DIREÇÕES NECESSÁRIAS
(escrito em 25/11/2015)
Houve um tempo aqui em Niterói que por força de uma obra da prefeitura, o
ponto final dos ônibus mudou, ali pelas bandas da Aurelino Leal, perto dos Correios.
O fato é que, quando eu ia até o centro
da cidade, pela nova orientação do trânsito, eu teria que retornar uma parte do
caminho, a pé, para pegar o ônibus e voltar pra casa. Isso tem muito tempo, eu
me lembro de estar, pelo menos numa das vezes, com os filhos pequenos junto a
mim. Mas o fato, o principal, vem agora:
é que, pela ojeriza de andar para trás (mania de família, pelo menos, Rubinho eu
sei que partilhava essa doidice comigo), eu preferia dar uma volta maior,
caminhar um pouco – ou bem – mais e ir até o local do ônibus. Tudo, menos voltar. Mais tarde eu vim a ouvir o admirável filósofo
Clóvis de Barros Filho, dizer numa entrevista, que seu pai o orientava dizendo que “pra trás, nem pra dar impulso”,
com o que eu me identifiquei imediatamente.
Mas, a vida não cansa de ensinar. É só a gente se dispor a ouvir seus
cantos, como quem coloca o ouvido numa concha daquelas bem rebuscadas em seus
labirintos próprios, que aprendemos canções diferentes – assobios, zumbidos,
sons celestiais, vozes maviosas, de tudo um pouco. E comigo é isso mesmo , eu
vivo aprendendo – de tanto sonhar, conversar , ler e pensar – e, com essas idas
e vindas, acabo por refazer ideias, entendimentos a maneiras de agir. A conclusão
chegou de repente um dia destes: por
mais que a minha tendência seja essa – a de, com o corpo, sempre pretender seguir
à frente – a minha evolução como pessoa só se faz pelos insistentes retornos,
pelas ponderações que refazem conjecturas, pelas costuras e alinhavos que
seguem direções as mais variadas e surpreendentes. Seguir adiante é sabotar
todos os sentidos em nome da segurança de ir por um caminho já sabido, seja ele
qual for, satisfatório ou aprisionador.
Tem jeito, não: posso não voltar na rua e nas calçadas de paralelepípedos, pedras
ou barro, mas para as andanças internas sempre preciso me dispor a seguir as
direções necessárias. É como, em aula de
bordado, aquele ponto do qual não me lembro o nome, em que se avança uma casa e
se retorna um tanto para poder ir para a
próxima laçada. E que fica lindo, pro sinal. É como alguém já disse e com quem
concordo: para se seguir adiante, há que se dar um passo e aguentar a instabilidade
de ter um dos pés suspensos em direção ao que virá. Mais ou menos isso. Eu concordo.
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