SOCIEDADE DO ESPETÁCULO UM POUQUINHO
MAIS AMPLIADA
(ESCRITO EM 24 DE NOVEMBRO DE 2015)
Vi ontem no programa
Studio I, dito e bem explicado por um repórter especializado em coisas do mundo
digital, que as decapitações exibidas para aterrorizar o mundo são feitas em
estúdio: o deserto que compõe o cenário é cenário de mentirinha mesmo, nenhuma
areia é de verdade, desertos fictícios, fundos falsos, tudo material
cenográfico. De verdade, matando e sendo morto, apenas a vítima e o matador,
mas sendo conduzidos por um terceiro, o diretor, este, sim, com poder de bater
o martelo ordenando a AÇÃO em relação àquele espetáculo mórbido e
propagandístico. Morte ensaiada, repetida à exaustão. E o futuro defunto ali, ainda
vivo, coadjuvante da cena, em seus precedentes momentos ao golpe fatal. O golpe
mortal do sabre (ou sei lá que nome tem aquilo) é dado após a repetição das
cenas que antecedem a morte propriamente dita e quando já ficou tudo conforme o
gosto de quem decide. Há um intermediário
hoje em dia, tal qual se faz com os pés de alface que são colhidos em
Teresópolis e que, via CEASA, chegam aos feirantes ou aos supermercados que, eles, sim, nos
vendem. Gente no meio do caminho, alterando a cena do crime: atravessadores, no
caso de nossos legumes do dia-a-dia; artistas, no caso da fria eliminação de humanos inimigos a
serem descartados, com suas mortes servindo de propaganda (enganosa?) do
terror. Antes, a morte pelo ódio de um perante outro, a vingança, vamos dizer assim, ante um inimigo. Hoje, a morte como espetáculo a ser replicado para criar sentimentos nos outros, naqueles que o veem. De um tipo de morte para outro, muita coisa muda, Até mesmo quem é o sujeito e quem é o objeto da ação praticada - e veiculada aos quatro cantos do mundo.
Não que não as tenha de sobra, mas na falta de outra dúvida
mais terrível para esta manhã, me vejo tomada (sempre cinicamente) por estas: qual morte melhor? Qual
forma menos indigna de morrer? Qual forma menos sofrida de morrer? O que muda
quando a morte é feita por etapas, com roteiro, ensaiada, acrescentando-se
outros personagens secundários e tendo num diretor de cinema o seu principal
ordenador?
Tudo muito esquisito. Não fosse meu gosto pela vida, já
estaria pedindo para o grande diretor do Espetáculo Geral encerrar este Ato,
para eu fugir no intervalo, à francesa, e não aparecer para os aplausos após o cerramento da cortina.
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