EXERCÍCIO DE BOA VONTADE
Tenho uma conhecida que sempre fala meio dura com o marido e
em quem eu uma certa feita, já dei um puxão de orelha para que fosse mais suave
com ele. Mas ela me corrigiu na hora e eu aprendi para sempre: "Com
algumas pessoas, se a gente é afável, gentil, essa coisa toda, elas vêm com
tudo e tentam nos submeter. Nem todo mundo sabe ser tratado em pé de igualdade.
Homem por mulher, então, logo abusa, com
licença, mas 'monta' na gente... Deixa comigo, que eu sei o que estou
fazendo."
Hoje, um pouco mais cedo, foi dela que me lembrei quando,
molhando as plantas do jardim, feliz da vida, toda borrocada de terra a água,
dei com a minha acácia imperial, que já estava crescidinha, cortada a poucos
centímetros do chão. Um mísero cotoco, com todo um tempo de cultivo jogado por
terra. Foi de chorar! Meses, se não anos, esperando seu florescimento, seu
espichamento a ponto de vir a distribuir seus cachos amarelos pendurados em
beleza e charme, e me deparar com o novo tempo que terei que aguardar para que
ela dê de si à nossa rua seu puro encantamento. Com certos vizinhos mais mal
humorados, chego a pensar que tal engano não sucederia...
Haja reserva de bom humor e consciência de que "tudo
vale a pena se a alma não é pequena" e mais uma dúzia e meia de ditos
populares ou mais elaborados, filosóficos até, para não sucumbir e continuar a
ser gentil com todos, até mesmo na hora de explicar a quem capou o arbusto que
ingenuamente crescia, a diferença entre uma árvore belíssima, que se fazia como
tal, de uma erva daninha que se espalha pelo chão.
Ô, ódio!
Mas, está bem! Já sei! Não sou uma ilha, vou me acalmar e
pacificar meu coração. Isso não é nada. Não é nada mesmo! Nadica de nada!
Pensando melhor, acho que nem aconteceu! Foi ilusão der
ótica.
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