CARTA AO
ANJO ARIEL
Querido,
suave, lindo e amoroso Ariel,
Na novela em
que você aparece, fazendo cruzar intencionalmente o caminho das pessoas, sempre
colocando pares ordenados afetivamente para se entenderem, eu fico num estado
lastimável, tamanha a tensão que vem da minha vontade de ser surpreendida em alguma
esquina de minha vida com você trazendo pela mão o meu par. Aquele par com quem
eu já convivi um tempo, só que eu não sei se vale o meu apelo. É que o meu
encontro com ele, o encontro ao qual eu quero dar prosseguimento, foi nesta
vida mesmo, não vem de nenhuma vida pregressa, em que eu fosse talvez uma
camponesa do interior da Itália e ele um soldado francês que chegou ao meu
vilarejo por ocasião da guerra. E que, no nosso primeiro encontro, ao termos
nossos olhares cruzados pelo ocaso, nos deixamos levar pelo que nossos corações
passaram a indicar como o bom caminho para os amantes que se amam pra valer.
Essa coisarada toda se deu aqui mesmo, meu bom Anjo dos Bons Amores. Nestes
tempos de agora.
Desse jeito
vale, Ariel? Ou você só milagreia se tiver que ter havido uma ou mais mortes no
meio do caminho? Tem que ter algum intervalo durante o desenrolar da rota, vida-mortes-vida,
caro amigo? Ou dá pra me fazer este gosto, meu santinho protetor, num mesmo
espaço-tempo, sem nenhum revertere ad
locum tuum para atrapalhar meu planos?
Não conte
pra ninguém, nem para o seu mais fiel escudeiro espiritual, mas minha vontade é
tanta de dar continuidade a essa tessitura de amor iniciada há um tempo atrás,
e ela é tão nítida, tão veemente, tão intensa, tão integral, que eu até negocio
com você algum troco neste escambo. Não me venha achar que o estou corrompendo
ou coisa que o valha. Nem que estou me baseando naquela máxima de que os fins
justificam os meios. Com sua vocação para cupido, você há de me entender e não
me acusar sem piedade. Dou para você meia dúzia de rosas vermelhas,
colombianas, das mais lindas que pode haver neste mundo, entrego-lhe minha
pimenta curtida em azeite espanhol de fina safra, sem reclamar nadica de nada,
faço um aromatizador para você, todo banhado em doçura, todo ele para acalmar
mais ainda a sua alma purificada, todo ele de alecrim, sândalo e algumas
gotinhas de limão galego. Mais o quê? Bom, pede aí que eu estudo o seu caso.
Veja, meu
amigo, no que proponho humildemente a você e aqui escrevo e sinto (ou escrevo
porque sinto) não entra nada que passe pelo vil metal que anda cada vez comandando
mais o mundo por onde temos caminhado. Estou mesmo é colocando minha
imaginação, minhas mãos e minha humilde deferência ao seu sábio poder, tamanha
a vontade de cerzir o que foi rasgado, embainhar os cantos que ficaram mal
acabados, prosseguir na construção do que ficou inacabado.
Você me
atende? Acabo de cruzar os dedos. Não deixe de me ouvir. É caso que precisa
mesmo de sua interseção! Se não, pode acreditar, é uma pendência sem tamanho
para os novos tempos – e vidas – que virão!
Carmen
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