sábado, 21 de novembro de 2015



PARA ESCREVER, VALE QUALQUER ESPECULAÇÃO... 

(Escrito em agosto de 2014, reencontrado hoje,21 de novembro de 2015, quando fiz alguns acréscimos. )

Um antigo companheiro, ao ver que tenho afixada no armário do escritório a frase "Olhei a cidade de cima e nem assim encontrei o meu lugar", me acarinhou com olhos de bem querer e tentou me questionar, achando absurdamente impossível a mulher que ele tanto amava e via como tão especial estar imbuída de tamanha incerteza quanto a si própria e a seu lugar no mundo. 


Eu tentei argumentar, creio que ele não conseguiu ntender bem, o fato é que ele virou passado e a frase ainda está aqui me olhando, num tempo presente mais que perfeito.

Hoje acordo pensando que isso talvez deva vir do tempo em que, menininha ainda, quando estava na Praça São Salvador para pegar o bonde, o meu, o do Caju, ele era o único que seguia no sentido contrário de todos os demais... E era a direção não só lá de casa, como também do cemitério...

(Na foto, nossa casa, já velhinha, quando já não era nossa. Passando por lá, anos depois, fiz o regi
entender bem - até porque eu  sempre  fui  mais boa ouvinte do que ele, naquele momento e nos anteriores -, o fato é que ele virou passado e a frase ainda está aqui me olhando, num tempo presente mais que perfeito. Aquele tal amor ficou pra trás e o meu desassossego - que muitas vezes me tira o chão e o céu que eu julgava seguros sob meus pés e olhar - permanece: na frase, cada dia mais gasta pelo sol que nela incide e que não me abandona em minha condição de ser farejador da paz e amorosidade. 

Hoje acordo pensando que isso talvez deva vir do tempo em que, menininha ainda, quando estava na Praça São Salvador para pegar o bonde, o meu, o do Caju, ele era o único que seguia no sentido contrário de todos os demais... E era a direção não só lá de casa, como também do cemitério... Na verdade, nunca ninguém me falou que aquela não era uma boa direção nem um bom caminho, mas que era estranho sempre dar as costas para tudo o mais, ah, isso era... Sem falar do estranhamento do qual, no seio da família, muito séria, silenciosa e sisuda, eu me vi quase sempre portadora, com o meu caminhar por outras estradas, da Beira Rio em diante, tão diferente dos trilhos sobre os quais dei meus primeiros passos. 

Hoje já caminho em sintonia com pais e irmãos - em não dar cheque sem fundo, em gostar de fartura e em ter uma organização mental a toda prova. O poeta tem razão: uma parte de mim é mesmo todo mundo, nesse caso específico, os lá de casa, a outra é vocação para o desbravamento de novas trilhas mesmo - até morrer.  E sem ir pra cemitério algum, pois que desejo ser cremada.


(Na foto, nossa casa da Beira Rio, já velhinha, quando já não era nossa. Passando por lá, anos depois, fiz o registro)


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