sexta-feira, 20 de novembro de 2015

MOMENTO HUMOR

EU E ELES

Podem esbravejar à vontade contra meu vício de dormir com a televisão ligada: que atrapalha o sono; que provoca alguns desacertos no encontro do sono REM com o NREM; que perturba a necessidade de o corpo recuperar as forças para voltar à vida desperta que está por chegar dali a algumas horas; e tudo o mais que quiserem argumentar para justificar o silêncio em torno de minha pessoa enquanto durmo. Não adianta! Não percam tempo! Estivesse a vida, a outra, a de olhos abertos, bastante boa de ser vivida, eu até poderia pensar no caso e nesse tipo de conselho em prol da dita boa saúde propalada por todos que dormem sem nada do mundo externo a lhe acompanhar e a lhe servir, metaforicamente, de cereja do bolo na imensidão da noite faminta de outras delícias imaginárias. Também não adianta virem com sonos à base de calmantes que duram horas certas, noite após noite. Aí, não vale!

Pra minha vida, no seu atual modus vivendi, está de boníssimo tamanho ter a TV como companheira de quarto. A interação é total! O que me falta de dia, ela agrega à noite. (Estivesse eu um pouco mais cínica, diria que ela “agrega valor” à minha qualidade de vida. Ou que TV no quarto é “bacana demais”...).

A vida em seu sentido mais estrito, da porta da alma pra dentro, vai muito bem, obrigada, recebendo e dando amor pra quem me dá e recebe o meu amor. Há a alegria de ver os filhos – amorosos e do Bem – lutando pela vida com vigor e criatividade; tem ainda Luna que veio colorir de luzes totalmente inusitadas a minha existência; os amigos/familiares que me completam em trocas e crescimento permanente (até nas divergências); a maravilha de haver trabalho que me dê prazer em realizar e que me coloca a brincar dia após dia com palavras; tem coisa demais para preencher o meu espaço do vivido com sabor e delicadeza.

Que falta dinheiro, eu concordo, pagar, por exemplo, a multa que nos chegou da França, e em euros, foi o tipo da surpresinha desagradável e dura de quitar, como a agonia, mês a mês, de ver os dias sendo remunerados em reais e a vida sendo gasta em euros (só para continuar  alegoricamente usando a moeda de maior valor).

Mas, como minha alma perdeu (ou nunca teve) tranca para que as dores do lado de fora deixem de entrar e fazer pouso, as tristezas têm se avolumado em tal medida no mundo – e sem dar nenhuma pista para mudanças – que eu preciso dos sonhos para viver. E é aí que a televisão entra pra valer na conversa. É que ultimamente eu dei pra sonhar com Du Moscovis, que, num cochilo que dou, sai da novela e entra vivinho no meu quarto, com cara de mau e tudo. E com repeteco noites após. Codeloco! E não só ele. Um dia desses foi um rapaz mais novo, lindinho.  Depois confiro o nome do artista e conto. Isso é detalhe, bobice mesmo. Mas, voltando ao delírio onírico-reconfortante, a diferença de idade era tanta que, a certa altura do romance, caliente por demais (Ai! Meus sais!), eu, lambida (ainda se usa esse termo?), cochichava com ele sobre a paixão arrasadora que demonstrava por mim e até menti na idade: “Como pode tudo isso? Você tão jovem e eu com 58 anos?”

(KKKKKKKKKK, pela primeira vez na vida escondi os meus bens vividos 70 anos de idade)


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