.
Uma outra vergonha, esta eu já era jovem, nunca me esqueci, foi quando
entrava no Tênis Clube de Campos para um banho de piscina, e uma mocinha,
clarinha, lourinha, angelical, gritou para sua amiga, na ocasião namorada de um
ex-namorado meu, em alto e bom som, enquanto eu passava: "Hoje não haverá
almoço? A empregadinha está de folga? A esta hora livre por aqui? Patroa
boazinha a dela, não, Fulana?" (Ao que eu sei, ao contrário dele, ambas estão
vivas por aí e devem se lembrar, se bem que, em geral, quem se lembra é quem
passa a "vergonha", não o algoz). Eu, na ocasião, apenas percebendo a
tentativa de humilhação, corei, encabulada, ainda sem ter noção do quanto de
preconceito nos envolvia em nossa juventude interiorana e marcantemente
conservadora. Tomara que hoje elas possam ver de outro modo o trabalho daquelas
que estavam em nossas casas enquanto nós, lindinhas, saíamos para nossos
programinhas sociais!
Da última vergonha que me lembro foi quando entrei no chamado Teatro
Trianon, de Campos (para mim, o Trianon era o outro), há uns anos, e tropecei
na escada, me esborrachando no chão, sendo acudida por um cordial senhor que
vinha atrás. Foi preciso muito espírito esportivo para voltar à minha estatura
normal de caminhante bípede. E isso, repito, em Campos, não num lugar qualquer.
Na Campos, explico, cujas mazelas ainda guardo dentro de mim, por mais que já
tenha reaprendido a ver suas outras dimensões menos reducionistas.
MAS A VERGONHA QUE ESTOU TENDO NESTES DIAS É A MAIOR DE TODAS, É UM TIPO
DE VERGONHA JAMAIS PENSADA EM TER EM TODA A MINHA VIDA. PODE PARECER EXAGERO,
MAS NÃO É: É MAIOR DO QUE A DE VIVER NUM PAÍS CUJO CONGRESSO NACIONAL TEM OS
PRESIDENTES QUE TEM.
NÃO TENHO PALAVRAS PARA DIZER O QUE SINTO EM VER O QUE ESTÃO FAZENDO DE
DESRESPEITO, DE VILANIA, DE ILEGAL, DE ILEGÍTIMO, DE PERVERSO COM A IMAGEM DA
PRESIDENTE DE NOSSO PAÍS.
QUE OS DE BOM SENSO NÃO A REPRODUZAM! QUE ELIMINEM DE SUAS PÁGINAS!. QUE
OS JURISTAS ENCONTREM FORMAS DE PUNIR SEUS AUTORES E DIVULGADORES! QUE
SOBREVIVAMOS Á BARBÁRIE IMPETRADA POR ESTES ADULTOS QUE ESTÃO ENCONTRANDO
ESPAÇO PARA SE REPRODUZIREM COMO PRAGAS!
QUE VERGONHA, MEU DEUS!!!!!!
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