Bipolaridade
(escrito em setembro de 2015)
Até quando resistirei,
não tenho a menor ideia. Viver à base do bom humor, do gostar do simples fato
de receber o dia com alegria, de dar conta das leituras a fazer, reaprendendo
conceitos enquanto revejo textos; de fazer coisinhas no cotidiano - desde inventar
novos colares com antigas peças desfeitas, até molhar as plantas e sorrir
quando Noah, maior que eu, quase me tomba no chão com seu abraço gigante
matinal -; de escrever, escrever e escrever, e sempre inventar motivo para mais uma vez escrever, escrever e
escrever...; de incensar meu lado forte, tentando varrer a presença teimosa de
fraquezas e saudosismos; de me olhar com mais carinho e apreço, secundarizando
a possibilidade de um novo apaixonamento para fora de mim mesma (exceto por
Luna); ao mesmo tempo em que acompanho noticiários e vejo mais uma vez pessoas
perderem suas casas em mais um incêndio impiedoso e criminoso em São Paulo; ou
a morte insana e naturalizada de milhares e milhares de migrantes expulsos de
seus lugares, pela insanidade de guerras e injustiças; ou a decepção com
pessoas e grupos que fizeram desbotar o tom mais vivo da esperança em nosso
horizonte utópico, deixando-se levar pela forma usual e sórdida de se fazer
política no país; da percepção da visibilidade que ganham o pensamento e as
práticas conservadoras entre nós; e isto, e mais aquilo e um sem fim de mazelas
que se espalham por aqui, por ali, por lá, mais longe...
Não sei até quando
conseguirei ir, partida entre dores e prazeres. Doentes estamos todos nesta
sociedade deformada e atarantada. Nem sempre dá pra rir. Nem de mim mesma. Nem
me colocando como alvo fácil para o sorriso alheio.
Estou dividida. Mais:
vivo dolorosamente partida em metades que se estranham. Nem sempre é fácil dar
BOM DIA chamando o riso meu e do amigo ai do outro lado. Nestas horas, escudo
-me na franqueza de me ver fraca, impossibilitada, extenuada. Mas, sem
desistir. Nada melhor, por agora, apenas satisfaço-me em saber que assim é.
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