segunda-feira, 23 de novembro de 2015


Bipolaridade
(escrito em setembro de 2015)
 
 
Até quando resistirei, não tenho a menor ideia. Viver à base do bom humor, do gostar do simples fato de receber o dia com alegria, de dar conta das leituras a fazer, reaprendendo conceitos enquanto revejo textos; de fazer coisinhas no cotidiano - desde inventar novos colares com antigas peças desfeitas, até molhar as plantas e sorrir quando Noah, maior que eu, quase me tomba no chão com seu abraço gigante matinal -; de escrever, escrever e escrever, e sempre inventar motivo para mais uma vez escrever, escrever e escrever...; de incensar meu lado forte, tentando varrer a presença teimosa de fraquezas e saudosismos; de me olhar com mais carinho e apreço, secundarizando a possibilidade de um novo apaixonamento para fora de mim mesma (exceto por Luna); ao mesmo tempo em que acompanho noticiários e vejo mais uma vez pessoas perderem suas casas em mais um incêndio impiedoso e criminoso em São Paulo; ou a morte insana e naturalizada de milhares e milhares de migrantes expulsos de seus lugares, pela insanidade de guerras e injustiças; ou a decepção com pessoas e grupos que fizeram desbotar o tom mais vivo da esperança em nosso horizonte utópico, deixando-se levar pela forma usual e sórdida de se fazer política no país; da percepção da visibilidade que ganham o pensamento e as práticas conservadoras entre nós; e isto, e mais aquilo e um sem fim de mazelas que se espalham por aqui, por ali, por lá, mais longe...

Não sei até quando conseguirei ir, partida entre dores e prazeres. Doentes estamos todos nesta sociedade deformada e atarantada. Nem sempre dá pra rir. Nem de mim mesma. Nem me colocando como alvo fácil para o sorriso alheio.

Estou dividida. Mais: vivo dolorosamente partida em metades que se estranham. Nem sempre é fácil dar BOM DIA chamando o riso meu e do amigo ai do outro lado. Nestas horas, escudo -me na franqueza de me ver fraca, impossibilitada, extenuada. Mas, sem desistir. Nada melhor, por agora, apenas satisfaço-me em saber que assim é.

 

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