MOMENTO HUMOR
EU E ELES
Podem esbravejar à vontade contra meu vício de dormir com a
televisão ligada: que atrapalha o sono; que provoca alguns desacertos no
encontro do sono REM com o NREM; que perturba a necessidade de o corpo
recuperar as forças para voltar à vida desperta que está por chegar dali a
algumas horas; e tudo o mais que quiserem argumentar para justificar o silêncio
em torno de minha pessoa enquanto durmo. Não adianta! Não percam tempo!
Estivesse a vida, a outra, a de olhos abertos, bastante boa de ser vivida, eu até
poderia pensar no caso e nesse tipo de conselho em prol da dita boa saúde
propalada por todos que dormem sem nada do mundo externo a lhe acompanhar e a
lhe servir, metaforicamente, de cereja do bolo na imensidão da noite faminta de
outras delícias imaginárias. Também não adianta virem com sonos à base de
calmantes que duram horas certas, noite após noite. Aí, não vale!
Pra minha vida, no seu atual modus vivendi, está de
boníssimo tamanho ter a TV como companheira de quarto. A interação é total! O
que me falta de dia, ela agrega à noite. (Estivesse eu um pouco mais cínica,
diria que ela “agrega valor” à minha qualidade de vida. Ou que TV no quarto é
“bacana demais”...).
A vida em seu sentido mais estrito, da porta da alma pra
dentro, vai muito bem, obrigada, recebendo e dando amor pra quem me dá e recebe
o meu amor. Há a alegria de ver os filhos – amorosos e do Bem – lutando pela
vida com vigor e criatividade; tem ainda Luna que veio colorir de luzes
totalmente inusitadas a minha existência; os amigos/familiares que me completam
em trocas e crescimento permanente (até nas divergências); a maravilha de haver
trabalho que me dê prazer em realizar e que me coloca a brincar dia após dia
com palavras; tem coisa demais para preencher o meu espaço do vivido com sabor
e delicadeza.
Que falta dinheiro, eu concordo, pagar, por exemplo, a multa
que nos chegou da França, e em euros, foi o tipo da surpresinha desagradável e
dura de quitar, como a agonia, mês a mês, de ver os dias sendo remunerados em
reais e a vida sendo gasta em euros (só para continuar alegoricamente usando a moeda de maior
valor).
Mas, como minha alma perdeu (ou nunca teve) tranca para que
as dores do lado de fora deixem de entrar e fazer pouso, as tristezas têm se
avolumado em tal medida no mundo – e sem dar nenhuma pista para mudanças – que
eu preciso dos sonhos para viver. E é aí que a televisão entra pra valer na
conversa. É que ultimamente eu dei pra sonhar com Du Moscovis, que, num cochilo
que dou, sai da novela e entra vivinho no meu quarto, com cara de mau e tudo. E
com repeteco noites após. Codeloco! E não só ele. Um dia desses foi um rapaz
mais novo, lindinho. Depois confiro o
nome do artista e conto. Isso é detalhe, bobice mesmo. Mas, voltando ao delírio
onírico-reconfortante, a diferença de idade era tanta que, a certa altura do
romance, caliente por demais (Ai! Meus sais!), eu, lambida (ainda se usa esse
termo?), cochichava com ele sobre a paixão arrasadora que demonstrava por mim e
até menti na idade: “Como pode tudo isso? Você tão jovem e eu com 58 anos?”
(KKKKKKKKKK, pela primeira vez na vida escondi os meus bens
vividos 70 anos de idade)
Nenhum comentário:
Postar um comentário