sábado, 21 de novembro de 2015


CARTA AO ANJO ARIEL

Querido, suave, lindo e amoroso Ariel,

Na novela em que você aparece, fazendo cruzar intencionalmente o caminho das pessoas, sempre colocando pares ordenados afetivamente para se entenderem, eu fico num estado lastimável, tamanha a tensão que vem da minha vontade de ser surpreendida em alguma esquina de minha vida com você trazendo pela mão o meu par. Aquele par com quem eu já convivi um tempo, só que eu não sei se vale o meu apelo. É que o meu encontro com ele, o encontro ao qual eu quero dar prosseguimento, foi nesta vida mesmo, não vem de nenhuma vida pregressa, em que eu fosse talvez uma camponesa do interior da Itália e ele um soldado francês que chegou ao meu vilarejo por ocasião da guerra. E que, no nosso primeiro encontro, ao termos nossos olhares cruzados pelo ocaso, nos deixamos levar pelo que nossos corações passaram a indicar como o bom caminho para os amantes que se amam pra valer. Essa coisarada toda se deu aqui mesmo, meu bom Anjo dos Bons Amores. Nestes tempos de agora.

Desse jeito vale, Ariel? Ou você só milagreia se tiver que ter havido uma ou mais mortes no meio do caminho? Tem que ter algum intervalo durante o desenrolar da rota, vida-mortes-vida, caro amigo? Ou dá pra me fazer este gosto, meu santinho protetor, num mesmo espaço-tempo, sem nenhum revertere ad locum tuum para atrapalhar meu planos?

Não conte pra ninguém, nem para o seu mais fiel escudeiro espiritual, mas minha vontade é tanta de dar continuidade a essa tessitura de amor iniciada há um tempo atrás, e ela é tão nítida, tão veemente, tão intensa, tão integral, que eu até negocio com você algum troco neste escambo. Não me venha achar que o estou corrompendo ou coisa que o valha. Nem que estou me baseando naquela máxima de que os fins justificam os meios. Com sua vocação para cupido, você há de me entender e não me acusar sem piedade. Dou para você meia dúzia de rosas vermelhas, colombianas, das mais lindas que pode haver neste mundo, entrego-lhe minha pimenta curtida em azeite espanhol de fina safra, sem reclamar nadica de nada, faço um aromatizador para você, todo banhado em doçura, todo ele para acalmar mais ainda a sua alma purificada, todo ele de alecrim, sândalo e algumas gotinhas de limão galego. Mais o quê? Bom, pede aí que eu estudo o seu caso.

Veja, meu amigo, no que proponho humildemente a você e aqui escrevo e sinto (ou escrevo porque sinto) não entra nada que passe pelo vil metal que anda cada vez comandando mais o mundo por onde temos caminhado. Estou mesmo é colocando minha imaginação, minhas mãos e minha humilde deferência ao seu sábio poder, tamanha a vontade de cerzir o que foi rasgado, embainhar os cantos que ficaram mal acabados, prosseguir na construção do que ficou inacabado.

Você me atende? Acabo de cruzar os dedos. Não deixe de me ouvir. É caso que precisa mesmo de sua interseção! Se não, pode acreditar, é uma pendência sem tamanho para os novos tempos – e vidas – que virão!

Carmen

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