VIVER É NÃO
TER VERGONHA – MESMO! – DE SER FELIZ
Durante um almoço
em família, um jovem senhor que conosco compartia o prazer daquela deliciosa
refeição em grupo, dizendo-se muito descrente da instituição escola e
argumentando em favor da sua importância como local para o convívio social, já
que, em termos de informação e conhecimento, deixa muito a desejar, lança a
pergunta para todos nós, ali presentes: “Mas escola é lugar de ensinar ou de
ser feliz?”
Daqui e dali
pipocam palpites e opiniões, mas o mais nítido, quase consensual mesmo, foi o ponto
de vista de que “escola é lugar para se ensinar”.
Não sei, mas a sensação que tive é do quanto nossas mentes são de fato marcadas pelo “ou isto ou aquilo”. É a tal da especialização, da segmentação, da separação para se olhar melhor. Clara influência da lógica do positivismo que encharca o modo de fazer Ciência e de se analisar o mundo entre nós. E isso me lembra tanto o Lobo Mau, com seus vários sentidos, um para cada função (para que seus olhos
tão grandes?Pra te olhar! Para que seu nariz tão grande? Pra te cheirar! Pra
que essa sua boca tão grande? Pra te comer! E záz, não fosse o caçador, lá
estaria a Vovozinha inteira à beira de ser mastigada); como também me faz
lembrar do “Método Golberiano”, se aplicado fosse à Educação, em que dividir
deve ser a regra. Separar é a fórmula: ou bem se ensina ou bem se é feliz. Interações
são perniciosas, indesejáveis, ações a serem rechaçadas em qualquer tentativa
de simultaneidade!
Termino de
me deliciar com a garfada do saboroso prato da mais legítima cozinha brasileira
a todos nós servido, com esmero pela dona da casa, e me saio com esta: “Mas,
como, meus amigos? As coisas não podem caminhar juntas? Estamos aqui para
almoçar, é fato. Realmente, esta é a função primeira que nos une aqui. É hora
de almoço, almocemos, pois. Mas, nada impede, pelo contrário, que estejamos
aqui em estado de bem-estar, de alegria, de encontro de amigos que se gostam.
Ou seja, de estarmos querendo, ao comer, sermos felizes. Tudo junto. A
felicidade é uma sensação buscada na escola, no cinema, em casa, entre amigos ou
quando estamos sós. Não se desabotoa o paletó da intenção de se ser feliz
quando se vai para a escola. Essa roupa é nossa pele, nossa forma de viver,
nossa linha mestra. Não é como o dólman do Liceu (havia muitos campistas
presentes, haveriam de entender a comparação), que pode ser retirado e posto
apenas pela vontade do aluno que o veste. Querer ser feliz e ver a felicidade
como um direito a ser conquistado, vivido e usufruído é roupagem humana. Mas
roupagem de um tipo especial que se veste por dentro.
Se às vezes
nos esquecemos disso, devemos voltar uns passos no jogo da vida e recomeçar de
onde perdemos tal desejo, e, então, só então, prosseguir. Acostumarmo-nos com
um seguir adiante sem entusiasmo e dividindo-nos em papéis artificial e
separadamente implantados – em família ou na escola – para nos defender do
Mundo, é uma forma bastante triste – e INFELIZ – de seguirmos adiante. Vale a
pena, não! Se aprendemos lições equivocadas, reducionistas e capazes de nos
embaçar a visão – sempre é tempo de refazer aprendizados e reiniciarmos nossa
própria trilha de existir.
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