terça-feira, 24 de novembro de 2015



     SOBRE PIMENTAS



Não dou mais conta de das repreensões alheias por me emocionar demais - e verter minhas baitas porções de incontidas lágrimas - diante das dores que estão no mundo. Que eu tenho que desligar a TV, não ler o Face, safar-me de algum modo da enxurrada de notícias fétidas, destrutivas, que não cessam de invadir meu cotidiano, que poderia ser menos sofrido. Que eu tenho que ter distanciamento, que eu não sou o outro, que eu tenho que encontrar algum recurso para me proteger da dor alheia, que eu gosto de sofrer, que não sou mais criança, que isto e aquilo, e tudo o mais. É  só  o que escuto.

Que mal há no fato das sensações entrarem e me tomarem por inteiro? Rir eu posso, à vontade em em bom som, mas chorar não? Por quê? Onde está escrito? Que lei restritiva é esta?

E eu argumento que sou feliz à minha moda, que viver intensamente um momento ruim não significa que sou mal humorada ou amarga. O fato de meu filho me flagrar, desencantada, vendo o vídeo mostrando a lindeza que era Bento Rodrigues antes de ser extirpada do mapa, não faz de mim um estandarte de tristeza e agonia.

Sou eu também que vivo com cores vivas e luminosas a vida que vai chegando com as suas boas novas. Como a notícia, trazida por Carlinhos, de que o pé de pimenta biquinho está carregadinho lá na horta. E eu desço e colho com as mesmas mãos que aqui dedilham estas contradições do viver.

Pimenta biquinho lá, pimenta biquinho cá. Creio ser melhor senti-las em sua doce-dura realidade, do que ir passando pelas veredas da existência sem provar seus sabores, e com vontade. Sofrer não é apenas dor e abandono. Como sorrir também não é o seu contraditório sem frestas que deixem passar a luz e sua ausência.

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