sábado, 30 de julho de 2016

CONJUGANDO O VERBO AMAR

(HOMENAGEM À MENINA QUE CAIU DA REDE)
(Escrito em30/07/2016)
Luna

Festa sempre foi e continua sendo assim, gerando expectativas que a trazem para a frente, gerando devaneios ante sua chegada. Não falo de festas para as quais somos convidados e temos que ir por dever social, estas coisas de obrigações para não ficar mal com quem quer que seja. E às quais já fui (hoje não mais), dormindo tranquila pelo dever cumprido. Falo de outras festas, festas mesmo, dignas de seu nome, essas que, só em saber que estão por chegar, a gente se arruma toda por dentro, coloca fita nos cabelos da alma e deixa brotar ideias para tudo sair do jeito mais iluminado que a ocasião merece.
No jogo do viver, se cada um de nós entendesse melhor (e mais cedo) o que é viver com sabedoria, com certeza iria liberar esta sensação de arreglo geral, a cada novo dia, tamanha a beleza de ver o dia amanhecer por trás dos montes, ou à beira mar, ou dentro de um quarto escuro mesmo, com máscara nos olhos, tudo escuro, sem noção da hora que se dá. Viver é alegria e bem merece preparação sem pejo de estar recebendo uma bela dádiva. Mas, reconheço, vou no vai-da-valsa-de-ir-indo, o dia chega e não solto fogos por antecedência. Apenas, quando abro os olhos e me defronto com a festa já posta, o dia já em pé na porta, só aí é que comemoro, e sem preparação alguma, com o bem-estar já posto e servido. Essa é, sem sombra de dúvida, uma destas injustiças que cometemos com as coisas corriqueiras que nos chegam pelas águas da rotina, sem que elas não causem estremecimentos prévios Parece mesmo que as desvalorizamos por  força de sua presença repetida e intrusa, sem convite. Só o raro parece merecer tapete vermelho.  E isso precisa ser revisto, confirmando que viver é estar aprendendo pela existência inteira, sem cessar.
Mas, há uma situação para cuja chegança, eu me engalano toda, por dentro, por fora, estendendo enfeites por tudo que me cerca, animada como uma criança pequena diante do seu brinquedo preferido. Ou do pintor diante de seu quadro mais representativo. Ou do compositor ao ouvir sua sonata repleta de bemóis que incendeiam o seu e o nosso coração. Ou da operária que acaba de olhar para o tecido que acaba de ganhar desenhos e cores. Ou de qualquer criatura diante do que ama e lhe dá prazer realizar. Meu dia de festa, que começa de véspera e que me comove e me coloca em ação de preparo e júbilo é quando eu sei que Luna vem ficar comigo. Se for pra dormir, então, aí a alma dá até retoques nos adornos que escolhe para a recepção à criatura de cujos olhos escapam sentimentos, de cuja boca saem palavras mágicas e de cujo corpo emanam movimentos, cheiros e trejeitos que permanecem comigo por dias, dias  e dias, até ela voltar a trazer festa pra minha casa, a de tijolo e pedras e a de carne osso e amorosidade. E aí será, então, outro dia de festa a exigir nova preparação cheia de encantamento. Bom até dizer chega!

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