Gritos de pavor
(escrito em 26/11/2016, no dia
seguinte à sessão do Senado que concordou com o STF na prisão de Delcídio do
Amaral)
No dia que o papa Francisco chegou ao Rio, eu estava sozinha
em meu quarto, toda arrumada, de banho tomado, tal qual uma moradora da roça que vai à
festa do padroeiro no domingo (só faltavam as sobras de talco - que não uso -
subindo, em camadas, pelo pescoço), toda linda em frente à TV para assistir todos os seus
movimentos desde que desceu do avião. Naquele dia, eu me lembro bem, eu gritei
de medo, quando o seu carro ficou encurralado no meio de ônibus e transeuntes,
ali pelo meio da Presidente Vargas. Muito medo dele
passar por algum perigo, diante da incompetência dos organizadores que o
deixaram entregue a si próprio e à sua própria segurança. E a Deus, por
suposto!
Ontem eu também gritei. Não houve toda a preparação como no
dia de Francisco, mas também estava sozinha no quarto e, como naquele dia, eu
também gritei, pedi por socorro, num estado lastimável de se ver. Nem sei bem
quais palavras eu usei, mas foi em alto e bom som. Puro gesto de quem está
perdido, aturdido, posto em nocaute. É que eu não conseguia acreditar no que
via, ao vivo e em cores: o atual Partido dos Trabalhadores, propor voto secreto
para a votação que estava por ser feita em torno do senador pego em flagrante.
Hoje estou ressaquiada. E sem beber nada! Só mesmo o gole da
vida em estado de desmoronamento que me entrou pela goela e por todos os poros
de minha pele, deixando-me assim, sem palavras. Sou toda restos de gritos. A
voz anunciadora sumiu por um tempinho.
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